texto escrito por José Júlio Finatti em 2006
No início dos anos 70 o Primavera disputava a Liga Amadora local quando uma ala jovem e dissidente da diretoria que se encontrava no poder, resolveu se unir e concorrer à eleição para composição do Conselho Deliberativo, onde a maioria tinha ideias retrógradas e se arrepiavam só de ouvir falar em voltar aos campeonatos profissionais da terceira divisão da Federação Paulista de Profissionais.
Havíamos recebido o convite da própria federação e lançamo-nos à luta. Paulatinamente fomos renovando o Conselho injetando-lhe sangue novo, a tal ponto, que logo contávamos com a maioria no mesmo, com direito a decisões próprias e por incrível que pareça, a maioria deles uniram-se a nós, nessa empreitada, que a princípio parecia tão árdua.
Resolvemos concorrer as eleições, já com apoio total de toda a diretoria e fomos eleitos, com a total maioria dos votos.
Fomos eleitos, o Sr. José Éder de Oliveira como presidente e eu como vice-presidente. Formamos uma equipe idônea que foi de encontro às indústrias locais pedindo a sua ajuda, com o que pudessem contribuir, pois a despesa seria muito grande.
Esse patrocínio foi fundamental, pois pudemos adequar o nosso estádio construindo aquela arquibancada coberta, que existe até hoje com acomodação aos atletas que viessem de fora.
Resolvemos de comum acordo patrocinar um campeonato amador local, que nos rendeu muitos frutos, pois através dele montamos um time respeitável, não a ponto ainda de ganharmos o campeonato, mas já adquirindo experiência que seria fundamental para as disputas futuras.
No campeonato seguinte já com vistas voltadas a horizontes mais amplos, e com o apoio quase que total de todos, começamos a reforçar o time, com jogadores locais e de outros oriundos de outras cidades, principalmente da capital, e nesse mister, foi de fundamental importância a ajuda do Sr. Hélio Milani que possuía livre acesso à Federação, bem como alguns times da primeira divisão.
Esses atletas começaram a chegar com muita festa de toda torcida e diretoria, vamos citar alguns deles:
Alemão: zagueiro raçudo e sem medo de divididas.
Marcos Jacaré: ponta direita, de Santos.
Tonho: ponta esquerda da Várzea Paulistana.
Airton: centro-avante de São Paulo.
Ricardo Dourado: também paulistano.
Luquinha: “o rei da Vila Havaí” e muitos outros que chamariam a atenção dos torcedores locais, atraindo-os aos jogos - tanto locais - como fora de Indaiatuba.
Quando os jogos eram aqui, reuníamo-nos por volta das 9:00 às 10:00 em um grande contingente de torcedores e seguíamos em carros, caminhonetes e caminhões. Fazíamos uma carreata acompanhada de muito foguetório e com a tradicional charanga, acomodada em um ônibus, cortado ao meio como se fosse uma barcaça. Isso uma genial invenção dos irmãos Wolf, que chamava muito a atenção por onde passava, com Clovis Wolf na direção.
Outro expediente usado por nós para chamar mais torcedores aos jogos locais, era colocar na preliminar dois times locais e de rivalidade no nível de bairros. Isso sempre proporcionava um acréscimo à renda.
E assim com o entusiasmo aumentando dia a dia, fomos passando pelas diversas fases do campeonato e chegando as finais da 3ª divisão.
Nosso adversário seria A.E. Laranjalense, de Laranjal Paulista.
Aqui cabe uma pausa.
Essa mesma equipe, durante o transcorrer do campeonato, havia nos imposto uma derrota na sua cidade, onde ocorreram cenas lamentáveis, com agressões a torcedores nossos, inclusive mulheres e crianças que ousaram acompanhar o time nessa ocasião, sem esperar tamanha selvageria.
O primeiro jogo das finais foi marcado para Indaiatuba.
Dias antes recebi um telefonema de um diretor da Laranjalense, que havia sido meu colega de colegial em Tietê, o Sr. Nivaldo Tumolo.
Indagou-me ele como se encontrava o ambiente em nossa cidade, com relação ao jogo.
Fui bem claro com ele, dizendo-lhe que os jogadores e diretores teriam toda a proteção de nossa parte, inclusive com escolta policial, porém quanto aos torcedores, se por acaso viessem, não poderíamos prometer o mesmo, pois seria difícil deter a torcida devido a revolta pelos fatos ocorridos em Laranjal.
E assim foi feito, eles vieram sem torcida alguma e perderam o primeiro jogo.
A disputa era melhor de 3 pontos e portando o próximo jogo seria na casa do adversário.
Durante a semana,que antecedia o 2° jogo, a cidade começou a se preparar.
Ônibus foram fretados e muitos outros cedidos pela Prefeitura, firmas e mesmo políticos que se preparavam para as eleições municipais.
Eu como possuía família em Tietê, que é vizinha a Laranjal, mais ou menos 30 minutos distante, fui pra lá no sábado.
No domingo após o almoço, eu e meus dois cunhados fomos para Laranjal.
Lá chegando, como faltava quase uma hora para o jogo, fomos até um bar no centro, que era o ponto de reunião da torcida local, muito próximo ao estádio.
Comecei a prestar atenção à conversa dos presentes, e um deles parecia ser o mais fanático, dizia em altos brados que a torcida do Primavera não teria peito de ir até Laranjal.
Como que contrariando a sua teoria, ao longe começaram timidamente estourar uns poucos rojões, mas que àquela distância não nos encorajava a prever o que aconteceria minutos depois.
Não se havia passado uns 10 minutos quando o fragor dos fogos foi aumentando e nisso já ouvíamos alguns gritos mais próximos o já famoso slogan: “1, 2, 3, 4, 5 mil queremos que Laranjal vá...”.
Nisso chega um moleque de uns dez ou onze anos mais ou menos, com os olhos arregalados e um tanto assustado dizendo:
“_ Eles estão invadindo nossa cidade!”
Saímos à porta do bar e lá ao longe divisamos uma caravana enorme de veículos e principalmente ônibus, cujos ocupantes vinham com metade do corpo para fora, gritando impropérios e provocando a todos quanto iam encontrando pelo caminho.
Aquele mesmo torcedor que minutos antes tinha dito que a torcida do Primavera não teria peito de ir a Laranjal comentou: “É hoje nós vamos ter de calar a boca em nosso próprio campo, pois corremos o risco de apanhar aqui mesmo.”
E essa mesma torcida foi adentrando ao estádio local como uma nuvem de gafanhotos, ocupando todos os espaços disponíveis, deixando aos locais apenas algumas vagas em pontos piores do estádio.
E essa torcida vibrante deu forças ao Primavera de ganhar lá mesmo, coisa que alguns dias antes nem mesmo o mais otimista dos torcedores acreditaria que ocorresse.
Que saudades eu sinto dessa época em que o Primavera era apoiado pela grande maioria da cidade, quando hoje é execrado, talvez por péssimas administrações que se seguiram e levaram o clube a descredibilidade quase total perante a população.
Fica a pergunta no ar: quem sabe os futuros políticos, alicerçados na convicção de que novas conquistas possam surgir que elevem o nome do clube e em conseqüência disso, de nossa cidade, voltem a apoiar o E.C. Primavera e ele saia da obscuridade e volte a fulgir no cenário desportivo, no lugar onde sempre mereceu - e de onde nunca deveria ter saído.
E se me orgulho de dizer que sou indaiatubano, mesmo aqui não tendo nascido, nesse dia, meu orgulho seria ainda maior, pois o clube e povo unidos teriam galgado mais um degrau em direção à glória.
Pensem bem indaiatubanos, e não percam a oportunidade de colaborar com essa empreitada grandiosa, porém não impossível, de vermos grandes clubes, adentrando o gramado do “Gigante da Vila Industrial”, trazendo de volta aquele orgulho, que fará unir as torcidas dos outros clubes locais, em torno de um objetivo único, ou seja: elevar o nome do clube, e da cidade. A conquista de resultados positivos pode aumentar em nós a vontade de darmos nossa colaboração, por pequena que seja, de fazer de Indaiatuba uma força maior, no cenário regional, pois em muitos setores mesmo que não seja do esporte, de há muito já ultrapassamos os limites possíveis e imagináveis.
E que Deus esteja conosco, iluminando-nos e indicando caminhos em direção àquilo que Indaiatuba merece.
Realmente hoje o Primavera não tem torcida. Concordo com José Júlio Finatti, hoje o time é execrado por alguns que sai de suas casas para torcer contra. O Primavera precisa de união para voltar a crescer. Vide a boa campanha que faz hoje na Copa São Paulo de Júnior. Vou colocar este texto no meu blog, será que poss?
ResponderExcluirAguardo!!!
Muito legal, pena que hoje o Primavera não tenha torcida. Reflete bem o que vivemos hoje e ontem. Como a cidade tem muito migrantes, a maioria não tem identificação com o time. Pode ser que a bela campanha na Copinha mude este panorama, quem sabe?
ResponderExcluirEliana, posso reproduzir este texto no meu blog?
abç, Rodrigo
Oi Rodrigo!
ResponderExcluirPode reproduzir sim.
Quem sabe se a gente continuar a falar da História e das conquistas do nosso querido Primavera a gente não chama a atenção de algum político realmente comprometido...
A fonte original do texto é o livro "Um Olhar sobre Indaiatuba", publicado em 2006 pela Fundação Pró-Memória de Indaiatuba. Abraços.