quinta-feira, 27 de junho de 2019

Dr. Orlando Annicchino e a Anestesia, Paixão Antiga

Texto originalmente publicado na APMNEWS
Junho de 2019 - Ano XXII - Número 247



Dr. Orlando Annicchino Júnior
Anestesista



O Dr. Orlando Annicchino Júnior dedicou-se à anestesiologia ainda na faculdade de medicina. 

Foi monitor na disciplina de farmacologia e posteriormente, ainda estudante de graduação, no 5º e 6º anos da faculdade, dedicou-se à anestesiologia que veio a ser sua especialidade. 

Especializou-se em anestesia na Pós-graduação pela PUC Rio de Janeiro e trabalhou no Hospital do Servidor Público do Rio de Janeiro. 

Dr. Orlando lembra que este hospital era muito conceituado nos anos 60 e 70, sendo o primeiro hospital do Rio de Janeiro a criar uma UTI e possuía um serviço de cirurgia cardíaca de alta qualidade. 

Como veio a se tornar comum, o Dr. Orlando trabalhava também na UTI do hospital, o que contribuiu em muito na sua formação médica. 

Lembra o Dr. Orlando que nos anos 60 sua especialidade ainda se iniciava no país, razão pela qual aqueles estudantes e médicos que se dedicavam a ela eram muito valorizados.

Lembra que muitos trabalhos científicos no campo da anestesia eram produzidos por ginecologistas e obstetras. Ocorria também de anestesistas ajudarem obstetras em partos e procedimentos cirúrgicos, além de atuarem nos cuidados ao recém-nascido, especialidade conhecida como neonatologia que veio a se tornar uma especialidade derivada da Pediatria posteriormente. 

Dr. Orlando foi o primeiro anestesista a se radicar em Indaiatuba, aqui chegando em 1972 com sua esposa Filomena Annicchino e dois filhos, André e Guilherme Annicchino, sendo que o terceiro filho, Flávio Annicchino, nasceria nesta cidade. 

Orlando Filó Annicchino Junior
Dr. Orlando Annicchino e Filomena Annicchino


Havia poucos médicos na cidade, entre eles, Dr. Jalma Jurado, Dr. Pedro Maschietto, Dr. Renato Riggio e Dr. Paulo Koide. Até sua chegada não havia especialistas em anestesia e um médico ajudava o outro atuando como anestesista em cada momento. Muitas vezes os procedimentos anestésicos eram realizados por enfermeiros e freiras, sob orientação médica. 

Apesar do grupo de médicos ser pequeno já havia uma certa divisão em subgrupos, o que significava que o Dr. Orlando não era convidado para realizar a anestesia para alguns cirurgiões. Não sendo possível trabalhar o tempo todo como anestesista, dedicou-se à saúde pública, sendo contratado como servidor público e passou a atuar em postos de saúde. 

Aprimorou seus conhecimentos sobre tuberculose pulmonar, hanseníase e perícia médica, realizando perícias de servidores públicos estaduais, esta última uma atividade difícil a que eram encarregados os médicos do serviço público estadual. 

Outro fato lembrado pelo Dr. Orlando foi sua primeira experiência com uma anestesia. Acometido de uma apendicite veio a Indaiatuba trazido por seu pai, de trem e foi operado pelo Dr. Pedro Maschietto. A anestesia foi administrada por uma freira: clorofórmio. 

Sobreviveu ao anestésico e possivelmente deve ter pensado: esse procedimento é sério e precisa ser feito por um profissional especializado. A evolução só veio nos anos 70, com novas drogas e equipamentos. 

Dr. Orlando lembra que o BIRD era caro e estava disponível em poucos serviços. Havia a “cebolinha” do Takaoka, opção nacional um pouco mais econômica. 

Alguns anos após sua chegada a Indaiatuba, veio o Dr. Roberto Spadella, que havia feito residência em anestesia no Hospital Penido Burnier em Campinas. P o s t e r i o r m e n t e começou a trabalhar em Indaiatuba o Dr. Santo Adalberto M a r d e g a n , especializado no Rio de Janeiro, ambos profissionais altamente qualificados e com sólida formação, como assinala Dr. Annicchino. 

Nos anos 70 era comum que os médicos tivessem seus consultórios em suas próprias casas. Dr. Orlando, juntamente com outros médicos, decidiram construir uma clínica com vários consultórios que veio a se chamar Samil. Entre estes médicos havia o Dr. Edmur Belluomini, Dr. Renato Maschietto, Dr. Berton oftalmologista, entre outros. 

Posteriormente, o plano de saúde Sancil fez uma proposta de sociedade que acabou se consolidando. Gradativamente o conjunto de consultórios se transformou num hospital, que veio a se chamar Hospital Santa Inês. 

Dr. Orlando Annicchino, além de ter sido o primeiro médico anestesista a se radicar em Indaiatuba, tem três filhos médicos, sendo que dois deles, Dr. André e Dr. Flávio, este também anestesista, foram diretores de nossa Associação. 

Sendo assim, Dr. Orlando tem um papel relevante não apenas na especialidade de Anestesiologia em nossa cidade, mas na história da Medicina em Indaiatuba como um todo.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Palestra sobre História da África no CIAEI - 24 de junho

Secretaria da Educação de Indaiatuba promove palestra gratuita para docentes e aberta à população


Foto


A Secretaria de Educação de Indaiatuba, através do Núcleo de Formação Continuada, promove mais uma palestra gratuita para docentes, não docentes, pais de alunos e aberta à população.


Natanael dos Santos ministrará sobre o tema "Tecendo os fios da História da África: possibilidades de um olhar para além de uma visão eurocêntrica".



A apresentação conta com certificação e será discorrida Na sala Acrísio de Camargo, no Ciaei, na segunda-feira, dia 24, às 19h.


Os interessados podem fazer a inscrição pelo link:

 https://www.educmunicipal.indaiatuba.sp.gov.br/cursos.php?id=2965.


Sobre o Palestrante
Natanael dos Santos - Professor, Historiador, Pesquisador, Autor, Escritor, Ator, Diretor artístico e Palestrante. Desenvolve trabalhos de pesquisa no campo da historiografia africana, em teses de mestrado e doutorado desde 1983.

Para conhecer melhor a palestra clique abaixo: 

https://www.educmunicipal.indaiatuba.sp.gov.br/shared/upload/z_outros/files/nucleo_de_formacao/2019/palestra_natanael.pdf

segunda-feira, 10 de junho de 2019

A Primeira Diálise Peritoneal em Indaiatuba

Texto publicado na Revista APMNews de abril de 2019 - Ano XXII - Número 245

Autor: Dr. Francisco Carlos Ruiz


Conversar com o Dr. Antonio Renato Cordeiro é conhecer grande parte da história da Medicina em Indaiatuba. 


Dr. Cordeiro
Crédito Revista APMNews

Nascido nesta cidade e primeiro cardiologista a se radicar no município, o Dr. Cordeiro descreve em detalhes vários episódios de sua vida e do trabalho médico que vivenciou. 

Filho do farmacêutico Tabajara Cordeiro, numa época em que havia apenas duas farmácias em Indaiatuba, tinha contato próximo com médicos como Dr. Renato Riggio, Dr. Jácomo Nazário, Dr. Edmundo de Lima Pontes. 

Nasceu no Hospital Augusto de Oliveira Camargo, sendo o primeiro parto a ser realizado no hospital. Tal fato ocorreu em 1940, chegando primeiro que o filho do Prefeito, Sebastião Nicolau, que estava programado para ser o primeiro parto a ser realizado no hospital. 

Seu nascimento deveria se dar na residência da família e pelas mãos de uma parteira, como era comum, mas algo não correu como o esperado e o Dr. Edmundo de Lima Pontes foi chamado, determinando que sua mãe fosse levada ao hospital para a realização do parto. 

Seu avô, Antonio Cordeiro, também era farmacêutico e mudou-se com a família de Monte Mor para Indaiatuba por questões políticas. 

Inaugurou sua farmácia em 1913 e aproximou-se do Major Alfredo Camargo Fonseca, personalidade política importante na história da cidade de Indaiatuba e que esteve à frente da Prefeitura por 26 anos [1]. 

Dr. Cordeiro tinha tudo para seguir a carreira do pai e do avô, chegando inclusive a ser aprovado no vestibular para a Faculdade de Farmácia em Araraquara. Por insistência de sua mãe, mulher enérgica, filha de armênios e italianos, cursou a Faculdade de Medicina da Puc de Sorocaba, formando-se na 141 turma em 1969. Sua formação pós-acadêmica foi brilhante. Especializou-se em cardiologia no Instituto de Cardiologia do Estado de São Paulo, hoje Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, entre os anos de 1970 e 1971. A seguir, entre os anos 1971 e 1973, fez um curso de pós-graduação no Instituto Nacional de Cardiologia do México, na Cidade do México, um dos maiores centros de estudos e pesquisas do mundo em cardiologia. De volta ao Brasil em 1973, trabalhou com o colega de turma, Dr. Joaquim Nascimento, no Hospital Beneficência Portuguesa de Campinas. 

Em 1974 retorna a Indaiatuba, trabalhando no consultório em sociedade como o colega Dr. Roberto Sfeir no Hospital Augusto de Oliveira Camargo. 

No Hospital não havia médicos plantonistas durante o dia. Dr. Cordeiro lembra que o enfermeiro reunia alguns pacientes e chamava o médico no consultório. Este se dirigia ao hospital, atendia os pacientes e voltava para o consultório. Não havia remuneração pelo plantão. Alguns pacientes eram atendidos pelo INSS (INPS, na época). Outros não tinham qualquer plano de saúde ou sistema de seguridade e eram atendidos da mesma forma. 

No período noturno era diferente: vinham médicos de Campinas que atendiam e dormiam no hospital e eram remunerados pelo plantão. As condições de trabalho eram muito ruins. Não havia financiamento do poder público e tudo dependia de ajuda e dos próprios recursos do hospital. 

O aparelho de RX vivia quebrado e tudo era feito num aparelho de RX portátil, que podia ser usado em casos mais simples. 

O hospital era "comandado" pelas freiras que ditavam as regras de funcionamento. Dr. Renato lembra da freira Zenaide, que era extremamente brava. 

Ainda na década de 70, o Dr. Cordeiro e outros médicos passaram a atender no Ambulatório da Samil, que posteriormente se transformou em hospital, ocasionando a saída de vários médicos. Dr. Cordeiro, Dr. Sfeir, Dra. Vera Spadella, entre outros transferiram-se para consultórios no Edifício Ambassador que reuniu vários consultórios médicos durante muitos anos. 

Dr. Cordeiro, assim como o Dr. Pedro Maschietto Filho que foi o primeiro médico a utilizar a técnica da "Incisão de Pfannenstiel", foi o primeiro médico a realizar a diálise peritoneal no hospital e lembra que o Dr. Paulo Kóide perguntou: "você vai fazer uma cirurgia na enfermaria?". 

De fato, Dr. Cordeiro representava uma nova geração de médicos, não generalistas, mas de especialistas como se tornou uma tendência na prática médica no final dos anos 60. Mesmo assim, ressalta e enaltece a capacidade profissional do Dr. Renato Riggio e explica: "ele era um grande ser humano e um médico completo, fazia de tudo e de tudo com competência, da pediatria à clinica médica e da cirurgia geral à ginecologia e obstetrícia". 

Lembrado que o Dr. Renato Riggio, assim como o Dr. Pedro Maschietto (pai) faziam parte de uma geração"' de médicos que não tinha horário no para atendimento. 

Os pacientes os procuravam em suas casas e eram atendidos em qualquer dia. 

A mudança da medicina praticada por médicos autenticamente generalistas para a medicina especializada foi vivenciada pelo Dr. Cordeiro, e nesse sentido, seu relato se reveste de grande importância para conhecermos a história da Medicina em Indaiatuba. 


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[1] Na verdade, o Major ficou no poder pelo total de 30 anos, 5 meses e 8 dias, mas não de forma contínua. 


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