segunda-feira, 30 de maio de 2022

Os indígenas na história de Indaiatuba

                                                                                                                                                             Eliana Belo Silva

COLUNA DEMANDAS NA NOSSA HISTÓRIA

Jornal Indaiatuba 107.1 FM

Ano 1 | Edição 012  | Indaiatuba, 27 de maio de 2022


Uma das funções práticas da História é entender o presente para que os erros cometidos no passado sejam evitados no futuro. 

O ataque aos legítimos donos de Pindorama – nome de nossa terra antes da chegada dos portugueses - ocorre desde 1500 e há poucos dias, mesmo depois de tanto tempo – nos deparamos com notícias de abusos sexuais e mortes de crianças e adolescentes Yanomami, cenário que está se multiplicando sob a negligência do governo federal que continua permitindo que grupos criminosos e milícias invistam contra os povos originários para usurpar – como sempre – a terra e suas riquezas que, por lei, já estão demarcadas e deveriam ser protegidas. 

Oficialmente Indaiatuba foi fundada no dia 9 de dezembro de 1830, quando a capelinha rural católica existente no até então bairro rural de Itu passou a ser curada, mas a ‘origem’ de nossa cidade é bem distinta dessa efeméride, e a maior prova disso é a palavra tupi-guarani “Indaiatuba” (yinayá´tyba) que significa “terra com muitas palmeiras indaiá”.

Mas... onde estão os indígenas em nossa história? 

Essa lacuna, pela primeira vez, foi discutida no mês passado em nossa Câmara Municipal. O vereador Arthur Spíndola apresentou uma Indicação solicitando que sejam feitas ações de conscientização acerca da origem indígena em Indaiatuba, proposta aceita por unanimidade por todos os vereadores. 

Provavelmente a região do atual município de Indaiatuba começou a ser ocupada por grupos caçadores-coletores e agricultores há cerca de 5000 anos. 

Esta afirmação é feita com base em pesquisas arqueológicas desenvolvidas em nossa região, que apontam para a existência de diversos sítios por toda sua extensão, sendo registrados (até o momento) 39 sítios arqueológicos, distribuídos por Itu (13), Campinas (05), Indaiatuba (03), Monte Mor (04) e Salto (14). 

Os três sítios arqueológicos de nossa Indaiatuba – até agora – são: (1) Buruzinho, identificado em 2005, nas proximidades do Córrego Garcia ou Córrego Buruzinho, (2) Cambará (?), localizado nas proximidades do rio Capivari-Mirim e identificado em 2018, e (3) Capivari-Mirim também descoberto em 2018 às margens do córrego Jacaré. 

Nenhum desses três sítios teve seus materiais datados, mas é possível afirmar que foram ocupados no mesmo contexto de outros sítios já estudados nas diversas microbacias hidrográficas a diferentes pontos do Rio Tietê.

Estudar esses sítios históricos, atendendo a demanda aprovada na Câmara Municipal é dar à História sua mais nobre função: evitar, através do conhecimento e das ações advindas dele, que os indígenas sejam desumanizados em nosso país sem nos sensibilizarmos profundamente a ponto de evitarmos isso - como voltou a acontecer intensivamente nos últimos três anos, em ações violentas de ataques não só à eles, mas nos biomas onde vivem, que vimos em sucessivas labaredas criminosas, tanto na Amazônia, como no Pantanal. 

Só cuida quem conhece. 


Cunhambebe ilustrado por André Thevet
um cosmógrafo francês que acompanhou a expedição de Nicolas Durand de Villegaignon


NOTAS COMPLEMENTARES DO BLOG:

(1) Relevância do Sítio Histórico do Buruzinho de Indaiatuba, categorizado pelo Iphan: ALTA, conforme você pode conferir aqui: http://portal.iphan.gov.br/sgpa/cnsa_detalhes.php?17859 (Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos - Sitio Buruzinho - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2005. Consultado em 30 de maio de 2022).

Sítio Arqueológico do Buruzinho
(cortesia Charles Fernandes - 30/05/2022)
Fonte: SIC G  do Iphan (Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão do Iphan)



Sítio Arqueológico do Buruzinho
(cortesia Charles Fernandes - 30/05/2022)
Fonte: SIC G  do Iphan (Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão do Iphan)



Sítio Arqueológico Buruzinho
https://sicg.iphan.gov.br/sicg/bem/visualizar/10699


(2) O Sítio aqueológico Cambará (?) , localizado nas proximidades do rio Capivari-Mirim, também conta com presença de instrumentos líticos e fragmentos cerâmicos de uso comum entre populações indígenas, assim como vestígios de ocupação do século XIX, mais especificamente do período imperial brasileiro. Esse último sítio foi identificado em 2018, durante as atividades de acompanhametno arqueológico de um empreendimento residencial (Park Gran Reserve) sendo que os materiais encontrados (já bastante fragmentados) foram posteriormente enviados ao Museu Raphael Toscano, localizado no município de Jaú.

(3) O Sítio Capivari-Mirim, foi descoberto em 2018. No local foram identificados instrumentos líticos feitos em quartzito, no que provavelmente foi um antigo acampamento de caça. Localizado próximo às margens do córrego Jacaré, afluente do rio Capivari-Mirim, esse sítio arqueológico é mais um testemunho da recorrente presença de grupos indígenas na região de Indaiatuba. veja mais sobre esse sítio aqui: https://sicg.iphan.gov.br/sicg/bem/visualizar/23776 (Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão - Sítio Capivari-Mirim 01 - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, consultado em 30 de maio de 2022)

Sítio Arqueológico Capivari-Mirim 01
(cortesia Charles Fernandes - 30/05/2022)
Fonte: SIC G  do Iphan (Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão do Iphan)


Sítio Arqueológico Capivari-Mirim 01
(cortesia Charles Fernandes - 30/05/2022)
Fonte: SIC G  do Iphan (Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão do Iphan)



Sítio Arqueológico Capivari-Mirim na Chácara Haras
https://sicg.iphan.gov.br/sicg/bem/visualizar/23776


sexta-feira, 27 de maio de 2022

TRANSFORMAÇÃO URBANA - ESTUDO DE CASO DE INDAIATUBA/SP

 INGRID ROSA DOS SANTOS

CENTRO UNIVERSITÁRIO NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO - CEUNSP

Artigo apresentado no 18o. Congresso de Iniciação Científica (2019)



RESUMO 

O presente artigo tem por objetivo retratar a transformação do espaço urbano de Indaiatuba, cidade média do interior paulista, tendo como base os acontecimentos que, geraram alterações da mancha urbana, após um período de mais de cento e trinta anos de estagnação. Como metodologia, analisa-se os principais fatores da expansão urbana, advindos de sua localização privilegiada e o aproveitamento de oportunidades como a proximidade com Aeroporto Internacional de Viracopos em Campinas e a Rodovia Santos Dumont (SP-75) que perpassa a cidade, principalmente após o processo de desconcentração industrial de São Paulo nas décadas de 1960 e 1970 em direção ao interior. 

PALAVRAS-CHAVE: Indaiatuba; Transformação Urbana; Espaço Urbano. 


NTRODUÇÃO 

Indaiatuba teve um acelerado crescimento, não relacionado aos ciclos econômicos históricos, como do açúcar e do café. Em ambos os casos, Indaiatuba esteve presente com produção dessas culturas, mas sem nunca atingir números expressivos (1) . A dinâmica urbana é recente, relacionada a localização: à proximidade com o Aeroporto Internacional de Viracopos e da Rodovia Santos Dumont (SP-75) e, principalmente, ao momento histórico representado pela desconcentração industrial nas décadas de 1960 e 1970 de São Paulo em direção ao interior, fato que beneficiou o desenvolvimento urbano da cidade, propiciando a construção de um cenário favorável à instalação de indústrias e a adaptação para comportar o crescimento populacional das décadas seguintes. Pretende-se apresentar neste artigo, uma evolução do tecido urbano de Indaiatuba abrangendo um período de quase dois séculos, passando por seus primórdios de assentamento até os dias atuais, construído a partir de um levantamento de dados primários coletados em livros tombos do Arquivo Municipal “Nilson Cardoso de Carvalho”, tendo como resultado um mapa com a evolução da mancha urbana da cidade. 


OBJETIVOS 

Elucidar o desenvolvimento e a expansão urbana de Indaiatuba a partir dos ciclos econômicos que tiveram influência na cidade e o seu rebatimento no espaço urbano. Como produto, foi elaborado um mapa da evolução urbana, no período de 1936 a 2013. 

Buscou-se avaliar de que forma os poderes legislativo e executivo agiram na elaboração e implantação de leis que trouxeram uma nova conformação espacial, principalmente a partir da década de 1960, motivada pela desconcentração industrial de São Paulo em direção ao interior, tornando-se alvo dos setores metalúrgico, têxtil, e mais recentemente, automobilístico. 


METODOLOGIA 

Levantamento de toda a legislação relativa ao território da cidade de Indaiatuba, desde o decreto de elevação à freguesia até o período atual, de forma a compreender a expansão urbana, em documentos presentes no Arquivo Municipal “Nilson Cardoso de Carvalho” e nos sites da Câmara Municipal e da Assembleia Legislativa de São Paulo (período anterior à emancipação da cidade com relação ao município de Itu). De posse desses documentos, iniciou-se a elaboração de mapas específicos referentes aos perímetros urbanos aprovados pelo Poder Executivo, e como auxílio foi realizado o levantamento da cronologia de aprovação dos loteamentos, de modo a estabelecer os indicadores de crescimento e avaliar a relação da criação desses espaços com as leis, comparando a cronologia para estabelecer a sequência dos acontecimentos. O prosseguimento da pesquisa se deu através da leitura e de fichamento de literatura específica, citadas na bibliografia, seguida por sua identificação e análise da atuação desses aspectos, a fim de obter as bases teóricas fundamentais acerca dos acontecimentos que levaram à conformação atual da cidade. 


INDAIATUBA: PROCESSO DE URBANIZAÇÃO 

Não se sabe ao certo quando se iniciaram as primeiras aglomerações humanas em Indaiatuba, presente no território na antiga Vila de Itu. O que vêm a ser conhecido é que, por volta de 1777 alguns fogos (2) já existiam na então paragem de Indaiatuva, aumentando gradualmente esta quantidade com o decorrer dos anos. No século XX, Indaiatuba tomava a morfologia típica das vilas portuguesas, tendo sua capela dedicada à nossa Senhora da Candelária, curada aproximadamente em 1820, com poucas quadras lineares existentes à sua volta. Seu reconhecimento se iniciou em 1830, com a elevação à categoria de Freguesia através de decreto imperial (3) . 

De acordo com o livro de tombo da matriz do Padre Pedro Dias Paes Leme, em 18354 , constava como habitantes 2.026 pessoas (gráfico 1). 


Na década de 1840, iniciou-se o cultivo de café na região, mas de forma vagarosa quando comparada às cidades a sua volta, como Itu e Campinas. Em 1859 foi elevada à categoria de vila (Lei Provincial n°12, de 24 de março), podendo eleger sua própria Câmara Municipal. A população da época estava por volta de 3.024 habitantes (CARVALHO, 2009: p.46, apud NARDY,1951). Na década de 1860 as culturas de algodão, cana de açúcar e café predominavam na vila. A produção, apesar de diversa, ainda é comparativamente baixa, não chegando à 55.000 arrobas produzidas para cada categoria. 

A década de 1870 trouxe a ferrovia, impulsionada pela necessidade de escoamento de produtos de outras cidades para São Paulo, estando Indaiatuba numa rota importante para a implantação dos ramais, principalmente de carga, com os trilhos passando pelo centro da cidade. A população de 3.749 habitantes, 2.041 livres e 1.708 escravos, acompanhou a Companhia Ytuana de Estradas de Ferro instalar duas estações: a Estação Pimenta (1872) e a Estação de Itaici (funcionando desde 1873), mas não oficialmente. Apenas em 1889, o ramal oficial passaria a operar, instalando-se longe da área central. 

Em 1906 foi elevada à categoria de cidade (Lei Estadual n°1.038 de 19 de fevereiro) e pouco depois, em 1910, teve seu primeiro Código de Posturas aprovado pela Câmara. Neste mesmo momento, realizou-se um acordo com a Estradas de Ferro Sorocabana (5) (que se fundiu à Ytuana em 1892) para que Indaiatuba tivesse uma estação central. A instalação dos trilhos próximos à igreja Matriz em 1875 evidenciou as intenções de instalação de um ramal central, ocorrida em 1880, e então, para a elite da época, a Estação Central representaria uma elevação da importância e status do município, culminando na inauguração da nova estação em 1911, custeada exclusivamente pela cidade, seguindo o mesmo estilo arquitetônico adotado em outras estações da época, e obtendo como compensação a construção do pontilhão entre as ruas Pedro de Toledo e Nove de Julho. 

Também são deste período a implantação das linhas de luz elétrica (1913) e da Companhia Telefônica (1916). Outras duas estações ferroviárias menores foram construídas, a Helvétia (1914) e a Francisco Quirino (1919), no bairro quilombo. Economicamente, Indaiatuba foi a maior produtora de batata inglesa do Estado em 1912 (CARVALHO, 2009: p.105, apud, SOUZA,1915), seguido pela produção de café, produzido cerca de 90.430 arrobas (índice baixo comparada a produção de outras cidades do interior paulista do mesmo período). A população da década de 1920 era de 9.944 (IBGE, 1920) quando as primeiras experiências fabris chegaram à Indaiatuba. 

Essa primeira mancha industrial estava localizada às margens da linha férrea (Figura 2, linha pontilhada), afastada do centro, nos atuais bairros Parque Boa Esperança, Vila Furlan e Vila Vitória I e II, hoje de perfil residencial, e era relevante as unidades centradas na transformação de madeiras, tendo como maior expoente a fábrica Gryschek que produzia cabos de guarda-chuva e bengalas. Apesar de funcionar por pouco tempo, falência em meados de 1930, a existência da fábrica naquele local foi importante por levar a urbanização para aquele ponto da cidade, onde antes só passavam os trens. 

Em 1933 foi construído o primeiro hospital da cidade, “Augusto de Oliveira Camargo”, segundo as histórias da época, sua localização foi escolhida por Leonor de Barros Camargo, que queria que a cruz e a fachada principal estivessem alinhadas com a cruz da Igreja Matriz, ficando numa área que antes não era vista com bons olhos, após a linha do trem. 

É de 1936 a primeira lei (n°12 de 05 de novembro) que trata sobre o perímetro urbano de Indaiatuba. Comparando-se com o perímetro de 1875, nota-se que não houve grandes diferenças e, Indaiatuba se manteve praticamente nos mesmos limites de sua elevação à freguesia. Em 1937 (Lei n°23 de 22 de julho) e em 1939 (Ato n°78 de 16 de setembro) foram realizadas mais duas leis do gênero, sem desdobramentos relevantes para o espaço urbano. Em 1937 é importante destacar que foi implantado o primeiro sistema de abastecimento de água, vindo do manancial Cupini, enquanto que a primeira rede de esgotos municipal, o SAAE, foi implantada apenas em 1970 pelo prefeito Mario Candello. 

Nos anos 1940, com uma população de 10.290 habitantes (IBGE,1940), as indústrias começam a instalar-se na cidade, como é o caso da Olaria Victorio Cicilato (atual Cerâmica Terra Vita - ainda em funcionamento) e da Têxtil Judith, localizada não tão próxima ao centro, mas à margem da avenida presidente Vargas, um dos limites da cidade, que faz a ligação com Campinas e Itaici. 

Apenas na década de 1950 é que novas leis acerca da determinação do perímetro urbano e suburbano da cidade (Lei n°237 de 03 de julho) são instituídas. A administração do prefeito Jacob Lyra decidiu então investir em um novo modelo de urbanização, mesmo com uma população que ainda não chegava a 12.000 habitantes (eram 11.253 segundo o IBGE). Aprovado em 1951, o bairro Cidade Nova era destinado aos operários das indústrias que vinham se instalando (Yamar do Brasil, como exemplo). Os lotes ainda conservavam a medida de 10x40 metros, a mesma da "Cidade Velha", e com o passar do tempo o negócio tornou-se pouco lucrativo, de modo que diversas quadras foram vendidas para empresas (o lucro foi utilizado para asfaltar o centro). A gleba 2 do bairro foi então subdividida com uma nova metragem, agora com medida de 10x25 metros. 

É na década de 1960 que podemos observar o primeiro salto em quantidade de população em relação ao censo anterior, chegando a 19.697 habitantes (IBGE, 1960). Nessa década, 18 empresas (como a Mann Filter) se instalaram na cidade, começando a moldar um perfil metalúrgico que só aumentaria nos anos seguintes, influenciado pelo Aeroporto de Viracopos em Campinas, construído entre os anos 1950 e 1958 no governo de Ademar Pereira de Barros. Em 19 de outubro de 1960, através da Portaria Ministerial nº756, ganhou o status de aeroporto Internacional, o que aumentou muito sua importância na região, sendo ampliado em 1962. Indaiatuba também se tornou mais independente, constituindo sua própria comarca em 1963. A primeira área de expansão industrial é delimitada entre a Avenida Presidente Vargas e a estrada velha para Itaici, desativada (lei n° 902 de 13 de janeiro de 1966).

A partir de 1966 (lei n°927 de 06 de setembro), o prefeito da época, Romeu Zerbini, encomendou estudos da situação atual da cidade em todas as áreas onde o poder público pudesse intervir para a elaboração de um plano diretor que norteasse a expansão, denominado “Plano Integrado de Desenvolvimento”. Elaborado em 1968, pela SD Consultoria de Planejamento Ltda., em parceria com o escritório Jorge Wilheim e Arquitetos Associados, e com consultoria de Rosa Grena Kliass para as áreas paisagísticas. O projeto foi aprovado e várias das indicações implantadas através da lei n°1.048 de 17 de janeiro de 1969. Naquele momento, foi apontada a proximidade da cidade com a estrada Campinas-Salto e com o Aeroporto, mas a expansão urbana foi guiada em sentido à cidade de Monte Mor, através da Avenida Presidente Kennedy, no bairro Cidade Nova, que vinha se desenvolvendo desde a década antecedente.

Este momento marca o início de uma inflexão no aumento da população, que teve um salto de 55% em uma década (gráfico 1), mas que também é refletida na preocupação com a expansão do solo, representado pela produção do plano diretor e do perímetro urbano que se afasta pela primeira vez do núcleo central (Figura 5 e 6) e gera uma demanda maior por infraestruturas e melhorias urbanas. 

Em 1970, através do decreto estadual de 21 de dezembro, foi autorizada a desapropriação de diversas áreas para a construção da Rodovia SP-75. Essa via de acesso ligando a capital ao interior configurou-se como um dos principais eixos de desenvolvimento do interior, e cortando boa parte do território de Indaiatuba, foi o suficiente para, que em 1976, ser necessária a aprovação de uma lei concedendo estímulos industriais promovendo a mudança destas para os bairros industriais criados à beira da rodovia. Nessa década, a ferrovia perde espaço, sendo desativada em meados de 1977 6 a estação central e, no decênio seguinte, desativaram-se as estações ferroviárias Pimenta (1985), Itaici e Helvétia (1986). 

Com uma população cada vez maior, contando com 30.537 pessoas (IBGE,1970), surgiram os primeiros condomínios fechados, com a característica de serem todas de chácaras rurais, de alinhamento próximo à rodovia. Foram realizadas, nesta década, cinco leis de delimitação do perímetro urbano (1970, 1973, 1974, 1975 e 1978)7 , onde é possível destacar o avanço da cidade em direção à rodovia. O perfil metalúrgico se manteve forte em Indaiatuba, sendo instaladas 63 empresas na cidade (ainda em funcionamento), como a General Motors (1972) e a Singer do Brasil (1981) na cidade.

A implantação de grandes empresas e de infraestruras, principalmente rodoviárias, potencializou o surgimento de novos bairros residenciais (Figura 5) e de uma expansão vertiginosa no perímetro urbano (Figura 6) da década e da explosão demográfica, onde o número de habitantes praticamente dobrou (88%). 

A rodovia Santos Dumont foi duplicada no final de 1989 (lei estadual n° 30.217 de 08 de agosto) em função do maior fluxo de transporte de mercadorias pelo interior e do perfil cada vez mais cargueiro no aeroporto de Viracopos, após a abertura do Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos em 1985, que polarizou o transporte de passageiros por ser mais próximo da capital.

Neste período, contando com 56.243 habitantes (IBGE,1980), o plano diretor de 1968 já não abrangia uma grande parte da cidade que vinha se formando. A aprovação de grandes bairros populares, como é o caso do Jardim Morada do Sol, provocou-se um crescimento sem diretrizes urbanísticas, com poucas opções de acesso ao centro da cidade e locais onde estavam serviços básicos como o comércio, transporte e hospitais. O crescimento não controlado nesses bairros levou a administração municipal em 1989 a iniciar os estudos para um novo plano diretor. Desta vez o arquiteto Ruy Ohtake foi o contratado para chefiar o projeto que hoje tem como maior vulto o Parque Ecológico (Figura 4), inaugurado em 1992, que tomou como partido o córrego Barnabé, recriando um parque margeado por vias arteriais que faziam a ligação entre o Jardim Morada do Sol, o centro, em direção a cidade de Monte Mor. 

A população atingiu a marca de 100.948 habitantes, representando um aumento de 79% em relação à década anterior, resultado dos 49 bairros aprovados e da explosão demográfica e migratória atraída para a cidade. Foram aprovadas quatro leis sobre o perímetro urbano (1990, 1991, 1992 e 1993), com pouca alteração textual entre eles. Industrialmente, foram implantadas 166 empresas (em funcionamento), com destaque para a Toyota (1996) e a Unilever do Brasil em 1997.

Em 2000 foi criada a Região Metropolitana de Campinas, que incluía a cidade de Indaiatuba e, segundo o censo, contava com 147.050 habitantes. Desta forma, em 2001 foi sancionada a lei n°4.067 de 24 de setembro que instituiu o plano diretor atual, mas apresentando a cidade de forma genérica e rasa, sem aplicar verdadeiramente as ferramentas contidas no estatuto. Nesta década, 299 empresas se instalaram na cidade. Novos loteamentos industriais foram aprovados e diversos bairros de classe média. Surgem também, os primeiros condomínios fechados de alto padrão sem o perfil de chácaras que antes predominavam. 

Em 2010 a Lei Complementar n° 10 de 22 de outubro instituiu a lei de zoneamento de Indaiatuba, mantendo os mesmos moldes da lei n°4.067. A nova legislação, facultou o uso dos instrumentos do Estatuto da Cidade e, portanto, não impediu a formação de grande vazios urbanos. Em 2013 foi aprovado o Parque Campo Bonito, um dos maiores empreendimentos voltados para a habitação popular em convênio com o programa “Minha Casa Minha Vida”, distante do tecido urbano existente, para a construção de 2.048 apartamentos Faixa 1, 800 casas Faixa 2 e 462 lotes mistos. No intervalo entre 2010 e 2017, o crescimento populacional oscilou de 201.619 (99% desses vivendo em áreas urbanas) para 239.602 estimados pelo IBGE, mantendo aproximadamente o ritmo de crescimento dos períodos anteriores. Mais de 205 empresas se instalaram no município, ainda mantendo o perfil metalúrgico, de peças e maquinários.

RESULTADOS 

Após a análise dos dados, foram produzidos dois mapas, apresentados abaixo. Em ambos consta a expansão urbana de Indaiatuba, o primeiro (figura 5) baseado nos registros de provação dos loteamentos, e o segundo (figura 6), nas leis de zoneamento aprovadas durante o período de quase dois séculos, abrangência desta pesquisa.


Figura 5 : Expansão da Mancha Urbana de Indaiatuba. 


Figura 6 ; Leis de Delimitação do Perímetro Urbano de Indaiatuba 1936-2013. 



CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Indaiatuba, apesar de ser uma cidade antiga, não sofreu grande influência dos diversos ciclos econômicos rurais tanto em população, que cresceu muito lentamente, não tendo nem 20 mil habitantes no início da década de 1970, quanto em expansão da mancha urbana, ainda presa ao núcleo inicial. 

Entretanto, tudo mudou com a chegada das empresas provenientes da desconcentração em direção ao interior, instaladas ali devido a presença de grandes bairros industriais com fácil acesso à rodovia Santos Dumont (SP-75) e ao Aeroporto de Viracopos. A população passou a crescer de forma galopante, onde até 2010 a quantidade de habitantes aumentou 10 vezes num período de 50 anos, assim como o seu perímetro urbano aumentou 382% entre 1870 até 2013. 

Esse crescimento recente, demonstra o potencial econômico que Indaiatuba exerce na mancha urbana paulista, pautado nas oportunidades advindas de sua localização e nos investimentos em infraestrutura que, permitem manter e melhorar o seu perfil consolidado.


Notas da autora

(1) Campinas produziu 335.550 arrobas de café em 18541 , enquanto que Indaiatuba, em 1922, chegava a produção de 130.000 arrobas. Disponível em: . Acesso em: 29 dez. 2017.

(2) Em documentos antigos as casas eram referenciadas como fogos, apud CARVALHO, Cronologia Indaiatubana, 2009: p.16.

(3) Decreto Imperial de 09 de dezembro de 1830. Essa é considerada a data de fundação da cidade. 

(4) Op. Cit. Nota 1: p.38. 

(5) Durante a administração da ferrovia na cidade, a Estrada de Ferro Sorocabana foi a companhia concessionária que funcionou por mais tempo, mas sua atuação é mais antiga, visto que após a fusão com a Companhia Ytuana (que funcionou entre 1873 e 1892), a companhia atuou com diversos nomes, tal como: Companhia União Sorocabana e Ytuana (1892-1907), Sorocabana Railway (1907-1919), e finalmente Estrada de Ferro Sorocabana (1919-1971), até a criação da FEPASA em 1971.

(6) Não foi apenas em Indaiatuba que o modal ferroviário perdeu força, mas sim em todo o país ocorreu o gradual sucateamento das ferrovias em favor da implantação e investimentos maiores nas rodovias.

(7) São as seguintes: Lei n°1.112/1970; Lei n°1.269/1973; Lei n°1.332/1974; Lei n°1.383/1975 e Lei n°1.645/1978. 


FONTES CONSULTADAS 

CARVALHO, Nilson Cardoso de. Cronologia Indaiatubana. Indaiatuba: Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, 2009. 

KOYAMA, Adriana Carvalho; CERDAN, Marcelo Alves. Indaiatuba: história e memórias da antiga Freguesia de Cocaes e dos anos que se sucederam desde então. Campinas: Komedi, 2011. 

NARDY FILHO, F. A Cidade de Itu; Cronologia ituana, v. 4., São Paulo: Câmara Municipal de Itu. PIZA, M. Os municípios do Estado de São Paulo; informações interessantes, São Paulo: Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, 1924. 

SCACHETTI, Ana Lígia. O Ofício de Compartilhar Histórias – História e memória de Indaiatuba sob a perspectiva de uma periodista. Indaiatuba: Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, 2001. 

SOUZA, T. O. M. O Estado de São Paulo: físico, político, econômico e administrativo. São Paulo: Estabelecimento Gráfico Universal. 

VILLAÇA, Flávio. Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo: Nobel, 2001. 

GIESBRECHT, Ralph Mennucci. Estações Ferroviárias do Brasil: Indaiatuba / Itaici / Helvétia / Pimenta / Francisco Quirino / Pimenta Nova. Disponível em: . Acesso em: 14 dez. 2017. 

SOUZA, Roberto Prestes de. O “quadrilátero do açúcar”. Disponível em: . Acesso em: 29 dez. 2017. I

NSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE: Cidades: Itu. Disponível em: . Acesso em: 14 dez. 2017. 

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Diretoria de Geociências. Evolução da divisão Territorial do Brasil: População por município (1872 a 2010). Rio de Janeiro: [s.n.], 2011. 261 p. Disponível em: . Acesso em: 21 dez. 2017. 

O BAIRRO de Itaici. Indaiatuba: Revista Exemplo Imóveis, 2015. Disponível em: . Acesso em: 22 dez. 2017. 

A ANTIGA Vila Industrial. Indaiatuba: Revista Exemplo Imóveis, 2015. Disponível em: . Acesso em: 22 dez. 2017. O BAIRRO Cidade Nova [e a Igreja Santa Rita]. Indaiatuba: Revista Exemplo Imóveis, 2009. Disponível em: . Acesso em: 22 dez. 2017. 

PREFEITURA MUNICIPAL DE INDAIATUBA. Secretaria de Habitação. Parque Campo Bonito. Disponível em: . Acesso em: 22 dez. 2017.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Industrialização de Indaiatuba

 Marcos Kimura (1)

Quem vê nossa Indaiatuba atual, com suas indústrias que criam empregos e negócios, mal sabe que há algumas décadas andávamos atrás das vizinhas Salto e Itu, de onde fomos separados administrativamente ainda no século XIX e que até 1963 era sede de nossa comarca.

Até o final dos anos 1940, o município era basicamente agrário, com poucas indústrias. É a partir da década seguinte que o cenário muda, com a instalação de fábricas que mudariam o cenário local. Empresas familiares como Cerâmica Indaiatuba, Cotonifício, Villanova (2),  Torcetex (3) e Têxtil Judith (4) - (as três últimas ainda em atividade) criam empregos na cidade, mudando o eixo demográfico, até então centrado na zona rural.

A vinda da japonesa Yanmar na virada para os anos 60 é outro momento capital. Não apenas na criação de empregos, enorme para as dimensões da Indaiatuba de então, mas pela atração de novos negócios, que foram ocupar a Zona de Predominância Industrial (ZPI) criada pelo primeiro Plano Diretor da cidade, que o prefeito Romeu Zerbini (1964-1968) encomendou à SD Consultoria e Planejamento, associada ao escritório o arquiteto e urbanista Jorge Wilheim, no futuro, secretário de Planejamento da Capital Paulista. Esse projeto também é responsável por recomendar a criação do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), que permitiu o crescimento sustentável do Município pelas décadas seguintes.

Propriedade da Yanmar - década de 1960
De início, foi a empresa ISEKI, que comprada pela Yanmar, passou a se chamar Fundituba.
Há pouco tempo (2020) a Fundituba Indústria Metalúrgica Ltda. foi adquirida pela Castertech.


A ZPI foi um sucesso tão grande que já em 1973, o mesmo Romeu Zerbini, de volta à prefeitura após os quatro anos de seu aliado Mário Araldo Candello (1969-1972, que foi quem inaugurou o Saae), cria o primeiro Distrito Industrial de Indaiatuba, em 500 metros de cada lado da rodovia SP-75, entre a Rua dos Indaiás e o limite com Salto. Indústrias como Filtros Mann e Gessy Lever se instalam por lá, mas o primeiro loteamento empresarial que daria origem ao que hoje conhecemos como Distrito Industrial surge no governo de José Carlos Tonin (1983-1988), que é o Domingos Giomi, resultado de uma negociação com o empresário Elias Jorge, que havia adquirido a Fazenda Engenho d’Água de Ário Barnabé (do lado de cá da estrada, a propriedade se tornou o Jardim Morada do Sol).  

Em 1992, o número de indústrias no município já era tal que o Sesi inaugura o Centro de Atividades Antônio Ermírio de Moraes, na Avenida Francisco de Paula Leite (dentro do Distrito Industrial concebido por Romeu Zerbini) com a presença do próprio dono da Votorantim, do governador Luis Antônio Fleury do presidente da Fiesp, Mário Amato, e do então prefeito Clain Ferrai (1989-1983).

Dona de uma grande área no Município havia anos, a Toyota aproveita a abertura do mercado brasileiro para novas montadoras e anuncia o interesse em fabricar o Corolla no Brasil. Indaiatuba é escolhida, mesmo com a concorrência de diversas cidades, ainda na administração Flávio Tonin (1993- 1996), e, apesar da planta em si não criar muitos empregos diretos em função do novo tipo de produção automatizada, fornecedores e outros são atraídos para cá. A planta foi inaugurada na administração seguinte, de Reinaldo Nogueira. A planta ainda seria ampliada na virada do século, sendo inaugurada com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador Gerald Alckmin em 2002.

 

Em dezembro de 1997, a revista Exame elege Indaiatuba como a Melhor Cidade no Brasil com até 120 mil habitantes para se fazer negócio. A partir de então, o Município passa a frequentar constantemente pesquisas do gênero promovidas, por exemplo, pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Ferjan) e mais recentemente, pela Band. 

Em 2011, a vinda da americana John Deere, com participação importante do ex-prefeito Reinaldo Nogueira, quando já estava tudo certo para que a fábrica de tratores se instalasse em Santa Bárbara D’Oeste, não apenas gera um boom de empregos, oportunidades e negócios imobiliários, com a chegada de muitos executivos e mudança de Horizontina/RS para cá, como ainda deu origem a um novo Distrito Industrial. As duas plantas, John Deere e John Deere-Hitachi foram inauguradas em 2014, novamente com a presença de Alckmin, mas desta vez, com Michel Temer, ainda como vice-presidente. 

Em 2020, Indaiatuba contava com 902 indústrias, e de janeiro a novembro desse ano, havia exportado US$ 390 milhões (1% de todas as exportações paulistas) e importado US$ 921 milhões (2% de todo o Estado). 


NOTAS DO BLOG

(1) O conteúdo deste post foi publicado originalmente no Jornal Indaiatuba 107.1FM nas edições 003 de 25 de março de 2022 e 004 de 1º de abril de 2022. 

(2) A empresa Alfredo Villanova foi fundada em 1908 em São Paulo, na Rua Thieres. Em busca de mão de obra e matéria prima (madeira) a empresa mudou para Indaiatuba em 1939, na quadra onde hoje é o Banco do Brasil (Centro). Em 1940 instalou a Fundição e Metalúrgica Villanova na Rua Candelária 1550 onde chegou a ter 1500 funcionários. Atualmente a empresa funciona no Distrito Industrial.

(3) O embrião do que mais tarde seria a Torcetex teve início em 1º de abril de 1934 (data da emissão da primeira NF), com a "Usina de Indaiatuba" fundada pelo médico e ex-prefeito de Indaiatuba Dr. José Pedro Cardoso da Silva. Dois anos depois, ainda no ramo de beneficiadora de algodão, a empresa mudou de nome e passou a se chamar na junta comercial local como "José Cardoso da Silva" e depois como "Fiação de Seda São Pedro". Em 1956, no mesmo local onde existiram essas empresas, foi fundada a Torcetex, empresa mais antiga genuinamente indaiatubana em funcionamento até hoje.

(4) O embrião do que mais tarde se tornaria a Têxtil Judith teve início em 1936 em São Paulo em uma pequenina tecelagem de raion com o nome de Irmãos Giomi que teve seu registro efetuado oficialmente na Junta do Comércio naquela cidade em 1º de setembro de 1937, com o nome Giomi & Cia. As máquinas de tecelagem foram sendo transferidas para Indaiatuba no ano de 1948 e, em 1950, toda ela já estava instalada aqui. A mudança da razão social de Giomi & Cia para Textil Judith S/A foi no dia 16 de janeiro de 1959, sendo que, no ínicio o endereço era na rua 24 de Maio e, em 1972 foi para a Avenida Presidente Vargas.

Fonte: Estatística Industrial do Estado de São Paulo - Ano de 1936 - Página 50


Textil Judith em 2008, pouco antes da demolição





segunda-feira, 23 de maio de 2022

1887 - Venda Judicial de Pessoas Escravizadas da Fazenda Engenho D´Água

Faltando meses para a assinatura da Lei Áurea, vemos a seguinte publicação no jornal "Imprensa Ytuana" do dia 7 de setembro de 1887, publicando edital de venda judicial dos trabalhadores negros escravizados da Fazenda Engenho d´ Água.


Cronologia sobre a Fazenda Engenho D´Água em Indaiatuba

  • Entre 1755/1770 - Construção da sede do engenho; o proprietário era Lourenço de Almeida Prado, que  recebeu no século XVIII a concessão das terras da sesmaria. A casa está a 570 metros de altitude e cerca de 150 metros do leito do Córrego Barnabé.
  • 1855 - Tinha engenho de açúcar e produzia café. O proprietário era Francisco de Paula Almeida Prado (filho).
  • 10 de julho de 1857 a fazenda é vendida para Manoel Félix Monteiro.
  • 13 de novembro de 1857  a fazenda é vendida para Ignácio de Paula Leite de Barros.
  • 02 de janeiro de 1858 o negócio é desfeito e o proprietário volta a ser Manoel Felix Monteiro. Na ocasião, Ignácio de Paula Leite de Barros desfaz o negócio, mas não passa a escritura de rescisão formalmente. A devolução é feita com a assinatura de um "papel de mão" (contrato de gaveta ou "no fio do bigode").
  • 24 de janeiro de 1858 Manoel Felix Monteiro vende a fazenda para José Sampaio de Góis.
  • 1860/1862 - Disputa judicial entre Ignácio de Paula Leite de Barros, José de Sampaio Góis e José Rodrigues Caldeira, este último cobrando divida de Manoel Félix Monteiro.
  • 12 de dezembro de 1862 a Justiça decide que o proprietário é Ignácio de Paula Leite de Barros.
  • 03 de setembro de 1874 a fazenda é vendida para José Manoel da Fonseca Leite.
  • 24 de outubro de 1874 a fazenda é vendida para José Balduino do Amaral (recorte acima).
  • Data desconhecida - os proprietários passam a ser Antenor e Ernesta Barnabé.
  • 23 de fevereiro de 1924 a fazenda é vendida para Renato Barnabé - uma área de aproximadamente 200 alqueires, com mais de 25 mil pés de cafés, casa de morada e de colonos, engenho, máquina de beneficiar café, moinho, etc.
  • 27 de agosto de 1951 é feita uma escritura de permuta para Ario Barnabé e Lilia Curti Barnabé contendo 10 alqueires de mata, 70 alqueires de pasto, 120 alqueires em cultura e capoeira, com casa sede, 20 casas de moradia construídas de tijolo e madeira, máquina de beneficiar café, moinho de fubá e 95 mil pés de café.
  • 12 de março de 1974 a fazenda é vendida para o austríaco Hermann Binder. A fazenda era destinada a atividades agropecuárias e continha uma área de 7.120.188,73 m2 de terras de cultura, pasto, matas e capoeiras com casa sede, 20 casas de moradia, tulha, terreiro para secar café, olaria e outras benfeitorias. 
  • 1978 a fazenda começa a sofrer um processo que culminaria com o loteamento do Jardim Morada do Sol. Ao fazer as medições, as terras vendidas por Ário Barnabé tinham cerca de 100 alqueires excedentes [SIC]. Esses detalhes você pode ler  aqui.


Este post é uma homenagem póstuma para

José Marcelino
Sebastiana
Gabriel
Zacharias
Maria
Joaquina
Juliano
Zeferino
Lourenço
Pedro
Manoel
Ricardo
Roberto
Marcelino
Cyriaca
João 
Lydia
Constantino
Leodoto
Josepha
Zacarias
Job
Maximiniano
Esther
Cesario
Timotheo



Se a escravidão não é crime, não há crimes
Abraham Lincoln



Senhor Deus dos desgraçados
Dizei-me vós, Senhor Deus, Se eu deliro... ou se é verdade 
Tanto horror perante os céus?!... 
Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas 
Do teu manto este borrão? 
Astros! noites! tempestades! 
Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!
Castro Alves

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Núcleo Nabor Pires Camargo será inaugurado hoje com música e exposição no Casarão

 Programação integra a Semana Nabor e também o 30º Maio Musical

Criado com a finalidade de promover educação musical como forma de valorizar, difundir e preservar a cultura local relacionada ao choro, jazz, samba e MPB (Música Popular Brasileira), o Núcleo Musical Nabor Pires Camargo será inaugurado hoje, segunda-feira, 16 de maio, a partir das 19 horas, no Casarão Pau Preto, que também será sede do projeto, gerenciado pela Secretaria Municipal de Cultura.


O evento integra a Semana Nabor Pires Camargo e também a programação oficial do 30º Maio Musical e contará com apresentação do Coral Cidade de Indaiatuba e do grupo Amantes do Choro. “O Núcleo Musical Nabor Pires Camargo chega para difundir e expandir o aprendizado do choro, jazz, samba e MPB dentro das opções já oferecidas pela Secretaria Municipal de Cultura”, destaca o prefeito Nilson Gaspar.

O Núcleo Musical Nabor Pires Camargo foi instituído pela lei 7.672, de 29 de setembro de 2021, e possui a finalidade de promover a educação musical, preservando, valorizando e difundindo este grande ícone da música municipal e nacional. Sediado no Casarão, será responsável por promover oficinas musicais permanentes e eventos culturais relacionados nesse primeiro momento ao choro e ao samba, se estendendo a MPB e ao jazz.

“Nesta primeira fase de implantação do Núcleo Nabor, serão oferecidas 144 vagas em diversas modalidades como: cavaquinho, bandolim, violão 7 cordas, percussão, saxofone, flauta transversal e clarinete”, revela a secretária de Cultura, Tânia Castanho. “Em breve, teremos novidades sobre as inscrições”.

A programação da Semana Nabor Pires Camargo, em conjunto com o 30º Maio Musical, conta com diversas atrações. Confira:

16 de maio, às 19h
Abertura da Exposição Nas Notas de Nabor
Local: Tulha do Casarão Pau Preto

Esta exposição que ficará entre os dias 16 e 22 de maio na Tulha do Casarão Pau Preto trará um pouco da história musical de Nabor Pires Camargo através de imagens de algumas de suas composições em homenagem a Indaiatuba, sua terra querida, e a pessoas que fizeram parte da sua história, além de melodias escritas por alguns de seus parceiros que acompanharam sua trajetória.

Coral Cidade de Indaiatuba
Local: Bosque do Casarão

Criado em 1999, é composto pelos alunos da oficina cultural de canto coral da Secretaria Municipal de Cultura. Desde 2001, conta com regência da professora Áurea Ambiel. Com repertório vasto, abrangendo músicas folclóricas, populares e clássicas, integra regularmente os projetos Encantos de Natal, Encontro de Corais e Musicais promovidos pela Prefeitura e variados eventos da Região Metropolitana de Campinas e capital paulista.

Na ocasião, sob regência de Áurea Ambiel e com a participação especial de Geilson Brito ao violão, apresenta as músicas Vá Carregar Piano Luar de Indaiatuba, de Nabor Pires Camargo.

Amantes do Choro
Local: Bosque do Casarão

Grupo criado há mais de dez anos para manter viva a tradição do Choro ou, como é mais conhecido, Chorinho, estilo musical da esfera urbana no Brasil. Os músicos que executam este gênero foram batizados de chorões e os grupos contam com flauta, violão, cavaquinho e pandeiro.

17 de maio, às 19h
Retrato Brasileiro, com Confluências
Local: Bosque do Casarão

O grupo Retrato Brasileiro foi criado em Campinas em 2015 por Gabriel Peregrino, Théo Fraga e Guilherme Saka. Com uma formação inovadora de vibrafone, baixo acústico e guitarra, o trio apresenta composições e arranjos que trazem o colorido sonoro da mistura da escrita minuciosa e artesanal da música erudita com momentos de espontaneidade e improviso do jazz, MPB e ritmos latinos.

18 de maio, às 19h
Lucas Arantes Duo, com Cavaquinho e seus Compositores
Local:  Bosque do Casarão

Lucas Arantes Lucas iniciou sua vida musical aos 15 anos, e foi aluno de Luis Bernardo em Campinas. Em seguida, ingressou no núcleo fixo da Escola Portátil de Música, localizada no Rio de Janeiro, e também no Conservatório de Tatuí. Participou da gravação de mais de 30 CDs e em 2016 gravou seu primeiro CD, Choro pro Tadeo. Neste show, traz o cavaquinho como solista e compositores como Waldir Azevedo, Paulinho da Viola, Jonas Pereira, Luciana Rabello, Mauricio Carrilho e Lucas Arantes.

18 de maio, às 20h
Manteiga de Garrafa
Local:  Bosque do Casarão

O Manteiga de Garrafa é um grupo de Choro em sua forma tradicional de instrumentação e sonoridade que busca fortalecer e disseminar essa cultura brasileira instrumental. É formado por Rafael Yasuda (bandolim e violão tenor), André Ribeiro (pandeiro e violão), Daniel Bueno (violão de 7 cordas) e Bruna Takeuti (cavaquinho).

19 de maio, às 19h
Panapaná, com Maior Panapastral
Local:  Bosque do Casarão

Banda formada em 2020, no ano seguinte participou do 29º Maio Musical e do Festival de Rock. Nesse show, apresenta um repertório 100% autoral com composições variando de músicas brasileiras como baião, samba e bossa, a ritmos internacionais como rock e jazz.


Nabor Pires Camargo

Nabor Pires Camargo nasceu em 9 de fevereiro de 1902 no município de Indaiatuba, mais precisamente na casa número 16 da Rua 15 de Novembro. Já em 1912 foi admitido como clarinetista da banda infantojuvenil regida pelo maestro José Lopes dos Reis, o "Dunga", durante a administração do prefeito Major Alfredo Camargo Fonseca e sete anos depois, Nabor tornou-se maestro da banda. Em 1921, transferiu-se para São Paulo, e ali deu início aos estudos de música no Conservatório Dramático-Musical de São Paulo.

Nos primeiros tempos na capital, foi clarinetista da Banda do 4º B.C. do Exército (durante o serviço militar); empregado da Companhia de Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (a "Inglesa"); clarinetista da Banda da Lapa; clarinetista da orquestra do Cine São Bento e do Cinema Olímpia. Fez amizade com o jornalista e poeta Dieno Castanho, iniciando com ele, a partir do maxixe Mamãe Me Leva, uma longa parceria em suas composições.

Em 1923, passou a atuar em programas na Rádio Record. Em 1930, foi escolhido "Melhor Clarinetista de 1930", prêmio concedido pela Gazeta Esportiva. Gravou seu primeiro disco no estúdio da Victor da Praça da República, com as composições Matando Saudades e Caindo das Nuvens.

Na década de 1930 intensificou suas atividades como músico nas emissoras de rádio: entre 1933 e 1937, participou da orquestra e do grupo regional de música da Rádio Educadora; em 1937, integrou a Orquestra Sinfônica da Rádio Tupi; também foi músico na Rádio Gazeta e na Rádio e Televisão Nacional.

Além disso, integrou a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo (oficializada no final da década de 1940).  Também em 1930, junto a Acrísio de Camargo compôsHino Indaiatubano em homenagem ao primeiro centenário de Indaiatuba.

Em 1947, iniciou os primeiros entendimentos com a Editora Irmãos Vitale para a elaboração e publicação de um método para clarineta. Este método é utilizado até os dias de hoje entre os professores e estudantes desse instrumento.

Em 1967, aposentou-se pelo Departamento de Cultura do Município de São Paulo, órgão ao qual estava subordinada a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo. Retornou a Indaiatuba em 1985, aqui permanecendo até o final daquela década, quando transferiu-se para Mococa. Faleceu em 3 de outubro de 1996, aos 94 anos, deixando a esposa, Dona Cleonice (com quem se casou em 1934), e a filha única, Marizaura.

 

Foto Nabor Pires Camargo (Acervo do Arquivo Público Municipal – Data: 1948)


quinta-feira, 5 de maio de 2022

Rota dos Cavaleiros e Ciclistas é reinaugurada e recebe o nome de “Cidão Gaspar”

Acaba de ser entregue, na noite geladinha desta quinta-feira, cinco de maio de 2022, o projeto de revitalização da Rota dos Cavaleiros, que passou a se chamar "Rota dos Cavaleiros e Ciclistas Cidão Gaspar" em homenagem a um dos pioneiros da Romaria de Indaiatuba para Pirapora  - Alcides Gaspar -, que por mais de 40 anos auxiliou incansavelmente na organização do evento promovido pela Matriz Nossa Senhora da Candelária anualmente, desde 1942.


Romaria (sem data)- Terezinha Gaspar, Antonio Lopes Coral, Alcides Gaspar e Laudelino Gaspar


O evento marcado para início às 18h30, no Portal localizado no início da Rota, no Jardim Europa, contou com a apresentação da banda Superbad. Um passeio de bicicleta com a participação do prefeito e autoridades locais também foi agendado.

A “Rota dos Cavaleiros e Ciclistas Cidão Gaspar” vem sendo mantida com o objetivo de prover à população que utiliza o caminho – que é uma estrada de terra de 7,5 km que liga Indaiatuba até Cardeal - para o esporte e o lazer: no ano passado a Secretaria de Serviços Urbanos e Meio Ambiente instalou o Ponto do Ciclista, ao lado do Portal, cobertura e suporte para estacionar as bicicletas - um espaço que oferece sombra, bancos para descanso, lixeira e bebedouro para atender todos os esportistas que passam pelo local.

Na data de hoje, além da renomeação da rota homenageando o patrono com uma placa de identificação (veja imagens abaixo), a parada também ganhou uma bomba para encher pneus, um suporte para reparos de bicicletas e estrutura do portal foi revitalizada. De acordo com a Secretaria de Obras e Vias Públicas, a iluminação da Rota dos Cavaleiros e Ciclistas atualmente é composta por 214 postes com lâmpadas de sódio de 100W cada um. Outro ponto notável é que a Rota dos Cavaleiros e Ciclistas tem sido beneficiada com plantios de árvores nativas e alguns trechos também receberam espécies frutíferas como goiabeiras, pitangueiras, jaqueiras, mangueiras e graviolas. A página da Câmara Municipal de Indaiatuba em rede social destacou que os vereadores da casa “assinaram, nos últimos anos, cerca de 30 matérias solicitando melhorias” no local, sendo que o “presidente Pepo fez a Indicação 1.848 de 2020, que solicita a iluminação da estrada”, repetida pela “vereadora Silene Carvalini que fez a Indicação 451 em 2021”.



A origem da Rota

Muitos conhecem a "Rota dos Cavaleiros e Ciclistas Cidão Gaspar", principalmente aventureiros de Indaiatuba, que ali passeiam à pé, de bicicleta, cavalo ou motocicletas, mas poucos conhecem a história dela. Ela foi, originalmente, um leito ferroviário que ligava a estação ferroviária da antiga linha da FEPASA, entre a Parada da Fazenda Bela Vista e a Estação de Cardeal tendo ainda, no caminho, a Parada da Fazenda Espírito Santo.

Quem retirou a antiga rota da obscuridade foi o então vereador Dr. Helton Ribeiro, que apresentou a Indicação da viabilidade do raid Câmara Municipal, os vereadores aprovaram a indicação dele e os funcionários da Prefeitura Municipal fizeram a limpeza, o desmatamento e outras ações para viabilizar a obra, que, segundo Dr. Helton, contou com o "empenho do prefeito Reinaldo Nogueira, do Secretário Municipal de Obras e Vias Públicas, José Carlos Selone e Secretário Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente, Nilson Alcides Gaspar". A inauguração aconteceu no dia cinco de julho de 2009 e você pode ler e ver imagens sobre essa história aqui.

O patrono Cidão Gaspar

A homenagem para Alcides Gaspar - conhecido como Cidão Gaspar - foi de do vereador Jorge Luis Lepinsk - Pepo, que elaborou o projeto que deu origem a Lei Municipal 7630 de 12 de agosto de 2021.

Alcides Gaspar nasceu em Indaiatuba no dia 11/02/1937 e aqui faleceu com 83 anos em 23 de dezembro de 2020, no Hospital Augusto de Oliveira vitimado pelo Covid-19.

Foi casado com a professora Maria Aparecida Perucci Gaspar, com quem teve os filhos  Nicea, Nilze e Nilson Alcides Gaspar, atual prefeito de Indaiatuba.

Com o primário incompleto, o pecuarista foi vereador suplente na gestão do Prefeito Romeu Zerbini e recebeu várias homenagens dos romeiros e a honraria "Medalha João Tibiriçá Piratininga" comenda que homenageia cidadãos indaiatubanos por serviços prestados para nossa cidade.

Alcides Gaspar


Em seu projeto de lei, o vereador, que também é Presidente da Câmara Justificou que

Alcides Gaspar, mais conhecido por Cidão Gaspar, nasceu no Município de Indaiatuba - SP., em data de 11 de fevereiro de 1937. Cidão Gaspar teve sua vida ligada a família, trabalhou na Singer do Brasil, como açougueiro e também teve sua atividade na agricultura, se destacando como tropeiro. Ocupou o cargo de presidente da Romaria de Indaiatuba a Pirapora, a qual participou da organização por mais de 40 anos, além de realizar o trajeto da fé anualmente. Foi uma pessoa de percepção extraordinária para as decisões em sua vida. Viveu os anos de sua infância, ocupando-se do cultivo da terra e da pecuária, foi também tropeiro levando produtos de regiões produtoras ate os centros e vilarejos consumidores, transportava mantimentos e produtos que saíam de mais variadas regiões do município, por conseguinte, abastecia a população da região. Também, ocupou o cargo de presidente da Romaria de Indaiatuba à Pirapora por 30 anos, participando como organizador responsável pela arrecadação de prendas e leiloeiro da festa da padroeira Nossa Senhora da Candelária. Foi um dos tropeiros mais antigos de Indaiatuba e teve grande representatividade no segmento rural, colaborador da romaria de pedestres da sexta-feira santa na igreja São Benedito. Idealizador e organizador do primeiro passeio a cavalo pela Rota dos Cavaleiros como evento da romaria de Indaiatuba à Cardeal após a inauguração da mesma. Alcides Gaspar, conhecido com Cidão Gaspar, veio a falecer no dia 23 de dezembro de 2020, deixando um verdadeiro exemplo de honradez.

 

Cidão Gaspar e Tonhão Lopez Cruz
Romaria de Indaiatuba - sem data


Cidão Gaspar (à esquerda)
Romaria de Indaiatuba - sem data

Cidão Gaspar (à esquerda) -  imagem impressa em 1976
Rua dos Indaiás em frente ao Armazém dos Indaiás





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