sexta-feira, 28 de maio de 2010

Felícia

texto de Eliana Belo Silva
originalmente publicado na revista Imediata Opinião de junho de 2010


Felícia é uma personagem da História de Indaiatuba.

Uma personagem quase condenada ao anonimato eterno, pois não foi política, não foi magistrada, nem rica, nem fútil esposa de empresário com a face exageradamente botocada estampada quinzenalmente em colunas sociais. Foi uma escrava, escrava negra que labutou nessa terra, quando ainda existiam fartos campos de indaiás.

Foi graças ao esforço de um de seus descendentes, o professor de História Aparecido Messias Paula Leite de Barros, o Cido, que a história dessa mulher saiu da esfera íntima da memória oral de sua família e foi publicada no livro “Malungo – Identidade Entre os Cativos”.

Como tantos outros negros sequestrados na África, Felícia era uma criança livre e vivia em uma comunidade onde a divisão do trabalho era baseada no sexo e na idade: homens caçavam, pescavam e faziam os demais trabalhos pesados, enquanto que as mulheres cuidavam dos filhos, olhavam a plantação ainda rudimentar, cozinhavam; os velhos ensinavam – e sua sabedoria era respeitada! – e crianças aprendiam. As tarefas eram designadas por uma autoridade que não liderava pela força, mas sim pelo carisma.

A rotina foi interrompida quando uma tribo rival tocaiou a aldeia e capturou um grupo, entregando-o aos “comerciantes” de um dos negócios mais lucrativos da época: o tráfico negreiro. Era relativamente fácil capturar negros na África, inclusive em sociedades com organização mais complexa da qual habitava Felícia: era só viciar tribos inimigas com pinga. Quando estavam totalmente dependentes, a nefasta proposta era posta na mesa pelos brancos traficantes: “_ Eu te dou armas, você me entrega seus inimigos, eu te dou a pinga.” Simples assim. Milhões de negros foram capturados e mandados para trabalhar forçadamente na América em troca do sustento dos viciados, que eram negros também! Ou você achava que eram os brancos que entravam em território hostil para fazer a captura?

Felícia foi uma das que foram arrastadas para aquele navio negreiro, sob chutes e pontapés. Junto com ela, outros jovens e crianças foram acorrentados junto com adultos que possuíam funções especializadas em suas sociedades de origem: engenheiros, médicos, sacerdotes, professores, reis, rainhas; todos reduzidos à mercadoria que seria vendida por peso e valorizada conforme a brancura dos dentes. Até a chegada ao porto onde seriam expostos em vitrines humanas, o inferno se materializava: todos eram acorrentados nos porões dos navios e praticamente só sairiam dali se morressem; então seu corpo alimentaria o rastro de sangue do tumbeiro, perseguido avidamente por tubarões sequencialmente alimentados com corpos ali atirados, sem ao menos uma oração. Os que sobreviviam ficavam imersos em um esgoto humano que crescia dia a dia, com piolhos, sarna, feridas em putrefação. Famintos e sedentos não tinham a menor noção do que acontecia, do que estaria por vir.

Felícia desembarcou na Bahia e ali recebeu esse nome. A partir da data, seu nome original foi esquecido e sua nova identidade foi a que sobreviveu na história oral da família do professor Cido, passada de geração a geração. De lá, veio a pé com outros escravos e foi comprada por um fazendeiro aqui de Indaiatuba. Com aproximadamente 40 anos, após um romance com um escravo de nome Isaque Fonseca, teve seu único filho, que dela foi tirado à força e mandado para outra fazenda, do mesmo senhor. Dizem que foi por castigo, “_ Para dobrar sua altivez”.

Após a Abolição, Felícia procurou seu filho de fazenda em fazenda até reconhecer - em um menino de aproximadamente dez anos - os traços de seu irmão, o qual vira pela última vez paralisado de medo, com os olhos arregalados, logo após sua captura. Em seguida morou e trabalhou no pequeno centro urbano de Indaiatuba, na atual rua Bernardino de Campos, onde criou seu filho Juvenal, que por sua vez casou-se com Brígida e teve muitos filhos. Com o passar dos anos, a triste vida de Felícia a transformou em uma pessoa muito amarga, até com fama de feiticeira pelo poder de suas rezas e chás.

Idosa com mais de 90 anos, faleceu Felícia, provavelmente lembrando - em sua agonia terminal - dos tempos em que corria livremente pelas savanas africanas. Deixou em Indaiatuba muitos netos e bisnetos, muitos deles atualmente morando e trabalhando em nossa terra, que agora – com muita propriedade - eles também chamam de “sua”.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Oficina sobre primeiros Grupos Escolares de Itu atinge objetivos de participantes

Terminou nesta terça p.p. o Ciclo de Oficinas ministrada em Itu, no Museu Republicano, ministrado pela Dra. Anicleide Zequini e pela Ms. Aline Antunes Zanatta: "Memórias e Educação: os primeiros grupos escolares de Itu".



As oficinas que foram ministradas nos dias 11,18 e 25 de maio na Casa do Barão - onde principalmente educadores de Itu, além de outros interessados da região estiveram presentes - agradou aos participantes, atingindo e até superando suas expectativas. É o caso do professor historiador Denis Rodrigues da Silva, que mora em Várzea Paulista, leciona em 4 escolas em Jundiaí e veio para Itu somente para participar do evento educativo: "_ Tenho interesse na área da História da Educação e agora, depois desse curso, já penso em expandir o conteúdo aqui visto e adaptá-lo para escolas de Jundiai".

Pois exatamente esse era um dos objetivos do Ciclo de Oficinas, segundo Aline: _ " Trabalhar com o kit educativo preparado por nós, aqui de Itu, é uma ação que pode despertar nos educadores o interesse em pesquisar e trabalhar os materiais de suas próprias escolas."

Na primeira oficina, realizada no dia 11, os participantes receberam 3 Cadernos Pedagógicos caprichosamente elaborados e impressos com um conteúdo que visava " oferecer reflexões a respeito dos significados de documentos produzidos em ambiente escolar e, sobretudo divulgar a criação de instrumentos de investigação que, postos a serviço do processo ensino-aprendizagem, venham enriquecer a dinâmica em sala de aula e monstrar a importância de acervos museológicos nesse contexto."

O primeiro caderno discorre sobre os primeiros Grupos Escolares criados no Brasil (particularmente no Estado de São Paulo) após a Proclamação da República, justamente para organizar uma nova escola com seus valores, diferentes daquelas escolas isoladas da época do Império.  O segundo caderno dá foco ao Grupo Escolar Cesário Motta e o terceiro ao Grupo Escolar Convenção de Itu. Neles, não é apenas o texto que é atraente, repleto de generosas - mas ao mesmo tempo resumidas - informações; há fotos belíssimas advindas do acervo das duas escolas e também do acervo iconográfico do Museu.

Textos, imagens e as dinâmicas exposições verbais feitas pelas educadoras formaram um trio que possibilitou a todos os educadores não só aprenderem todo contexto pedagógico em que foram criados as respectivas escolas, mas sobretudo conhecer detalhes sobre cada uma delas. Grande parte dos professores presentes ministram aulas nas escolas referenciadas e emocionaram-se com o conteúdo.

Na oficina realizada no dia 18, foram entregues para os presentes várias fotos e  documentos dos citados acervos. Pudemos manusear essas "fontes primárias" reconhecendo em cada uma delas todos os aspectos teóricos que nortearam a criação dos Grupos Escolares Republicanos, mas especificamente esses dois de Itu.  E não parou por aí. Após o deleite de cada um dos participantes ao exercitar sua verve de pesquisador histórico, que muitas vezes fica em segundo plano por causa das atividades como professor, pudemos visitar o acervo do Museu, onde pudemos conhecer a organização e também novamente ver e manusear outras fontes.

No último dia de oficina, terça 25 p.p., os participantes foram visitar o prédio da escola "Convenção de Itu", atualmente municipal. O grupo foi recebido pela Coordenadora Taísa Guabêncio e pelas professoras PBI Maria do Carmo Veronezzi e Luciane Maria Belucci Zontanelli. Gentilmente as anfitriãs levaram-nos em todos os cômodos do prédio, onde pudemos reconhecer os aspectos aprendidos na parte teórica que, com certeza, no dia-a-dia  e sem o conhecimento ali adquirido, passa-nos despercebidos.

As três etapas da oficina, que conduziram os participantes do aspecto teórico ao mais prático possível seria o caminho pedagógico que todos nós, educadores, e principalmente professores de História deveríamos trilhar: usar de fontes primárias para dar sustentação para a teoria e ir "em campo" para fixar a aprendizagem com mais eficácia.  Mas não é só esse aspecto que é digno de registro no planjamento e execução das oficinas: a bibliografia recomendada é excelente e o certificado (que  coisa difícil, isso!) foi entregue para todos no último dia de aula.

Faço da palavras do professor Denis, as minhas: dá vontade de expandir o conteúdo para Indaiatuba e adaptar o foco para o prédio do antigo Grupo Escolar Randolfo Moreira Fernandes!

Disponibilizar os materiais que estão em Arquivos e Museus para ações educativas como essa é uma ação importantíssima não só para atualizar e/ou melhorar o conhecimento dos Educadores, mas fortalecer uma cadeia de formação de cidadãos que em um futuro próximo continuem a valorizar nossa História, nosso Patrimônio, nossa Memória... e porque não? valorizar o próprio acervo que, infelizmente, muitas outras instituições guardam (escondem) a sete chaves com a esfarrapada desculpa de "conservação".

terça-feira, 25 de maio de 2010

Museu Ferroviário de Indaiatuba recebe visitantes de Montana


texto de  Pérola Werdesheim
enviado por Lincoln Franco
Diretoria de Joranlismo da Prefeitura de Indaiatuba


O Rotary Clube tem um programa conhecido como Intercâmbio de Grupo de Estudos (IGE), que é responsável em levar brasileiros ao exterior e receber estrangeiros no Brasil. Desta vez, o Museu Ferroviário foi o ponto turístico escolhido por um grupo de intercambistas, dos Estados Unidos para a visitação. Eles são de Montana, o quarto maior estado norte-americano em área perdendo apenas para o Alasca, Texas e Califórnia.

Hospedados na cidade de Itu, os visitantes passaram o dia em Indaiatuba e conheceram o Museu Ferroviário, administrado pela Fiec (Fundação Indaiatubana de Educação e Cultura), onde foram recebidos pelo coordenador José Henrique Dercole, que ficou muito animado com as observações feitas ao acervo, já que o museu possui muitas peças oriundas da América do Norte, como é o caso da locomotiva a vapor. O grupo era composto por pessoas de 25 a 50 anos. O principal objetivo do programa é a integração com outras culturas.


Visite o site do Museu Ferroviário de Indaiatuba: http://www.fiec.com.br/museu/



sexta-feira, 21 de maio de 2010

A Bicicleta

 texto de José Roberto Effore*



Vivi em Indaiatuba, nos conturbados anos 60, e atualmente sempre me pego comparando alguma coisa com o que vivi naqueles anos.

Querer comparar o cotidiano de Indaiatuba do início dos anos 60 com os dias atuais é colocar lado a lado água e vinho.

Naquela época, as pessoas tinham objetivos mais simples, tudo caminhava mais lento. Não podiam os indaiatubanos de então, visualizar o crescimento acelerado que a cidade teria a partir dos anos seguintes.

Dentre tantas mudanças que houve nestes anos de crescimento e de conseqüente mudança de hábitos, segurança pública é o que mais chama atenção. Indaiatuba vivia dias calmos, naqueles anos 60. Era comum ver as pessoas conversando em frente as suas casas, até à noite, tempo este que era usado para colocar a conversa em dia... Quanta simplicidade e inocência a gente ouvia naquelas rodinhas amistosas e rotineiras.

Quando chegava a hora do sono, lá por volta das vinte e uma horas, todos retiravam suas cadeiras e se recolhiam. Assim, a tranqüilidade era plena e dominava aquela pequena cidade.

Praticamente nada cortava o silêncio daquelas noites: o sono era repousante e havia em cada um a certeza de que conhecia muito bem os seus vizinhos; assim todos se sentiam protegidos e protetores... Nada havia para ser temido, a não ser coisas do outro mundo, assombrações que, na verdade, nunca fizeram grande mal a ninguém.

Os dias eram calmos, o comércio pequeno não realizava grandes promoções, mesmo porque, naquele tempo, as pessoas só compravam o que realmente lhes fazia falta e a expressão “sociedade de consumo” ainda não havia sido ouvida por aqui. Os homens trabalhavam na lavoura ou nas indústrias locais e a maior parte das mulheres cuidavam da casa e dos filhos.

A cidade era tão pequena que não havia um morador sequer que não ouvisse o apito do Cotonifício, marcando a hora da entrada dos funcionários; ou que não ouvisse as badaladas do sino da Matriz, chamando os fiéis para a missa de todo o dia do padre Claret.

Foi num destes dias calmos que eu andei por alguns pontos da cidade com minha pequena bicicleta, o meio de transporte mais utilizado pelos indaiatubanos da época. Andei pelos costumeiros lugares e parei como sempre nos mesmos pontos, os quais despertavam a minha curiosidade de criança. Pegava sempre a descida da estação para ver o trem; depois ia até o pomar do hospital onde comia “os mal cheirosos” jataís; subia a Rua 9 de Julho para viver a grande aventura de passar sob o pontilhão, sempre tomando o máximo cuidado para não estar embaixo dele quando o trem passasse, pois poderia jogar água quente queimando tudo que estivesse embaixo. Era comum ainda dar uma volta no centro e mais no final da tarde passar na padaria do Denny para comprar pão para o jantar. Dona Idalina era quem sempre me atendia e quem anotava na caderneta o valor da despesa, que só era somada para ser paga no começo do mês seguinte. Comum também era passar pelo armazém do Bube que ficava na esquina da Rua de 24 de Maio com a Rua XV de Novembro, onde comprava algum alimento e sempre um doce de leite, gastos também anotados numa velha caderneta de capa cinza.

Foi num destes dias de repetidas pedaladas que algo diferente aconteceu. Meu pai, que sempre trabalhou de canteiro, chegava em casa por volta das dezessete horas, e depois de tomar banho, conversava um pouco com minha mãe enquanto esperava o jantar, depois jantávamos todos juntos meus pais e meus irmãos. Após o jantar, era a chegada a hora de conversar com os vizinhos : meu pai pegou um banquinho de madeira, um outro menor para minha mãe e foi, como de costume, até a calçada conversar com o Seu João Bersan, Seu Guido Curti e Seu Balabem. Minha mãe ficava um pouco mais de lado, juntando-se a rodinha das mulheres. O assunto corria solto noite adentro, até que o primeiro dos homens resolveu ir se deitar. Pronto, tudo acabado naquele dia, seguidamente todos se levantam e se desejavam boa noite. O trabalho mais difícil era recolher as crianças que ainda jogavam bola. Meu pai me chamou algumas vezes, mas tinha um jeito que ele chamava, com uma entonação diferente na voz, que eu sabia que era o último: se não obedecesse naquele momento, era “cinta” na certa. Entramos como de costume: minha mãe entrou primeiro para preparar o nosso banho de bacia, enquanto meu pai recolhia as coisas espalhadas pelo quintal e principalmente as três bicicletas que tínhamos em casa. Foi nessa hora que escutei meu pai chamando, usando aquela mesma entonação de voz que eu temia: “_ Roberto, onde você deixou a sua bicicleta?” Corri rápido até ele, tremendo como “vara verde” e confessei que não sabia onde ela poderia estar.

Meu pai ficou muito bravo, afinal a bicicleta era um bem importante e não podia sumir assim.

“_Venha comigo, sente-se na minha garupa e vamos procurar a sua bicicleta pela cidade...” E continuava: “_ Por onde você andou hoje?”

O lugar mais possível era o pontilhão, mas lá nos olhamos bem e nada vimos, mesmo porque o escuro da noite era muito forte; quase não havia lua.

Meu pai já estava ficando bravo quando subimos até a igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária e nada da bicicletinha... Subimos a Rua XV de Novembro com o meu pai já me prometendo vários castigos... Demos uma volta na praça central, e nada. Continuamos a subir a mesma rua, e, logo no meio do quarteirão, já pudemos avistar a minha bicicleta, encostada na porta, em frente a padaria.

Que alívio!

Peguei a bicicleta e junto com meu pai voltei para casa, onde meus irmãos curiosos me esperavam no portão. Meu pai não ficou muito bravo, entendeu que eu me distraí, trocando figurinhas com alguns amigos e esqueci a bicicleta, mas não escapei de ouvir um monte de recomendações para ser mais atento e etc. Fomos dormir logo depois, e meus irmãos ainda tiverem tempo de dar algumas risadinhas do meu susto.

Fico pensando se isso tivesse acontecido hoje e eu tivesse esquecido minha “bike” no mesmo lugar que ela ficou há quarenta anos atrás, será que ainda a encontraria estacionada no mesmo lugar depois de seis horas de abandono? Com certeza eu não a encontraria mais, provavelmente alguém já a teria levado para si, sem a menor culpa e sem muito receio.

No dia seguinte, que era um sábado, fui com meu pai buscar o pão na padaria e Dona Idalina com sua voz estridente falou: “_ Menino foi você quem esqueceu uma bicicleta aqui em frente ontem? Quando fechei a padaria, coloquei-a bem próximo da porta para não tomar chuva.”

Meu pai, sorrindo,agradeceu e explicou como achamos a bicicleta na noite anterior.

Na verdade, as pessoas também mudaram e com certeza ninguém iria tomar o cuidado de proteger minha bike sob a marquise de sua porta se fosse hoje. O espírito de cuidar das coisas dos outros, praticamente não existe mais, agora vivemos o tempo do “cada um por si”.

Atualmente Indaiatuba é uma das cidades com o maior índice de roubos da região, e não existe nenhum bem de maior valor que não precise de seguro.

Hoje é preciso segurar tudo que temos em casa, os veículos que nós usamos e até as nossas vidas.

Tudo é segurado, tanto que o número de lojas corretoras de seguro que temos hoje em nossa cidade, é a maior do que todas as lojas comerciais que existiam em Indaiatuba nos anos 60.

Este é o preço do progresso.

Mas fico feliz por lembrar que vivi em um lugar e em um tempo em que se podia esquecer uma bicicleta na rua, pois ninguém iria levá-la de mim...

 
 
 
* O texto de José Roberto Effore foi publicado graças à um projeto da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba denominado "Um Olhar Sobre Indaiatuba", que neste ano está em sua versão infantil. No final deste ano serão publicados os textos de crianças da rede de ensino particular e privada de nossa cidade, com o tema "INDAIATUBA". Professor, incentive a participação de seus alunos!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Um Olhar Sobre Indaiatuba

 texto de Terezinha de Jesus Nascimento Carvalho
Originalmente publicado no livro "Um Olhar Sobre Indaiatuba (I) - 2006


Era 1964. Éramos jovens, 25 e 29 anos, dois filhos, Adriana de 2 anos e André de 2 meses – eu professora e ele, laboratorista em 2 empregos, no hospital do SESI, em Jundiaí, e outro particular.

Jundiaí, cidade grande perto de São Paulo; as duas cidades eram ligadas por ônibus que partiam a cada cinco minutos, nos oferecia boas condições de vida. Mas um dia o Nilson (1) chegou e disse:

- “Vou com o Ribas (Dr. Ribas Cunha, grande cirurgião infantil) conhecer Indaiatuba, para ver se quero instalar um laboratório no HAOC (2), o hospital local”.

Eu não conhecia Indaiatuba e ainda não sabia o quanto minha vida se entrelaçaria à vida desta linda cidade. Viemos... E para sempre! Aqui crescemos profissionalmente, criamos nossos filhos e nos engajamos em projetos, criamos projetos e vivemos...

Meu primeiro olhar foi definitivo: a Rua Vinte e Quatro de Maio era arborizada, com lindos e frondosos flamboyants que formavam um oásis de frescor e beleza como nunca vi em nenhum lugar.

Lembro-me de que achei esta cidade muito civilizada e simpática por ser tão arborizada, muito diferente da cidade atualmente (em que vivemos hoje).

Diferente porque era pequena – cerca de 20 mil habitantes no município (3), sendo que onze mil dirigiam bicicletas, parando alguns minutos à sombra das árvores que enfeitam a cidade, cujo clima era bem mais quente que Jundiaí.

Diferente porque não havia telefones automáticos, ainda se falava com a telefonista local.

Não tínhamos restaurantes, o comércio fechava as 11:30h e reabria às 13:00h, depois da sesta.

Inicialmente, nós e o Dr. Jalma Jurado e sua esposa Tininha, “forasteiros” como eram conhecidas as pessoas que chegavam de outros lugares, moramos no HAOC. Nesta época, o Dr. Guilherme Deucher era o diretor clínico do hospital e estava convidando (para trabalhar com ele) o Nilson, Dr. Jalma, Dr. Alexandre, Dr. Sérgio (meu tio), Dr. Bolívar e não sei ou não me lembro quem mais, já faz tanto tempo...

Olhei e vi: Indaiatuba modificou-se.

No começo devagar, e depois, com muita pressa, aceleradamente, embelezando-se, modernizando-se, esta linda cidade.

Não escolhemos onde nascer, Nilson nasceu em Barretos e eu em Penápolis; mas escolhemos onde morrer e aqui ficamos, para sempre, nos tornando indaiatubanos de coração.

Minha vida profissional foi de “professora primária” da escola pública estadual até 1975, quando então iniciei a “Pré-Escola Picapau Amarelo”. E depois do Pré, a Escola de 1° e 2° graus (chamados de fundamental e médio – atualmente) “Monteiro Lobato”.

Foi uma vida gratificante, pela escola e pelos milhares de crianças e adolescentes que vi, por anos, circularem naquela que foi a melhor escola que se podia oferecer; não só pela qualidade do corpo docente, mas principalmente pela vanguarda dos projetos. Pioneira em oferecer vídeo em sala de aula, laboratório com ótimos equipamentos (orientação do Nilson, meu marido, que criou e dirigiu o Laboratório Sancel, até a sua morte, em dezembro de 2001). Pioneira também em oferecer Computação no currículo desde o fundamental, Inglês desde a pré-escola e Robótica, quando era uma atividade quase desconhecida. Na parte de infra-estrutura, ainda oferecíamos uma biblioteca com mais de cem metros quadrados e 4000 volumes de qualidade, utilizada inclusive por mães de alunos; e computadores ligados à Internet durante todo o dia, para uso de professores e alunos.

Se a parte material era ótima, a parte humana era muito melhor!

A sala dos professores, uma festa nos dois períodos, era alegre, proporcionando uma troca de experiências muito gratificante. Além de ótimos profissionais, convivemos com seres humanos adoráveis...

O “Monteiro” era referência para tudo: técnicas de ensino, instalações, vanguarda. A juventude que cresceu em seus espaços tem gratas lembranças da época, e nos orgulhamos de ter contribuído para a formação de ótimos profissionais que hoje atuam em diversos setores na cidade.

Durante esses quase trinta anos (1975-2003), o Monteiro Lobato agiu e interagiu com a cidade. Meu marido, concomitantemente ao Laboratório Sancel descobriu-se um historiador nato, que pesquisou em fontes primárias (originais) a História de Indaiatuba e região, a vida dos ilustres fundadores da cidade, produzindo mais ou menos 2000 páginas de textos históricos (4). Tudo começou com a entrada do Monteiro Lobato na campanha para a preservação do Casarão Pau Preto – marco do bairro onde se localiza o Colégio. O que era inicialmente apenas um movimento escolar cresceu na cabeça do Nilson, que criou um áudio-visual e um texto sobre o prédio e sua origem, intitulado “Arquitetura em Taipa” (5). Nilson foi auxiliado por Renato e Cristina Carramenha (6), apoiados pelo Jornal Tribuna de Indaiá, Sérgio Squilante e José Carlos Tonin, então prefeito. A participação de llse Scamparini da EPTV, Carlito Maia da Globo São Paulo contribuiu para o que o Casarão não fosse demolido.

Você é capaz de imaginar Indaiatuba sem o Casarão?

Esta pesquisa sobre o Casarão foi o início das atividades de pesquisa feitas pelo historiador autodidata Nilson Cardoso de Carvalho, que editou, mais tarde, um livro sobre sua família, chamado “Adelino Manuel e seus descendentes (7) ”. Escreveu também “A Paróquia de Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba – 1832-2000 (8)”, editado pela Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (9) em 2004, além de artigos e documentários em vídeo.

A Fundação Pró-Memória nasceu da cabeça de Nilson, do Geiss (10) e do Penna (11), que batalharam por sua criação legal e existência que, sabe-se hoje, é de primordial importância para guardar e preservar a memória da cidade. Criada sob inspiração de instituição similar de Rio Claro, hoje é modelo de referência para a criação de outras.

Enfim, acho que não só olhamos para Indaiatuba, mas fomos olhados por ela, pois aqui plantamos idéias e ideais, concretizamos nossos sonhos e inspiramos criações.

Saudades?

Sinto muito do Nilson, das Escolas Públicas, do Monteiro, dos alunos das duas épocas, dos colegas de trabalho, dos colaboradores amigos e até do burburinho das crianças e jovens com os quais convivi durante este 42 anos de Indaiatuba.

Concordo com Fernando Pessoa quando diz que “O valor das coisas não está no tempo que duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.

Obrigada, Indaiatuba por me deixar olhá-la!

.....oooooOooooo.....

Nota da autora:
Texto escrito em agosto de 2006.

Notas do Conselho Editor:
(1) Nilson Cardoso de Carvalho foi membro do Conselho Administrativo da Fundação Pró-Memória, nasceu em 25 de junho de 1934 e faleceu em 09/12/2001. Fez pesquisas históricas de Indaiatuba (séculos XVIII-XIX) e de Barretos (colonização dos vales do Rio Grande e Pardo - século XIX).

(2) Hospital Augusto de Oliveira Camargo.

(3) O censo de 1960 acusou 19.697 habitantes no município, sendo 13.507 na zona urbana e 6.190 na zona rural.

(4) Esse volume é composto, em grande parte, por transcrições de documentos relativos à história da cidade, pesquisados em vários arquivos do estado de São Paulo e está sob a carinhosa guarda da ONG “Amigos da Coleção Nilson Cardoso de Carvalho de História Regional”: www.ncc.inf.br

(5) CARVALHO, Nilson Cardoso de, 1984. Arquitetura em taipa, um dos últimos remanescentes em Indaiatuba. Indaiatuba, s.ed., 13 p., il. Esta obra está disponível no site www.ncc.inf.br e no site da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba: www.promemoria.indaiatuba.sp.gov.br

(6) Renato é nome artístico de José Manoel Carramenha e Costa. Sua esposa chama-se Márcia Cristina.

(7) CARVALHO, Nilson Cardoso de, 1994. Adelino Manoel e seus descendentes. Indaiatuba, s. ed., 111 p., il.

(8) CARVALHO, Nilson Cardoso de, 2004. A Paróquia de Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba – 1832-2000. Indaiatuba, s. ed., 302 p., il.

(9) A edição desta obra contou também com o auxílio de D. Sylvia Teixeira de Camargo Sannazzaro e com o patrocínio do Círculo Católico Nossa Senhora da Candelária.

(10) Antônio Reginaldo Geiss, nasceu em 23/11/1929 em Indaiatuba e quando criança trabalhava como caixeiro no armazém de um tio; trabalhou no Banco Mercantil de São Paulo por quase 30 anos e, com a ajuda de companheiros, fundou a IVESA e a Rádio Jornal de Indaiatuba. Fundador e Conselheiro Vitalício do Indaiatuba Clube, onde participou da Diretoria por 10 anos e onde, atualmente, é presidente do Conselho Deliberativo. É sócio-fundador da ASBAP – SP e pelo seu reconhecido gosto, conhecimento e comprometimento com a preservação da memória, da História e do patrimônio cultural de nossa cidade, é Presidente do Conselho Administrativo da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba.

(11) Antônio da Cunha Penna, que nasceu em 03 de agosto de 1945 em Santa Bárbara –MG - é um idealista. Essa característica o faz músico, escritor, fotógrafo e “agitador cultural”. Montou a Coleção Fotográfica Antônio da Cunha Penna, com fotos produzidas e reproduzidas de Indaiatuba, disponível na Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, de onde é membro do Conselho Administrativo. É Diretor de Cultura e Arte do Indaiatuba Clube. Querido, premiado e reconhecido não só pelas suas fotos e “agitos culturais” (organização de exposições, apresentações, shows), mas também por suas obras literárias, caracterizadas principalmente pela perspicácia e humor crítico que lhe é peculiar.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Jovens de Indaiatuba - década de 1950



A foto é de 1956.

Essa turma era conhecida como a "TURMA DO FUNIL".

Da esquerda para a direita, de cima  para baixo:

Antonio Rossin ( Bigode),
Pedro Gennari (Pinheiro),
Antonio Andrade (Monte Mor),
Darci Martinez,
José Calonga,
Albino Geraldi,
Hermínio Benedetti,
Antonio Perez Canovas,
Luiz de Jesus Grossi,
José Zombini,
 André Perez Canovas,
Nelson Farinelli,
Orfeu Sombini e
Geraldo Genaro (barbeiro)

CURIOSIDADE: MOMENTO MANGUAÇA CULTURAL
Não basta beber, tem que conhecer!

Antigamente, no Brasil, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo.
Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse.
Porém um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam e o melado desandou.
O que fazer agora?
A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor.
No dia seguinte, encontraram o melado azedo fermentado.
Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo.
Resultado: o 'azedo' do melado antigo era álcool, que aos poucos foi evaporando, formando no teto do engenho umas goteiras que pingavam constantemente.
Era a cachaça já formada que pingava.
Daí o nome 'PINGA'.

Quando a pinga batia nas suas costas marcadas com as chibatadas dos feitores ardia muito, por isso deram o nome de 'ÁGUA-ARDENTE' .
Caindo em seus rostos escorrendo até a boca, os escravos perceberam que, com a tal goteira, ficavam "alegres" e com vontade de dançar.
E sempre que queriam ficar "alegres",  repetiam o processo.

(História contada no Museu do Homem do Nordeste ).

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Rede Municipal dá continuidade ao Projeto de Memória Local na Escola

colaboração de Lincoln Franco (por e-mail)
texto de Sirlene Virgílio Bueno da PMI


As 38 unidades escolares da Rede Municipal de Ensino que participam este ano do Projeto “Memória Local na Escola”, realizado em parceria com o Museu da Pessoa e Instituto Avisa Lá, Toyota do Brasil e Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, já iniciaram o processo de escolha dos depoentes. Participam do projeto os alunos da 3ª série e cada classe escolhe uma personalidade indaiatubana para fazer o registro histórico.

O projeto é resultado de uma indicação da Secretaria Municipal de Educação feita pela Toyota do Brasil ao Museu da Pessoa, que com a ajuda do Instituto Avisa Lá capacita professores e alunos para que aprendam como captar informações e fazer registros históricos. No final, os alunos produzem um material eletrônico que é postado no site do Museu da Pessoa, além do material impresso que é exposto durante a Feira Literária, realizada anualmente para mostrar os trabalhos produzidos pelos alunos dentro do Projeto Ler Faz Bem.

Os professores que participam do projeto já estão em capacitação desde o dia 1º de abril. A novidade deste ano é que representantes do Museu da Pessoa e o Instituto Avisa Lá estão formando, também, um grupo de professores multiplicadores para atuar em 2011. A proposta dos parceiros é fazer com que o município consiga dar andamento ao projeto sozinho a partir do próximo ano.

Além da capacitação, cada unidade recebeu dos parceiros sete biografias de personalidades para servir de material de apoio aos professores que estão trabalhando no projeto.

Museu da Pessoa

O Museu da Pessoa foi criado em 1991 com o objetivo de construir uma rede internacional de histórias de vida capaz de contribuir para a mudança social. Apesar de não haver internet, no começo já era definido como um museu virtual, ou seja, um museu para preservação de histórias de vida organizadas em uma base digital (banco de museus, CD-ROMs, etc.).

O objetivo principal era criar um novo espaço onde cada pessoa pudesse ter a oportunidade de preservar sua história de vida e de tornar-se uma das múltiplas vozes da nossa memória social.

Formado hoje por quatro núcleos (Brasil, Canadá, Estados Unidos e Portugal) autônomos, auto-sustentáveis e ligados por uma metodologia e objetivos comuns, o Museu da Pessoa no Brasil foi o primeiro e desde o início trabalhou em busca da sua auto-sustentabilidade. São realizados em torno de 100 projetos, desde projetos de memória institucional até outros focados em desenvolvimento local e educação, como é o caso de Indaiatuba. Todos eles usam a metodologia de história oral e além de resultar em um produto, sempre agregam histórias de vida ao acervo virtual.

Hoje, as histórias digitais podem ser feitas por meio de diversas novas tecnologias: podcasting, blogs, documentários digitais, web rádios, entre outras, e o desafio do Museu é aproveitar todas essas possibilidades para criar verdadeiras correntes que possam resultar em mudanças reais na sociedade.

Imagem "Colcha de Memórias" do acervo da 3a. série da EMEB Prof. Antônio Luiz Balaminuti
Professora Marina Janoni
Fonte: site do Museu da Pessoa



quarta-feira, 12 de maio de 2010

Imagens das Árvores em Processo de Estudo para Tombamento


As fotos deste post (ma-ra-vi-lho-sas!)  foram feitas pelo fotógrafo da Câmara Municipal de Indaiatuba, Giuliano Miranda e cedidas gentilmente para este blog como cortesia do gabinete do vereador Dr. Helton Ribeiro.

As imagens são das árvores de uma lista elaborada com a ajuda de vários colaboradores (veja aqui) que sugeriram espécimes plantadas em diversos pontos de nossa cidade, que por vários motivos significativos para a comunidade, deveriam ser tombadas (protegidas por lei).

Na semana passada, a lista das árvores, as fotos e o endereço onde cada uma está foi enviada para a Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Indaiatuba, com o objetivo de que cada espécime seja devidamente identificada e, quando aplicável, catalogada com dados adicionais como possível idade, espécie, família, formação de raiz, caule, folhas e outros atributos. Após esse trabalho técnico, a lista será enviada para que o conselheiros da Fundação Pró-Memória deem seu parecer técnico sobre a viabilidade e efetivação do tombamento. Até lá,  surpreenda-se com a galeria das espécimes escolhidas, bem como pela valorização das mesmas, sob o olhar fotográfico de Giuliano.




































segunda-feira, 10 de maio de 2010

Professora de Indaiatuba aborda Educação e seus desafios em Livro

texto de Luciene Santos Telli,
originalmente publicado no Jornal Votura de 7 de maio de 2010


Segundo autora, cursos de formação são muito teóricos e não preparam professor para ‘enfrentar’ uma sala de aula


A história da Educação pública brasileira é marcada por avanços, retrocessos, insucessos, conquistas e um conjunto de leis, reformas, normas e outros aparatos legais que modelaram o atual sistema educacional. Essa trajetória que ajuda a entender a Educação no presente é narrada no livro “História e Cotidiano na Formação Docente: Desafios da Prática Pedagógica”, da pedagoga, historiadora e professora da rede municipal de ensino de Indaiatuba, Silvane Rodrigues Leite Alves (foto ao lado).

Silvane, 40 anos, 19 de magistério, é mestre em Educação, na área de História, Filosofia e Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de Campinas (Unicamp). Professora do Ensino Fundamental na rede, leciona também em escola particular e é tutora do EAD (Ensino à Distância) na graduação de Pedagogia da Facinter (Faculdade Internacional de Curitiba). O livro foi escrito a convite da Facinter, depois que a coordenação da Faculdade tomou conhecimento da dissertação de mestrado de Silvane, feita em 2007, e que aborda a instrução pública no Estado de São Paulo e em particular como ela se desenvolveu em Indaiatuba.

A pedido da Facinter, Silvane abordou a história sem se aprofundar sobre a questão na cidade, como fez na dissertação. O motivo é que o livro, que tem previsão de lançamento entre junho e julho, pela Editora Ibpex, da Facinter, será distribuído para os alunos do curso superior de Pedagogia à distância da Faculdade, em vários pontos do país. Serão 1 mil exemplares.

Voltado a futuros professores, ele não só fornece informações históricas sobre a Educação, embora o capítulo destinado a este tópico seja um dos mais interessantes e baseado na dissertação, rica em detalhes. Ele também reflete sobre a herança educacional brasileira no século XX e seus projetos inacabados e outros grandiosos esquecidos na gaveta. Silvane cita como exemplos o projeto do segundo professor na sala de aula (do governo do Estado) e o ideal de uma classe com no máximo 30 alunos. “Na prática, essas coisas não acontecem. O professores estão esperando até hoje o professor auxiliar e em várias escolas as classes estão abarrotadas”, diz Silvane.

Os que são e os que estão

No terceiro capítulo o livro trata dos princípios pedagógicos do currículo da formação de professores, questiona a má-formação existente e enaltece os profissionais que conseguem fazer a diferença na escola pública apesar das dificuldades. “Eu tinha um professor na Pedagogia que falava que existem dois tipos de professores: os que ‘são’ e o que ‘estão’. Os que ‘são’ querem fazer a diferença. O segundo tipo está assim por uma imposição de mercado, afinal, é uma área em que não falta trabalho”, observa a autora. No capítulo final, ela apresenta práticas educativas que deram certo e podem ajudar em sala de aula.

Oferecer uma visão prática da profissão aos futuros professores é um dos principais objetivos do livro, segundo Silvane. “Todos os cursos que formam professores são muito teóricos e não ensinam o que fazer com uma sala de 39 alunos”, diz. Ela lembra que o currículo de Pedagogia prevê 300 horas de estágio, mas alunos que trabalham o dia todo, caso da maioria, não conseguem cumprir esta carga horária. Silvane fez estágio de 2 meses, muito pouco para lidar com o que encontraria pela frente. “Você não está preparado para indisciplina, para o aluno que não tem pai nem mãe, para o aluno envolvido com drogas, que vem de uma família desestruturada. (Por isso) os cursos deveriam ser mais práticos do que teóricos”, defende a autora.

Ela conta que foi aprendendo, no dia a dia, a lidar com as diversas situações impostas pelas realidades em sala de aula. Descobriu, por exemplo, que a leitura de um texto no início da aula acalmava os alunos. E que entra turma, sai turma, é preciso se adaptar a uma nova dinâmica. A cada geração, mudam alunos e mudam pais. Os da atualidade, por exemplo, estão mais críticos, e se os filhos têm problemas na escola, atribuem parte da culpa ao professor. Alguns até deixam de enxergar a parcela de culpa que cabe aos filhos, para prejuízo do educador.

Nunca foi fácil

“O professor não deve ser ingênuo. Deve ter consciência de que a profissão não é fácil, mas que ele não pode desistir”, enfatiza a autora. Segundo ela, a contribuição que o livro dá é para que os professores não desanimem da missão que abraçaram, de educar, ‘porque problemas vão existir sempre’. “Quando você estuda a história da Educação, vê que nunca foi fácil”, argumenta Silvane. “Mas se o que se quer é uma escola mais humana e alunos disciplinados, atitudes que levem a isso têm que partir do professor também”, observa a autora, que defende que ‘a formação continuada, tanto prática quanto teórica, tem que ser constante’.


Historiadora se aprofundou na história da educação na cidade


Para a dissertação de mestrado, que abrange o período que vai de 1854 a 1930, foram quase 12 anos de pesquisas, 9 deles enquanto Silvane trabalhava na Fundação Pró-Memória de Indaiatuba (de 1994 a 2003). Outras fontes foram o Arquivo do Estado, em São Paulo, e o Museu Republicano do Estado, em Itu.

Mas foi no Pró-Memória que a historiadora/professora descobriu situações curiosas, como a da formação do primeiro grupo escolar em Indaiatuba. Ela explica que, embora a cidade, então Vila, fosse pouco representativa no contexto estadual, tinha políticos influentes, que conseguiram que o Estado autorizasse a instalação de um grupo escolar aqui em 1895. A cidade foi a primeira, fora da capital, a receber um grupo escolar, um fato de grande importância para a época. O grupo escolar, como Silvane pôde comprovar por meio de documentos históricos, tinha quatro classes divididas por séries e estrutura administrativa e pedagógica. Um avanço para uma cidade onde a Educação era restrita a pouquíssimas escolas isoladas, com alunos de diversas idades juntos numa mesma sala.

O grupo foi dissolvido (extinto) em 1897, por ação do grupo político contrário ao major Alfredo Camargo Fonseca e que disputava, com o grupo político do major, o poder na cidade. Fonseca era o intendente da Vila em 1895 – o cargo foi o que corresponde hoje ao de prefeito. O fato – a instalação de um grupo escolar local – lhe dava visibilidade política, o que o políticos que lhe eram contrários lutaram para minar. Até o nome do grupo escolar pode ter contribuído para sua extinção: ele recebeu o nome do Major Fonseca, para “ciumeira” geral de seus adversários políticos.

Professor Randolpho Moreira Fernandes e seus alunos em 1880


O episódio não está no atual livro de Silvane, mas demonstra claramente como os interesses políticos e da elite econômica prevaleceram na história da Educação no país.

A pesquisadora lembra que, mesmo com o ideal republicano de que a população precisava ser escolarizada – a maioria era analfabeta -, o objetivo da recém instituída República no Brasil, que lançaria as bases para o ensino público gratuito no país, não era a educação plena de todos. Embora visasse a escolarização dos “cidadãos”, só era considerado cidadão naquela época aquele que comprovasse ter uma boa renda, ou seja, uma minoria burguesa interessada em comandar o país. Ser alfabetizado também era um dos critérios para se ter direito ao voto, daí o interesse para que alguns poucos tivessem acesso a escola pública.

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Créditos das imagens:
Foto de Silvane de Luciene Santos Telli/EKN
Foto antiga: reprodução de imagem que está na dissertação de Silvane, publicada no Jornal Votura. A original é de propriedade do Arquivo da Fundação Pró-Memória, de 1880, com o professor Randolpho Moreira Fernandes ao centro.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Mostra: Almeida Júnior no acervo de pinturas do Museu Republicano de Itu

[Clique na imagem para ampliar]



José Ferraz de Almeida Júnior nasceu em Itu em 1850. Em 1869, após receber ajuda financeira, coordenada pelo pároco da matriz de Itu, ingressou na Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro.

Em 1875, já formado, retornou a Itu onde instalou seu ateliê. Neste mesmo ano, foi convidado pelo Imperador D. Pedro II para estudar na Europa. Em 1876, entrou na École dês Beaux-Arts de Paris, França.

Em 1882, Almeida Júnior voltou ao Brasil e instalou seu ateliê na cidade de São Paulo, onde passou a pintar quadros históricos e também retratos.

O pintor José Ferraz de Almeida Júnior produziu diversos retratos de membros das elites paulistas nas décadas finais do século 19, ligados à vida econômica e política da Província e depois Estado de São Paulo.

Era prática das elites paulistas do século 19 encomendarem retratos junto aos artistas como maneira de produzir distinção social. Esses retratos eram destinados a decorar repartições públicas e residências.

Nesta mostra, localizada no andar superior do edifício histórico, o público terá acesso a algumas das obras pintadas por José Ferraz de Almeida Júnior pertencentes aos acervos do Museu Republicano “Convenção de Itu”, e Museu Paulista da Universidade de São Paulo.


Período: 08/05 a 31/07 de 2010
Horário: 10hs às 16 hs, de terça a domingo.
Endereço: Rua Barão de Itaim, 67, Centro, Itu/SP.


Colaborou: Ms. Aline Antunes Zanatta

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