quarta-feira, 28 de julho de 2021

Rua Padre João Batista Teixeira Monteiro

Padre João Batista Teixeira Monteiro

 

Foi pároco da paróquia Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba entre 29 de maio de 1895 a 5 de dezembro de 1897. 

 O padre João Batista foi nomeado por portaria no dia 29 de maio de 1895 e a 2 de junho tomou posse do cargo de vigário da paróquia Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba.

Ele era português, filho de Manoel Teixeira Monteiro e de Tereza Monteiro Xavier, batizado na paróquia de São Domingos ex-Vale, Arcebispado de Braga. Recebeu a primeira tonsura em 3 de agosto e foi ordenado pelo bispo de Goiás, D. Domingos Quirino de Souza, a 20 de agosto de 1862, no mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro, estando o bispo de passagem pela Corte.

 

TONSURA ROMANA

 

Recebeu licença para usar de suas ordens no bispado do Rio de Janeiro neste mesmo ano, provisão para “confessar homens, e tendo quarenta annos, mulheres neste nosso Bispado”. No ano seguinte e, após ser examinado na Matriz de São José pelo vigário João Procópio da Natividade Silva, obteve licença para celebrar sua primeira missa e as três seguintes. 

Da diocese do Rio de Janeiro passou a de São Paulo, onde foi nomeado vigário da freguesia de Santa Rita de Extrema, sul de Minas, então pertencente à diocese de São Paulo. Esta paróquia foi instituída canonicamente em 22 de dezembro de 1871, e teve o reverendo João Batista Teixeira Monteiro como seu primeiro pároco, que lá residiu durante muitos anos. 

Transferido para Indaiatuba, aqui permaneceu durante dois anos e meio e deve ter testemunhado os primeiros conflitos políticos entre os dirigentes republicanos do município, divididos entre os correligionários de Antônio de Almeida Sampaio e de Alfredo Camargo da Fonseca, saindo vitorioso este último na eleição para a reorganização do Partido Republicano de Indaiatuba, a 17 de agosto de 1895. O resultado dessa eleição sinalizou o início da hegemonia política do “Major Fonseca” durante toda a República Velha, a “República dos Coronéis” durante três décadas. 

O fabriqueiro Felipe Neri de Camargo Thebas, tomou posse por portaria de 7 de junho de 1895 e foi provisionado aos 22 de junho do mesmo mês, logo quando o padre Monteiro chegou em Indaiatuba. Mais tarde, em 8 de janeiro de 1888, Thebas seria nomeado encarregado dos lampiões que iluminavam as ruas de Indaiatuba. 

Foi em seu paroquiato que Indaiatuba recebeu a visita pastoral de D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcante, que foi arcebispo de São Paulo entre 30 de setembro de 1894 e 24 de julho de 1897.

Retrato do Cardeal Arcoverde, feito por Almeida Júnior

 

Foi em seu paroquiato que Indaiatuba recebeu a visita pastoral de D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcante, que foi arcebispo de São Paulo entre 30 de setembro de 1894 e 24 de julho de 1897.

O último batismo que fez o padre João Batista Teixeira Monteiro foi em 5 de dezembro de 1897. Foi removido para o município de Bauru, cuja igreja Matriz do Divino Espírito Santo, hoje catedral, foi fundada no mesmo ano que o padre Monteiro foi para lá.

 

Lei Ordinária nº 7423, de 24 de setembro de 2020

 Em 24 de setembro de 2020 o Padre Batista Teixeira Monteiro finalmente foi homenageado através da Lei Municipal 7423, sancionada pelo prefeito Nilson Gaspar, em projeto de lei de autoria do vereador Alexandre Carlos Peres.

 

 


Rua Andriana Corne Barnabé

 Andriana Corne Barnabé

 “Nascida na Itália em quatro de julho de 1830, aos 30 anos de idade (1865) encheu a mala de coragem e veio para o Brasil”. (1)

Por volta de 1885, Andriana Corne Barnabé, viúva de Lorenzo Barnabé (2), emigrou de Mântua, Itália, para o Brasil. É ela a matriarca que deu origem à vastíssima Família Barnabé de Indaiatuba, que originalmente se chamavam Bernabés.

Veio para a região de Itupeva, com seus filhos Valeriano, Paulo e Seraphim a fim de trabalharem na lavoura, como colonos. Com o tempo, cada um, já casado, foi adquirindo suas terras. 

Valeriano era casado com Adelina Bozelli Barnabé e tiveram 2 filhos: Antenor e Renato. Ele adquiriu a Fazenda Bela Vista (que depois se chamou Santa Cândida) e em 1907 a Fazenda Engenho D´Água, no Buru, atual Jardim Morada do Sol. Esta fazenda, passando por herança para Renato e posteriormente para Ário Barnabé, permaneceu na família por 66 anos.

Antenor casou-se com Ernesta Villard.

Renato casou-se com Gioconda Savi e tiveram seis filhos: Artur, casado com Elvira Stocco; Ario, casado com Lilia Curit; Iole, casada com Jacinto Turrino; Dirce, casada com Silvio Talli; Mario Aldo (Lando) casado com Cândida Bertani e Leonor (Nenê), casada com João de Campos.

Sobre sua morte, assim conta Antonio da Cunha Penna:

“Reinaldo, um dos quatro netos da matriarca Andriana, havia chegado da cidade. Durante o almoço contou a novidade à família: o prefeito queria, porque queria inaugurar o novo Cemitério.  Ora, um Cemitério sem ninguém enterrado, não passa de um descabido cercado, por tanto, um defunto naquele momento era gênero de primeiríssima necessidade.  O prefeito, num ataque de lucidez espalhou a boa nova: “Quem primeiro for enterrado no novo Campo Santo, ganhará como prêmio, um túmulo artisticamente erigido em granito rosa”.  Apesar de belo, útil e tentador presente; quem se habilitaria a recebê-lo?

Ao ouvir o boato, dona Andriana teria indagado em macarrônico sotaque: “Por caridade! Quem haverá de querer um presente desses...?”  O mudo destino que paira sobre todos nós, respondeu... Mas a seu modo: à tarde do mesmo dia – 11 de agosto de 1905 – dona Andriana sentiu se mal e morreu.  Merecidamente levou o mimo: um elegante obelisco feito em granito rosa. 









Crédito das fotos: Cássio Sampaio


(1) PENNA. Antônio da Cunha. “Tipos Notáveis da Popularidade e algumas histórias mal contadas”. Rumograf - Gráfica e Editora Ltda. Indaiatuba (SP). 2010.

(2) SILVA. Denise Stein Rezende da.. “Famílias Tradicionais e Ilustres de Indaiatuba”. Novo Enfoc Editora. Indaiatuba (SP). 1997.


Lei Ordinária nº 7534 de 17 de dezembro de 2020

 Em 17 de dezmebro de 2020 a matriarca Andriana Corne Barnabé foi homenageada através da Lei Municipal 7534, sancionada pelo prefeito Nilson Gaspar, em projeto de lei de autoria do vereador Alexandre Carlos Peres.


domingo, 25 de julho de 2021

Padre Jesuíta Adilson Aparecido da Silva

                 Padre Jesuíta Adilson Aparecido da Silva
nasceu em 21 de julho de 1969, no município de Astorga - Paraná - filho do Sr. Narciso Ferreira da Silva e de dona Sebastiana Aparecida da Silva. É o primeiro de 6 filhos do casal. De pai paulista e mãe paranaense, a família migrou para o Estado de São Paulo em 1977, quando tinha 8 anos de idade. 



Cursou o antigo primário na 1ª Escola Estadual de Primeiro Grau de Lucélia, SP, onde foi alfabetizado. Em 1982 estudou no seminário Dom Luiz Lasagna, em Araçatuba, SP, em regime de internato, concluindo a oitava série. Aos 15 anos de idade já trabalhava de carteira assinada e estudava a noite, na Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau José Firpo, em Lucélia, SP. 

Interrompeu os estudos por conta do trabalho e em 1988, a família se mudou para Valinhos, SP, onde concluiu os estudos de segundo grau. Trabalhou como repositor em um supermercado, foi bancário e formou-se em Desenho Técnico de Letras Comerciais, 1989. Depois trabalhou no antigo Eldorado Supermercados, Ceccato, e Lojas Mappin de Departamento até 1995.

No ano de 1996 ingressou como vocacionado na ordem dos padres Jesuítas, em Juiz de Fora, MG. Fez seus primeiros votos como religioso jesuíta, em janeiro de 1999, no Mosteiro de Itaici – Vila Kostka, Indaiatuba SP. 

Cursou, no ano de 2000, Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Educação na cidade de Belo Horizonte, MG, e formou se em Teologia pela mesma faculdade em 2006. Neste mesmo ano foi ordenado diácono, no dia 08 de dezembro e presbítero no dia 21 de julho de 2007, data do seu natalício.

Em sua primeira missão foi enviado ao Rio de Janeiro para ser Prefeito (Prefectus Eclesiae) da Igreja do Colégio Santo Inácio. Em 2010 retornou a Belo Horizonte como Pároco da Paróquia São Francisco Xavier até 2013, ano em se celebrava a Jornada Mundial da Juventude no Brasil. Foi escolhido pelo padre Provincial para coordenar o Movimento Magis de juventude inaciana internacional, por ocasião da visita do Papa Francisco.

Em janeiro de 2014 foi enviado a Dublin, na Irlanda e passou a residir na Saint Francis Parish até agosto de 2014. Depois foi complementar seus estudos jesuíticos em Salamanca, na Espanha, onde permaneceu até maio de 2015.

Retornando ao Brasil, foi destinado como Diretor do Mosteiro de Itaici-Vila Kostka. Em 2017 fez sua profissão religiosa solene na Igreja Nossa Senhora do Bom Conselho, no mesmo Mosteiro e em 2018 foi feito superior dos jesuítas da região de Campinas e Indaiatuba, cargo que exerce até o dia de hoje.

Padre Adilson, como é chamado pelos indaiatubanos simplesmente dividiu a História do Mosteiro de Itaici. Para os cidadãos da cidade, a História do Mosteiro pode ser dividida em duas partes: “antes do Padre Adilson” e “depois do Padre Adilson”.

Além de reestruturar o local do ponto de vista funcional e arquitetônico, promovendo ampliações e reformas, Padre Adilson promoveu a maior reestruturação do local: atraiu os fiéis para suas celebrações possibilitando a renovação da fé de muitas pessoas e abriu o local para eventos culturais e sociais, promovendo o caminho para que seja um local autossustentável.

No final de 2020 o Padre foi transferido para outro desafio, no Rio de Janeiro, não sem antes receber, da Câmara Municipal de Indaiatuba, o honroso título de "Cidadão Indaiatubano" no dia 09 de dezembro.

Indaiatuba se orgulha e se engrandece ao ter recebido esse jesuíta paranaense que trabalhou e trabalha arduamente para ressignificar um de seus maiores patrimônios religiosos e históricos. Com este título, nossa cidade agora pode chamar o Padre Jesuíta Adilson Aparecido da Silva de “seu filho”.


Assista aqui: https://www.facebook.com/watch/?v=506184406948894

https://fb.watch/v/1P5YZN5Mu/


segunda-feira, 19 de julho de 2021

Educação Patrimonial - Live aberta ao público promovida pelo Iphan e Museu de Itu

 Educação Patrimonial

Iphan-SP e Museu Republicano de Itu promovem live sobre Patrimônio Cultural.



Com participação aberta ao público, evento marca início de projeto de educação patrimonial da Superintendência.


Em 04 de agosto, todos que tiverem interesse podem participar da live “O diálogo no campo do patrimônio cultural”

Entre às 18h e 19h, a roda de conversa será transmitida ao vivo pelo canal no YouTube do Museu Republicano Convenção de Itu. 

O encontro é fruto de parceria entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo, com o Museu Republicano, extensão do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP).

Paulo Cesar Garcez Marins e Sônia Rampim conduzem as discussões. Marins é docente do Museu Paulista da USP, já Sônia coordena a Educação Patrimonial do Iphan e atua como docente do Centro Lúcio Costa (CLC), Unidade Especial do Instituto.

A iniciativa marca o início do projeto de educação patrimonial Mooca do Patrimônio. O termo “mooca” tem origem no tronco tupi, da família linguística tupi-guarani, e significa “fazer casa”. Proposta pela Superintendência do Iphan em São Paulo, a ação busca promover encontros virtuais com a sociedade em geral e com os grupos sociais diretamente impactados pelo registro e tombamento de bens culturais. Deste modo, criam-se espaços de diálogo para compartilhar narrativas, pesquisas e percepções sobre o Patrimônio Cultural.

Na primeira edição dos debates o foco recai sobre o Museu Republicano. Também participam da roda de conversa representantes de instituições que desenvolvem projetos educativos de forma colaborativa com o Museu Republicano, como: União Negra Ituana, Museu da Música – Itu - Instituto Cultural de Itu, Museu da Energia de Itu - Fundação Energia e Saneamento, Diretoria de Ensino da Região de Itu da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

Inaugurado em 1923, o museu foi tombado pelo Iphan em 1967, com a inscrição no Livro do Tombo Histórico. Em 18 de abril de 1873, o sobrado sediou a Convenção Republicana de Itu, reunião de políticos e proprietários de fazendas de café para discutir as circunstâncias do país considerada o marco originário da campanha republicana.

Destacam-se na edificação a fachada azulejada e os painéis de azulejaria interna, que retratam episódios da história de Itu entrelaçados a momentos-chave da memória nacional. O museu não se restringe a expor objetos, pinturas e registros textuais: procura explorar os ricos acervos que conserva através do estudo e divulgação do conhecimentos em publicações, cursos, reuniões científicas, oficinas e atendimentos a públicos diversificados.

Quando o trabalhador negro escravizado virava "gente"

            Os trabalhadores negros escravizados, que vieram para o Brasil sequestrados da África ou os que nasceram aqui eram considerados uma coisa e não uma pessoa.

            Eram capturados de acordo com o ‘volume’ que cabia no navio tumbeiro, eram vendidos por peça, metro ou por quilo e valiam pela quantidade de material que produzissem em seu ciclo de vida.

            Mesmo após o avanço de protestos humanitários a favor da abolição, eles continuavam a ser referenciados por métricas terríveis: liberdade só para os sexagenários (quem conseguia chegar nessa idade?) ou para os ventres livres (quem iria cuidar da criança sem pais)? 

            Como coisa, não possuíam nenhum direito, muito menos o trabalhista, podendo o dono da propriedade vender, dispor, trocar, utilizar como bem achasse que deveria e até matar.


            Como mercadoria, podia ser objeto de compra, empréstimo, doação, penhor, sequestro, transmissão por herança, embargo, depósito, arremate e adjudicação.


            Era uma relação jurídica rasa, entre proprietário e coisa possuída, onde um tinha direito de domínio absoluto e outro, dever de submissão legal e irrestrita. O correto é afirmar que o escravo não era sujeito de direito e a mulher escravizada transmitia essa condição aos seus descendentes.



 

QUANDO O ESCRAVO VIRAVA GENTE?


        Mas... quando cometia um crime virava gente.

Deixava de ser uma coisa para ser réu passível de punição com os rigores do Código Penal. O historiador Jacob Gorender, afirmou sobre isso que “o primeiro ato humano do escravo é o crime”. 

Na história de Indaiatuba, foi Nilson Cardoso de Carvalho quem primeiro contou uma história dessa realidade. O episódio aconteceu na Fazenda Sertão, quando ainda éramos um Distrito da cidade de Itu. Vejamos.

No dia 25 de julho de 1856, uma sexta feira, por volta das onze horas da manhã, na citada fazenda a pouca distância da casa grande, estava uma turma de escravos roçando um capoeirão, isto é, roçando um local onde havia uma vegetação densa, comandados pelo feitor Vicente do Amaral Campos.

Iam todos roçando em linha no eito, mais ou menos juntos, menos o escravo Manoel que ficou para trás por levar mais tempo cortando um pau, mais grosso, difícil de ser abatido. Por estar demorando, o feitor dirigiu-se ao seu encontro esbravejando e, empunhando um relho, deu-lhe uma relhada da qual ele desvencilhou-se levantando a foice como anteparo.

O feitor retirou a foice das mãos dele, atirou-a ao chão e começou a surrá-lo.

Depois de dar-lhe a última relhada, pegou a foice do chão e deu-a na mão do escravo para que continuasse o serviço.

Quando o feitor virou as costas, o escravo deu-lhe uma foiçada na cabeça que o derrubou, e quando tentou levantar-se deu outra foiçada com a qual acabou de matá-lo.

Seus companheiros de eito só perceberam o que ocorrera, quando se estabeleceu um silêncio após o esbravejar do feitor.

Matias, africano de 40 anos de idade, chegou ao local primeiro e vendo que o feitor estava morto e o assassino ao lado, amarrou o escravo Manoel e, quando chegaram os demais companheiros, o conduziram para o quadrado da casa grande.

No caminho encontraram o proprietário da fazenda acompanhado de várias pessoas, seus companheiros, os quais no momento em que aconteceu a tragédia estavam caçando numa mata próxima.

Levado para o pequenino centro urbano de Indaiatuba, o corpo do feitor foi encaminhado à casa do subdelegado José Manoel da Fonseca, onde foi feito o exame de corpo de delito, constatando-se que havia “um golpe de foice da nuca até o alto da cabeça com cinco polegadas e meia de comprido e um outro golpe atravessando a cabeça de uma orelha a outra com sete polegadas de comprido e profundidade que não se pode saber por estar vazando muito miolo”. 


A 16 de agosto de 1856, o escravo Manoel foi submetido a um tribunal de júri em Itu, composto de 11 jurados, a maioria deles senhores de engenho.


Não foi condenado à forca, como era o esperado, mas condenado a galés perpétuas, isto é, prisão perpétua com trabalhos forçados, com os pés acorrentados.


Manoel era filho de pais africanos, brasileiro, natural de Ouro Fino, Minas Gerais e tinha apenas 16 anos de idade.





Debret

A tortura é uma forma de dominação sobre o corpo, através da produção de uma certa quantidade de sofrimento que se possa, se não medir exatamente, ao menos apreciar, comparar e hierarquizar

Michel Foulcault, em “Vigiar e Punir”.


quarta-feira, 14 de julho de 2021

Felícia

             Felícia é uma personagem da História de Indaiatuba. 


Uma personagem quase condenada ao anonimato eterno, pois não foi política, não foi magistrada, nem rica, nem fútil esposa de empresário com a face exageradamente botocada estampada quinzenalmente em colunas sociais. Felicia foi uma trabalhadora negra escravizada que, graças ao esforço de um de seus descendentes, o professor de História Aparecido Messias Paula Leite de Barros, o Cido, a história dessa mulher saiu da esfera íntima da memória oral de sua família e foi publicada no livro “Malungo – Identidade Entre os Cativos”.


Como tantos outros negros sequestrados na África, Felícia era uma criança livre e vivia em uma comunidade onde a divisão do trabalho era baseada no sexo e na idade: homens caçavam, pescavam e faziam os demais trabalhos pesados, enquanto que as mulheres cuidavam dos filhos e das plantações, cozinhavam; os velhos ensinavam e crianças aprendiam. As tarefas eram designadas por uma autoridade que não liderava pela força, mas sim pelo carisma. A rotina foi interrompida quando uma tribo rival tocaiou a aldeia e capturou um grupo, entregando-o aos “comerciantes” de um dos negócios mais lucrativos da época: o tráfico negreiro. Era relativamente fácil capturar negros na África, inclusive em sociedades com organização mais complexa da qual habitava Felícia: era só viciar tribos inimigas com pinga. Quando estavam totalmente dependentes, a nefasta proposta era posta na mesa pelos brancos traficantes: “_ Eu te dou armas, você me entrega seus inimigos, eu te dou a pinga.” Simples assim. 


Felícia foi uma das que foram arrastadas para aquele navio negreiro, sob chutes e pontapés. Com ela, outros jovens e crianças foram acorrentados junto com adultos que possuíam funções especializadas em suas sociedades de origem: engenheiros, médicos, sacerdotes, professores, reis, rainhas; todos reduzidos à mercadoria que seria vendida por peso e valorizada conforme a brancura dos dentes. Até a chegada ao porto onde seriam expostos em vitrines humanas, o inferno se materializava: todos eram acorrentados nos porões dos navios e praticamente só sairiam dali se morressem; então seu corpo alimentaria o rastro de sangue do tumbeiro, perseguido avidamente por tubarões sequencialmente alimentados com corpos ali atirados, sem ao menos uma oração. Os que sobreviviam ficavam imersos em um esgoto humano que crescia dia a dia, com piolhos, sarna, feridas em putrefação. Famintos e sedentos não tinham a menor noção do que acontecia, do que estaria por vir.


Felícia desembarcou na Bahia e ali recebeu esse nome. A partir da data, seu nome original foi esquecido e sua nova identidade foi a que sobreviveu na história oral da família do professor Cido, passada de geração a geração. De lá, veio a pé com outros escravos e foi comprada por um fazendeiro aqui de Indaiatuba. Com aproximadamente 40 anos, após um romance com um escravo de nome Isaque Fonseca, teve seu único filho, que dela foi tirado à força e mandado para outra fazenda, do mesmo senhor.


Dizem que foi por castigo, “_ Para dobrar sua altivez”. 


Após a Abolição, Felícia procurou seu filho de fazenda em fazenda até reconhecer - em um menino de aproximadamente dez anos - os traços de seu irmão, o qual vira pela última vez paralisado de medo, com os olhos arregalados, logo após sua captura.


Em seguida morou e trabalhou no pequeno centro urbano de Indaiatuba, na atual rua Bernardino de Campos, onde criou seu filho Juvenal, que por sua vez casou-se com Brígida e teve muitos filhos. Com o passar dos anos, a triste vida de Felícia a transformou em uma pessoa muito amarga, até com fama de feiticeira pelo poder de suas rezas e chás. 


Idosa com mais de 90 anos, faleceu Felícia, provavelmente lembrando - em sua agonia terminal - dos tempos em que corria livremente pelas savanas africanas.


Deixou em Indaiatuba muitos netos e bisnetos, muitos deles atualmente morando e trabalhando em nossa terra, que agora – com muita propriedade - eles também chamam de “sua”.


.....oooooOooooo.....




Todas as imagens abaixo são de autoria de Joaquim Cândido Guillobel,

disponibilizadas na Internet por "Itaú Cultural".

Joaquim Cândido Guillobem nasceu em Lisboa em 1787 e faleceu no Rido de Janeiro, em 1859.

Desenhista, aquarelista, arquiteto, topógrafo e cartógrafo, deixou rica coleção de imagens de trabalhadores negros escravizados.

Parte do acervo das mulheres negras escravizadas seguem abaixo; cada uma delas tem um pouco de Felícia e em Felícia, está a História de cada uma delas.
















segunda-feira, 12 de julho de 2021

O Primeiro Código de Posturas de Indaiatuba

 A PRIMEIRA POSTURA MUNICIPAL DE INDAIATUBA


No dia 24 de março de 1859 a até então Freguesia de Indaiatuba (que formou-se agrupando os bairros de Piraí, Jundiaí – atual Itaici – e Mato Dentro) foi elevada à categoria de Vila (que significava município).  Após alguns dias foi empossada a primeira Câmara Municipal, que legislou de julho de 1859 até 30 de dezembro de 1860. A segunda Legislatura após Indaiatuba ganhar o status de ‘Vila’ foi composta por sete vereadores eleitos, e estes tiveram a incumbência de elaborar o nosso primeiro Código de Posturas Municipais, que foi aprovado pelo Presidente da Província de São Paulo em 1863.


O que é Postura Municipal

Postura municipal é um preceito escrito, uma lei que obriga os munícipes a cumprirem certos deveres de ordem pública, ou seja, os legisladores da Câmara Municipal produziram-na para organizar não apenas o espaço público, mas também a ordem social, sendo seu maior meio de punição a aplicação de multas destinadas ao caixa da municipalidade.


Vigiar e Punir

Na época em que o 1º. Código de Posturas de Indaiatuba foi feito, vivíamos sob a estrutura judiciária imperial, implementada pela Constituição de 1824, feita após Proclamação da Independência. De forma resumida, essa constituição determinava que em cada município houvesse o Juiz de Paz eleito por quem tinha direito de votar, responsável por garantir a aplicação das Posturas das Câmaras e aplicar penas aos violadores. Ele era auxiliado por Inspetores de Quarteirão e por cidadãos da Guarda Nacional (uma espécie de guarda municipal que também era subordinada ao presidente da província e ao imperador), todos eles cidadãos ‘de bem’ que trabalhavam gratuitamente, tão somente por ideal, prestígio ou sede de poder. Como não existia prefeito, pode-se dizer que esses atores sociais, direcionados pelas Posturas, governavam a cidade. Sem esquecer do pároco, é lógico. Mas esse compõe outra história.



O saber produzido pela 1ª. Postura de Indaiatuba

A lei de 1º. de outubro de 1828 obrigava que as Posturas fossem publicadas e já delimitava o escopo de atuação desse aparato de pessoas do sistema de vigilância e punição: atuar na limpeza, alinhamento, iluminação de logradouros públicos, zelar pela conservação dos edifícios, cadeias, esgotamento de pântanos; cautelar-se dos loucos, embriagados, animais ferozes, vozerias noturnas obscenidades e tudo o que for contra a moral; cuidar de feiras, mercados; favorecer a agricultura, comércio e indústria; conceder licenças e autorizar espetáculos públicos eram algumas das questões que as posturas deveriam regular.

Divulgado para ser cumprido e obedecendo sempre que aplicáveis essas diretrizes, o conteúdo das posturas de Indaiatuba mostrou-se influenciado pelos vieses religioso, jurídico e higienista.

Proibiu, por exemplo, casas cobertas com sapé no perímetro urbano; proibiu comercializar diretamente com escravos, indicou especial cuidado na venda de remédios ´fortes´ para os negros, com receio de possível uso em venenos e feitiçarias.

Proibiu escravos de fazer danças de batuque e aos brancos, algazarras dentro de tabernas; proibiu jogos de azar, proibiu soltar balões.

Obrigou o calçamento, a varredura das ruas.

Mercados passaram a ter a obrigatoriedade de manter o balcão com asseio e após matar qualquer res, era obrigatório limpar o matadouro.

Proibido vender carne podre, fazer pichações e proferir palavras obscenas.

Proibido usar armas de fogo ou armas brancas; bengala podia.

E por aí foi...

As posturas agrupavam múltiplas atribuições de controle na tentativa de organizar o espaço urbano em processo de disciplina permanente, de modo que os cidadãos sofressem um adestramento contínuo, apontando o que era normal ou anormal.



Foto do Código de Posturas Municipais de 1910 e 1930
Fonte: "Indaiatuba - Sua História" de
Scyllas Leite de Sampaio e
Caio da Costa Sampaio





Eliana Belo Silva
Texto originalmente publicado no Jornal Exemplo na coluna semanal "Identidade Indaiatuba" em 11/09/2015



Notícia publicada pela Assembleia Provincial de São Paulo,  
sobre a aprovação do Código de Posturas no jornal Diário de São Paulo do dia 24/04/1878


quarta-feira, 7 de julho de 2021

Monumento "A Caridade" no Hospital Augusto de Oliveira Camargo





Fonte: O Lar Catholico : revista social, religiosa, dedicada as familias (MG) - 1891 a 1957

Edição de 3 de outubro de 1937



Estátua "A Caridade" na época da inauguração


"A Caridade"

Escultura do italiano Marino Del Favero foi transferida para uma ala de apartamentos de internação ao lado da Maternidade

Fonte das imagens: https://www.facebook.com/indaiatube/photos/





segunda-feira, 5 de julho de 2021

"Festa da Tradição" da Helvetia é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial de Indaiatuba

O prefeito municipal em exercício, Dr. Túlio José Tomass do Couto sancionou e promulgou a Lei Municipal Nº 7.602, em 28 de junho de 2021, reconhecendo a Festa da Tradição da Helvetia como  Patrimônio Cultural Imaterial de Indaiatuba.

A festa que é realizada anualmente em Helvetia, no final de semana próximo ao Dia Nacional Suiço, comemorado em primeiro de agosto, sempre com o objetivo de  resgatar antigos valores, manifestações culturais e tradições folclóricas suíças, já integrava o Calendário Oficial do Município, conforme Lei nº 5.194, de 14 de setembro de 1997. 


HISTÓRICO

A Festa da Tradição de Helvetia, realizada há 44 anos pela Colônia de Imigrantes Suíços, em Indaiatuba, tornou-se um importante legado para a comunidade, pois é por meio dela que se registra parte da história de imigração e também pela qual são obtidos recursos para a demanda cada vez maior na manutenção dos costumes, cultura e tradições folclóricas suíças. 

Trata-se de um evento único no Brasil, que atrai centenas de pessoas provenientes de várias partes do país, inclusive descendentes suíços. 

Entre as atrações estão quatro grupos de dança (Enzian, Heideblume, Rosatíti e Edelweiss); jogo de cartas (Jass); canto típico Jodel (Jodlerklub Helvetia); banda (Schnapsmuisig); espetáculo musical infantil com instrumentos de percussão caseiros (Jugendplausch); arremesso de bandeira (Fahnenschwingen); tocadores de sinos (Trinklergruppti); gole dos atiradores (Schützentrunk); cortejo do rei do tiro, entre outros. 

A festa conta ainda com pratos típicos da gastronomia suíça, como Kdsetorte (Torta de Queijo) e Apfeltorte (Torta de Maçã), e o encerramento acontece com a fogueira simbólica. 

A primeira edição ocorreu em 31 de julho de 1977 com o intuito de angariar fundos para a manutenção da Sociedade Escolar São Nicolau de Flüe, que mantinha financeiramente a Escola São Nicolau de Flüe, oferecendo gratuitamente o ensino primário para as crianças das fazendas e sítios localizados no entorno da colônia. 

Com o sucesso do evento, já no ano seguinte convencionou-se que a Festa da Tradição seria realizada anualmente. 


Crédito da imagem:www.helvetia.org.br

De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, "o patrimônio imaterial é transmitido de geração a geração, constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana". 

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) define como patrimônio imaterial "as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas — com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos os indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural." 

O Artigo 216 da Constituição Federal define como patrimônio cultural bens "de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira". 

Neste sentido, a Festa da Tradição de Helvetia tornou-se um Patrimônio Cultural Imaterial do município, que está ultrapassando gerações no resgate da história e cultura do pequeno país europeu, cujos imigrantes são parte importante da história indaiatubana, entrelaçando-se com a história da nossa gente.






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