segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Fatos e Coisas de Indaiatuba Antiga - Seus Tipos Populares (II)

texto de Ejotaele (continuação)
 
 
(Este texto começa aqui, em post anterior)
 
Assinalaríamos ainda outros tipos andrajosos de rua, conhecidos do povo, como foram "Jaburu" e "Maria Louca", esta última, tinha o vezo "lenhar" a qualquer hora, até mesmo à noite. Será interessante esclarecer aqui que "lenhar", palavra em voga naquele tempo, significava procurar gravetos no mato ou nas capoeiras.
 
Tipo do auspicioso, do madraço e do capiango, era o Bentão. O povo conhecia-lhe as artimanhas, mas assim mesmo as propinas lhe chegava às mãos. O certo é que Bentão servia-se de umas mulatas quando saía à rua pedir esmolas, mas quando recolhia-se aos seus penates, mandava às favas os respeitáveis bastões de coxo e andava como qualquer mortal.
 
Houve um "Antônio Boi", "Antônio Veado", este, pelo fato de residir nas proximidades do cemitério, era tido como assombração. As crianças temiam-no.
 
Digno de nota, foi Delfino, o preto Delfino, que residia ao longo do caminho do Chafariz. ´Haverá quem não se lembre do seu linguajar curioso e pitoresco?: "Mim é arara num é Araraquara" ou "Pouca miséria miacumpanha", era o que Delfino frequentemente cantarolava. Dizia-se que ele havia sido escravo e escravo de bom preço, por ser dotado de finas canelas. Era pouco afeito ao "batente"; vivia, talvez, por isso, sempre bem humorado...
 
O Vieira era um cariboca esguio e forte, caboco enxuto, resistente ao peso dos anos e às intempéries. Marejou por longos anos, ora no "desvio", ora no trabalho, não raro mal remunerado, em razão da própria maneira de viver. O seu palavreado está latente ainda na lembrança popular: "aieres, pitares, fumares".
 
Nunca pudemos atinar a razão porque o Antônio Camargo, figura popularíssima e amiga das crianças, por longos anos foi o "bilheteiro de Indaiatuba". De tradicional família paulistana, não poderia conceber a idéia de que Antônio Camargo exercesse mister incompatível com os brasões da família. "Vendendo a sorte", sem, contudo, tê-la vendido à ninguém, talvez ganharia a sua sorte grande pois foi ter à França o nosso Camargo, onde permaneceu uma dezena de anos lá gozando de uma existência sem preocupações. Não há morador de Indaiatuba dessa época que não tenha recebido do Camargo um cartão da luxuriante Paris do começo do século!
 
Figura benquista e conhecida de todos, que deixou de existir há alguns anos já, foi a preta Nhá Benta, que batia o pé pelas ruas da cidade à vender frutas e quejandas. Nhá Benta possuía verdadeira ojeriza às armas de fogo. Sabiam-na com esse complexo e bastava um simples gesto de sacar uma arma, para fazer com que a boa Nhá Benta "azulasse". Um dos traços marcantes de sua vida e isto lhe ia em conta de qualidade admirável, já que hoje em dia é missão difícil - senão impossível, era o dispor de seus préstimos aos jovens nos seus transportes amorosos. E dizer-se que Nhá Benta "arrumava" casamentos"!
 
 

 
 


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O Crime do Poço - Capítulo 10

Capitulo X - - Diversão e Pesadelo

O relógio da matriz Nossa Senhora da Candelária marcava dez horas da noite do domingo , 8 de dezembro de 1907 (1). O toque de recolher já havia ordenado para que as pessoas se recolhessem. Obedecendo, não testemunharam que na rua mal iluminada pelos lampiões, alguns colegas que, convidados por Adão, Eugênio e Antônio, foram à surdina, jogar mais baralho na venda de Adão, claro, com as portas fechadas.

Pascoal Matteo, que estava junto com Vicente Gaudini nesta contravenção, contou em juízo que jogaram até as três horas da madrugada o jogo-do-ponto, cuja dinâmica é “...muito violenta, porque o jogador pode perder muito em muito pouco tempo”. Notou com estranheza que Adão e Eugênio aceitavam todas as apostas chamadas; inclusive Eugênio aceitava “todas as paradas propostas, até com cartas ruins”.

A atitude de ostentação de Eugênio também foi percebida pelo dono da sapataria em que ele trabalhava, Horácio Otranto. Quando depôs, Horácio disse que, naqueles dias, Eugênio se gabava incansavelmente das quantias que apostava, narrando detalhes das partidas, inclusive vangloriando que estava aceitando qualquer “parada proposta pelos outros jogadores.” Notou ainda que, sem nenhuma discrição ele “puxava do bolso notas de cinco e dez mil réis.”

Já em São Paulo, a inquietação dos pais aumentava incontrolavelmente. A intensa angustia fazia com que as horas passassem morosamente. Com aquela sensação de padecimento e vazio a partir-lhe o coração, Dona Vincenza foi deitar naquela noite com a esperança de que o dia seguinte traria alguma notícia.

O sono custava a chegar, a imagem do filho não lhe saia da frente e tristes pensamentos a torturavam. Mexia-se e remexia-se na cama, outrora tão confortável, sem encontrar alívio. Até que, enfim, conseguiu fechar os olhos e, pelo cansaço das noites anteriores passadas em claro, adormeceu e sonhou (2).


Lá estava o Sr. Modesto num Banco a pedir a um funcionário notícias de seu filho e o interpelado perguntou:


- Mas como se chama ele?


Ao que Modesto respondeu: Domenico De Luca.


O funcionário abriu um papel e o pai conseguiu ler, antes que o outro falasse, uma frase desesperadora: “Domenico De Luca morreu em Indaiatuba.”


Saiu gritando chamando pelo filho, correu para casa a fim de dar a triste notícia a sua mulher. Não tinha mais forças para andar e o caminho parecia-lhe tão comprido. Enfim chegou e chorando disse à sua mulher: depressa, temos que partir, nosso filho está morto, temos que ir buscá-lo.


Num instante encontravam-se os dois na estação da Luz e já estavam viajando para Jundiaí. O trem corria, corria numa planície sem fim: não se via casas, nem gado a pastar nos campos, apenas um céu cinzento a cobrir tudo com uma espessa névoa cheia de tristeza e de dor, até que apareceu um condutor para conferir as passagens.


Modesto entregou-lhe a deles e com espanto ouviu o condutor dizer:


- Mas este trem vai para São Paulo!


Modesto desesperado, vencendo a resistência do condutor e da mulher que queriam segurá-lo, pulou pela janela e se pôs a correr alucinado pelos pastos sem fim, até que de repente lhe apareceu uma mulher com cinco crianças em volta dela. Então parou, e a mulher disse:


- Não chore, bom homem, tenha coragem.


Ao que ele perguntou:


- Por que não devo chorar, se não consigo encontrar meu filho?


E a mulher:


- Venha comigo, eu o levarei. Seu filho morreu em Indaiatuba é lá se encontra ainda.


O pobre pai, agora já sem forças, a acompanhava. Em pouco tempo chegaram a Indaiatuba e Modesto encontrou sua mulher. Juntos seguiram para uma casa onde estavam velando um defunto. Mal entraram num quarto e já reconheceram no morto o seu próprio filho!



Foi tão grande o choque da imagem do filho morto que Dona Vincenza acordou. Estava banhada de suor e custou a perceber que tudo não tinha passado de um sonho, de um horrível pesadelo. Narrou os detalhes para o Sr. Modesto. Descreveu a casa onde estava o filho morto, deitado em lençóis brancos com um fio de sangue escorrendo na face.

Uma casa em Indaiatuba...

Uma casa em Indaiatuba...

O Sr. Modesto tentou transmitir segurança, paciência e calma. Mas era muito difícil tentar oferecer o que não possuía, o que com todo custo tentava arrancar do fundo da sua alma, mas não encontrava.

O sol estava clareando e lá começou outro dia, de tristeza e ansiosa espera. Aquela segunda feira, dia 9 de dezembro de 1907 também seria um dia nada fácil.

Lá pelas dez da manhã passou o carteiro e mais uma vez, sem carta nenhuma. Modesto não podia agüentar nem mais um minuto e resolveu findar a espera. Tomaria o próximo trem e iria para Piracicaba.

Chegando à estação lembrou-se do telegrama remetido para o amigo Atílio Colli, do qual não tinha ainda recebido resposta. Perguntou ao funcionário do telégrafo se tinha alguma notícia. Soube então que justamente naquela hora, estava chegando a resposta telegráfica do conhecido, assim redigida:



Seu filho bom está aqui.
Atílio Colli.


Até que enfim! Suspirou o pobre pai, aliviado. Voltou às pressas para casa a fim de levar a boa notícia para toda a família. Depois de cinco dias de aflição e preocupações, finalmente poderiam ficar mais sossegados!

O rápido alívio logo se esvaiu.

Afinal, era ainda de se estranhar que o filho não escrevesse, por que se daria isso?

Será que preferia narrar pessoalmente sobre os bons negócios que fizera? Jovens são assim mesmo...

Talvez o bambino quisesse simplesmente mostrar competência e provar independência...

Com esses pensamentos, o pai tentava distanciar sua inquietude, que parecia querer dizer algo em seu ouvido, dando energia para as descompassadas batidas do seu coração, que insistia em permanecer aflito. Então ele olhava o bilhete para buscar alívio. Em vão. Olhava para Dona Vincenza e percebia em seus movimentos o mesmo pensamento angustiante. A lembrança do sonho parecia que tinha vida própria e invadia sua mente sem autorização.

Uma casa em Indaiatuba...

Felizmente no dia seguinte, um tal de Leonardo Simione, patrício e conhecido da família, deveria embarcar para Itu. Modesto aproveitou a ocasião para pedir-lhe que prosseguisse até Piracicaba, a procura de melhores notícias do seu filho. De fato estava mais tranqüilo - mas a lembrança daquele sonho tão cheio de detalhes não deixava a família em uma paz realmente verdadeira. Queria certificar-se melhor e livrar-se de uma vez por todas daquele tormento.

Enquanto isso, Antônio, Adão e outro colega, o Sr. Nicola Ferrari (3), embarcaram no trem de onze horas e cinqüenta minutos à caminho de São Paulo, onde se hospedaram no Hotel Magna Mini, na rua Libero Badaró. Passearam e fizeram compras. Passaram pela “Casa Gouveia Bacellar”, onde Antônio aconselhou Adão a comprar gêneros para abastecer sua venda “tudo à vista”, que seria mais barato. Gêneros que nem chegaram a ser comercializados por Adão, que jamais desconfiaria que seu destino no cárcere estava muito próximo. Antônio comprou trigo, queijos, doze quilos de salame, óleo para passar no cabelo e uma sanfona.


Rua Libero Badaró – Início do século XX
Foto do acervo da Prefeitura Municipal de São Paulo - Arquivo de Negativos/DPH


Tocavam a vida, focados apenas na rotina...

Rotina essa quebrada repentinamente pela ameaça que Adão recebeu na viagem de volta. Em seu depoimento, contou que, no trem, Antônio insistiu para que nunca...“nunca nada falasse sobre Domenico De Luca quando qualquer pessoa pedisse qualquer informação, pois se descobrissem o crime ele seria o mais [SIC!] criminoso, uma vez que o cadáver estava na sua casa...


.....oooooOooooo.....
    (1) As informações deste capítulo são advindas da Tribuna de Indaiá e dos autos do processo.

(2) Todos os relatos orais de testemunhas (vide último capítulo) registram que foi a mãe quem teve o sonho com o filho morto, mas que para preservá-la da busca e da exposição, o pai assumiu a premonição diante das autoridades de Indaiatuba no momento da formalização da queixa. Esta informação também foi confirmada pelos descendentes, Márcia De Luca e Paschoal De Luca. Por priorizar essas fontes e por ter ouvido inúmeros parentes que viveram na época do crime na minha família, optei por essa versão, diferente do relato registrado em 1960 na Tribuna de Indaiá, que registrou o pai como responsável pelo sonho.

(3) Segundo Antonio Reginaldo Geiss, presidente da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, o Sr. Nicola Ferrari criou os filhos de Antônio N. enquanto ele ficou preso. Esatabeleceu uma casa de negócios na atual esquina das ruas Cerqueira César e Pedro de Toledo, tirando dali o sustento para toda a família (informação verbal).


domingo, 5 de agosto de 2012

História de Indaiatuba no Ambientação da Toyota

No dia de ontem, sábado, dia 04 de agosto, Indaiatuba foi novamente privilegiada por sediar o projeto Ambientação, executado pela Fundação Toyota do Brasil.

O projeto têm como foco a Educação Ambiental visando preservar o ambiente por meio da redução do consumo de recursos naturais em escolas e comunidades - e é uma das ações de Responsabilidade Social da Toyota.

Entre várias atividades educativas e de lazer, foi muito gratificante saber que a História de Indaiatuba foi cuidadosamente inserida na programação, através do projeto "Histórias dos Indaiás para Ouvidos Pequenos".

Na programação, foram inseridos temas da história de nossa cidade, contadas por Marina Costa e Nau Martins com uma trilha musical adequada e cuidadosamente escolhida como "cenário acústico".

Fantástico.

Uma empresa que gera emprego e renda, comprometida com ações de responsabilidade social, que viabilizou um projeto educativo usando (também) nossa História como eixo temático.

Ganham todos: a empresa, que projeta seu nome e seus projetos positivamente, os artistas que participam, pois vinculam seus projetos à tarefas educativas relacionadas à gestão ambiental; e o povo, que recebeu gratuitamente um evento com uma infraestrutura fantástica, de forma gratuita.

Amei.

 Essa é a Indaiatuba que queremos, que merecemos e que podemos!



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