quinta-feira, 31 de março de 2022

Deus e o Diabo no Jardim Morada do Sol

 texto de Marcos Kimura

originalmente publicado no Jornal Indaiatuba 107.1 FM em 18/03/22


Lançamento da pedra fundamental da igreja do Jardim Morada do Sol.
crédito: Silva e Penna Imagens

Quando foi lançado no final dos anos 1970, o Jardim Morada do Sol era maior que todo o resto de Indaiatuba. Empreendimento gigantesco, contou, no mínimo, com a complacência dos poderes Executivo e Legislativo da época para ser implantado, sem áreas verdes e institucionais, sem asfalto, luz, água e esgoto. 

Sua história pregressa tem duas frentes: uma, a antiga Fazenda Engenho d’Água, cuja sede datava de 1807 e que era de propriedade de Ário Barnabé, que hoje dá nome à sua principal avenida. A outra é a Geada Negra. 

Na madrugada de 18 de julho de 1975, o fenômeno destruiu toda a cafeicultura do norte do Paraná, desempregando cerca de 600 mil famílias e mudando o cenário agrícola do país. Saltenses recordam que o prefeito Jesuíno Ruy foi o primeiro a buscar novos eleitores/moradores no Norte do Paraná, com promessas de moradia e trabalho; mas quem trouxe o maior contingente foi o empreendimento do loteador Elias Jorge na antiga fazenda de Ário Barnabé. 

O processo de colonização do Paraná na virada dos anos 1940/50 levou alguns indaiatubanos para o norte do estado, criando cidades como Maringá e Londrina. O compositor Arrigo Barnabé, nascido em Londrina, é descendente dessa leva; e, décadas depois, muitos paranaenses acabaram fazendo o trajeto oposto. 

O Jardim Morada do Sol foi batizado oficialmente em 19 de março de 1980, por meio de um decreto do recém-falecido Clain Ferrari. A rápida venda dos lotes, graças aos preços baixos, mudou para sempre Indaiatuba, para descontentamento de muitos. 

Se o pequeno bairro Santa Cruz, nas redondezas do Hospital Augusto de Oliveira Camargo, já era alvo de preconceito pelas famílias do Centro, o gigantesco Jardim Morada do Sol, faria com que a região “depois da linha do trem” passasse a ser maioria. Foram necessários muitos anos de ação das administrações municipais seguintes para que o bairro surgido no meio do nada não se tornasse um favelão. 

José Carlos Tonin iniciou as obras de infraestrutura; Clain Ferrari, em seu segundo mandato, asfaltou e duplicou a Avenida Ário Barnabé e inaugurou o Mini-Hospital; Flávio Tonin implantou a Estação de Tratamento de Água (ETA) III e a captação do córrego Piraí; Reinaldo Nogueira (em dois mandatos consecutivos) estendeu o Parque Ecológico até lá, como Parque Ecológico até lá, conforme previsto por Ruy Ohtake; e tanto José Onério como Nilson Gaspar prosseguiram as ações que tornaram o Jardim Morada do Sol um local de orgulho de seus moradores. 

Dentro de algumas semanas, o Bodecast, projeto comigo, a historiadora Eliana Belo e a testemunha da História Antônio da Cunha Penna, abordaremos detalhes inéditos sobre a implantação do maior bairro de Indaiatuba. 

Aguardem!

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quarta-feira, 30 de março de 2022

"Antônio Trinca" é homenageado como patrono do Complexo Esportivo do Campo Bonito


Por iniciativa do então vereador Célio Massao Kanesaki (legislatura 2017/2020) o prefeito Nilson Alcides Gaspar sancionou a Lei Municipal 7208 de 02 de outubro de 2019 que denomina ANTÔNIO TRINCA o Complexo Esportivo do Campo Bonito, localizado à Rua Oftilia Ferraz de Camargo, Lote Área Institucional 01 - Parque Campo Bonito. 


O HOMENAGEADO

O patrono do Complexo Esportivo do Campo Bonito, Antônio Trinca,  Antônio Trinca nasceu em Capivari em 6 de dezembro de 1930 e mudou-se para Indaiatuba em 1960, onde permaneceu até seu falecimento, em 10 de janeiro de 2016.

Era torneiro mecânico formado pelo SENAI e trabalhou como metalúrgico na Romi (em Santa Bárbara), Metalúrgica Vila Nova (em Rio Claro), na Singer (Campinas) e Yanmar do Brasil, em Indaiatuba.

Foi fundador do antigo Clube dos Casados, Ministro de Eucaristia, de cursinhos para casamento e encontro de casais, fundador e presidente do Campi (Círculo dos Amigos Mobilizados na Preparação Profissional de Indaiatuba), vereador por 19 anos (tendo sido presidente da Câmara), fundador do Clube de Malha Santa Rosa, diretor do Clube 9 de Julho, conselheiro e diretor do Esporte Clube Primavera, além de treinador de equipe amadoras e profissionais como Primavera, Yanmar, CISA, Paulistano, Singer, LBC e Parque Indaiá.

Era casado com Claudia Duarte Trinca, com quem teve quatro filhos: Antônio Jorge Trinca, Sergio Luiz Trinca, Rita de Cássia Trinca e José Trinca.



Joab Puccineli, Benedito Imanishi, Romeu Zerbini, Antonio Trinca (quarto sentado, da esquerda para a direita), Sanan, Carlos Milanês, Geraldo Hackmann, Noraldino Tonoli, Polassi, Carlos Olimpio Pires da Cunha, Sivaldo Bertolli.
Diplomação dos vereadores eleitos em 1972 na Câmara Municipal de Indaiatuba


Antonio Trinca é o primeiro à esquerda



O COMPLEXO



O Complexo Esportivo ‘Antônio Trinca’, no Parque Campo Bonito,  que será inaugurado oficialmente no próximo dia 1ª de abril, a partir das 19 horas, foi construído em uma área de 2.780,24 m² e é composto por dois blocos. O primeiro conta com piscina semiolímpica aquecida, duchas e arquibancada, vestiários masculino, feminino e acessíveis, academia, sala de ginástica e sala de condicionamento físico, além do setor administrativo. O segundo bloco conta com ginásio poliesportivo com uma quadra de medidas oficias e arquibancada, equipado com vestiários e banheiros masculinos, femininos e acessíveis.

O Complexo Esportivo foi aberto à população no dia 7 de março, para que pudesse receber os projetos Esporte Cidadão, Juventude Esportiva e do Departamento de Lazer da Secretaria Municipal de Esportes. Hoje, duas mil pessoas, dos 6 anos de idade até a 3ª Idade, já utilizam o Complexo Esportivo com aulas de Natação, Capoeira, Jiu-Jitsu, Voleibol e Futsal, dentro dos projetos Esporte Cidadão e Juventude Esportiva, além de Hidroginástica, Ginástica de Academia e Musculação, no Departamento de Lazer.


CONVITE PARA TODOS


sexta-feira, 18 de março de 2022

Jardim Morada do Sol: 42 anos de história

A historiadora do Departamento de Preservação e Memória de Indaiatuba, Thais Svicero, fala sobre os 42 anos do Jardim Morada do Sol. 

O bairro mais populoso de Indaiatuba completa 42 anos neste sábado, 19 de março, e sua área de extensão ainda integra o Jardim São Conrado, de acordo com a Prefeitura. 

O loteamento do Jardim Morada do Sol surgiu através do Decreto Municipal 2.081, datado de 19 de março de 1980, em uma área da Fazenda Engenho D’Água, que pertencia ao fazendeiro Ário Barnabé. 

Na década de 1970 o fazendeiro Ário Barnabé, que dá nome à principal avenida do bairro, vendeu a propriedade.A fazenda produzia café, milho, arroz e algodão. 

No local também havia atividade pecuária com a criação de cabeças de gado. Também migraram para o Jardim Morada do Sol no início de sua formação, famílias vindas de Estados como Bahia e Minas Gerais.

Para entrevista completa, aponte a câmera do seu celular:

Originalmente publicado pelo Jornal Indaiatuba 107.1 FM
Ano 1 | Edição 002 


terça-feira, 15 de março de 2022

A Santíssima Trindade do Mosteiro de Itaici

Christiane Meier (1)

Introdução 

O ser humano é iconotrópico, isto é, tem uma necessidade contumaz por imagens, sejam literárias ou plásticas, para construir sua identidade, seu mundo e sua cultura. A sociedade ocidental contemporânea, por sua vez, é iconólatra; é possível notar este fenômeno por meio da quantidade de imagens divulgadas diariamente. Recordemos que a palavra imagem é derivada do latim imago e tem o sentido de semelhança, representação, retrato. Segundo o Dicionário Houaiss, ela pode ter várias acepções, mas será utilizada neste artigo com o significado de “objeto por meios artísticos (imagem desenhada, gravada, pintada)”, portanto, bidimensional. 

Com a abundância de vídeos, fotografias, grafites, gravuras e pinturas entre outros, pouca atenção pode ser dada a seu conteúdo, sendo necessário tempo e observação para compreendê-los com profundidade. Há os que carecem de um olhar atencioso, que não se deixam apreciar com facilidade; necessitam de tempo para a maturação do pensamento, por meio de atenta observação, análise e comparação. 

A presente comunicação tem como objetivo apresentar uma análise da Santíssima Trindade de Cláudio Pastro, no Mosteiro de Itaici, e sua recepção na sociedade contemporânea; em seguida, averiguaremos como a obra dialoga com um protótipo do século XV. 

Notamos como o afresco de Pastro carrega, em seu cerne, uma visão de mundo, de tempo e sociedade. Importante ler este ponto de vista, esta Weltanschauung, dado que toda imagem deseja transmitir uma mensagem e não se restringir apenas a seu aspecto estético. Lembramos que Pastro foi um pintor sacro que buscou inspiração na arte cristã da baixa Idade Média; declarava-se um artista que se deixava influenciar pelas tipologias da arte que servem à liturgia e à Igreja. Dizia ser “[...] um homem do Concílio Ecumênico Vaticano II e de até antes.” (2) . Tommaso escreve que Pastro “ao falar de sua espiritualidade, citava Fra Angélico quando este dizia que, para se fazer as coisas de Cristo, é preciso pertencer a Cristo.”(3) . O próprio artista indica, desta forma, sua fé, seu arco temporal e artístico, bem como o acervo iconofotológico (4) que emprega nas suas imagens. 

Observaremos assim até que ponto ele seguiu os cânones bizantinos da arte sacra e ficaremos no encalço de uma resposta à indagação, se, no século XXI, ainda faz sentido trilhar uma tradição que remonta à Protoigreja. Buscaremos entender se Pastro, de fato, ousou uma solução moderna e inovadora, sem abandonar, contudo, os preceitos da arte sacra cristã latina e oriental. 


A Santíssima Trindade de Itaici 

O mosteiro jesuítico de Itaici, localizado no município de Indaiatuba, no interior de São Paulo, é também conhecido por Vila Kostka, uma homenagem ao santo padroeiro dos noviços da Cia. de Jesus, Estanislau Kostka. Em 1950, no local de uma antiga fazenda, iniciou-se a construção atual, inspirada na arquitetura da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O edifício, com várias alas de dois andares, abriga a capela da Santíssima Trindade, no andar superior de uma das alas. 

Ao entrar na capela, o visitante abarca, de uma só vez, a composição do mural que estará à sua esquerda. Os três anjos de tamanho maior que o natural prendem a atenção; contudo, talvez o observador não esteja, de fato, enxergando a sua totalidade. O anjo que o encara parece convidá-lo a olhar com calma e em detalhe, pois, quiçá, haja ali mais do que três seres celestiais sentados à mesa. 

A obra foi realizada em 1990 e que toma toda a parede de fundo do altar (figura 01). A composição é estilizada e carregada de simbologia como a arte sacra ou litúrgica deve ser. O mural é calcado em passagem do Antigo Testamento e na tipologia de um ícone produzido na Rússia do século XV: três anjos sentados à mesa com um recipiente ao centro. Diferentemente do iconógrafo russo, que pintou sobre madeira, Pastro retoma a arte cristã da Protoigreja e concebe sua obra em afresco, utilizando, contudo, um traço contemporâneo. 

Figura 1 - crédito na imagem


O tema encontra-se no Gênesis e descreve a ocasião em que Abraão recebe em seu acampamento, em Mambré, três seres celestiais, lava-lhes os pés e os alimenta. Nas Escrituras lemos: 

Iahweh lhe apareceu no Carvalho de Mambré [...]. Tendo levantado os olhos, eis que viu três  homens em pé, perto dele; logo que os viu, correu da entrada da tenda ao seu encontro e se  prostrou por terra. E disse: ‘Meu Senhor, eu te peço, se encontrei graça aos teus olhos, não passe junto de teu servo sem te deteres.’ (Gn 18, 1-3) 

O Patriarca dirige-se a eles no singular; chama-os de ‘Senhor’, apesar de serem três. Este fato levou a interpretações relacionando os anjos à Trindade Santa, Pai, Filho e Espírito Santo, à manifestação do Deus trino e uno no mundo sensorial. Sua tipologia ficou conhecida como a Santíssima Trindade, na Igreja russa, e a Hospitalidade ou a Xenofobia de Abraão, na Igreja grega, tornando-se símbolo do amor cristão, da caridade para com estrangeiros e viajantes. 

Tal formação de matriz iconográfica a partir de uma imagem logótica é descrita por Panofsky: “Observará [o espectador] a interligação entre as influências das fontes literárias e os efeitos de dependência mútua das tradições representacionais, a fim de estabelecer a história das fórmulas iconográficas ou ‘tipos’.”(5). Burckhardt, por sua vez, afirma que, na perspectiva cristã, “as realidades eternas aparecem sob a forma de eventos históricos”(6) e assim passíveis de serem reproduzidos pictoricamente. 

A imagem bíblica do encontro em Mambré entra para o repertório dos artistas plásticos, tornando-se uma iconografia corrente, tanto na Igreja latina como na ortodoxa, desde as catacumbas romanas até o século XXI. Apesar de esta representação iconográfica ser conhecida desde o século V, é no século XV, na Rússia, que se consagra como protótipo largamente usado até o presente: a Santíssima Trindade de Rublev (figura 02)

Figura 2 - André Rublev, Santíssima Trindade, Galeria Tretyakov, Moscou, foto da autora


Esse modelo evoca o diálogo entre as pessoas da Trindade que estão a debater a estratégia de salvação da humanidade. As Escrituras Sagradas, contudo, não narram qualquer plano de redenção; é na Patrística, em Ambrósio e Agostinho, e em místicos medievais que os artistas buscarão estas imagens logóticas, para transpô-las em iconográficas, segundo Boespflug (2013). Segue o autor informando que Deus tem planos e os debates resultarão na estratégia das intervenções neste mundo: o Espírito Santo será enviado para dar vida e o Filho virá para vencer o mal e a morte. 

Mas, ao contrário do iconógrafo russo, que pintou sobre madeira, em Itaici, o artista retoma a arte cristã medieval e concebe sua obra em forma de afresco, pintura sobre parede úmida, utilizando um traço contemporâneo e simbólico que dialoga com a arte da Protoigreja cristã. Segundo Sartorelli, Pastro “dentro de sua análise de sacro e religioso na arte, [...] valoriza a arte e a arquitetura do primeiro milênio do cristianismo.” (7)

O mural de cerca de 20 m², tem dimensões humanas que aproximam o sagrado do observador. Diferentemente da Idade Média, quando a sociedade era cristocêntrica e antropoperiférica, o pintor subverte a lógica e a atualiza, procedendo ao aggiornamento recomendado pelo Concílio Vaticano II: os artistas deveriam atualizar a arte sacra paleocristã. Seguindo essa orientação, ele concebe sua obra de forma contemporânea, empregando a escala humana, mas o faz a um só tempo cristocêntrica - dado que o Deus trino e uno é o centro visual - e antropocêntrica, já que tem as dimensões do homem. 

O ícone de Rublev, por sua vez, é, sem dúvida, antropoperiférico, dada sua escala reduzida (1,42 x 1,14 m) que afasta o sagrado do mundo sensível, tornando a obra uma janela para o transcendental. O iconógrafo acentua o caráter celestial dos seres representados ao empregar cores claras e diáfanas. Em Pastro, as cores terrosas são indicativas do Emanuel, ‘Deus conosco’, do Verbo Encarnado que viveu entre nós, da Trindade Santa neste mundo. Este sentimento reverbera no visitante, como pode ser constatado na selfie de jovens (figura 03); o grupo e a Trindade parecem formar um só conjunto, uma comunidade. A legenda da foto explica tratar-se da “Igreja viva”, como se os três anjos pertencessem ao grupo fotografado. 

Figura 03 - Igreja Viva, grupo diante do afresco da Santíssima Trindade, Capela da SS Trindade, Mosteiro de Itaici 
https://www.tripadvisor.com.br/Mosteiro_de_ Itaici-Indaiatuba_State_of_Sao_Paulo.html

Faixas horizontais perpassam todo o mural, lembrando as dunas do deserto onde Abraão descansava, mas, igualmente, remetendo a pautas musicais. Não somente a linha na altura dos olhos dos anjos pode vir a formar uma melodia em nosso interior, mas a pintura toda lembra uma partitura, evoca música. Contudo, as pautas são formadas por cinco linhas, o pentagrama, e aqui contamos sete, número considerado místico, espiritual. Sete é a soma do número três (a perfeição, a própria Trindade Santa) com o quatro (a Terra, já que quatro são os pontos cardeais, as estações do ano, p.ex.). Deus criou o mundo em sete dias, portanto, sete são os dias da semana, as esferas celestes, as notas musicais, os arcanjos, as hierarquias dos anjos, etc. Sete é a síntese da combinação do sagrado (três) com o terreno (quatro), Deus no mundo, a Santíssima Trindade na capela de mesmo nome, evocando a presença do divino ali. 

Segundo descrição de Padre. Rámon, “o mural revela traços ondulatórios, alongando, desse modo, o lugar quadrado da capela.” (8) . O aspecto mencionado, as linhas que alongam a capela, remete-nos ao preceito medieval de que a arte sacra cristã, em especial o mosaico e o afresco, deve acompanhar a arquitetura. Nesse sentido, é possível observar a utilização das linhas para ‘alongar’ a parede e dar diversidade ao olhar, chamando a atenção para o mural. 

Observado o ícone de Rublev, nota-se que ele apresenta três seres celestiais sentados à mesa com um cálice ao centro; sabemos tratar-se de anjos peregrinos, pois cada um porta um cajado em sua mão. Peregrinos que, segundo o Gênesis, são acolhidos por Abraão. Na obra de Rublev, não vemos Abraão, mas sabemos de sua participação na cena assim como a de Sara, sua esposa, pois, ao ouvir o prenúncio de que teria um filho, riu (Gn 18). Na composição de Pastro há, igualmente, três anjos peregrinos portando seus cajados e, ao contrário da composição russa, Abraão, em profunda prostração, e Sara, semioculta e ouvindo a conversa, estão também presentes. 

Ao examinar as faces dos anjos, notamos que eles têm o mesmo rosto, apesar de não terem uma fisionomia de uma determinada pessoa; ao contrário, os semblantes são estilizados, representando qualquer e todos os homens. São magros, longilíneos e de tez morena; portam barba aparada e cabelo longo, ambos castanhos. As feições são de um adulto por volta dos trinta e cinco anos de idade, com olhar sério, boca pequena e nariz afilado; os olhos escuros são muito grandes. Vemos que são idênticos, só variando suas posturas: dois estão com os rostos levemente virados, em três quartos (um para a esquerda e outro para a direita) e um encara o observador de frente. 

Encontramo-nos diante da imagem triplicada de Cristo, representado na sua forma consagrada, da Santa Face. Pastro deve ter optado por esta representação, já que Jesus afirmara ser a imagem do Pai e, por consequência, da Trindade Santa. Assim, diferentemente de Rublev, que pinta sua Trindade com rosto de anjos, Pastro pinta três vezes o mesmo rosto do Redentor. 

As roupas são estilizadas e idênticas: temos a impressão de ver túnica e manto que lembram as utilizadas no Império romano. Sua composição é gráfica, arranjada com linhas, traços, semicírculos e superfícies em amarelo, laranja, branco, ocre e marrom. No geral, a paleta do artista é enxuta, predominando os tons terrosos. 

Observamos somente duas grandes asas amarelas com pontos cintilantes, mas podemos intuir que cada anjo tem um par. As duas visíveis emolduram as três pessoas, reafirmando a sua natureza una e trina, triuna, Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo. Por trás de suas cabeças, veem-se auréolas individuais igualmente amarelas, com tufos da mesma cor, como que cintilando, dando a impressão de luz bruxuleante. Segundo o Credo de Nicéia, “Jesus é Luz de Luz”, e, assim, pode-se inferir que Deus é luz; lembrando ainda que Javé-Deus, no Antigo Testamento, é a sarça ardente que não se consome (Ex 1) e ainda a coluna de fogo que guia Moisés e seu povo no deserto (Ex 13, 21-22). Esses pontos em amarelo se repetem nas asas, remetendo à promessa feita pelos anjos de que o anfitrião teria muitos descendentes com sua esposa Sara: “Olha para o céu e conte as estrelas,[...]  assim será tua posteridade.” (Gn 15, 5). 

Os três portam bastão longo e fino e estão sentados muito próximos uns dos outros, sobre cubos iguais aos bancos do altar da capela. À sua frente, vemos uma superfície que se parece com uma pequena mesa, concebida sem perspectiva, da mesma forma que em pinturas da Idade Média. Sobre esta, um objeto redondo, um medalhão, um prato talvez, com um animal estilizado, um cordeiro, que parece cair para fora da pintura. Temos a impressão que o cordeiro está vivo e não imolado, como seria de se esperar de um prato servido sobre a mesa. O tampo, um mosaico em azul e branco, atrai o olhar do visitante, pois sobressai dos tons quentes e ressalta o recipiente com o animal, fazendo que pareça flutuar, lembrando um holograma. Abaixo, veem-se a primeira e a última letra do alfabeto grego, alfa e ômega, emolduradas pelos pés descalços dos dois personagens externos. 

A pessoa da esquerda de quem olha o afresco está de frente, encarando o fiel e o convida a olhar sua mão direita apontando para o centro, para sua estratégia de salvação: o cordeiro que virá ao mundo e triunfará sobre o pecado e a morte. Trata-se de Deus-Pai, com três dedos indicando o seu plano e reafirmando assim a comunidade em uma só pessoa, Deus uno e trino. Ao centro, tem-se o Filho, mirando o Pai e indicando com a mão o seu papel: a de cordeiro que vencerá o mal e a morte. À direita, o visitante identifica aquele que já está pronto para iniciar sua missão, a de vir ao mundo e dar vida: o Espírito Santo. Sua mão, com a palma virada para cima, está aberta, aceitando seu papel; seu olhar é em direção para onde deve seguir. Ele já não porta mais o seu cajado, pois o passou aos bispos que devem conduzir a Igreja. 

A obra não tem luminosidade própria, não encontramos um ponto iluminador, apesar de as asas e as auréolas cintilarem. Ela segue o cânone bizantino dos ícones, onde a luz não é natural, mas espiritual, difusa, que não gera sombras e tampouco ressalta partes do trabalho; é a mesma luminosidade observada em Rublev. 

Outro ponto de contato com o iconógrafo russo é a perspectiva. Pastro não emprega a perspectiva linear, aquela que imita o mundo sensível. Ele se utiliza da perspectiva inversa, que não busca a mimese, mas está centrada no observador; seu ponto de fuga está no olhar de quem vê o ícone. Pelas dimensões da obra em Itaici, a perspectiva inversa coloca o observador junto à Santíssima Trindade e a capela passa a ser a tenda de Abraão, com seus dois postes representados no afresco e outros dois, imaginariamente, atrás do observador. Pintando em tamanho maior que o natural e utilizando o ponto de fuga no espectador, Pastro envolve-o na cena à sua frente e traz o divino para a dimensão do humano. 

Considerações finais 

Constatamos que a obra de Pastro necessita de tempo para que o observador possa analisar todos os seus aspectos, buscar em sua memória imagens para comparação e abarcar, desta forma, seu conteúdo e sua mensagem. Goethe afirmara que “a obra de arte [...] longe de imitar uma natureza visível, torna visível um mundo ainda desconhecido.” (9) , tendo sido este o nosso ponto de partida: o descortinar de um conteúdo não aparente de imediato, uma imagem que, mesmo sendo abarcada a uma só vez, não é compreendida de pronto. 

Vimos que, apesar de o artista ter utilizado tipologias das Igrejas latina e ortodoxa e se pautado no cânone artístico da Protoigreja, ele inovou e trouxe solução transformadora para seu mural, seja na dimensão, no traço contemporâneo ou na forma que posicionou o visitante junto ao sagrado. Confirmamos que a obra, quando analisada em detalhe e sua mensagem apreendida na totalidade, denota o diálogo e a música que emana do conjunto. Contudo, ela não agita o espectador, mas o leva à introspecção, como no depoimento de quem muitas vezes esteve ali a contemplar e meditar: “ [...] o artista não fechou o horizonte do que contemplamos, deixando espaços sem pintar. Esses vãos induzem-nos a superar o que meramente vemos. As ondulações das dunas ampliam o nosso espaço de visão exterior e interior.” (10)

Pastro, por sua vez, afirma que “outra questão para mim é realizar uma obra que seja continuidade da arte sacra no ‘rio de água viva’ que provém do Cordeiro e perpassa toda a história da Igreja e da humanidade.” E, dentro deste espírito ele cria seu afresco em Itaici, trazendo o sagrado para o mundo contemporâneo, aproximando o visitante e o fiel do Deus trino e uno, concedendo-lhe, porém, de forma contemporânea, espaço para seus próprios pensamentos e sentimentos.



(1) Mestre em Ciências Humanas pela UNISA, especialista em História da Arte pela FAAP, graduada em Tradução pela Universidade Johannes Gutenberg de Mogúncia, Alemanha. Pesquisadora do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia – LABÔ-PUC/SP . 

Conteúdo apresentado na - XIV EHA - Encontro de História da Arte — UNICAMP. DOI 10.20396/eha.vi14.3435.

(2) Pastro, 2013, p. 6

(3) Tommaso, 2017, p. 253 

(4) Brandão, 2014

(5) Panofsky, 2014, p. 37 

(6) Burckhardt, 2004, p. 120

(7) Sartorelli, 2013, p. 95 

(8) Pe. Ramón, blog Terra Boa

(9) apud Lacoste, 1986, p. 34 

(10) Pe. Ramón, blog Terra Boa




Referências bibliográficas 

Bíblia de Jerusalém, Paulus, 2016 

BOESPFLUG, François. Der Gott der Maler und Bildhauer – die Inkarnation des Unsichtbaren, Verlag Herder, Freiburg im Breisgau: 2013 

BRANDÃO, Jack (org.). Apontamentos imagético-interdisciplinares: as artes iconológica, pictográfica, fotográfica e literária, Editora Lumen et Virtus, Embu-Guaçu: 2014 

BURCKHARDT, Titus. A arte sagrada no Oriente e no Ocidente: princípios e métodos, Attar Editorial, São Paulo: 2004 

LACOSTE, Jean. A Filosofia da Arte, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro: 1986 PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais, Editora Perspectiva, São Paulo: 2014 

PASTRO, Claudio. A Arte no Cristianismo, Paulus, São Paulo: 2010 _____. Imagens do invisível na arte sacra de Cláudio Pastro, Edições Loyola, São Paulo: 2013 

SARTORIELLI, César Augusto. O espaço sagrado e religioso na obra de Claudio Pastro, Almeida Casa Editorial, São Paulo: 2013 

TOMMASO, Wilma. A Contrarreforma e a arte colonial no Brasil, sem data, em https://www.academia.edu, acessado em 30/09/2018 _____. O Cristo Pantocrator – da origem às igrejas no Brasil, na obra de Cláudio Pastro, Paulus, São Paulo: 2017 http://www.terraboa.blog.br/2017/06/capela-da-ss-trindade-em-itaici, acessado em 25/06/201

sábado, 12 de março de 2022

Aydil Bonachella, a Rainha da Rádio

Marcos Kimura

Originalmente publicado no Jornal Indaiatuba 107.1 FM

Ano 1 | Edição 001 de 11 de março de 2022



 

Nesta semana do Dia Internacional da Mulher, recordamos a querida Aydil Bonachella, a maior comunicadora que Indaiatuba já teve, cujo falecimento vai completar 14 anos, no dia 20 de março.

Aydil pagou por seus estudos em um colégio de freiras, depois de formada, e conseguiu emprego da Coletoria do Estado de São Paulo. 

Poderia ter ido mais longe na carreira não fosse uma das várias perdas que a vida lhe reservou. Um AVC incapacitou seu marido Tarcisio após poucos anos de casada. Isso fez com que, além de arrimo de família, ela não pudesse mais viajar a trabalho, e criasse seus dois filhos sozinha. O que não a impediu de cursar Direito, para aumentar seu salário no funcionalismo público. 

Ela exerceu diversas atividades paralelas, até que, com o surgimento da Rádio Jornal, inicia a carreira que a notabilizaria. 

Mas, então, acontece a tragédia que mudaria sua vida: sua filha Andréa morre num acidente a cavalo durante a Romaria a Pirapora. Para se recuperar dessa perda, Aydil cria, com um grupo de amigas e o apoio do Padre Xico, as V.I.P.s, ou Voluntárias de Integração da Periferia, e muda o foco de seu programa na rádio para o assistencialismo. 

Junto com as ações beneficentes, sua voz inconfundível passa a invadir as manhãs de Indaiatuba, falando o que lhe vinha na telha, pedindo ajuda a quem recorria a ela, mobilizando população e empresários. 

Após conhecer a obra da Irmã Dulce, Aydil resolveu voltar o trabalho das VIPs para atender meninos de rua. Nem todas as voluntárias concordaram e muita gente chamou o que mais tarde se tornaria a Casa do Caminho de “abrigo de trombadinhas”. 

Mas o testemunho de diversos garotos que mudaram de vida depois de passarem por lá mostrou o valor da iniciativa, que, novamente, se tornaria mais uma perda em sua vida. Ela acabaria sendo expulsa da entidade que criou pela pessoa que indicou para substituí-la. 

Cadê a Casa do caminho hoje? 

No final de seu segundo mandato, Clain Ferrari, surpreendeu todo mundo ao anunciá-la como candidata a vice-prefeita na chapa situacionista encabeçada por Wilson Lucchini. Durante a campanha, uma romaria de gente ia aos comícios para vê-la de perto. É depois dessa curta experiência política que Aydil se torna a Hebe Camargo de Indaiatuba, mais exatamente por causa de seu programa da TV Sol. 

Seus inúmeros ouvintes puderam assistí-la em casa, e alguns até ao vivo, na arquibancada montada no estúdio. Mas as dores em sua vida não haviam acabado, e Aydil ainda perderia a irmã, Maria Inês, numa cirurgia estética. 

O carinho da população e o reconhecimento oficial, na forma da Medalha João Tibiriça Piratininga, não foram suficientes para manter seu ânimo. 

Problemas de saúde foram minando aquela força da natureza, até que ela se extinguiu, bem na porta desta Rádio Jornal. Hoje, quando se procura Aydil Bonachella no Google, o que aparece é o Centro de Convenções, hoje sede da Secretaria da Cultura, que leva seu nome. 

É pouco para quem tanto impactou a vida de tantos.

sexta-feira, 11 de março de 2022

A verdadeira história por trás do 8 de março: o Dia Internacional da Mulher

Eliana Belo Silva, historiadora e escritora, esclarece a verdadeira história do Dia Internacional da Mulher instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 1975. 

Segundo Eliana, o objetivo da ONU, em instituir a data foi diminuir a violência contra a mulher e fomentar o empoderamento feminino. 

No entanto, a história da data 8 de março é anterior e começa na Rússia. 

Nesta entrevista você conhece mulheres importantes no mundo e uma mulher que mudou a história de Indaiatuba: Leonor Barros de Camargo que construiu o Hospital Augusto de Oliveira Camargo, a escola Randolfo Moreira Fernandes e financiou a construção da primeira rede de distribuição de água de Indaiatuba.

Veja a entrevista completa aqui:


Originalmente publicado no Jornal Indaiatuba 107.1 FM

Ano 1 | Edição 001 de 11 de março de 2022




quarta-feira, 9 de março de 2022

Biodiversidade em Indaiatuba

Texto de Charles Fernandes

Arquiteto e Urbanista 

 

Porque é tão difícil preservar ou reconstituir nossa vegetação nativa

Em um único estudo realizado em 3.100 m² de mata ciliar do Córrego do Brejão, afluente do Rio Capivari Mirim, foram encontradas 717 árvores, cerca de 1 indivíduo a cada 4,32 m², distribuídos em 126 diferentes espécies de 39 famílias, mostrando como é rica e diversificada a flora em nosso município. Este estudo também reflete a biodiversidade do bioma da Mata Atlântica, presente em Indaiatuba, e a dificuldade em preservá-lo ou reconstituí-lo.

Em nosso município podemos encontrar dois diferentes biomas, o da Mata Atlântica, presente em nossas matas ciliares que protegem os cursos d’água e nascentes, e fragmentos remanescentes de mata, em geral de reservas legais de propriedades rurais; e o bioma de Cerrado que se caracteriza por árvores e arbustos retorcidos e espaçados; ambos biomas ameaçados, ambos protegidos pelo Código Florestal Brasileiro de 1965.

Segundo o Programa Reflora do CNPq, somente no estado de São Paulo podem ser encontradas 1587 diferentes espécies arbóreas em seus diferentes biomas, sendo que em vegetação de mata ciliar, é possível identificar até 488 diferentes espécies, sendo 11 delas endêmicas da Região Sudeste, ou seja, que somente ocorrem aqui. Portanto podemos afirmar que uma das maiores riquezas de nossa mata nativa é sua grande biodiversidade.

A biodiversidade da Mata Atlântica presente em Indaiatuba não pode ser representada estritamente pela flora, pois cada espécie possui relações ecológicas específicas, e estratégias de reprodução e propagação que acabam por relacionar animais polinizadores ou dispersores, muitos deles especializados, e que acompanham a ocorrência destas plantas criando uma relação simbiótica, de benefício mútuo, prosperando a planta e o animal, e criando uma complexa rede. Esta característica da Mata Atlântica, também representa uma enorme dificuldade em preservar e a necessidade de conhecimento técnico para se recompor com eficácia. 

O conceito de 'Sucessão Ecológica'

Quando uma mata sofre uma degradação, gerada pela queda de um grande indivíduo, fogo ou outros fatores não antrópicos, ela inicia automaticamente um processo de regeneração, conhecido como sucessão ecológica. Podemos observar diferentes espécies ocorrendo e protegendo umas as outras, criando condições para que uma mata degradada se recupere e retorne naturalmente a uma condição equilibrada. Podemos separar as espécies de árvores da Mata Atlântica, em três (3) grandes grupos ecológicos sucessionais e, assim, melhor entender sua função na recuperação da vegetação nativa. São elas: pioneiras, secundárias e climaces.

As espécies pioneiras são as primeiras a ocorrer em áreas degradadas, em geral possuem baixa estatura e crescimento rápido, o que leva a possuir madeira muito leve e frágil e vida mais curta. Em geral, suas sementes possuem grande dormência e longevidade, são dispersadas por longas distâncias por animais, podem ficar longos períodos sem germinar e são, em geral, ativadas por luz solar. Estas espécies  possuem a função de criar proteção para os indivíduos que vêm em sequência, dos grupos de espécies secundárias e climaces. Estas por sua vez, possuem crescimento mais lento, que torna sua madeira mais resistente, proporcionando um porte maior. As espécies climaces em especial, representam o CLIMAX da floresta, e possuem grande relação de dependência com pequenos animais dispersores e insetos polinizadores. Matas com grande número de espécies climaces podem indicar preservação, enquanto sua baixa população ou ausência pode ser entendida como perda de biodiversidade e degradação.

Os animais dispersores e polinizadores possuem grande mobilidade, e evadem com facilidade um local degradado, fazendo com que, com o tempo, também pereçam as populações das espécies de flora que possuem relação ecológica com eles. Um exemplo deste desequilíbrio em Indaiatuba, pode ser representado pela quase extinção de nossa palmeira símbolo, o Indaiá (Attalea geraensis), ao ponto em que seu principal dispersor, a Cotia, que se alimenta de sua amêndoa e a enterra, também foi afugentada do município.



Cotia (Dasyprocta sp.)

A cotia possui o hábito de roer os cocos da palmeira Indaiá para comer a amêndoa. Enterra vários deles que acabam germinando. Escarificar um fruto roendo ou até mesmo ativar a semente com a digestão torna alguns animais essenciais para a proliferação de várias espécies vegetais e são chamados de dispersores.

Imagem - Pinterest


Em Indaiatuba são conhecidas as pioneiras: angico, tamanqueira, jerivá, araribá, paineira, sangra d’agua, jacandá mimoso, aldrago, aroeira mansa, embaúba e guapuruvu - sendo que suas presenças em grande número indica que houve degradação na mata, e que se encontra em processo de regeneração. Muitas espécies possuem nomes científicos que fazem alusão, em latim, a alguma característica sua e uma das espécies conhecidas por embaúba, de ocorrência comum por aqui, é a hololeuca que significa “luz branca” ilustrando como sua enorme folha brilha em meio ao dossel da mata.

Árvores conhecidas popularmente como ingá, imbira de sapo, canela, saboneteira e várias espécies de ipê, são classificadas como secundárias.  

Espécies de nossa região como o jequitibá branco, cedro, guarantã, jatobá e cabreúva, representam os estágios de climax de floresta, sendo classificadas como climaces.

Na praça Prudente de Moraes existem dois grandes indivíduos de jequitibá branco, um deles possui copa que chega a 28 metros de diâmetro, e que apesar de seu atual imponente tamanho, ainda crescerão muito mais. 

Os jequitibás plantados na Avenida Itororó e Avenida Major Alfredo Camargo Fonseca marcam uma cruz no desenho da cidade e podem ser avistados do espaço. 

Na nascente do bairro Jequitibás existe um indivíduo nativo, cujo porte ilustra o tamanho que pode alcançar. 

No jardim do Casarão do Pau Preto existem um jequitibá e um jatobá de médio porte disponíveis para visitação. 

Várias destas espécies dos três grupos ecológicos podem ser identificadas dentro da cidade de Indaiatuba, pois foram muito usadas no paisagismo do Parque Ecológico.

A pioneira Embaúba Prateada (Cecropia hololeuca)

Foto: divulgação Parque Ecológico Imigrantes



Uvaia (Eugenia pyriformis)

Myrtaceae é uma numerosa família de espécies de árvores frutíferas nativas de nossa região como a goiaba, uvaia, araçá, gabiroba, cereja do mato, pitanga, jabuticaba,  entre tantas outras. São espécies muito apreciadas pela fauna, em especial de pássaros, formando  importantes vínculos de dispersão.
Imagem: divulgação Jardineiro.net


A ação do homem que degrada e a ação do homem que regenera

Em muitas situações, a ação do homem causa degradação tamanha que a mata não possui condições de se regenerar por meios próprios, tão pouco de estabelecer um ponto de equilíbrio alternativo, e passa a definhar tendendo a desaparecer caso a agressão seja severa e incessante. 

Nestas situações torna-se necessário a aplicação de processos de revegetação usando técnicas que imitem a regeneração natural das florestas. Uma das técnicas mais usadas em nosso município é o de consórcio ecológico, onde são plantadas, simultaneamente, espécies dos três grupos ecológicos, pioneiras, secundárias e climaces, em proporções e populações específicas, onde rapidamente (para uma planta, é claro), e com certos cuidados de manejo, as pioneiras formam um dossel eficiente que protege as espécies de crescimento mais lento. 

Um exemplo a ser observado em Indaiatuba, de uma recomposição realizada em 2015 pelo SAAE, para criar uma nova mata ciliar para o novo reservatório de abastecimento de água do Rio Capivari Mirim, foi o chamado Mega-Plantio. Em especial na margem campineira do Parque do Mirim, ao norte do reservatório, podemos observar hoje, a grande quantidade de árvores de diferentes espécies, e como algumas tiveram rápido e grande desenvolvimento, enquanto outras crescem mais lentamente, mas protegidas do sol, vento e outros intempéries.

Outros exemplos podem ser observados no Programa de Conservação e Recuperação de Nascentes , também do SAAE, que visa, com a revegetação, preservar os vertedouros que abastecem nossos cursos d’água, mantendo e aumentando nossos recursos hídricos.  

O Programa de Conservação e Recuperação de Nascentes faz parte das diretivas do Programa Município Verde a Azul, e sua efetivação, além de proporcionar benefícios ecológicos para a cidade, protegendo ecossistemas, pode dar acesso a linhas de crédito para projetos ambientais e de recursos hídricos com fundos estaduais.


A invasão das exóticas


Chamamos de exóticas, as espécies que não são nativas de determinada região, que não nascem naturalmente naquele local, ou que foram trazidas pelo homem, de outros locais, para fins agrícolas ou ornamentais. Ter uma beleza advinda da flora estrangeira pode, em algumas situações, proporcionar desequilíbrio quando esta espécie prolifera e ocupa o lugar de espécies nativas. Atualmente o maior invasor da região é a leucena, originária de regiões a sul do continente, foi trazida para servir de forrageira para gado na região centro-oeste e já invade quase todo o Estado de São Paulo corrompendo ecossistemas e criando matas estéreis onde somente ela prospera.

Usar demasiadamente espécies exóticas em projetos paisagísticos de parques ou mesmo arborização urbana, próximos a matas nativas, também pode gerar degradação devido ao poder de propagação destas espécies, ao ponto em que utilizar espécies nativas nestas situações pode colaborar com dispersão de sementes ajudando a proteger a biodiversidade local. 

"Muitas vezes é uma escolha simples e óbvia, se há a opção entre uma espécie nativa e uma espécie exótica, espero ter ilustrado dezenas de razões para optar por uma que seja natural de Indaiatuba."

Atualmente existem  estudos relacionados, e resoluções da Secretaria de Meio Ambiente do estado que determinam quais espécies são aceitas e indicadas em projetos de revegetação nativa em nossa região, para que se mantenha a biodiversidade de nossas matas, tanto de flora quanto de fauna dispersora e polinizadora. E o Plano Municipal de Arborização Urbana em vigência desde 2015, indica dezenas de espécies próprias para uso nas ruas e parques urbanos, e que poderiam proporcionar excelente integração com nossas matas nativas.

Mais importante do que marcar ponto efetivando um plantio, é ter a certeza da eficácia da revegetação na reconstituição ou preservação dos ecossistemas locais através da utilização de técnicas adequadas e sobretudo respeitando a biodiversidade da região.


Cambacica (Coereba flaveola)

Ave de grande ocorrência em Indaiatuba, seu bico é especializado para beber o néctar das flores das matas, tornando-se importante polinizadora nativa.

Foto. Wikipedia 

Fontes:

DEMARCHI, Layon Oreste. Florística e fitossociologia da comunidade arbustivo-arbórea em um trecho de floresta estacional semidecidual Ribeirinha no município de Indaiatuba, SP. 2010. 66 f. Trabalho de conclusão de curso (Ecologia) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro, 2010. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/118862>.


REFLORA.

http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/PrincipalUC/PrincipalUC.do?lingua=pt


Matas Ciliares: Conservação e Recuperação / editores Ricardo Rodrigues, Hermógenes de Freitas Leitão Filho. – 2ª ed. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Fapesp,2001.


segunda-feira, 7 de março de 2022

Dia Internacional da Mulher - Vereadoras de Indaiatuba

Abaixo está a lista de todas as pessoas que foram vereadores na Câmara Municipal de Indaiatuba, desde a primeira formação, em 1836.

Do total de 290 vereadores desde então, apenas 7 foram eleitas e três assumiram como suplentes (no total de nove) foram do gênero feminino, sendo que na atual vereança há três mulheres: Ana Maria dos Santos, Lucidalva Luz dos Santos e Silene Silvana Carvalini

Todas fazem parte de um número muito relevante para ser considerado e debatido no Dia Internacional da Mulher:  cerca de apenas pouco mais de 2% de vereadores foram (são) do gênero feminino na história da Câmara Municipal em nossa cidade.

Tente encontrá-las:

  • Adalto Missias de Oliveira
  • Adeilson Pereira da Silva
  • Agostinho Junior 
  • Alexandre Carlos Peres
  • Alfredo de Camargo Fonseca
  • Alfredo Steffen 
  • Algemiro Barnabé 
  • Ambrósio Lizoni
  • Ana Maria dos Santos
  • Angelo Stocco
  • Antero Joaquim  Santiago 
  • Antônio Ambiel
  • Antônio Basílio 
  • Antônio Benedicto de Castro 
  • Antonio Bicudo
  • Antônio da Rocha Penteado
  • Antônio de Almeida Campos
  • Antônio de Almeida Sampaio
  • Antônio de Quadros Leite
  • Antônio de Salles  Pinto
  • Antônio Dias Ferraz (Tenente)
  • Antônio Estanislau do Amaral Campos
  • Antônio Joaquim de Freitas 
  • Antônio Jorge Trinca
  • Antônio José de Assumpção
  • Antônio Leite de Sampaio
  • Antônio Nardy de Vasconcellos
  • Antônio Paes de Barros (Sargento-mor)
  • Antônio Palossi
  • Antônio Pinheiro
  • Antônio Pinto de Campos Freitas
  • Antônio Pires de Campos Thebas 
  • Antônio Ribeiro Gonçalves 
  • Antonio Sposito Júnior (Toco)
  • Antônio Trinca
  • Aristes Barnabé
  • Arthur Machado Spíndola
  • Arthur Pedroso de Barros
  • Arthut Thomazi (Suplente)
  • Athaíde Pucinelli 
  • Augusto de Oliveira Camargo
  • Barduino do Amaral Gurgel 
  • Basílio Martins
  • Benedicto José do Amparo
  • Benedito Martins
  • Benjamim Constant de Almeida Coelho
  • Bento Dias Pacheco 
  • Bento José de Souza (Capitão)
  • Bento Lourenço de Almeida Prado
  • Bernardo de Mello Silva
  • Bruno Arevalo Ganem
  • Caio da Costa Sampaio
  • Capitão José Cirino de Almeida
  • Carlos Albertini
  • Carlos Alberto Rezende Lopes (Linho)
  • Carlos Milanesi
  • Carlos Olímpio Pires da Cunha
  • Carlos Teixeira Engler
  • Celi Aparecida Brandt
  • Célio Massao Kanesaki
  • Celso Moreira Rocha Filho
  • Césare Lisoni
  • Césare Lisoni
  • Cherubim de Campos Bicudo 
  • Christiano J. M. Steffen
  • Christiano Martinho Steffen 
  • Constantino Ambiel
  • Décio Rocha da Silva
  • Derci Jorge Lima
  • Djalma César de Oliveira
  • Djalma Eurípedes
  • Domacyr Stocco 
  • Dr. Mário Paulo
  • Edmundo de Lima Pontes
  • Edson Motooka
  • Eduardo Luiz Steffen
  • Edvaldo Bertipáglia
  • Elias Antônio de Assumpção
  • Elias Teixeira de Mello
  • Estanislau do Amaral Botelho
  • Estanislau do Amaral Campos
  • Eurico Primo Venturini 
  • Evandro Magnusson Filho
  • Fábio Marmo Conte
  • Feliciano Leite de Pacheco
  • Fellipe Antônio de Oliveira 
  • Fellipe de Campos Almeida 
  • Fernando de Almeida Leite
  • Fernando de Camargo Couto
  • Flavio Castro
  • Flavio Tonin 
  • Francisco Antônio do Nascimento
  • Francisco Celestino Guimarães
  • Francisco de Almeida Leite 
  • Francisco de Assis Bueno
  • Francisco dos Santos Toledo
  • Francisco Galvão de França Júnior
  • Francisco José de Araújo
  • Francisco José Pacheco Góes
  • Francisco José Pinto
  • Francisco Lanzi
  • Francisco Pinto Leite 
  • Francisco Xavier da Costa
  • Francisco Xavier de Almeida 
  • Francisco Xavier Sigrist 
  • Franscisco Mandelo
  • Geraldo Hackman
  • Germano Pucinelli 
  • Gervásio Aparecido da Silva
  • Gil Serra Regalinho
  • Gilberto Narezzi 
  • Goliardo Soliani
  • Guilherme Lacerda
  • Hélen Béssie Leite de Moraes Castilho 
  • Hélio Alves Ribeiro
  • Hélio Milani 
  • Helton Antônio Ribeiro
  • Henrique Lopez Cruz
  • Hermes Cotafava
  • Hisao Fujiwara
  • Hormínio Zerbini
  • Ignácio de Paula Campos
  • Ignácio de Paula Leite de Barros
  • Ignácio Xavier Paes de Campos
  • Itamar da Silva Maciel
  • Jacintho de Oliveira Bueno
  • Jacob Krähenbühl
  • Jacob Lyra
  • Jácomo Nazário
  • Jair Leme Rosa
  • Jesuíno da Fonseca Leite
  • Joab José Puccinelli
  • João Baptista de Camargo Teixeira 
  • João Bueno de Camargo Graminha Júnior 
  • João de Campos Bicudo
  • João de Souza Neto
  • João Dotta
  • João Franco 
  • João Ifanger Júnior 
  • João José Mendes 
  • João Leite de Sampaio
  • João Leite de Sampaio Ferraz
  • João Neto 
  • João Paulo de Camargo
  • João Tibiriçá Piratininga
  • João Walsh Costa 
  • Joaquim Antônio de Camargo
  • Joaquim de Sampaio Góes
  • Joaquim Dias de Arruda 
  • Joaquim José Fiuza
  • Joaquim Otaviano da Cunha
  • Joaquim Pedroso de Alvarenga 
  • Joaquim Pires de Almeida
  • Joaquim Rodrigues de Arruda
  • Jorge Luis Lepinsk (Pepo)
  • Jorge R. Silva 
  • Jorge Ribeiro Júnior
  • José Amstalden 
  • José Antônio da Motta
  • José Antônio da Silveira 
  • José Aristéia
  • José Arthur Amstalden 
  • José Balduino de Campos
  • José Balduino do Amaral Gurgel 
  • José Benedito Rodrigues 
  • José Bennicio de Cerqueira César
  • José Cândido da Motta (Tenete-Coronel)
  • José Cardeal
  • José Cirino de Almeida (Capitão)
  • José Custódio L.
  • José de Almeida Prado Netto
  • José de Sampaio Bueno 
  • José Evangelista do Amaral
  • José Ferreira Filho 
  • José Firmiano de Campos
  • José Francisco Banwart
  • José Joaquim Rodrigues
  • José Luiz Miranda
  • José Manoel da Fonseca Leite
  • José Manoel de Mesquita
  • José Maria Wolf
  • José Narciso de Camargo Couto
  • José Narciso Monteiro Neto
  • José Onério da Silva
  • José Pires da Cunha
  • José Schettino
  • José Soliani
  • José Tanclér 
  • José Tibiriçá Piratininga 
  • José Vaz Pinto Mello
  • José  Schettino
  • Joviniano Seleguim 
  • Júlio C. Stein
  • Júlio Costa Stein
  • Júlio Luiz Escodro
  • Kiko D'Água 
  • Kioji Imanashi
  • Lauro Bueno de Carvalho
  • Lourenço Tibiriçá Piratininga
  • Lucidalva Luz dos Santos
  • Luiz A. R. Lopes
  • Luiz Alberto Pereira (Cebolinha)
  • Luiz Augusto de Fonseca 
  • Luiz Carlos Chiaparini
  • Luiz Carlos da Silva
  • Luiz Carlos Sannazzaro
  • Luiz Coppini
  • Luiz de Carvalho Campos
  • Luiz de Mesquita Barros
  • Luiz Emilio Banwart 
  • Luiz G. Lacerda
  • Luiz Gonzaga Bicudo
  • Luiz H. Furlan 
  • Maçaki Umeda 
  • Manoel Ferraz de Camargo (Padre)
  • Manoel José de Mesquita 
  • Manoel José Ferreira de Carvalho 
  • Manoel Martins de Mello (Sargento-mor)
  • Manoel Soares Ferraz Guimarães 
  • Marcos A. Pereira
  • Mário Araldo Candello
  • Mauricio Baroni Bernadinetti
  • Maurílio Gonçalves Pinto
  • Medaldo Wolf 
  • Miguel de Araújo Ribeiro
  • Milton Quintino 
  • Nelson Laturraghe
  • Noberto N. Mora
  • Noraldino Tondi 
  • Núncio Lobo Costa 
  • Odilon Ferreira 
  • Orlando Spoliante
  • Oscar França
  • Oscar Steffen 
  • Osmar Ferreira Bastos 
  • Osvaldo Groff Júnior 
  • Oswaldo Stein 
  • Othniel Harfuch
  • Paulo Donizete Canova 
  • Paulo J. Ambiel 
  • Paulo Vieira 
  • Pedro Alexandrino Rangel (Tenente)
  • Pedro Augusto de Siqueira
  • Pedro Castilho 
  • Pedro Ferrari 
  • Pofírio Pimentel
  • Rafael do Amaral Campos
  • Raul Benedicto Schor 
  • Reinaldo Nogueira Lopes Cruz
  • Renato Ríggio Júnior 
  • Reynaldo Steffen 
  • Ricardo Gumbletom Daunt
  • Ricardo Longatti França
  • Rita Francisca Gonçalves 
  • Roberto Anjos
  • Roberto Sfeir
  • Roberto Spadella
  • Romeu Zerbini
  • Roque Torce Filho
  • Rosana de Souza Magalhães
  • Rozendo Fernandes de Campos
  • Rubeneuton Oliveira Lima
  • Sebastião Nicolau 
  • Sergio José Teixeira
  • Sérgio Luiz Trinca
  • Sérgio Ruela 
  • Sérgio Trinca
  • Silene Silvana Carvalini
  • Silvio Albertini
  • Sinézio Martini
  • Sivaldo Bertolli
  • Sylvano Amstalden 
  • Sylvio Ferreira do Amaral
  • Tadao Toyama 
  • Telesphoro de Almeida Campos 
  • Teodoro Montoanelli
  • Theóphilo de Oliveira Camargo 
  • Tristão Lopes de Farias 
  • Túlio José Tomass do Couto
  • Valfrido Corotti
  • Vera Maria Curi Spadella
  • Vicente Dias Ferraz
  • Vicente Ferrer do Amaral
  • Vivaldo Francisco de Oliveira
  • Waldemar Batista 
  • Walter Ferrarezi
  • Wilian Alves dos Santos 
  • Wilson José dos Santos
  • Wilson Luchini 
  • Wilson Sampaio
  • Wilson Tomaseto
  • Wladimir Soares
  • Zilda de Andrade

Helen Béssie Leite de Moraes Castilho (1983-1988)


Itamar da Silva Maciel ( 1983-1988)


Celi Aparecida Brandt (1997-2000)


Rita Francisca Gonçalves (1997-2000)



Rosana de Souza Magalhães (1997-2000)


Zilda de Andrade (2001-2004)



Vera Maria Curi Spadella (2001-2012)




Silene Silvana Carvalini (2017-2024)


Ana Maria dos Santos (2021-2024)



Lucidalva Luz dos Santos (2023-2024)






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