sábado, 20 de dezembro de 2008

O início do Ciclo dos Tropeiros na Região de Itu

Parece-nos, todavia, importante sublinhar que o momento em que essas obras estão sendo executadas nas igrejas paulistanas corresponde a um período de reativação da vida econômica da Capitania de São Paulo. 

Antes mesmo de se dar a restauração político-administrativa (1764), S. Paulo já vinha mantendo com as regiões mineradoras constante atividade comercial, num período em que as lavras ainda não haviam dado sinais de decadência. 

O problema de que mais se ressentia era o do expurgo migratório, decorrente da atração exercida pelas atividades extrativas. Porém, os paulistas haviam descoberto na 3ª década do século XVIII um outro fi lão bastante promissor, com a conquista e abertura do Caminho para os Campos do Viamão, no extremo Sul da Colônia, aonde iam em busca de animais muares para suprir as necessidades de transporte da região mineradora. 

Era uma nova atividade comercial que surgia – o Tropeirismo que viria se consolidar já no início da segunda metade do dezoito com a política de defesa e povoamento de toda regional meridional, implementada por Morgado de Mateus. 

Afora isso, é bom lembrar que foi a partir desse mesmo governante que em São Paulo são estimuladas as atividades agrícolas, de onde resulta o desenvolvimento da agroindústria do açúcar em território paulista, inserindo a Capitania pela primeira vez nos quadros da Economia Colonial, e em razão da qual desponta no último quartel do século, a cidade de Itu como uma das mais prósperas do planalto paulista. 

Da mesma forma, no litoral, Santos se benefi cia de sua função portuária, dando os primeiros passos a caminho de sua importância futura. 

A cidade de S. Paulo, por seu turno, que era o entroncamento natural das vias de comunicação existentes (sejam aquelas que conduziam às cidades mais próximas do interior ou do litoral, sejam aquelas abertas em direção às regiões mineradoras ou a caminho de São Pedro do Rio Grande do Sul), beneficia-se mais amplamente dessa gama de atividades e relações de interesses que para ela confl uem e, como centro de decisão política, administra.

Fonte:



quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Fábrica Gryschek - 1926

 1926

De acordo com texto do jornalista Sérgio Squilante, no Jornal Votura de 7 e 16 de maio de 1993, com 25 funcionários foi instalada em Indaiatuba a Fábrica Gryschek, de cadeiras e cabos de guarda- chuvas, do alemão José Gryschek. A fábrica funcionava no centro da cidade. 

O barulho das serras incomodava os vizinhos, razão porque a Prefeitura doou uma área de 8 alqueires para Gryschek, onde é hoje o Parque Boa Esperança e, a partir de 1929, a fábrica passou a funcionar em um grande prédio de dois pavimentos, especialmente construído para tal fim. Gryschek nesta época tinha um contrato com a Antártica de fornecimento de 100 mil cadeiras, e por volta de 1930- 31, tendo entregue quase toda quantia encomendada, abandona a fábrica e Indaiatuba, levando a firma à falência. 

A área de 8 alqueires e terreno de 10 mil metros onde estava edificada a fábrica foi resgatada por Jorge Steffen, detentor de hipotecas sobre a mesma, e as vendeu ao imigrante alemão Henrique Lins, que ali instalou sua famosa "Fábrica de Harmônios e Órgãos Lins".

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

INDAIATUBA - RETROSPECTO HISTÓRICO

Pesquisa e Texto de Fernando Stein

Originalmente Publicado em 1980
 


I - ORIGENS


Indaiatuba foi fundada há cerca de 300 anos, nos fins do século XVII, por José da Costa, que residia na região do Caldeira, ao edificar uma capela nas proximidades da foz do ribeirão Votura (atual córrego do Caldeira, também conhecido por Córrego do Barnabé ou Bela Vista) no rio Jundiaí, e, mais precisamente, à margem direita deste e à margem esquerda daquele.

Nessa capela passaram a se reunir os moradores daquelas paragens, para orarem.

A capela, de madeira, foi conservada por José da Costa por toda sua vida, constituindo-se no marco inicial de Indaiatuba. Em razão de a mesma localizar-se a meio caminho das vilas de Itu e de São Carlos (atual Campinas), e junto a aguadas e boas pastagens, o local passou a ser usado para pouso das tropas e tropeiros que por ali passavam em direção às vilas de Itu ou São Carlos. Com isso, pouco a pouco começou a surgir em torno da capela um aglomerado de casas, quase todas de barrote. Era o povoado de Votura, célula inicial de Indaiatuba, que se comprova pelos vestígios que ali existem de antigas moradias.

O povoado de Votura prosperou com o tempo, construindo-se estalagens, casas de comércio e de pouso, para o pernoite de tropeiros em suas idas e vindas em direção ao norte e ao sul. Tornou-se, dessa forma, necessária a criação de Capela Curada, não se sabendo, entretanto, quem tenha sido seu primeiro cura, e em que data.

Uma tragédia, porém, rondava a sorte de Votura. Por volta de 1740, irrompeu com violência na região, uma terrível epidemia de bexigas, dizimando quase todos os moradores do povoado. Na época, Pedro Gonçalves Meyra, Procurador da Câmara da Vila de Itu, aconselhou a segregação dos doentes para combater a doença que grassava por toda a região de Itu.

Os sobreviventes de Votura atribuíram o aparecimento da varíola ao fato de o povoado localizar-se às margens de dois rios (rio Jundiaí e córrego do Barnabé ou Bela Vista), onde predominavam os terrenos alagadiços e insalubres. Por isso resolveram transferir o povoado para lugar mais alto.

Na direção de Campinas, a uns seis quilômetros de distância, existia uma grande quantidade de terras devolutas encravadas entre duas sesmarias e servidas por dois pequenos ribeirões (Córrego do Barnabé ou Bela Vista, e Córrego Belchior ou do Matadouro). Esse foi o local escolhido pelos remanescentes do Votura para construção do novo povoado, no lugar onde hoje fui construída a nova capela que, posteriormente, foi demolida, erigindo-se no seu lugar a Igreja Matriz.

Ao transferir-se para esse novo lugar, o povoado recebeu outro nome, o de COCAIS, em virtude da grande quantidade de uma espécie de palmeira rasteira que vegetava pelos campos, nas cercanias, produzindo rente ao chão cachos de cocos diminutos, conhecidos por "indaiá". Mais tarde, em 1830, receberia oficialmente o nome de INDAIATUBA, que também se deve à existência da singular palmeira de indaiá.

Joaquim Gonçalves Bicudo e Pedro Gonçalves Meyra foram os mais notáveis agricultores e povoadores de Indaiatuba no século XVIII, quando a cana-de-açúcar era a principal atividade agrícola em toda a região. Joaquim Gonçalves Bicudo construiu o primeiro engenho horizontal com cilindros de madeira para moer cana, que houve na então província de São Paulo.

Em 1807 é iniciada a construção da Matriz, no mesmo lugar onde fora construída a capela. Em torno da mesma girava toda a vida de Cocais. Só foi concluída em 1863, pelo entalhador francês Monsieur Bernard.


II - CRIAÇÃO DO DISTRITO DE INDAIATUBA

Em 1830 o povoado é elevado à categoria de Freguesia com o nome de INDAIATUBA, por decreto do Imperador D. Pedro I, datado de 9 de dezembro de l.830, e do seguinte teor:

 

"Hei por bem sancionar e mandar que se execute o que resolveu a Assembléia, sobre a resolução do Conselho Geral da Província de São Paulo:

"Art. lº - Crear-se-ão Freguesias as Capelas de São João do Rio Claro e de N. S. das Dores da Tatuy, no distrito de Villa de Constituição; de Cabreúva e de INDAIATUBA, no da Villa de Itu; N. S. de Bethlen de Jundiaí; no Bairro das Silveiras, no de Lorena; de Huporanga, no de Apiahy.

"Art. 2º - O Governo marcará a cada uma o competente DISTRITO. O Visconde de Alcântara, Conselheiro de Estado, honorário Ministro e Secretário de Estado de Negócios da Justiça, o tenha assim entendido, e para expedir os despachos necessários. Palácio do Rio de Janeiro em nove de Dezembro de mil e oitocentos e trinta, e nove da Independência do Império. Com a rubrica de sua Majestade Imperial. a) Visconde de Alcântara."

Indaiatuba, a partir dessa data, passa a existir como um DISTRITO da Vila de Itu, em terras desmembradas das de Itu, Jundiaí e São Carlos (hoje Campinas).

O então distrito, com 2.026 habitantes e apenas 142 na sede, contava com os seguintes povoados: Mato Dentro, Jundiay (hoje Itaici) e Pirahy.

Seu primeiro pároco foi o Pe. Pedro Dias Paes Leme.

2.500 escravos, que não constam da estatística oficial, elevava para 4.526 a população de Indaiatuba.


III - PRIMEIRAS ELEIÇÕES

Criada a Freguesia de Indaiatuba, ficou ela obrigada a participar das eleições, para a respectiva Câmara, bem como eleger o Juiz de Paz para administrar a Freguesia. Assim, depois de dois anos, organizado o quadro eleitoral, a 7 de setembro de 1832, num domingo procedeu-se à primeira eleição que se realizou em Indaiatuba, no recinto da Matriz, eleição essa para Vereadores à Câmara Municipal de Itu e dois Juízes de Paz para a Freguesia de Indaiatuba. Foram eleitos Estanislau do Amaral Campos e Alferes Lourenço de Almeida Prado, sendo este suplente.

Em 1842, pela Lei nº 5 de Março desse ano, Itu foi elevada à categoria de cidade e, por força dessa lei, a sua Câmara Municipal teve de aumentar o número de vereadores; realizou-se então a eleição para duas cadeiras, sendo eleitos dois indaiatubanos: João Leite de Sampaio Ferraz e João Tibiriçá Piratininga (Pai).



IV - REVOLUÇÃO DE 1.842


Em 1842 Indaiatuba participou do Movimento Revolucionário eclodido no Rio de Janeiro com a queda do "Ministério da Maioridade" a 23 de março desse ano. Os conservadores foram chamados ao poder. Os liberais inconformados, instigavam as Câmaras a não reconhecerem as novas autoridades nomeadas nas províncias.

Em São Paulo, o movimento visava a derrubada do Presidente da Província. A situação se agravava e o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, em Sorocaba, é aclamado Presidente Interino da Província, o qual, com o apoio de Feijó, organiza uma força de 800 homens sob o comando do Cel. Francisco Galvão, e marcha para São Paulo.

O Governo, entretanto, manda o Barão de Caxias à frente de um corpo de tropa de linha, a fim de sufocar a revolução e pacificar a Província.

A Câmara de Itu também aderira à Revolução, e conseguiu organizar uma força de 300 homens. Os distritos de Indaiatuba, Cabreúva e Água-Choca (Monte Mor) enviaram seus contingentes de voluntários para a formação da tropa.

No dia 2 de julho, partiu de Itu uma força de cavalaria formada por 60 homens sob o comando do indaiatubano CAPITÃO BOAVENTURA DO AMARAL, com destino a Campinas. No lugar denominado "Venda Grande", mais ou menos a uma légua de Campinas, encontrou-se com a força do Capitão Antônio Manuel Teixeira, que viera de Campinas e acampara neste lugar.

Na manhã do dia 7, as forças acampadas em "Venda Grande" foram atacadas inesperadamente por um contingente legalista de 200 homens, enviados por Caxias. A surpresa do ataque provocou o pânico nos voluntários revoltosos que, pessimamente armados e treinados, puseram-se em debandada. Somente um pequeno grupo se reuniu em torno do Capitão BOAVENTURA, o qual, demonstrando grande coragem, animava os companheiros declarando que "morreria combatendo e que não se entregaria nem fugiria". A resistência é debelada em pouco tempo, nela perdendo a vida o heróico Capitão Boaventura do Amaral.

Essa derrota desalenta os homens do Cel. Galvão. O Brigadeiro Tobias retira-se, então, para Sorocaba. As Forças sob o comando de Caxias, entretanto, se aproximam de Sorocaba. Há uma debandada geral. O Brigadeiro Tobias, inclusive, foge para o sul, ficando unicamente o Pe. Feijó que, doente e alquebrado, é preso por Caxias.

V - EMANCIPAÇÃO POLÍTICA E ADMINISTRATIVA

Vinte e nove anos após a criação do distrito, Indaiatuba alcançou a sua emancipação política e administrativa, desvinculando-se de Itu, com a elevação de sua sede à categoria de Vila, criando-se o Município de Indaiatuba, pela Lei nº 12 de 24 de março de 1859, do teor seguinte:


"Lei nº 12

"José Joaquim Fernandes Torres, do Conselho de Sua Majestade o Imperador, Senador do Império e Presidente da Província de São Paulo, etc., faço saber a todos os seus habitantes que a Assembléia Legislativa da Província decretou e eu sanciono a Lei seguinte:

"Art. 1º - Ficam elevadas à categoria de Villa as seguintes Freguesias: Indaiatuba e Cabreúva no Município de Itu, Serra Negra e São João da Boa Vista no de Mogi Mirim.

"Art. 2º - Fica elevada à categoria de Villa a Freguesia de Santo Antonio da Cachoeira no Município de Nazareth.

"Art. 3º - Ficam as Villas ora criadas obrigadas a fazerem casa de Câmara à sua custa.

"Art. 4º - Ficam revogadas todas as Leis e disposições em contrário. Mando portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida lei pertencerem, que a cumpram e a façam cumprir tão inteiramente como nela se contém. O Secretário dessa Província a fá-la imprimir, publicar e correr. Dado no Palácio do Governo de São Paulo aos 24 dias do mês de março de 1.859. a) José Joaquim Torres."

A eleição para vereadores realizou-se no dia 03 de julho de 1859.

A primeira Câmara Municipal de Indaiatuba foi empossada no dia 31 de julho do mesmo ano, pelo Presidente da Câmara Municipal de Itu, Sr. Joaquim Pires Pereira de Almeida. Ela estava constituída por 7 vereadores: Vicente Ferrer do Amaral (eleito Presidente), José de Sampaio Bueno, Francisco Xavier de Almeida, João Leite de Sampaio Ferraz, Joaquim Fiuza, Antonio Benedito de Castro e Antonio de Almeida Campos.

A Câmara Municipal, durante os 10 primeiros anos, reuniu-se nas residências de vereadores. Em 1.869 comprou uma casa à Rua Pedro de Toledo para servir de Paço Municipal.


VI - CONVENÇÃO REPUBLICANA DE 1.873

Indaiatuba assumiu um brilhante papel na realização da convenção Republicana de Itu em 1973, e na participação desse evento que, se pouca repercussão ou importância teve na época, foi o marco inicial para a implantação da República.

Muito embora o partido republicano inexistisse na época, ao término da Guerra do Paraguai foram surgindo muitos republicanos. O Clube Republicano de São Paulo decidiu marcar uma assembleia em Itu, região que concentrava muitos adeptos do novo regime, com a finalidade de lançar as bases da propaganda republicana de forma permanente e organizada no interior da Província de São Paulo.

Os republicanos aproveitaram a data da inauguração da Estrada de Ferro Ituana - que ligava Itu a Jundiaí, passando por Pimenta e Itaici -, marcada para 17 de abril de 1873, para promover a célebre Convenção Republicana, pois essa festividade reuniria um grande número de forasteiros de cidades vizinhas, e entre eles muitos adeptos do regime republicano.

"Entre os promotores e organizadores da Convenção figurava João Tibiriçá Piratininga, fazendeiro em Indaiatuba, proprietário da antiga Fazenda Taipas, em Itaici. Homem culto e relacionadíssimo e em sendo ele cunhado do Dr. Antonio de Queiroz Telles, Presidente da Câmara de Itu e férreo monarquista, contribuiu para que não apenas os republicanos convictos participassem da histórica reunião, mas toda a 'fazendeirada' simpatizante do regime reinante, constituindo-se numa garantia para os mais desconfiados." (1)

E conforme o planejado, reuniu-se em Itu, no dia l8 de abril de l873, na residência do Barão de Itaim, a Convenção Republicana, e sob a presidência do notável convencional de Indaiatuba: JOÃO TIBIRIÇÁ PIRATININGA.

133 pessoas participaram da histórica Convenção, vindos de Amparo, Botucatu, Bragança, Campinas, Capivari, Indaiatuba, Itatiba, Itapetininga, Jundiaí, Jaú, Mogi-Mirim, Monte-Mor, Piracicaba, Porto Feliz, Rio de Janeiro, São Paulo, Sorocaba e Tietê, além dos residentes em Itu.

A participação de Indaiatuba àquela assembleia histórica foi relevante, não só porque esta foi presidida por um de seus integrantes mas porque a sua caravana foi uma das mais numerosas, tendo assinado a ata da Convenção, por Indaiatuba, os seguintes convencionais: João Tibiriçá Piratininga, Diogo do Amaral Campos, José de Almeida Prado Neto, José do Amaral Campos, José Vasconcellos de Almeida Prado, Ladislau do Amaral Campos, Luiz Augusto da Fonseca, Manuel José Ferreira de Carvalho, e Theófilo de Oliveira Camargo.


VII - O LENTO DESENVOLVIMENTO

Em 1830 quatro ruas e quatro travessas compunham o quadro urbano de Indaiatuba: Rua Nossa Senhora da Candelária (atual Rua Candelária), Rua da Palma (XV de Novembro), Rua da Constituição (Pedro Gonçalves), Rua das Flores (Pedro de Toledo), Rua São José (Dom José), Rua Direita (Augusto de Oliveira Camargo) e Rua do Comércio (7 de Setembro).

Em l863 era concluída a construção da Igreja Matriz N. S. da Candelária, defronte a essa mesma praça.

Com a elevação da Freguesia de Indaiatuba à categoria de Vila em 24 de março de 1859, que equivalia à condição de Município, este ficava obrigado a construir ou adquirir um prédio próprio para o funcionamento da Câmara, tendo como anexo a cadeia.

Mas nos primeiros dez anos de seu funcionamento as sessões da Câmara foram realizadas, trimestralmente, em casa de particulares, não possuindo aquela um prédio destinado ao seu funcionamento.

Só em 1869, no dia 7 de junho, a Câmara adquiriu o prédio localizado à Rua das Flores (atual Rua Pedro de Toledo) para a realização de suas atividades.

Aos 17 de abril de 1873 foi inaugurada a estrada de ferro da Companhia Ituana de Estrada de Ferro e Navegação, que passava com seus trilhos pelos bairros de Pimenta e Itaici.

Posteriormente os trilhos chegaram à sede do Município, mas sem a construção de uma estação.

Em 1875 a ferrovia já havia chegado a Capivari, e Indaiatuba continuava sem estação.

Essa situação levou a população a se cotizar e a construir ela mesma a estação, que foi finalmente inaugurada em 1880.

A estrada de ferro proporcionava à cidade o mais importante meio de transporte na época. Era o primeiro marco de progresso para a cidade que, durante a Monarquia, não logrou expandir-se.

A partir de 1880 Indaiatuba começa a receber os imigrantes alemães, que se estabelecem no Bairro do Burú, e os suíços que se fixam no Bairro Helvetia, além dos italianos. Os imigrantes vão contribuir decididamente para o desenvolvimento do Município, iniciando uma atividade econômica própria, a saber, uma atividade que não estava assentada no trabalho escravo.

Aos 10 de maio de 1873 foi criado o Termo de Indaiatuba, depois de 8 anos de lutas e pedidos. Com criação do Termo Indaiatuba passaria a ter as suas pendências resolvidas por um Juiz itinerante; passava a ficar sob a jurisdição de um Juiz de Fora.

O primeiro Juiz de Fora que exerceu jurisdição no Termo de Indaiatuba foi Frederico Dabney Brotero. O Dr. Campos Sales, campineiro que viria a ser Presidente da República, chegou a atuar no júri de Indaiatuba.

Em 1882 a Câmara Municipal comprou um sino com a finalidade de chamar os permanentes (guardas) e dar o sinal de recolhida às 20 horas, costume que perdurou até fins de l930.

Aos 13 de maio de 1890 a Intendência (com a proclamação da República houve um período de transição em que a administração das vilas ficava a cargo dos Intendentes e não mais dos Presidentes das Câmaras Municipais) transferiu-se para o prédio erguido bem no centro da Praça Prudente de Moraes (demolido em l963). Nesse mesmo prédio funcionava também a cadeia pública.

Até 1888 a cidade vivia às escuras à noite. A partir desse ano passou a contar com a iluminação pública a querosene.

Na segunda metade do século 19 a economia da vila girava em torno das culturas da cana e, principalmente, do café. A agricultura, na época se desenvolvia à base do trabalho escravo, como no resto do País.

Em 1872 quase 50% da população de 3.749 pessoas era escrava, ou seja, 1.689.

Ainda hoje restam vestígios do período da escravidão, e alguns casarões dos antigos donos de fazenda ainda recordam os ciclos econômicos do açúcar e do café, pelos quais Indaiatuba passou.

Durante o período imperial, o Presidente da Câmara exercia as funções do Executivo, não existindo o cargo de Prefeito. O Presidente da Câmara era eleito entre os vereadores mais votados.

Com a República, os Intendentes governavam o município, eleitos também pela Câmara Municipal.

Os Intendentes passaram a chamar-se Prefeitos, mais tarde. Mas eles só foram eleitos diretamente pelo sufrágio universal a partir de 1945.

Com a República a cidade inicia seu desenvolvimento lento e moroso.

A partir de 1905 começa a reforma de quase todos os seus prédios e o calçamento dos passeios públicos.

Em consequência dessa reforma, os prédios da cidade, que eram tipicamente coloniais, a maioria dos quais construídos de taipa, vão perdendo suas características.

A população abastecia-se de água no velho chafariz, localizado onde hoje tem início a Rua Bernardino de Campos.

A antiga zona comercial da vila se estendia do largo da Matriz até a Rua 7 de setembro.

Aos 19 de dezembro de 1906 Indaiatuba foi elevada à categoria de cidade, pela Lei Estadual nº 1.038, e, mais tarde, em razão de seu crescimento, viu a Praça Prudente de Moraes transformar-se no centro de sua vida social e comercial. Nesse logradouro e nas suas imediações se encontravam os cines Recreio e Internacional, a sede da Câmara Municipal, a Delegacia de Polícia, etc.

Ao completar 100 anos Indaiatuba possuía apenas 20 ruas.

Em 1911 a cidade recebeu com entusiasmo a notícia da instalação de rede de energia elétrica, que se concretizou aos 10 de maio de 1913. A partir daí as poucas ruas da cidade passaram a ser iluminadas por energia elétrica fornecida pela Empresa Luz e Força.


VIII - REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1.932


Em 1.932 a cidade se envolveu no Movimento Revolucionário Constitucionalista desfechado pelo Estado de São Paulo contra o Governo Federal.

Organizou-se o M.M.D.C. local e uma milícia composta pelos cidadãos João de Paula Leite, Gentil Lopes, Scyllas Leite Sampaio, José Teixeira de Camargo e Luíz Emílio Bannwart.

Um contingente de 17 voluntários de Indaiatuba foi enviado para a frente sul, no setor de Capão Bonito, que passaram a integrar o 3º B.C.V., juntamente com voluntários de Itu, Porto Feliz e Bebedouro.

Integraram esse contingente os voluntários Ary Duarte Bertoni, João de Souza Aranha, João Fontes, Plínio Pires de Campos, José Antonio Germano, Joel Ribeiro Escobar, Marcílio de Campos, Norberto Luiz de Moraes, José Duarte Bertoni, João dos Santos, Ângelo Bego, Silvio de Barros, Antenor de Quadros, Benedito Avelino Correa, Demerval Viana e João Abel Filho.

Os voluntários enfrentaram as forças ditatoriais em diversos e duros combates que se desenrolaram nas imediações de Capão Bonito. E foi aí, nas proximidades do Rio das Almas, que, no dia 10 de setembro, quando garantia a retirada estratégica de 150 companheiros, caiu mortalmente ferido o soldado JOÃO DOS SANTOS. No dia seguinte era sepultado em Indaiatuba com todas as honras de herói. Aos 9 de dezembro de 1957 seu corpo foi exumado e trasladado para o Mausoléu dos mortos da Revolução Constitucionalista de 32, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. No ano seguinte seu busto era erigido na Praça Prudente de Moraes, em Indaiatuba.

IX - A EVOLUÇÃO É DESTE SÉCULO


A partir de 1.920 começam a se instalar no município as primeiras unidades industriais.

Servida de energia elétrica desde 1913, só em 1937 passou a contar com serviço de abastecimento de água encanada.

Em 1.933 concluía-se a construção do magnífico prédio do Hospital "Augusto de Oliveira Camargo", e a 5 de julho do mesmo ano essa fundação beneficente entrava em funcionamento, atendendo pacientes locais e das cidades vizinhas.

O Hospital, construído pelo casal Augusto de Oliveira Camargo e Leonor de Barros Camargo, foi doado à cidade, como um majestoso presente.

A partir de 1935 dezenas de famílias japonesas imigram para o município, e introduzem a tomaticultura que, logo, passa a ser a sua principal cultura agrícola.

As redes de esgotos sanitários começam a ser implantadas na cidade a partir da década de 40. Mas o Município durante muito tempo não conseguiu tratar seus esgotos antes de lançá-los ao Rio Jundiaí, que recebia toda sua carga. Mas na década de 70 foi implantada a primeira estação de tratamento de esgotos, nas proximidades do Distrito Industrial de Indaiatuba.

Mas na década de 70 projetos foram sendo executados dentro de um programa intermunicipal de despoluição do Rio Jundiaí. O principal, no Município, foi a construção da estação de tratamento de esgotos da bacia do córrego Barnabé, nas proximidades da foz desse córrego no Rio Jundiaí, que abrange quase toda rede de esgotos sanitários da cidade.

Após a 2ª Grande Guerra surgem as indústrias têxteis no Município, acelerando rapidamente o seu desenvolvimento.

Em 1.950 é iniciada a pavimentação asfáltica das ruas centrais da cidade.

Na década de 60 o Município recebeu grandes indústrias mecânicas e metalúrgicas que a industrializaram definitivamente e lhe asseguraram um crescimento rápido e promissor.

Em 1963, pela Lei nº 8.050 de 31 de dezembro de 1963, é criada a Comarca de Indaiatuba, desmembrada da de Itu, sendo instalada em 1965 e elevada à categoria de Comarca de 2ª Entrância em 1969.

X - VIDA POLÍTICA E ADMINISTRATIVA

Na Câmara Municipal, durante o período da Velha República, ou seja, de 1892 até 24 de outubro de 1930, quando a Câmara Municipal foi dissolvida pela Revolução que implantou a ditadura de Getúlio Vargas, destacaram-se, entre outras, as figuras dos Vereadores Joaquim Pedroso de Alvarenga e Luiz Copini.

E de 7 de janeiro de 1.905 até 24 de outubro de 1.930 foi prefeito o Major Alfredo de Camargo Fonseca, reeleito que foi por vários períodos pelos membros da Câmara.



Relacionamos a seguir os prefeitos de Indaiatuba e seus receptivos períodos de governo:


POSSE PREFEITO

07-01-1905 - Major Alfredo de Camargo Fonseca - 24-10-1930

25-10-1930 - Ten. Roldão Carneiro da Silva - 25-10-1930

26-10-1930 - Major Alfredo de Camargo Fonseca - 19-12-1930

20-12-1930 - Francisco Xavier da Costa - 04-05-1931

05-05-193l - Major Alfredo de Camargo Fonseca - 04-09-1934

05-09-1934 - Scyllas Leite Sampaio - 18-01-1936

19-01-1936 - Dr. José Cardoso da Silva - 20-10-1936

20-10-1936 - Scyllas Leite Sampaio (interino) - 22-09-l937

22-09-1937 - Dr. José Cardoso da Silva - 14-05-1938

14-05-1938 - Major Alfredo de Camargo Fonseca - 12-07-1939

12-07-1939 - Sebastião Nicolau - 07-05-1943

07-05-1943 - Dr. Jácomo Nazário - 28-06-l944

28-06-1944 - Sylvio Talli (interino) - 26-09-1944

26-09-1944 - Dr. Jácomo Nazário - 23-11-1944

23-11-1944 - Sylvio Talli (interino) - 18-01-1945

18-01-1945 - Dr. Jácomo Nazário - 21-10-1945

21-10-1945 -Dr. Olavo Lima Guimarães (interino) - 10-12-1945

10-12-1945 - Benedito Soares Siqueira (interino) - 17-12-1945

17-12-1945 - Dr. Jácomo Nazário - 02-01-1946

02-01-1946 - João Walsh Costa - 19-02-1946

19-02-1946 - Dr. Jácomo Nazário - 25-03-1947

25-03-1947 - Helena Tomasi (interina) - 10-06-1947

10-06-1947 - Jacob Lyra - 31-12-1947

01-01-1948 - Luiz Teixeira de Camargo Junior - 31-12-1950

01-01-1951 - Lauro Bueno de Camargo - 31-12-1951

01-01-1952 - Jacob Lyra - 31-12-1955

01-01-1956 - Lauro Bueno de Camargo - 31-12-1959

01-01-1960 - Alberto Brizzola - 11-04-1962

11-04-1962 - Odilon Ferreira - 30-08-1963

30-08-1963 - Sinezio Martini - 07-10-1963

07-10-1963 - Odilon Ferreira - 31-12-1963

01-01-1964 - Ivan Correa de Toledo - 13-06-1964

13-06-1964 - Romeu Zerbini - 31-01-1969

01-02-1969 - Mário Araldo Candello - 3l -01-1973

01-02-1973 - Romeu Zerbini - 31-01-1977

01-02-1977 - Clain Ferrari - 31-01-1983

01-02-1983 - Engº José Carlos Tonin - 31-01-1988

01-02-1989 - Clain Ferrari - 31-12-1992

01-01-1993 - Flávio Tonin - 31-12-1996

01-01-1997 – Reinaldo Nogueira Lopes Cruz - 31-12-2000

01-01-2001 – Reinaldo Nogueira Lopes Cruz - 31-12-2004

01-01-2005 – José Onério da Silva - 31-12-2008

01-01-2009 – Reinaldo Nogueira Lopes Cruz - 31-12-2012


O Major Alfredo de Camargo Fonseca, embora tenha administrado a cidade por mais de 30 anos, pouco desenvolvimento proporcionou à mesma, em virtude das dificuldades da época e de seu espírito tradicionalista, nada afeito às idéias de mudanças. Viveu-se então o período do coronelismo, pois o Chefe do Executivo praticamente impunha as suas sucessivas reeleições, numa época em que o voto era aberto e não secreto. Entretanto, para que se lhe faça justiça, deve-se destacar o fato de que o Major Alfredo de Camargo Fonseca exerceu os sucessivos mandatos sem visar interesses pessoais, razão pela qual acabou morrendo na mais absoluta pobreza.

O Dr. José Cardoso da Silva e o Sr. Scyllas Leite Sampaio, rivais na política local, implantaram, em 1937, o sistema de água encanada para o abastecimento da cidade que, até aí, era servida pelo célebre chafariz da Rua Bernardino de Campos.

Em 1962 a cidade é agitada politicamente com a cassação do mandato do prefeito Alberto Brizzola, pela Câmara Municipal, num rumoroso processo de "impeachment" que desaguou na Justiça. Durante alguns dias a cidade teve dois prefeitos despachando, até que o vice-prefeito conseguiu se apossar, de fato, do Gabinete no velho prédio da Prefeitura no centro da Praça Prudente de Moraes.

Odilon Ferreira, vice-prefeito que sucedeu a Alberto Brizzola em decorrência do impedimento deste, se destacou por atentar contra o patrimônio histórico do Município, ao demolir, em 1963, o velho prédio da Prefeitura e da Câmara Municipal no centro da Praça Prudente de Moraes, e em seu lugar construir um espelho d’água com uma fonte luminosa.

Em 1964 a cidade volta a se agitar politicamente com a eclosão do Movimento Revolucionário de 31 de março, culminando com a cassação do prefeito Ivan Correa de Toledo por ato do Presidente da República, Mal. Humberto de Alencar Castelo Branco. A cassação fundamentava-se em atividades tidas como subversivas pelas autoridades militares daquela época.

A partir de 1970, em consequência do processo de industrialização do município nas décadas de 50 e de 60 e do aumento da arrecadação municipal, a Administração Municipal consegue ampliar os melhoramentos públicos.

Na Administração do Prefeito Mário Araldo Candello é construída uma moderna Estação de Tratamento de Água e instalado o primeiro serviço municipal descentralizado: a autarquia denominada Serviço Autônomo de Água e Esgotos-SAAE, que é implantado pelo seu primeiro Superintendente: Rafael Elias José Aun. Instalado esse serviço e implantado no município o sistema DDD de telefonia, em 1974, verifica-se, a partir daí, um surto desenvolvimentista sem precedentes, com a instalação de novas e importantes unidades industriais no município.

Em 1969 havia sido aprovado o primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Município, que considerava Zona de Predominância Industrial apenas o quadrilátero situado a partir da Rua Almirante Tamandaré, entre a Rua Presidente Bernardes e a Av. Presidente Vargas.

Essa área, constituída por terras devolutas que haviam sido loteadas pela Prefeitura Municipal, em poucos anos revelou-se insuficiente para abrigar novas unidades industriais.

Nos anos 80, durante a gestão do Prefeito José Carlos Tonin, é criado o Distrito Industrial de Indaiatuba, sobre gleba de terra situada junto ao loteamento Jardim Morada do Sol, mas do outro lado da Rodovia SP-75, com incentivos industriais que promoveram, definitivamente, a industrialização do Município, atraindo para cá muitas e importantes unidades industriais.

O sistema viário é modernizado com o prolongamento de várias vias públicas e construção de outras.

Na década de 80 os serviços públicos são ampliados e melhorados, criando-se as Secretarias Municipais em 1985 e a Guarda Municipal em 1983, implantando-se o Corpo de Bombeiros em 1986, em colaboração com o Estado.

Em 03/10/1985 pela Lei nº 2.162 O Município cria a FIEC - Fundação Indaiatubana de Educação e Cultura e o seu Colégio Técnico, com cursos técnicos regulares de Ensino de 2º Grau.

Em 1984 o Município desapropria o Casarão do Pau Preto como forma de preservar o pouco que restou de seu passado urbanístico.

Em dezembro de 1988 a Instituição Beneficente Augusto de Oliveira Camargo fecha as portas do Hospital Augusto de Oliveira Camargo, e em fevereiro de 1989 a Prefeitura Municipal decreta intervenção nesse único hospital geral do município. A intervenção se prolonga no tempo. A falta de acordo com a Mesa Administrativa da Instituição leva, finalmente, à desapropriação do nosocômio pela Prefeitura, em julho de 1992, desapropriação essa que não se consumou.

Em 1988 a administração municipal cria e instala a Fundação Pró Memória de Indaiatuba, com o objetivo de preservar o patrimônio histórico da cidade. A fundação é extinta em 2022.

Em 1992 é criado o SEPREV – Serviço de Previdência e Assistência à Saúde dos Servidores Municipais de Indaiatuba, pela Lei nº 1885/1992. A autarquia previdenciária é instalada em 05 de fevereiro de 1993.


XI - SÍMBOLOS DE INDAIATUBA


l. O HINO INDAIATUBANO.

Símbolo auditivo do Município de Indaiatuba, o Hino foi composto em l930, a pedido do então prefeito, para as solenidades do lº centenário da criação do Distrito de Indaiatuba, ocorrido a 9 de dezembro de 1930, ocasião em que foi executado pela primeira vez.

NABOR PIRES DE CAMARGO, autor de sua música, nasceu em Indaiatuba aos 9 de fevereiro de 1902.

Desde cedo revelou vocação para a música.

Em São Paulo aperfeiçoou seus estudos e passou a compor centenas de canções e a gravar inúmeros discos, além de atuar na Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo como clarinetista solista, onde se aposentou. Atualmente reside em Mococa.

ACRÍSIO DE CAMARGO, autor da sua letra, muito embora nascido em Jundiaí aos l0 de fevereiro de 1899, viveu toda sua infância em Indaiatuba. Foi farmacêutico, radialista, pintor, escritor e poeta.

Como Escritor e poeta enveredou-se pela literatura folclórica e sertaneja.

Faleceu em Campinas aos 25 de fevereiro de 1953.



Letra do Hino:



"Salve, ó terra querida e venturosa,

santo ninho de amor caro e gentil,

com teu ar e teu clima és uma rosa

no mais lindo recanto do Brasil.

Salve, ó berço querido onde nasci,

berço feito de sonhos e de amor...

Hoje em festa, a cantar, pensando em ti,

os teus filhos te saúdam com ardor.


CORO


"O teu campo florente é tão vasto e bonito!

E tua alma sombria

tem encanto e poesia!

E parece sorrir o teu claro infinito,

a pensar

Indaiatuba sem par!"



Em 1974 o Hino foi gravado por iniciativa do Rotary Clube local, e oficializado pela Lei Municipal nº 1344 de 18-12-1974.



2. O BRASÃO DE ARMAS DO MUNICÍPIO.

Foi instituído pela Lei 930 de 17 de outubro de 1966, por iniciativa do então Vereador Oswaldo Stein, obedecendo aos rígidos princípios da Heráldica.

O brasão da cidade e município de Indaiatuba tem as seguintes características: brasão estilo redondo português, cortado e partido, encimado por uma coroa mural de prata, tendo sobre sua porta principal um escudete de blau (azul) com uma flor de lis, de prata. No primeiro campo, de goles (vermelho) um pé de indaiá, de prata; no segundo campo, no mesmo esmalte, duas polias conjugadas, de prata, e, no terceiro campo, de blau (azul) uma faixa ondulada de prata. Como suportes à destra, um ramo de café frutificado e, à esquerda, um ramo de louro, ambos na sua cor natural. No pé do brasão em listel de prata, com letras de goles (vermelho) a legenda: "9-XII-1830 - INDAIATUBA - 24-III-l859".

SIMBOLOGIA - Símbolos interiores: O brasão tem o formato redondo estilho português peninsular, o que lembra o passado lusíada do Brasil. Os dois campos de goles (vermelho) evocam os sentimentos de liberdade, audácia, intrepidez e combatividade. O terceiro campo de blau (azul) é a lealdade, a glória, a serenidade e o zelo. No primeiro campo, o pé de indaiá é a imediata lembrança do nome da cidade desde os seus primeiros tempos; no segundo tempo, as duas polias conjugadas lembram o esforço industrial da cidade, que marca o seu progresso e a sua evolução constante. No terceiro campo, a faixa de prata ondulada é o rio Jundiaí, que constitui a base de seu sistema hidrográfico. Jundiaí é de "Jundiá", nome de peixe, e "y" que quer dizer "água", significando, portanto, "rio dos jundiás". As duas datas são: a primeira, da formação do Distrito, e a segunda, da constituição do Município.

Indaiatuba, nome do Município, significa: "indaiá", palmeira do gênero "attalea" e "tuba", muito, em abundância, resultando "muito indaiá" ou "terra de indaiás".

Símbolos exteriores: a coroa mural é a simbologia de município em Heráldica, e o escudete de blau (azul) com uma flor de lis de prata, sobre a porta principal da coroa mural é a evocação da Padroeira do Município, Nossa Senhora da Candelária. O ramo de café frutificado na sua cor natural à destra, é o simbolismo do trabalho dos paulistas que formaram os cafezais, contribuindo para o engrandecimento do Brasil e a consolidação de seu crédito exterior. O ramo de louros, à esquerda, é a lembrança perene das glórias do povo de Indaiatuba, que tem feito tudo pelo seu engrandecimento, e, consequentemente, de São Paulo e do Brasil.


XII - ALGUNS VULTOS DE INDAIATUBA


Indaiatuba, embora pobre de fatos históricos, é, todavia, relativamente rica em valores humanos que aqui nasceram ou viveram, dignificando a Terra dos Indaiás.

Lembraremos, a seguir, apenas alguns desses ilustres cidadãos.


l. CORONEL ANTONIO PIRES DE CAMPOS

Por volta de 1720 o Cel. Antonio Pires de Campos, explorador dos sertões de Mato Grosso, já possuía um sítio em Itaici, onde os padres Jesuítas, mais recentemente, que também possuíam sua fazenda nesse lugar (retaliada em loteamentos de chácaras), conservam ainda a chamada Vila Kostka, antigo seminário que hoje se destina a realização de retiros e reuniões da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil).

Tornando-se amigo dos terríveis índios bororós, de Mato Grosso, trouxe grande número deles para seu sítio em Itaici (um povoado rural que se tornou famoso por ter sido um entroncamento ferroviário por muitos anos). Esses índios o cognominaram "PAI PIRÁ".

Foi um dos primeiros exploradores de que se tem conhecimento, desta região que viria a ser o Município de Indaiatuba.



2. JOAQUIM GONÇALVES BICUDO E PEDRO GONÇALVES MEIRA.

Os irmãos Joaquim Gonçalves Bicudo e Pedro Gonçalves Meira foram os primeiros povoadores de Indaiatuba, na segunda metade do século l8, introduzindo a cultura da cana-de-açúcar.

Foram os proprietários da antiga Fazenda Pau Preto, cuja sede foi desapropriada pela Prefeitura Municipal (Casarão do Pau Preto).

Seus descendentes ainda vivem em Indaiatuba e aqui conservam a propriedade de grande parte das terras situadas além do Córrego Bela Vista, também conhecido por Córrego Barnabé, e que não é outro senão o antigo Córrego Votura.


3. JOÃO TIBIRIÇÁ PIRATININGA (PAI)

"Foi o 5º filho entre outros 20 de João de Almeida Prado e de sua primeira mulher Ana de Almeida. Nasceu em 03 de novembro de 1802 em Sorocaba. Seu nome de nascimento era João de Almeida Prado Júnior e ao cursar a Universidade de Coimbra, em Portugal, foi apelidado de "Tibiriçá Piratininga". Adotou desde então o supracitado sobrenome. Casou-se em Itu, em 1828, com Maria Antônia de Camargo, viúva do capitão Agostinho Rodrigues de Almeida, pais de Agostinho Rodrigues de Camargo (que foi proprietário da fazenda "Quilombo" e avós de Augusto de Oliveira Camargo, doador e patrono do nosso hospital).

"Foi João Tibiriçá Piratininga grande fazendeiro em nosso município, proprietário das fazendas "Taipas", em Itaici (a mesma que passou a pertencer aos Jesuítas nas últimas décadas) e "Pimenta", sendo esta adquirida por ele em 1832.

"Homem respeitado, culto, político militante, participava ativamente na administração da "Freguesia", havendo participado em numerosas "mesas paroquiais" para realização das eleições, muitas vezes como secretário, outras como candidato, se elegendo Vereador na eleição de 1836.

"Quando Itu foi elevada à categoria de "cidade" em 1842, e a Câmara Municipal daquela cidade teve aumentada sua representação legislativa, João Tibiriçá Piratininga elegeu-se juntamente com outro conterrâneo (pois aqui residiam e tinham suas propriedades), João Leite de Sampaio Ferraz, vereadores àquela Câmara.

"Pouco tempo porém legislaram, pois aceitando convite do Padre Feijó, envolveram-se no movimento armado de 1842 que visava a derrubada do Presidente da Província de São Paulo. Derrotados os sediciosos por Caxias, foi a Câmara de Itu dissolvida e os participantes do "levante" processados.

"Anistiados os revoltosos em 1844 pelo Imperador, foi novamente eleito João Tibiriçá Piratininga para outros cargos administrativos, como "Juiz de Paz", etc.

"Foi João Tibiriçá Piratininga sogro do Dr. Antonio de Queiroz Telles (fazendeiro também em Indaiatuba), futuro Visconde de Parnaíba e que iniciou sua fulgurante carreira política elegendo-se "Juiz de Paz" em 1856, em Indaiatuba, onde era também eleitor, havendo, contudo, perdido o mandato por mudança de residência para Itu.

"Teve João Tibiriçá Piratininga quatro filhos: João Tibiriçá Piratininga, José Tibiriçá Piratininga, Lourenço Tibiriçá Piratininga e Rita Mbcy (que se casou com o Dr. Antônio de Queiroz Telles, tendo o casamento se realizado na Fazenda Pimenta). Faleceu em 1851." (1)

4. JOÃO TIBIRIÇÁ PIRATININGA (FILHO)


"Nasceu em 1829 em Itu. Era, como seu pai um ilustrado, havendo estudado na Europa, para onde realizou inúmeras viagens.

"Homem de larga visão, de grande cultura, foi um republicano autêntico.

"Sucedeu a seu pai na administração das fazendas que possuía em nosso município, onde tinha sua residência juntamente com seus irmãos, onde eram também eleitores e políticos atuantes (seus irmãos Lourenço e José foram vereadores na nossa Câmara).

"Disputou o cargo de vereador em eleições tendo recebido 11 votos na eleição de 1859 (quando Indaiatuba foi elevada à categoria de Vila e por conseguinte com Câmara Municipal).

"Em 1855, quando viajava pela França, nasceu seu único filho Jorge Tibiriçá (em Paris). Adquiriu nessa viagem uma usina completa de açúcar que, chegando ao Brasil foi transportada em carros de bois e braços de escravos de Santos até a Fazenda "Taipas", levando, dizem, dois anos para chegar ao seu destino. Contudo a "usina" não funcionou a contento, talvez por falta de técnicos e ficou instalada à margem esquerda do rio Jundiaí, defronte a qual foi construída a Estação da "Estrada de Ferro Ituana" (Itaici), como um verdadeiro marco de progresso que, contudo, não atingiu seus objetivos.

"João Tibiriçá Piratininga absorveu na Europa, especialmente na França, as ideias republicanas, tornando-se assim um idealista convicto.

"Foi um dos organizadores e presidente da célebre Convenção Republicana de Itu em 1873.

"Juntamente com outro indaiatubano, Joaquim de Sampaio Góes, foi colaborador e acionista na fundação de importante órgão de imprensa da Capital, o jornal "A Província de São Paulo" (hoje "Estado de São Paulo").

"Faleceu João Tibiriçá Piratininga em Nice, na França, em lº de dezembro de 1888, havendo sido seu corpo embalsamado e transportado até Itu, onde se encontra seu jazigo.

"Seu filho, Jorge Tibiriçá Piratininga graduou-se agrônomo pela Universidade de Zurique, na Suíça. Como seu pai e avô, foi político atuante, tendo sido nomeado Governador do Estado pelo Governo Provisório a 18-10-1890. Secretário do Estado, de 1892 a 1895. Presidente do Estado de São Paulo de 1904 a 1908. Foi eleito Senador, posteriormente, por diversas legislaturas e vice-presidente do Partido Republicano. Faleceu a 30 de setembro de 1928." (2)


5. CORONEL ANTONIO DE ALMEIDA SAMPAIO

Outro proeminente político indaiatubano foi o Cel. Antonio de Almeida Sampaio (1852-1910), proprietário das grandes fazendas Pimenta, Grama e Santa Rita. Foi presidente do Partido Republicano e da Câmara Municipal em Itu.


6. PROFESSOR RANDOLFO MOREIRA FERNANDES

Prestou relevantes serviços à vida escolar do Município.

Seguindo a antiga orientação pedagógica, procurou aperfeiçoa-la estabelecendo na Escola de Indaiatuba, por volta de 1877, um tribunal do júri, encarregado de processar as traquinices infantis e irregularidades escolares, acaso verificadas entre os seus alunos. Deste júri saíam os pequenos absolvidos ou condenados.

Deu nome ao primeiro estabelecimento escolar de Indaiatuba (Escola Estadual de Ensino de 1º Grau Randolfo Moreira Fernandes) que funcionou durante muitos anos ao lado da Matriz, em prédio já demolido, onde hoje foi levantado o prédio escolar da Escola de Segundo Grau Candelária.


7. BISPO DOM JOSÉ DE CAMARGO BARROS

Entre todos os indaiatubanos do passado, realça a figura do bispo Dom José de Camargo Barros, nascido na Fazenda Itaguaçu aos 24-4-1858. Estudou em Itu, Sorocaba e no Seminário de São Paulo, onde se ordenou sacerdote aos 11-03-1883.

Aos 24-4-1894 foi sagrado bispo em Roma, tendo exercido sua missão em Curitiba e em São Paulo, realizando um profícuo trabalho. Dedicou-se também à imprensa.

Aos 05 de agosto de 1906 faleceu vítima do naufrágio do navio "Sirius", que saíra de Gênova e, à altura de Palos (Espanha), batera num recife. Seus restos mortais repousam na cripta da Catedral Metropolitana de São Paulo.


8. ANTONIO STANISLAU DO AMARAL (1896-1938)


Foi um notável silvicultor em todo o Estado, tendo projetado o Parque do Ibirapuera em São Paulo. Fundou o Horto Florestal de Itatuba, localizado nas divisas de Indaiatuba com Itupeva.

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OUTRAS PERSONALIDADES DE INDAIATUBA

Na política indaiatubana, por muitas vezes conturbada, exerceram grande prestígio as figuras do Major Alfredo de Camargo Fonseca, do Dr. José Cardoso da Silva e do Dr. Scyllas Leite Sampaio. Este dedicou-se também às pesquisas sobre a história da cidade e pode ser considerado o seu historiador.

Outras personalidades como o Dr. Jácomo Nazário, José Narciso Monteiro Neto (Zico), e muitas outras aqui se destacaram, pela dedicação e pela conduta exemplar como se conduziram na vida profissional e política, esmerando-se em servir e servir sempre, de modo desprendido; qualidades tão raras nos dias de hoje.

O José Narciso Monteiro Neto, conhecido popularmente por Zico, candidatou-se ao cargo de Prefeito em 1963, mas perdeu a eleição, por um único voto, para o Ivan Correa de Toledo, que assumiu o cargo em 01/01/1964, mas teve o seu mandato cassado pela ditatura militar em 13/06/1964.

O Visconde de Indaiatuba, que dá nome a uma das vias de acesso da cidade à Rodovia SP-75, aqui não nasceu e nada tem a ver com a cidade. Trata-se do Capitão Joaquim Bonifácio do Amaral, nascido em 03-09-1815 em Campinas, que recebeu o título nobiliárquico de Barão de Indaiatuba em 17-2-1876 e de Visconde de Indaiatuba em 19-7-1879. Faleceu em Campinas em 7-2-1884. Foi chefe do Partido Liberal e abastado agricultor em Campinas.

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OBSERVAÇÃO: esta monografia contém dados gerais coletados sobre Indaiatuba, a partir da informação bibliográfica abaixo, com o objetivo de oferecer uma visão sumária e geral para os estudantes do ensino fundamental, sobre as suas origens e seus acontecimentos históricos mais importantes. Em muitos pontos a análise é superficial, de modo que prescinde de uma pesquisa profunda de seus arquivos (até hoje desorganizados) e dos de outras cidades (Itu, Campinas, Jundiaí, São Paulo, e outras) que registram fatos relativos a esta localidade e às pessoas que aqui nasceram ou aqui viveram e contribuíram para a formação de seu patrimônio histórico, social e cultural. Elaborada em 1980 e atualizada até 2022. Muitos desses registros já foram pesquisados por Scyllas Leite Sampaio, mas nunca divulgados por seus descendentes.

(1) e (2): artigos de Scyllas Leite Sampaio.



B I B L I O G R A F I A

l. CAMARGO, Manuel de Arruda, in "Reminiscências - A Propósito do Primeiro Centenário de Indaiatuba", Instituto D. Anna Rosa, São Paulo, 1930.

2. FERREIRA, Jurandyr Pires, in "Enciclopédia dos Municípios Brasileiros", XXVIII volume, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro, 1957.

3. NARDY Filho, Francisco, in "A Cidade de Itu", Escolas Profissionais Salesianas, lº, 2º, 3º e 4º volumes, São Paulo, 1928,1930, 1950, e 1951.

4. SAMPAIO, Scyllas Leite - pesquisas e artigos diversos publicados no semanário "Tribuna de Indaiá", Indaiatuba.

5. Anais e arquivos (parte) da Câmara Municipal e da Prefeitura Municipal de Indaiatuba.




segunda-feira, 4 de agosto de 2008

História de Fazendas: O Bairro do Pirahy, atual Pedregulho de Itu (SP, Brasil)

História de Fazendas: O Bairro do Pirahy, atual Pedregulho - Itu-SP-Brasil 

Anicleide Zequini (2003)

Para o texto proposto, pretende-se compor um quadro bibliográfico referencial das obras que tratam da região ituana, objetivando identificar padrões de estruturas existentes na área do Bairro do Pirahy, atualmente, denominado de Bairro do Pedregulho, no município de Itu-SP. Esse bairro pode ser considerado, a partir de meados do século XVIII, como uma das mais significativas áreas de concentração das propriedades rurais açucareiras do interior paulista. 

Para tanto, é necessário percorrer uma bibliografia extensa baseada em ampla pesquisa documental, bem como, em documentos iconográficos e na memória de antigos habitantes do local. 

Maria Thereza Petrone (1962: 12), ao analisar a lavoura canavieira em São Paulo situa, entre a segunda metade do século XVIII e a primeira do XIX, a disseminação e desenvolvimento dessa agricultura pelo litoral, Vale do Paraíba e toda área que denomina de "Quadrilátero do Açúcar", compreendida entre Sorocaba, Piracicaba, Mogi Guaçu e Jundiaí, na qual Itu e Campinas destacam-se em produção e exportação desse produto. Atribui esse movimento ao governo da Capitania de São Paulo, presidido pelo Morgado de Mateus (1765-1775), que implementa tais empreendimentos visando o mercado mundial.

Até então, Itu esteve, segundo Suely R. Queiroz (1968: 243), "despovoada, com seus habitantes reduzidos a miséria. No fim do século a Vila achava-se à vanguarda da produção acucareira. Em 1798 a produção total da Capitania era de 152.840 arrôbas de acúcar. Só Itu nesse ano, produziu 16.635 quintais, o que equivale a 66.540 arrôbas, ou seja, mais de 1/3 do açúcar fabricado em São Paulo - estas quantidades faziam-na a mais opulenta área paulista no período". Este novo contexto reflete-se em mudanças também na área urbana, com o início do calçamento das ruas, em 1790, e a construção de diversos edíficios religiosos, parte do patrimônio cultural da cidade. 

Fatores de ordem climática e tipo de solo, foram decisivos para a localização da agricultura da cana-de-açúcar. "Campinas, Itu, Moji Mirim e Sorocaba situam-se na divisa entre os solos que tem origem na decomposição de rochas cristalinas pré-devonianas e a área onde os solos se formam, predominantemente, pela decomposição de rochas sedimentares" (Petrone, 1968: 91). Em Itu, "terras pretas" ou "massapés" existentes nos arredores e livres de geadas, como no bairro do Pirahy, foram as escolhidas para o desenvolvimento daquela agricultura. 

Relatos de viajantes, informações de caráter ética, que passaram por Itu, constituem fonte bastante utilizada nas análises historiográficas. Nesses trabalhos pode-se encontrar dados e descrições interessantes quanto à situação da localidade no final do século XVIII. Em 1789, Lacerda e Almeida (1841: 86) descreve a Vila de Itu, como populosa e grande e, "em cujo distrito se faz a maior parte do assucar, que se gasta em São Paulo, e se exporta, pois a qualidade do terreno assim o permite, porque nos meses de junho, julho e agosto, caindo muita geada em grade parte da Capitania de São Paulo, e nas circunvisinhanças d´esta cidade, destruíndo os canaviais, e os vegetais, que lhe não resistem, o território desta vila é livre dela, ou pelo menos é tão pouca que não causa prejuízo". 

Se questões climáticas foram decisivas para a escolha de regiões propícias para a cana-de-açúcar, o mesmo não acontecia com os caminhos para o transporte do açúcar até o porto de Santos. Estradas do planalto como à Itu, já existiam desde o século XVII, esboçadas com a rota do ouro para Goiás (saindo de São Paulo, passando por Jundiaí, Campinas, Mogi-Mirim, Mogi-Guaçu, para depois seguir para Franca e Goiás) e a de Cuiabá, passando por Itu e depois, por via fluvial, através de Porto Feliz, proporcionaram uma ampla modificação no sistema viário, que tornou-se mais complexo a partir da segunda metade do século XIX, com a presença das ferrovias e novos caminhos, ligados ao café. 

Movimentos regulares de tropas de animais carregados de açúcar até o Porto de Santos e daí para Lisboa, parecem ter se intensificado a partir do governo de Francisco da Cunha Menezes (1782-1786) . Deste período constam documentos que se referem a tropas regulares originárias da Vila de Itu. Até as primeiras décadas do século XIX, as condições das estradas até São Paulo eram precárias. Desta cidade até Cubatão, recebeu obras de melhoramentos em função da política de exportação, implantada em 1789 por Bernardo José de Lorena, "que visava fazer convergir para Santos toda a exportação da Capitania". A calçada do Lorena, pronta entre 1791- 92, transforma o caminho do mar em caminho do açúcar (Petrone, 1968:192-93). 

Em 1804, é projetado o chamado "caminho novo", passando por Jundiaí e nas imediações do Bairro do Pirahy, uma das regiões onde se concentravam as propriedades açucareiras de Itu, que aprsentavam um número significativo de escravos africanos para o trabalho na roça e na fabricação do açúcar. 

A proporcionalidade em Itu, na época canavieira, da população escrava em relação à livre, motivou muitos estudos que focalizaram em suas análises a cana-de-açúcar e o trabalho escravo. Como exemplo, no ano de 1773, Itu tinha uma população rural de 3.464 livres e 2.528 escravos . Este contexto é confirmado por relatos de viajantes como Auguste Saint-Hilaire (1946: 230) segundo o qual, "o número de indivíduos livres estava para o de escravos em 1813 como 3 para 1, o que se explica pelo extenso desenvolvimento tomado pela cultura da cana-de-açúcar para qual empregam-se muitos escravos"

A este respeito, Petrone (1962: 131) afirma que "na fazenda de cana paulista o número de livres é geralmente pequeno. Além do senhor de engenho e de sua família, encontramos, às vezes, feitores ou administradores, e alguns agregados e suas respectivas famílias. Não raro, esses todos também tem escravos". 

Eni Mesquita Samara (1977: 94), a partir da análise da presença de agregados em Itu, compondo uma das categorias da sociedade escravocrata, apresenta informações quanto à constituição daquela sociedade no decorrer da segunda metade do século XVIII e início do XIX. Afirma que era constituída por "grandes e pequenos proprietários (roceiros, pequenos sitiantes, chacareiros, pequenos fazendeiros, donos de pequenas propriedades), lavradores, moradores da vila com ofícios diversos, tropeiros, camaradas, escravos, enfim, uma série bastante complexa de estratos de classe que compunham a sociedade escravocrata". 

Acrescenta ainda, importantes informações sobre os bairros rurais daquele mesmo período, como número de fogos e habitantes. Vale observar que, entre as localidades citadas, está o Bairro do Pirahy, pertencente à quarta companhia de ordenanças, em 1792. O dado apresentado reflete a importância econômica do local naquele final de século: com a agricultura da cana-de-açúcar de significativa produção, o bairro era o mais populoso. No chamado Pirahy de Baixo havia, naquele ano, 400 habitantes e 29 fogos; no Pirahy de Cima, 390 habitantes e 44 fogos. Os dados estatísticos seguintes oferecem referência com relação ao bairro Pirahy de Cima, sendo que dados sobre o Pirahy de Baixo aparecem apenas em 1822: 



Lisanti Filho (1962: 109), ao analisar produção e exportação de três localidades - Porto Feliz, Campinas e Itu -, durante final do século XVIII e início do XIX, afirma que Itu "chama a atenção desde logo, pois o fundamento do comércio ituano era o açúcar, sempre o açúcar. Ao lado deste produto algum café, alguma aguardente e uns poucos couros. Evidentemente, a vila vivia totalmente baseada no cultivo da cana. De resto, já vimos que no seu território se concentrava a maior quantidade de terra cultivada". 

O avanço da cultura canavieira e a instalação de engenhos de açúcar refletiram diretamente na paisagem rural devido ao desaparecimento da mata para obtenção de novas terras de cultura e lenha para as fornalhas. "O capitão-mor de Itu, Vicente da Costa Goes e Aranha, já em 1784, chamava atenção para o fato de que os ituanos teriam de procurar novas terras para a lavoura canavieira. Além de não haver mais muitas terras disponíveis para novas fazendas, alguns hão de deixar os seus estabelecimentos por falta de lenhas" (Petrone, 1962: 80). 

Em 1820, o problema persistia. O Relato da Viagem Mineralógica na Província de São Paulo, realizada por José Bonifácio de Andrada e Silva, informa que, aproximando-se de Itu, indo de Parnaíba, "todas as antigas matas foram barbaramente destruídas com o fogo e machado e esta falta acabou em muitos pontos com os engenhos". Contudo, a presença de rios, córregos e riachos, utilizados para movimentar moendas, resfriar o alambique e servir de aguada para os animais necessários aos engenhos, garantiam a permanencia do estabelecimento. E foi, justamente este aspecto, que fez das terras do bairro Pirahy, uma localidade bastante comercializada durante o final do século XVIII e todo o século XIX. 

Suely Queiroz (1968), ao se referir à presença de engenhos movidos à água, afirma que aqueles por animais superaram em número. Chega a esta conclusão, devido às poucas informações que havia encontrado. Contudo, inventários dos séculos XVIII e XIX, de Itu, demonstram que a quase totalidade dos engenhos de açúcar existentes no bairro do Pirahy era movida à água, sendo que apenas num deles encontra-se referência à presença de trapiche (movido por junta de bois). 

Evidência neste sentido é a existência, na Fazenda Capoava, ex-Japão, de um canal aberto através de rochas e terrenos, que movimentava uma roda d'água, possivelmente utilizada para o movimento das moendas, sistema que, nas décadas de 1910-20, foi amplamente utilizado para impulsionar uma máquina, marca Frederichi, selecionadora de grãos de café. É do período do açúcar, a existência na área rural em Itu, de residências da classe dominante construídas de taipa de pilão, denominadas por Júlio Katinsky (1972), "casas de tradição bandeirista", diferenciando-se daquelas estudadas por Luiz Saia (1955), Mirim, Tatuapé, Morrinhos, Jabaquara, Butantã, Caxingui, Mandu, Padre Inácio, Santo Antonio (o mais puro exemplar de casa bandeirista), Querubim, São Romão e Santana do Parnaíba, que são as casas banderistas propriamente ditas (expressão primeiramente utilizada por Luis Saía), construídas entre 1611-1727, dentro do período bandeirista, da busca do ouro e índios (Katinsky, 1972: 89). 

Carlos Lemos (1999: 127-28), também analisa estas casas procurando identificar as influências mineiras que ali se apresentam. Afirma que mineiros não passsaram pela zona ituana, "mas aquela região mandou muito aventureiros às Minas, e grande parte deles voltou trazendo algum dinheiro e novidades". Classifica as casas ituanas pela inclusão de mineirices, "trazidas na bagagem de paulistas retornando à pátria, como no caso das janelas recurvadas da casa do engenho do Rosário, dos Pachecos de Itu"

Em Itu, foram arroladas por Júlio Katinsky (1972), as casas das Fazendas Pau d'Alho, Pirapetingui, Vassoural, Rosário, Nossa Senhora Conceição, Ponte e Japão (dividida em duas propriedades, em 2000, com as denominações Jequitibá e Capoava, localizando-se nesta última o exemplar da casa de tradição bandeirista referida por Katinsky). 

Para a construção destas casas, segundo Katinsky (1971: 125), "com poucos recursos contava o arquiteto desconhecido"... mestre taipeiro e o carpinteiro, sendo este o profissional mais importante, pois sua intervenção se fazia em todas as etapas da obra, desde as formas (taipas) para as paredes, esquadrias e folhas das portas e janelas e armadura do telhado". 

Das casas de tradição bandeirista arroladas por Katinsky, apenas a da Fazenda Capoava, ex-Japão, está localizada no bairro Pirahy (denominado, atualmente, Pedregulho). 

A casa da Fazenda Capoava apresenta a planta semelhante às outras casas de tradição bandeirista de Itu. Como analisa Katinsky (1972: 87), com "três lanços, sendo o central ocupado pela sala maior e pela varanda. À direita conserva capela"...."Entretando, muitas transformações posteriores são visíveis. A sala contígua à varanda apresenta-se forrada, o quarto de "hóspedes" foi unido a outro compartimento, sendo hoje [1972] utilizado como sala de visitas./ Na mesma prumada da capela, foram construídas habitações (?) mais modestas de pau-a-pique, que deverão ser estudadas posteriormente"

A valorização da arte oriental, em particular a japonesa, nos fins do século XIX, início do XX, pode nos dar pistas para a mudança da denominação de Capoava para Japão, em 1881, dada pelos novos proprietários, João Guilherme da Costa Aguiar e Virgílio Augusto de Araújo. 

A partir de 1850, dada a valorização do café, muitas fazendas e fazendeiros de Itu e, principalmente, os do "Oeste Paulista", como os de Campinas, passaram a se dedicar a esta cultura. Neste período, alguns ituanos passaram a investir capital também em outras regiões do estado, como Rio Claro e Jaú, transferindo para aquelas regiões parte da população. Contudo, na década seguinte, a guerra civil norte-americana, ao gerar dificuldades para o abastecimento de algodão às fábricas inglesas, possibilitou que muitos fazendeiros ituanos, incentivados por ingleses, passassem a se dedicar a esta agricultura, o que favoreceu, também, o aparecimento de um grande número de fábricas de tecidos na localidade e região.

Alice Canabrava (1984), ao analisar a presença do algodão na Província de São Paulo, destaca as atividades do ituano Carlos Ilidro da Silva, proprietário da Fazenda São Carlos, como intermediário entre os interesses da Associação para o suprimento do algodão de Manchester e fazendeiros ituanos. 

Desta forma, enquanto o café fazia a fortuna de um grande número de proprietários de terras do Oeste Paulista, o algodão e o café ofereciam estes mesmos recursos aos ituanos. Na segunda metade do século XIX, a região contou com a presença da ferrovia - estrada de ferro ituana - ligando Itu ao porto de Santos através da São Paulo Railway (Santos-Jundiaí) e as grandes propriedades do bairro Pirahy, existentes na época do açúcar, apresentavam-se agora totalmente fracionadas e muitas delas transformadas em propriedades cafeeiras. 

A paisagem novamente se modifica. O Bairro recebe duas denominações distintas: Pirahy e Pedregulho. Casas, agora características da época do café, começam a ser construídas na área, como as sedes das fazendas Floresta e Cana-verde, vizinhas à Capoava, que também se transforma em fazenda de café, conservando, porém, sua sede bandeirista. 

A concentração do café, primeiramente, nesta região, provavelmente teve sua escolha, segundo a análise de Maria R. Sader (1970: 13) pela característica dos solos, "podzólizados com cascalhos, pouco profundos, moderadamente drenados, oriundos da decomposição do granito", indicados para a cultura de café, milho, videira e cana-de-açúcar. Posteriormente, foram ocupadas as áreas da depressão periférica para esse tipo de cultura. 

Esta mesma autora (1970: 13), contudo, faz uma observação importante acerca da escolha da região para o café. Afirma que "a ocupação agricola de Itu, não contraria a vocação de seus solos. Mas, se de um lado a zona do cristalino não apresenta condições pedológicas desfavoráveis, o mesmo não ocorre com a topografia, pois os terrenos, montanhosos com afloramento de granito em grande quantidade, formam verdadeiros "mares de pedra", o que dificulta enormemente o trabalho agrícola; além disso são solos susceptíveis ao desgaste, pela erosão e lixiviação". 

Vale observar que mesmo com a intensificação da cultura cafeeira, a cana-de-acúcar permanece como uma cultura importante, não desaparecendo do cenário rural. Em 1888, o Dr. Francisco Emydio da Fonseca Pacheco, proprietário da Fazenda Floresta e membro da Convenção Republicana de 1873, aparece como o maior produtor de café de Itu. 

Contudo, há propriedades do Bairro Pirahy, em que a ruptura com a antiga cultura foi radical. Entre elas, Floresta, Piraí, Concórdia, Pinhal e Japão. O proprietário desta última, em 1881, Virgilio Augusto de Araújo, coloca à venda, através de anúncio na Imprensa Ytuana, todos os utensílios e instrumentos utilizados para a fabricação do açúcar, e a mão-de-obra permanece baseada na escravidão. 

Em 1885, os escravos da Fazenda Japão, aparecem arrolados com seus respectivos números de matrícula, exigência que veio com a Lei Rio Branco (Lei do Ventre Livre), de 1871, que criou um Fundo de Emancipação para a libertação. 

A escravidão permanece no trabalho das fazendas até 1889. Das análises feitas em inventários de 1870-1888, por Maria Regina Sader (1970: 58), a autora afirma que em apenas um deles, o de Francisco Correa Pacheco, proprietário da fazenda Concórdia, em 1887, constam referências a pagamentos de "salários de trabalhadores, e consertos de casas para colonos". Contudo, outras propriedades daquele bairro haviam inserido o trabalho imigrante em suas propriedades, como a fazenda Floresta, que em 1875, muito antes do período da grande imigração, já contava com colonos italianos. Os que concederam liberdade a seus escravos, entretanto, condicionaram os libertos a prestar serviços por anos e décadas. 

Exemplo disto é a atitude de Bento Dias de Almeida Prado, Barão do Itaim, que se pode conhecer através de publicação no jornal Imprensa Ytuana em que, em 1884, declarava ter concedido liberdade a seus 105 escravos com a condição de prestarem serviços ainda por dois anos. 

Casas de colonos passam a compor a paisagem destas fazendas. Num primeiro momento utilizando antigas construções de taipa-de-pilão ou outras fabricadas de madeiras, das primeiras décadas do século XX e, posteriormente, de tijolos. Mudam os proprietários daquelas terras, algumas delas passando às mãos de antigos colonos, como no caso da Fazenda Concórdia daquele bairro. 

Até a década de 1950, algumas dessas fazendas ainda produziam café para o mercado mas algumas delas passaram a se dedicar à pecuária, caso da fazenda Japão/Capoava. Atualmente, fazendas do bairro Pirahy, como a Pirahy, Concórdia, Capoava, Cana Verde, estão investindo numa outra alternativa de mercado: o turismo rural. 



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