sábado, 31 de outubro de 2009

Personagens folclóricos que habitam Indaiatuba

Agosto É O MÊS DO FOLCLORE

Dia 31 de outubro, é do Dia do Saci.

A data foi instituída no mesmo dia em que se comemora o halloween - dia das bruxas, uma festa originalmente estrangeira com o objetivo de chamar a atenção para o folclore nacional, que para alguns, ficava em segundo plano pela importância dada a esse "estrangeirismo". . Particularmente penso que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa: é importante que escolas de língua estrangeira deem destaque ao halloween como forma de imersão na cultura americana e mais importante ainda (e sem detrimento disso), é fazer eventos alusivos aos nossos personagens folclóricos, não só o Saci, mas o Boitatá, Diabinho da Garrafa, Curupira, Iara, Mula-sem Cabeça, Negrinho do Pastoreio e outros. .

Entre esses outros, há personagens de origem também estrangeira, como o Lobisomem, Bicho Papão, Bruxa e também os que entraram para o nosso folclore mais recentemente, como os famosos ET de Varginha e Chupa Cabra, esse último, segundo alguns, visto por várias vezes em sítios perto da Toyota, sim, daquela Toyota, que fica entre Indaiatuba e Salto.

A principal característica de um personagem folclórico é que sua estória - mito ou lenda - é passada oralmente, de geração à geração, sem a identificação clara da origem e, portanto, sem comprovação, sem o efetivo limite entre o imaginário e o real e sem depender da mídia institucionalizada para se manter fixamente no imaginário popular. Por tudo isso essas (e tantas outras) manifestações folclóricas são categorizadas como "cultura popular" - conceito que deve ser usado no singular, como sinônimo de folclore. .

Um personagem folclórico que habita em Indaiatuba em diferentes e criativas formas é o boneco de escapamento.

Embora seja concreto aos nossos sentidos - e por isso seja diferente das demais criaturas folclóricas (a não ser que você já tenha visto outra e possa provar!), suas características são as mesmas: foi inventado ninguém sabe por quem (com certeza por alguém que sabia soldar) nem onde (com certeza no meio urbano, em uma oficina ou sucata) nem quando, (com certeza no século XX). Mas se encaixa perfeitamente nos conceitos de criatura folclórica: foi criado por uma comunidade e representa sua identidade social, foi aceito coletivamente, tem tradição, dinamicidade e funcionalidade. .

Os criadores dos bonecos de escapamento são autênticos artistas populares, embora assim não se reconheçam e permaneçam absolutamente anônimos. Dia após dia, seus trabalhos são vistos por milhares de pessoas, em plena rua, atingindo alto nível de popularidade. Contudo, eles próprios não valorizam o que fazem – nem ao menos se julgam donos de suas criações, assim como não conhecem o colega da outra esquina, companheiro de ofício. Não há textos sobre eles em jornais ou revistas e também não adianta buscar referências no Google: será um trabalho inútil. São ilustres desconhecidos.

Mas eles não esperam nada diferente. E enquanto trabalham embaixo dos carros, de maçarico nas mãos sujas de óleo e com cicatrizes das inevitáveis queimaduras de solda, volta e meia desenham na cabeça outra maneira original de encaixar uma nas outras as peças do escapamento velho que normalmente iria para o lixo.
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Quando conseguem uma horinha de folga, transformam essa sucata em criaturas folclóricas, muitas vezes bizarras e surpreendentes: homens, mulheres, robôs, bichos diversos. Nas cidades brasileiras não há quem desconheça essas esculturas, cartão de visita das oficinas. De longe, o motorista vê a figura esquisita e já sabe: ali se troca escapamento. ..

. Conheça criadores e criaturas folclóricas de nossa Indaiatuba:
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Criador Gabriel, com sua criatura - mascote da Morada do Sol, de 2 anos, que habita a CL Pneus na avenida Ário Barnabé, 714


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Paulinho acompanha criatura criada por Claudiney, que tem 4 anos e habita a Av. Francisco de Paula Leite 392, no Bairro Santa Cruz, no Centro Automotivo Claudiney

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Paulo acompanha sua criatura chamada Fran, a mais velha de todas elas, com 15 anos de idade. Habita Fran Escapamentos, na Av. Visconde de Indaiatuba, 717, no Jardim América.
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. Essa criatura, de 3 anos e meio tem um cachorrinho. Habitam a Scapmania na Avenida Conceição 1274, na Vila Maria Helena. 

  . A criatura Júnior foi feita pelo criador Miltinho, tem 2 anos e meio e habita a Rua Tuiuti no.4, no Centro. Usa óculos como o sobrinho de seu criador e habita a Miltinho Escapamentos. . . .
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Mais imagens dessas criaturas do folclore que habitam em Indaiatuba:







O que é Folclore?

(texto de Gisleine Carvalho e Cristiane Yamazato)

Se você pensa no folclore como algo distante, que faz parte do passado ou que se resume a festas típicas, crendices de áreas rurais ou personagens como saci-pererê e mula-sem-cabeça, pode repensar seus conceitos. Dinâmico, ele se renova o tempo todo, não está limitado geograficamente e pode revelar aspectos valiosos sobre um povo e sua história.
Existem vários tipos de saberes. Na escola, temos o conteúdo das disciplinas. Mas há um outro tipo de conhecimento tradicional, de domínio comum, que é adquirido e transmitido pelo convívio social. Esse saber é rico e nos identifica", explica Alberto Ikeda, professor de cultura popular e etnomusicologia da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp).

Modos de ser e de pensar
Também chamado de cultura popular tradicional, o folclore é o conjunto de práticas, histórias, tradições e formas de pensar que pertence a um determinado povo, foi disseminado oralmente e resistiu ao tempo.
Todos os grupos sociais, de qualquer lugar do mundo, independentemente do seu nível de desenvolvimento, têm seu repertório de práticas populares.
Por exemplo, quando recorre a um chá calmante que a avó costumava preparar, ensina ao filho a empinar pipa ou repete um ditado como "o pior cego é aquele que não quer ver", um indivíduo está lançando mão dos chamados saberes populares. Todo mundo faz isso e, muitas vezes, esses costumes estão tão incorporados em nossa rotina, que não nos damos conta de que são oriundos dessa cultura popular.
Assim como o folclore revela qualidades interessantes de uma população, ele também pode mostrar características contestáveis. Um exemplo disso são as expressões de cunho preconceituoso. "Ainda assim, é importante atentar para isso e refletir a respeito. Só podemos modificar ou preservar aquilo que conhecemos", pondera o professor Ikeda, especialista em cultura popular.

Isso é folclore

Para que algo seja considerado folclórico ̶ seja um hábito, seja uma brincadeira, seja uma música, seja uma história etc. - ele precisa fazer sentido para um grupo, em um determinado contexto, e resistir ao tempo. A transmissão do saber acontece no convívio social, seja em casa ou na sociedade. "Muitas vezes, quando vai se conceituar o que é folclore, há uma tendência a valorizar o fenômeno em si e o conhecimento é apartado do praticante. Não dá para separar o grupo humano de seu saber. É preciso valorizar as pessoas que são responsáveis pela divulgação dessas informações", alerta o professor Alberto Ikeda, da Unesp.

Outro aspecto que deve ser ressaltado é que o folclore se atualiza. Um trabalho de renda feito artesanalmente por uma comunidade local, cuja técnica foi transmitida por várias gerações, pode ganhar temáticas contemporâneas e também utilizar novos materiais, mas a essência permanece. O mesmo acontece quando surgem variantes de uma cantiga ou brincadeira.

O folclore também pode ganhar novas manifestações. Um exemplo são as frases dos para-choques de caminhão. Esse tipo de comunicação mostra a personalidade, reforça a identidade e os valores de um grupo específico.

Histórias para repartir amor

As clássicas histórias dos mitos brasileiros - como o saci, a iara, o boto - são recontadas há anos. Elas chamam atenção das crianças, despertando curiosidade e também provocando reflexão. Mas é importante que sejam contextualizadas para ampliar a compreensão dos pequenos.

Na lenda do saci, por exemplo, pode-se explicar que o personagem arteiro, que vive aprontando travessuras, surgiu da necessidade das pessoas de justificar uma distração ou arrumar um culpado para uma determinada situação (leia o nosso especial sobre personagens do folclore).

Além dos contos famosos, vale reunir as crianças e contar histórias de família, falar das brincadeiras da infância dos mais velhos, reproduzir quadrinhas e brincar de adivinhas. É dessa forma que esse tipo de saber se propaga e criamos espaço para a convivência.
"Contar histórias é repartir amor, demonstrar carinho e interesse por aquela pessoa. Ninguém conta uma história para quem não gosta", completa o professor Alberto Ikeda.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Propagandas no jornal Folha de Indaiá - década de 1950

As imagens abaixo, cedidas por Oscar França, são propagandas editadas no jornal "A Folha de Indaiá", na década de 1950, todas impressas na primeira página. Como destaque, podemos observar que a Cerâmica Capovilla anunciou que "brevemente" iria funcionar movida a eletricidade (no dia 4 de janeiro de 1953). Após alguns meses, anunciou efetivamente o uso dessa fonte de energia (18 de outubro de 1953).
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A tipografia indaiatubana "Indaiá", que prometia luxo e perfeição, concorria com a ituana "Sproesser", a cerveja Caracú fazia propagandas no rodapé da primeira página e o posto de gasolina da praça Prudente de Morais, o primeiro de Indaiatuba, que começou a funcionar com 1 bomba, chamava-se SCHELL.


Jornal A Folha de "Indaiá" de 18 de outubro de 1953
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Jornal A Folha de "Indaiá" de 18 de outubro de 1953.
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Jornal A Folha de "Indaiá" de 4 de janeiro de 1953.
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Jornal A Folha de "Indaiá" de 4 de janeiro de 1953.

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Jornal A Folha de "Indaiá" de 18 de outubro de 1954.
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Jornal A Folha de "Indaiá" de 21 de março de 1953.
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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Fantástica Viagem nas Recordações de Gegé

. ..Aparecido Messias Paula Leite de Barros* .
Como foi doce e agradável passar uma tarde de sábado com aquela senhora (1) , que mesmo com a idade avançada, não esconde os traços de quem foi muito bela na juventude. Suas recordações são de tal forma vivazes, que fazem como nos sentir estar em um cinema em 3 dimensões.
. De apelido “Gegé”, a Sra. Maria José Tanclér Geiss, nasceu e sempre morou em Indaiatuba; atualmente (1) é moradora da Rua Augusto de Oliveira Camargo. Com seus 92 anos, cuida da casa e de seus dois irmãos: um homem e uma mulher. Anda com dificuldade, apoiando-se em um andador de metal, após ter feito uma cirurgia por ter quebrado a bacia. Sua lucidez é fantástica: recorda com minúcias os fatos ocorridos em nossa cidade.
. É neta de um migrante italiano que veio para o Brasil e depois trouxe a família, cujo nome correto é José Tancredi, comerciante e político influente na virada do século XIX, mas que pela força e hábito da população local que modificou seu sobrenome, adotou o nome de José Tanclér.
. É filha do professor Carlos Tanclér, um dos primeiros professores da cidade, patrono da escola estadual do bairro Parque Residencial Indaiá, local que fica na região mais conhecida como Mato Dentro. Carlos Tanclér estudou no Colégio São Luiz na cidade de Itu, uma instituição confeccional; ministrou aulas numa escola que funcionava em sua casa ao lado da Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária, onde improvisava uma sala de aula. Homem muito ligado ao prefeito Major Alfredo de Camargo Fonseca, casou-se com Maria Pia que se tornou Maria Pia de Sousa Lanzi Tanclér. Desta união nasceram oito filhos, sendo que os outros dois ainda vivos – Maria Luiza e Gumercindo - são os que moram junto com Dona Gegé.
. Aos 92 anos, os olhos de Gegé viram Indaiatuba passar por várias transformações, detalhadamente registradas em sua memória, onde facilmente seu consciente mergulha e emerge, retornando com lembranças memoráveis do passado da nossa cidade. Nascida em 12 de Julho de 1908, não estudou na mesma escola que o pai deu aulas, pois não existia mais. Estudou sim, na Escola Estadual que foi fundada onde hoje funciona a Escola da Candelária, também conhecida como “Escola de Comércio”. Ali cursou e diplomou-se na 4ª. série, grande conquista para a época.
. A grande paixão de Gegé era o cinema, desenvolvido pelos irmãos franceses Lumíere no século XIX, e que chegara a Indaiatuba no inicio do século XX. O invento fascinava a menina que, aos oito anos tomou contato pela primeira vez com a Sétima Arte, levada pelas mãos do pai Carlos Tanclér. Juntos, assistiram à fita “O Correio de Washington” estrelada pela linda atriz Pearl White (Pérola Branca). As modestas instalações do cinema indaiatubano, cujas paredes eram de zinco, foram testemunhas do pavor que a pequena sentiu, juntamente com os demais presentes na exibição, que tiveram a impressão de verem a pequena sala ser inundada com o imenso mar - revolutamente projetado na tela branco-e-preto.
. Lembra-se de ter freqüentado três cinemas. Primeiro, o Cine Íris, localizado à Rua Candelária de frente para a Praça Prudente de Morais. Depois o Cine Recreio com cadeirinhas de palhinha e mezanino no lado oposto do primeiro e mais tarde o Cine Internacional, entre a Rua Pedro de Toledo e a Rua Cerqueira César. Com muita música nas portas destas salas, Indaiatuba, no inicio do século XX, foi uma cidade de bela sonoridade, talvez até abençoada pelo deus Apolo, da mitologia grega que encantava com sua beleza e lira.
. O Cine Recreio era de propriedade do Major Alfredo Camargo Fonseca, logo, um local de discussão política. Antes da seção, era o palco, local de trocas de idéias. Ali os cidadãos indaiatubanos, exerciam seu direito democrático discutindo suas idéias. Era a hora em que Indaiatuba tinha o seu momento “Atenas”. Naquele palco, tal qual na cidade grega, era local e hora para discutir assuntos públicos que refletiam na vida privada; e também como na Grécia, o homem que, presente, não se interessasse pelos assuntos públicos e sim apenas pelos privados, era tido como idiota.
. Diretamente relacionada com o cinema que tanto apreciava em sua infância, estava a banda. Indaiatuba possuía músicos e compositores excelentes e a banda anunciava se haveria filme, causando grande festa na comunidade local com essa anunciação. As famílias que não tinham um dos seus filhos na banda, com certeza tinha um instrumento e mais certeza ainda, se não o tivesse, que participava nos finais de semana, dos pequenos grupos que improvisavam saraus. Praticamente ninguém ficava de fora: nos casamentos, sanfoneiros, clarinetistas e violeiros animavam o salão para que os pés de valsa dançassem. Até os mais tímidos eram envolvidos pela sonoridade.
. Uma coisa que Gegé se encanta em dizer é que a brincadeira de criança ressaltava a criatividade do indaiatubano. Narra como era bom brincar pelas ruas de terra, no largo da matriz, de jogo de amarelinha, pular corda, queimada, ver os meninos a rodar pião.
. No período de 32, Indaiatuba se entristeceu: muitos amigos nascidos na cidade se alistavam para defender o ideal da Revolução Constitucionalista: uma nova constituição, tão esperada por todos os brasileiros, principalmente pelos paulistas. No dia da partida dos voluntários, a estação ficou lotada para a despedida daqueles que partiam para defender os ideais. Lembra essa vigorosa senhora que a comoção foi geral. Aquela imagem nunca saiu de suas lembranças: trens especiais vieram para levar nossos jovens, e nos vagões, havia outros tantos que tinham deixado seus familiares.
. Apesar do triste episódio, ela lembra do governo de Getúlio com carinho, principalmente por ter sido ele a pessoa que -“tirou das ruas aqueles homens que andavam a cavalo pedindo esmolas... Meu pai sempre dava a eles, era uma doença muito triste (2).” . Dona Gegé até evita falar o nome da doença, mas afirma que hoje, felizmente, ela tem cura, desde que se procure um Posto de Saúde bem no início dos sintomas; comentário que demonstra claramente sua lucidez e sua preocupação com a saúde, aos seus 92 anos de vida! (...) E Getúlio foi quem construiu o hospital de Pirapitingui para que fossem abrigados e que tivessem sua moléstia tratada.
. Conhecia Getúlio Dornelles Vargas através do rádio: ele fazia longos discursos e as famílias se reuniam para ouvir e depois discutir as medidas tomadas pelo gaúcho de São Borja. Ela afirma que a grande pena era a de não poder votar neste período. Sempre foi ligada a política, votou quando houve a primeira eleição em que as mulheres tiveram esse direito, gostava de exercer a cidadania, e fez isso até o acidente, que limitou suas saídas de casa.
. Os religiosos gostavam de participar das procissões, principalmente a do Senhor Morto. Era muito comovente, as mães vestiam os filhos de anjo para que participassem do cortejo, a banda tocava a marcha fúnebre, dando um tom de tristeza. Já a da Ressurreição, era mais leve. E essa felicidade contagiava a todos, que se preocupavam com o que vestir. Os homens, de ternos escuros e chapéus de feltro, já as senhoras, com roupas de pano fino e chapéu, algumas usavam pinturas, outras não. Ficavam muito bonitas de pintura, “- Meu pai dizia que mulher pintada, só no papel” mas eu gostava. Devota de Nossa Senhora Aparecida, crê que Deus é tudo.
. Hoje em dia, Gegé recorda com felicidade dos três filhos que teve. Mas com vigor condena o cigarro, que matou um de seus filhos - José Carlos - com 47 anos de idade. Com tristeza, também lembra da perda do filho caçula Paulo vitimado por complicações de doenças da primeira infância aos 9 meses. Mas felizmente pode ver seu filho mais velho Antônio, crescer e brincar pelas ruas de terra do centro da cidade.
. A cidade tinha pouquíssimas ruas e as existentes não eram muito longas, com casas cujas construções aproveitava toda a fachada do terreno, a parede da frente era feita no alinhamento com a calçada, a porta e as janelas, na divisa com a calçada de chão batido. No fundo da construção da casa onde morou, um grande quintal, com uma pequena horta, que era regada com água do poço. Toda casa, naquela época, tinha em seu quintal um poço; quase todos com uma mureta em forma circular, de aproximadamente 1 metro de altura e 2 de diâmetro, de onde saíam dois cavaletes que apoiavam as grandes roldanas, onde ficava amarrada uma corda com um balde na ponta. Quando o balde era jogado para dentro do poço, batia na água – “plaft”, e após cerca de 5 segundos já podia ver, com aquele brilho escuro no espelho d'água. O quintal da casa possuía também uma cerca de bambu que era trocada periodicamente, serviço feito pelos pais ou filhos homens. Esta cerca servia de suporte para o feijão, melão e machucho. No fundo, existia ainda, um rancho, onde se guardava o material usado para cuidar da horta.
. O pote de barro era uma peça fundamental, pois deixava a água fresca numa cidade tão quente. Muitas casas não tinham piso, a maioria era de terra batida, varrido com vassoura de bambu. As toalhas eram feitas de saco alvejado; as donas de casa eram prestimosas em arear suas panelas com areia, deixando o alumínio brilhando, pronto para dependurar. O fogão era de lenha, geralmente pintado de vermelho; só alguns tinham forno, em cima deles tinha sempre um bule de ágata esquentado pela brasa que insistentemente mantinha-se sempre acesa.
. Além da mesa da cozinha, na casa de Gegé existia outra com cadeiras na sala, onde também ficava um oratório em forma de cantoneira com o Santo de devoção, Na maior parte das casas, mesmo as das pessoas bem simples, os santinhos dos oratórios estavam sempre rodeados de moedinhas e mimos oferecidos pelos devotos.
. Nas casas de pessoas mais abastadas, não faltavam belas cristaleiras, um chapeleiro (esse sim, para poucos!) e o gramofone, uma espécie de “vitrola” movida à manivela, com um amplificador de som no formato de “corneta”. Além deste aparelho de som, existia o rádio, que era mais comum e popular: este sim, era o grande veículo de comunicação que, inclusive era instrumento de “agregação” das famílias: todos se reuniam em volta dele. Alguns cômodos não tinham portas, e sim apenas uma cortina; o madeiramento da casa era todo em eucalipto. Algumas casas tinham uma esteira com o forno.
. Bonito de ser ver eram os quadros de santos, com furinhos: as famílias colocavam velas atrás, e criavam assim, um original abajur. Na parede, uma mão de metal com mola servia para prender as contas a serem pagas no final do mês. Em cima da cantoneira, os caminhos feitos de crochê.
. As casas não possuíam muitas mobílias, só o básico. Nos quartos, as camas em madeira escura, cômoda e guarda roupa da mesma cor. Na sala também havia uma bacia com jarro de água para que as visitas pudessem lavar as mãos, acompanhada de uma toalha sempre alvejada.
. Nem todas as casas possuíam energia elétrica e o cheiro de querosene era forte. Os cômodos possuíam candeeiros apoiados nas paredes, sempre assombreadas pelas marcas de fumaça na caiação branca (renovada, sempre que possível, em dias de festas). Mas o cheiro de querosene, tão característico desse passado, não advinha apenas dos quase sempre parcos candeeiros; as mulheres misturavam querosene nas ceras, que espalhavam em movimentos circulares no chão para dar brilho nos assoalhos de madeira e nos mosaicos feitos com cimento queimado e decorados com pó colorido.
. Na frente de algumas casas havia floridos jardins, com formas e cores diversas. Não só para agraciar e espalhar perfumes servia as flores; as crianças das casas onde havia um defunto recebiam a incumbência de pedir, de casa em casa, o adorno para a urna funerária. Todos ofereciam com generosidade, não só para esse fim, mas também faziam um pequeno buquê para levar no cortejo fúnebre.
. Algumas casas, também dos mais abastados, possuíam a eira e a beira. A beira é uma saliência do telhado produzido com as próprias telhas e a eira é um espaço reservado no terreno para secar folha de fumo, café, etc. (portanto, já se vê que o proprietário deveria ter um pedaço de terra considerável). Poucas casas eram fechadas com chave, eram muito usadas as trancas e tramelas, as portas de cozinha eram cortadas pelo meio e só se abria a parte de cima, assim os animais não invadiam a casa.
. A macarronada feita aos domingos era fundamental, o vinho fazia parte do almoço depois de uma semana na lida, Este dia era como se fosse um dia de festa, todos levantavam cedo e depois de se banhar, colocavam suas melhores roupas, iam a missa que era rezada em latim, para em seguida confraternizarem em família, com muita música. Para irem a missa as senhoras engomavam a roupa e passavam com ferro de brasa, algumas pessoas usavam o papel crepom para fazer flores e colocá-las para adorno, moças pobres usavam o papel para fazer ruge molhando-o na água para em seguida passar no rosto. Após a celebração, alguns maridos paravam nos bares para beber, trocar um dedo de prosa e aproveitar para vender um saco de feijão, ou arroz.
. Nas feiras-livres o povo ia para comprar sardinha. Ali tinham muitas rodas de imigrantes ou descendentes que geralmente não pronunciavam os dois “erres” (quero dizer que em vez de pronunciarem barriga, pronunciava bariga). Era bonito ver as manadas de bois passarem pelas ruas, muitos saiam na janela para ver os animais serem conduzidos ao matadouro, como toda cidade do interior.
. Na praça, uma atração importante; a apresentação da banda. Gegé lembra que a cadeia local era mais para enfeite, pois quase não havia crime, coisa muito diferente de hoje em dia. A cidade era muito pequena com mais ou menos seis dúzias de ruas, com pacato movimento. O que tirou aquela calmaria e chamou a atenção de todos foi quando o hospital começou a ser feito longe do centro da cidade; o tamanho da construção era imponente e depois de pronto mostrou toda a sua beleza, isso foi entre 1928 a 33.
. Gegé adorava participar do corso, desfile carnavalesco onde as pessoas se fantasiavam sem exibir o corpo, e saiam pelas ruas em carros ou caminhões muito enfeitados. A presença de vários personagens era sempre marcante como, por exemplo, os arlequins e a colombina, com seu rosto suave como boneca de porcelana.
. Oficialmente, Gegé nasceu no século XX, em 1908, mas podemos entender que ela teria nascido no século XIX, uma vez que alguns historiadores classificam como “novo século” apenas o período posterior ao fim da Primeira Guerra Mundial em 1918 quando, a partir de então, terminado o terror, começou uma nova era, com mais tecnologia.
. Assim, Gegé nasceu e deu seus primeiros passos numa época marcada por grandes descobertas: Albert Einstein publicou sua Teoria da Relatividade, Santos Dumont dava a volta de avião pela Torre Eifel, o cinema que tanto apreciava espalhava-se em salas de apresentação pelo mundo todo. Foi testemunha de uma época de transição, onde o “fazer” artesanal passou rapidamente ao “fazer” tecnológico: praticamente tudo o que nós conhecemos hoje, principalmente do conforto proporcionado pelos eletro-eletrônicos, pelos recursos de comunicação, nasceram sob o seu testemunho.
. Mas sempre foi nas coisas simples que seu coração se alegrava! . . *texto originalmente publicado no livro "Um Olhar sobre Indaiatuba I", da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba.
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Notas publicadas: (1) A entrevista foi feita em 2000 e escrita em 2006. Agora, D. Gegé tem 98 anos. (2) A entrevistada refere-se ao Mal de Hansen ou Hanseníase, cujo nome popular é lepra.
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D. Gegé (in memorian) é mãe de Antonio Reginaldo Geiss.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

INDAIÁ - Origem topológica da palavra Indaiatuba







(imagens da coleção de Antonio da Cunha Penna)
CITE OS CRÉDITOS AO UTILIZAR


INDAIÁ é uma designação comum a várias palmeiras, muito elegantes, do gênero Attalea, que vivem em sociedades compactas, e cujos frutos são nozes grandes como um limão dos maiores, embora algumas se mostrem anãs. A maioria é do Brasil Central. (dicionário Aurélio).



No caso da Indaiá que era abundante em nossa cidade, é uma palmeira de porte baixo e ciclo de crescimento lento. As palmeiras são plantas monocotiledôneas (do grego menos, único; mais cotilédone, apêndice-carnoso dos embriões dos vegetais, também do grego kotyledon ou do latim cotyledone.

Classificação Científica
Reino: Plantae
Divisão: MagnoliophytaClasse: Liliopsida
Ordem: ArecalesFamília: Arecaceae
Gênero: AttaleaEspécie: A. dibia
Nome binomial: Attalea dubia

Alexandre Humboldt, famoso naturalista alemão que percorreu a América, considerou a palmeira como “príncipe do reino vegetal”, justamente pelo seu aproveitamento total. Existem muitas qualidades por todas as Américas . A palmeira pertence as plantas lenhosas da família palmáceas; desta tira-se proveito até de sua raiz.

TUBA – palavra de origem tupi-guarani, que significa abundância de plantas, sítio ou pomar. Não podemos confundir com tuba - de trombeta - que é de origem latina. Se somarmos o substantivo masculino INDAIÁ, como prefixo gramatical, ao substantivo feminino TUBA (funcionando-como terminativo e quantitativo), teremos: INDAIATUBA, que significa, etimologicamente, sítio ou pomar de indaiás, local de indaiás.

A palmeira de indaiá não é uma planta de fácil cultivo, pelo menos é o que dizem os que já tentaram plantá-la ou transplantá-la. Antonio Reginaldo Geiss, presidente da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba conta que, para plantar três mudas no Indaiatuba Clube, os responsáveis marcaram no lugar de origem onde estavam os pontos cardeais e ao plantá-las no IC, respeitaram a mesma localização original.

Uma de suas aplicações, no passado, era nas ocas dos índios, com função de cobertura (telhas) ou na confecção de camas com suas "palhas" (assim como outras folhas de outras palmeiras).

Indaiatubanos antigos contam que eram usadas para o mesmo fim, como telhado em barraquinhas de festas religiosas, inclusive as juninas. Os moradores da época em que Indaiatuba realmente era um campo com muitos indaiás contam que o coquinho (que é o tamanho de um limão é dá em cachos bem próximos ao chão) é saboroso. O mesmo disse Auguste de Saint Hilaire em 1816, conforme cópia abaixo, que também informa que outra localidade recebeu nome advindo do mesmo coqueiro:


O município de Indaial, do estado de Santa Catarina, também recebeu seu nome em alusão aos coqueiros de indaiá que existiam no local.

Segundo reportagem apresentada por Regina Casé no Canal Futura, "gerações e gerações foram criadas à base do fruto da Palmeira de Indaiá no Quilombo do Campinho, nos arredores de Paraty (RJ)."

Na região de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, nas décadas de 50 e 60 muitos artesãos sobreviviam em cerca de 26 joalherias confeccionando jóias com ouro e coco, advindos do coco da Bahia ou do coquinho de Indaiá que era ..." burilado (o instrumento para entalhe chama-se buril), dá-se a forma, podendo ser incrustado com pontos de ouro ou pedras preciosas". (Leia mais em http://www.estradareal.org.br/notic/index.asp?pagina=209&codigo=530 ).

Na culinária típica do estado do Pará tem essa receita, feita com o coquinho de indaiá:



Para quem gosta de jardinagem, paisagismo e outras atividades relacionadas ao cultivo de plantas, fica aqui a ideia de tentar "domar" essa palmeirinha, que tão abundantemente existia no Cerrado de nossa cidade e que agora praticamente sumiu!
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(informação acrescentada posteriormente)

Escoteiro busca o resgate da memória da Palmeira Indaiá


O fundador do Grupo de Escoteiros Indaiá, Gentil Scarton plantou em Dezembro p.p., no jardim do Casarão Pau Preto, oito coquinhos da Palmeira Indaiá, um planta extinta das matas da região que deu o nome à cidade de Indaiatuba.

"Consegui 200 sementes e, além do Casarão, plantei também no Centro Esportivo do Trabalhador", conta Scarton. O objetivo da plantação é resgatar a memória da palmeira e oferecer à população a oportunidade de conhecê-la. Segundo Scarton, já houve muitas tentativas de replantar a Palmeira Indaiá, que não tiveram sucesso, e, por isso, esta será uma nova experiência.

Aguardemos!
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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Família Ambiel e Hino da Helvetia

(clique para ampliar)
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Família Ambiel, a partir de Constantino (avô paterno de Cândida Ambiel), casado com Cândida Von Zubem (avó paterna). Da união deles nasceram 15 filhos que, pela ordem na foto, da esquerda para a direita, são: . - Fila do fundo: Plácido (Cido); Agenor (Kim); Anastácia (casada com Petrilli); Martha Maria (casada com Amstalden); Jerônimo (Bil); Euclides (Juca, pai de Cândida). . - Fila intermediária: Donato (Nato); Samuel (Minho); Querubim (Zuza); Constantino Jr. (Tino). . - Fila da frente: Cândida (casada com Bannwart); Constantino (avô); Rosa Angélica (casada com Bannwart); Cândida Von Zubem (avó); Maria do Carmo (Carminha, casada com Amgarten); José Carlos (Calu); Monsenhor Álvaro Augusto.
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Para ilustrar este post com essa uma belíssima foto enviada por Cândida A. Ambiel - de descendentes dos imigrantes que construiram a Colônia Helvetia, um reduto da cultura suiça, exemplo de preservação cultural para todas as etnias - insiro o Hino da Helvetia, que tão bem revela o compromisso em manter viva suas tradições, sua cultura e suas origens, pois ele retrata a história e a memória de seus descendentes, como os da família Ambiel.
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HINO DE HELVETIA

 Obwalden serena, desperta teu lago,
Sacode teus montes, relembra o passado
De filhos migrantes deixando seus lares
Na alma a esperança, buscando outros mares

 Helvétia, teus feitos cintilam em teu manto
Teu povo entoa o teu hino, o teu canto;
Contempla teus vales, ativa a memória,
Celebra conosco cem anos de história.

 Dos dias distantes esquece a incerteza,
De bravos colonos proclama a grandeza,
 Oculta no peito mil sonhos desfeitos,
Revela mil outros na luta refeitos.

 Na lavra da terra em chão brasileiro,
Teus filhos sulcaram teu rosto primeiro,
Na cruz em teu céu brilha a fé, tua estrela,
Lá Deus reconhece tua face mais bela.

 À Suíça Mãe-Pátria respeito profundo
Tua gente saúda o Brasil-Novo Mundo.
A marcha do tempo enaltece o passado,
Ilumina o presente e o futuro sonhado.
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Autor da Letra: Prof. José Luís Sigrist Autor da Música: Domingos Sávio Amstalden
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As citações abaixo, que cuidadosamente selecionei, recompõem um pouco da saga dos imigrantes da família Ambiel e demais que construíram a Colônia Helvetia:
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"No Brasil, como em toda a América e em outras áreas, interesses agrários atraiam os imigrantes não só para contarem com abundante oferta de braços, mas também para conseguir a valorização fundiária a baixo custo, obtida pelo próprio trabalho do pequeno proprietário."”([1]) .
“com os recursos gerados pela produção de café, subsidiava as passagens dos imigrantes que se dedicavam à fazenda de café como mão-de-obra.”([2])
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“a terra virgem e promissora, onde pudessem construir com as próprias mãos o seu lar, uma existência desembaraçada, uma pátria nova para si e seus filhos.” [3])
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“Numa linda manhã de março, Antônio Ambiel e alguns companheiros resolveram fazer uma excursão pelas fazendas situadas na direção de Indaiatuba. Pararam na altura do antigo sítio do Descampado. Diante deles abria-se o impressionante panorama, semelhante ao da saudosa terra de onde vieram. Encontravam-se na cabeceira do ribeirão Capivari - Mirim. A água das nascentes, represada a um quilômetro de distâcia, formava um grande tanque.Uma miniatura do lago de Sarnen! Esta paisagem evocou-lhes saudosas recordações da pátria distante!” [4]) [.
“como o Governo pouco ou nada fazia para impedir que os filhos dos colonos recaíssem no analfabetismo, os próprios imigrantes fizeram grandes sacrifícios para eregir e manter escolas.”([5]) .
“A par das sociedades escolares e religiosas desenvolveram-se na maioria das colônias, cooperativas de diversas finalidades, bem como uma série de associações com fins puramente recreativos (botão, tiro ao alvo, escat, xadrez, etc.) e com fins práticos, como assistência mútua, em caso de doenças e incêndios e também sociedades de ginástica, canto, coral, leitura, teatro, música popular e clássica, etc.” [6])
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“A finalidade da instituição é despertar e cultivar a fidelidade à Pátria, manter a paz e fomentar amigável convivência social entre si. O empenho da sociedade é orientar a juventude no sentido de interessá-la, através do esporte do tiro, a tornar-se um digno discípulo de Tell.” ([7]) .
“Lembro-me de um desses visitantes recebido em casa, antes de eu entrar no seminário menor de Pirapora. Foi na festa de 1910. Papai deu pela segunda vez, hospedagem a um mecânico, amável suíço-italiano, que falava nosso idioma e se divertia conosco. Era dono de uma oficina mecânica no Rio de Janeiro. Nós três, eu, Bento e Piozinho, gentilmente, cedemos quarto e cama ao ilustre hóspede e fomos acomodarnos sobre colchões estendidos no chão da adega.” ([8]) ,
“Havia um grande controle sobre as moças. Não deixavam elas saírem de casa,irem a bailes e festas e muitas eram empurradas para o convento. Eu mesmo fui mandado para Sorocaba para estudar na Escola de Oblatos, dos Beneditinos, mas aguentei pouco tempo lá. No segundo ano fugi da Escola.” ([9])
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Diz a Antropologia Cultural que as minorias étnicas tendem a se fechar sobre si mesmas como forma de se preservarem e garantirem a sua identidade. Isto aconteceu com os fundadores e pioneiros, bem como, até certo ponto com a primeira geração de descendentes. Num ambiente físico e cultural adverso, quando não hostil, a alternativa que lhes restou foi recolher-se sobre si mesmos. Aos poucos foram conseguindo condições de interação social e cultural na Pátria que os acolheu como imigrantes até a sua total aculturação.” [10]) ..
“Todos sabemos que a história e o espírito que a anima tem suas leis que nem sempre acompanham a vontade dos indivíduos. Estarmos atento aos seus sinais,às suas manifestações, parece ser a nossa tarefa. É condição para o exercício da nossa liberdade, para a conquista da nossa identidade, já que a memória histórica de uma comunidade revela a identidade de sua gente.” [11]) .
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Fontes:MESP, 1988, p. 45.
[1] - PETRONE, Maria Thereza S., O imigrante e a pequena propriedade. São Paulo, Brasiliense, 1982, p. 19.
[2]- Idem, p. 14.
[1] - OBERACKER, Carlos H.J.,” A Colonização Baseada no Regime da Pequena Propriedade Agrícola”.In: História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo, Difel, 1976, p.224.
[4] - AMSTALDEN, Polycarpo Pe., Memórias de um Filho da Colônia Helvétia.Indaiatuba, São Paulo, 1989, p.70-71.: História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo, Difel, 1976, p.224.
[5] - OBERACKER, Carlos H.J., "A colonização baseada no regime da pequena propriedade Agrícola”.In: História geral da Civilização Brasileira. São Paulo, Difel, 1976, p.242.
[6] - Idem, p.243.: História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo, Difel, 1976, p.224. [7] - AMSTALDEN, Polycarpo Pe., Memórias de um Filho da Colônia Helvétia no Brasil. Indaiatuba, São Paulo, 1989, p. 158. [8] - idem, p.224.
[9] - Entrevista cedida por João Ambiel a Valdemar Grininger. In: Imigração Suíça para o Estado de São Paulo. Campinas, Dissertação de Mestrado, 1991. [10] -SIGRIST, José Luís, “A Evolução Cultural”. In: A memória histórica de uma comunidade revela a identidade de sua gente. São Paulo, IMESP, 1988, p. 42.
[11] - AMSTALDEN, Leonor, A memória histórica de uma comunidade revela a identidade de sua gente. São Paulo, IMESP, 1988, p. 45.
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Ninguém gosta do que não conhece.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O Velho Sino da Cadeia de Indaiatuba


Imagem do Sino da Cadeia - Desenhada por Vera Milunovic [1]
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texto de Artur Cogan

A trinta quilômetros de Campinas e próximo de Itu encontra-se o Município de Indaiatuba.

Colocado entre “a “cidade das andorinhas” e o” “berço da República”, Indaiatuba traz no seu nome tupi a essência romântica da palmeira Indaiá.

A sua origem prende-se a construção de uma capela feita por José da Costa [2]que nos fins do século XVIII, encontrando nas águas do Rio Jundiaí uma imagem de N.S da Candelária, ergueu-lhe votivamente um altar, construindo uma capela no mesmo lugar onde hoje se ergue a igreja Matriz.

Aos poucos cresceu o número de devotos, aumentando a população nas cercanias da capela, até que pelo Decreto nº. 9, de Dezembro de 1830 foi elevada a Freguesia (...).

Com a sua [posterior] elevação a Vila e o constante desenvolvimento que apresentava, Indaiatuba começou a sentir a necessidade da construção de uma cadeia.

.Em 1862, pela Lei nº. 8, o Dr. José Jacinto de Mendonça, Presidente da Província de São Paulo, sancionava o decreto da Assembléia Provincial - capítulo 3, “Das disposições transitórias”, artigo 14, que dizia: dos trinta contos de réis, para as cadeias de casas de detenção da Província, terão aplicação especial as quantias seguintes:"5. º – Um conto de réis para a casa de detenção de Indaiatuba”.

Era o primeiro passo para se concretizar o desejo da população. Como, porém tudo se desenrolava vagarosamente, em 10 de Outubro de 1862, a Câmara oficiava ao Presidente da Província encarecendo a necessidade de se concluir a obra da cadeia. Em 12 de Janeiro de 1863, em longo ofício ao conselheiro Dr. Vicente Pires da Mota, presidente da Província, a câmara reiterava as suas reclamações, relatando uma série de ocorrências que se desenrolavam ante os olhos complacentes das autoridades policiais. Estas se excusavam alegando a falta de um prédio apropriado para a cadeia.
Pela Lei nº. 39 de 9 de julho de 1869 o Dr. Pires da Mota autorizava a Câmara Municipal da Vila de Indaiatuba a comprar uma casa para suas sessões, melhorando-a para que prestasse para a cadeia, podendo dispor da quantia de Rs. 1:000$000 existente no caixa.

A Câmara e a cadeia passaram a funcionar em velho prédio, hoje já demolido, localizado na atual rua Pedro de Toledo.
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Em 12 de Janeiro de 1883 o Presidente da Câmara, Barros Leite, apresentou indicação à Casa para que autorizasse a compra de um sino para a cadeia. Em 20 de fevereiro do mesmo ano o sino foi adquirido pela importância de 81$490.
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Imagem do Sino da Cadeia - Foto do acervo de Antonio da Cunha Penna
Daí para cá o sino da cadeia ficou muito tempo preso a própria vida da cidade. Através de seus toques é que a população vivia e acompanhava os acontecimentos de destaque.
Mas a vila, desenvolvendo-se, passou a reclamar instalações mais apropriadas para sua cadeia. A 16 de Agosto de 1888 a Câmara Municipal, por seu Presidente João de Campos Bicudo, contratava com Constantino Cassabuana a construção do novo prédio da cadeia, em três pagamentos: o primeiro de 1:586$092 e os dois outros de 1:300$000, devendo o prédio der entregue em seis meses a partir de 15 de Agosto.
Prédio da Cadeia - Câmara - Prefeitura em 1947, onde hoje é a fonte luminosa (acervo de EBS)
Passando a funcionar no novo prédio especialmente constituído para sede da cadeia e da Câmara, prédio no coração da cidade na atual Praça Presidente Prudente de Morais, o sino se ligou ainda mais à vida da população.

Era ele que anunciava o toque de recolher, pondo em sobressalto os notívagos e alertando os malandros para a patrulha que logo em seguida saía a percorrer as ruas da cidade; era ele que tocava por ocasião das prisões, fazendo acorrer ao Largo da Cadeia grande número de curiosos desejosos de saber quem transgredira as normas legais; e o castigo do desordeiro ou ladrão começava com a sua sujeição ao escárnio do público que era atraído pelos repiques continuados do sino...

O Decreto n.º 21, de 27 de Novembro de 1893, que regulamentou as funções dos carcereiros das cadeias do Estado, ainda em vigor, estabelece:

“Capítulo IV – Da policia das prisões Art. 35 – Desde 1. º de abril até 30 de setembro as portas exteriores da cadeia serão abertas as 6 horas e fechadas as 20 horas; e desde 1. º de Outubro até 31 de março serão abertas as 5 horas e fechadas as 21 horas, tocando nessa ocasião o sino por espaço de 5 minutos (toque de recolhida). Art. 36 – Depois do toque do sino reinará o mais profundo silêncio nas prisões e as portas unicamente poderão ser abertas para a entrada de presos, e por causa justificada de muita ponderação. Capítulo VIII - Da guarda das cadeias. Art. 91 – De noite, depois do toque de recolhida, ninguém se poderá aproximar das prisões. Aos que para elas se dirigem as sentinelas mandarão fazer alto a fim de serem primeiro reconhecidos”.

Com o ocorrer dos tempos foram-se modificando os hábitos e costumes das cidades provincianas. As ordens de serviço tornaram-se questões de rotina interna e o silêncio obrigatório desapareceu, dando margem a que pouco a pouco fosse surgindo vida noturna nas cidades.

O sino da cadeia de Indaiatuba emudeceu e quando a repartição, agregada a Delegacia de Polícia que se criou em 1920, mudou-se para o casarão da rua Candelária, esquina da rua 7 de setembro, ficou esquecido no almoxarifado, entre papéis e objetos inúteis.

E ficaria lá, definitivamente esquecido, não fosse o espírito jocoso do carcereiro e do cabo-comandante do destacamento, que se utilizaram dele, há muitos anos, para pregar uma peça em certo soltado.

O caso se passou assim: Fazendo parte do destacamento policial, havia um soldado que nas noites de guarda “via” fantasmas e aparições. Certa noite em que o referido soldado deveria pernoitar na cadeia, o carcereiro e o cabo resolveram pregar-lhe um susto. Dirigiram-se ao quarto onde estava localizado o almoxarifado, junto às celas, e cuidadosamente amarraram um longo cordão no badalo do sino, passando a outra ponta pelas frestas da janela e levando-a até o portão dos fundos do prédio. Findo o expediente, todos se retiraram trancando-se pelo lado de fora do almoxarifado e ficando recolhido na cela um detido correcional. Por volta da meia-noite, quando o silêncio dominava a cadeia, e o soldado e o preso já dormiam, o carcereiro e o cabo se aproximaram sorrateiramente do portão dos fundos onde tinham amarrado a ponta do cordão e o puxaram muitas e repetidas vezes. Rapidamente se acenderam as luzes do prédio, e o soldado atônito, achegando-se à porta do almoxarifado, verificou que o mesmo estava trancado por fora!

Aterrorizado, saiu correndo em trajes menores para a rua, enquanto o detido berrava desesperado na cela em que se encontrava preso...


Prédio da Delegacia em 1937, na esquina da rua 7 de Setembro com a rua Candelária
(Fundação Pró-Memória)


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.[1] - Educadores: que tal imprimir e motivar a criançada a pintar o "sino"?
[2] Por desconhecimento (ausência) de fontes comprobatórias, atualmente essa história de José da Costa é considerada "lenda".

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