Texto originalmente publicado na Tribuna de Indaiá
O ano era 1949
quando o italiano Santoro Mirone, ex-oficial da Marinha italiana, fincou raízes
em Indaiatuba. O imigrante chegou aqui com a esposa Santina e três filhos
pequenos, e a família se estabeleceu na Fazenda Pimenta, área que ele havia
adquirido no ano anterior. Ali existiu, por 25 anos, a fábrica de óleo de
amendoim comestível Aburá. Hoje, o prédio está desativado, porém, junto à
igreja construída ao lado, contribui para um cenário bucólico, ideal para
amantes da fotografia e de belas paisagens.
Segundo Giuseppe
Mirone, filho de Santoro e Santina, o pai estava desgostoso com a situação na
Itália no final da 2ª Guerra Mundial. "Ele atuou na guerra, e após ver o
país perder o conflito, e diante da possibilidade do comunismo, resolveu deixar
o país", conta. "Em 1948, ele veio passear no Brasil, pois tinha um
primo em São Paulo, que havia montado uma pequena fábrica de fornos elétricos.
Meu pai, então, resolveu visitar a região, da qual gostou muito."
Os Mirone
empreenderam a viagem ao Brasil de navio, juntamente com outras 30 famílias. Na
ocasião, a Fazenda Pimenta estava à venda. "O local estava completamente
abandonado; ele comprou e deu o sinal com o dinheiro que havia sobrado da
viagem", revela Giuseppe. "No ano de 1949 ele completou o pagamento e
nos mudamos definitivamente."
A ideia de montar a
fábrica de óleo vegetal comestível já existia nos tempos da Itália, conforme
relata o proprietário da fazenda. "Ele comprou uma fábrica que estava
quase parada, na cidade de Catânia, no sul italiano, e trouxe todo o
equipamento para cá. Então, a fábrica foi construída e começou a operar no
início dos anos 50, quando foi constituída a empresa Siap - Sociedade de
Industrialização Agrícola Pimenta", diz Giuseppe.
Sobre o nome do
óleo, Aburá, o proprietário explica que tem relação com o contato de Santoro
com os japoneses. "Ele tinha vários negócios com os japoneses,
principalmente de hortaliças e tomates, e aburá significa óleo na língua
japonesa", explica.
Negócios
A fabricação do
óleo Aburá foi encerrada em 1975. "O motivo do final das atividades foi
que, na época, o cultivo de amendoim não estava dando certo na região. A
produtividade era baixa, tinha problemas sérios de doenças; então, a falta de
matéria prima inviabilizou a produção - ele teria de se mudar para o noroeste
do Estado como Marília, Birigui etc. Mas, ele gostava muito daqui e não quis
sair", simplifica Giuseppe.
Todavia, a família
Mirone apostou em outros negócios. "Por um bom tempo fomos um dos
principais fornecedores de tomates ao Ceasa. Temos ainda a pecuária, que segue
em menor proporção. Nossa tradição é rural, e temos também o cultivo de cana em
parceria com usina, e o plantio de batatas em determinados períodos do ano, já
que é uma produção muito arriscada, porque a semente é cara, e quando vai mal o
prejuízo é muito grande", assevera o proprietário da Fazenda.
Promessa
A área da fazenda
abriga também a igreja de São José, construída ao lado do prédio da antiga
fábrica, nos anos 60. "Meu pai tinha a ideia de fazer a igreja e, na
Itália, conseguiu uma planta com o padre local. Porém, em certo período ele
ficou doente, com dificuldade de andar e muitas dores. Foi a diversos médicos,
mas não conseguiu resolver. Então, soube de um especialista alemão fora do
Brasil, e só então ficou curado. E a minha mãe cobrou dele a promessa de
construir a igreja", resume.
No local há também
um barco. Os descendentes contam que Santoro o construiu com a intenção de
navegar no rio São Francisco, já que havia comprado uma área lá, ao norte de
Minas Gerais. "Ele construiu, mas o barco nunca saiu daqui", brinca
Giuseppe.
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