segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Reflexões sobre uma cidade que desaparece aos poucos

texto de Marcos Kimura
originalmente publicado no jornal Tribuna de Indaiá de 10/09/2011


Quando o antigo prédio da Prefeitura foi vendido para virar uma loja comercial, diziam que ele não tinha valor histórico porque tinha apenas algumas décadas de existência. Bom, com esse raciocínio, nada chegará a ser centenário em Indaiatuba, já que tudo vai para o chão sem nenhuma cerimônia, em nome de um suposto progresso.

A última vítima foi o obelisco da rotatória do “Telhadão”, de autoria daquele que talvez seja nosso maior artista plástico, José Paulo Ifanger. A Prefeitura enviou por escrito a informação de que “Solicitou uma avaliação por parte da Fundação Pró-Memória, que concluiu que a remoção e transporte do monumento da rotatória da Avenida Conceição para outro local na cidade despenderia de alto custo, por isso não foi feito”. O presidente da fundação, Antônio Reginaldo Geiss, se sabia disso, amoitou para a imprensa e para os conselheiros. Já não bastasse os imóveis particulares de interesse histórico serem derrubados ou deformados por falta de qualquer regularização, agora os próprios bens do patromônio público desaparecem sem que haja qualquer discussão com a sociedade. E a entidade que supostamente deveria centralizar esse tipo de discussão – já que mantém um Conselho de Preservação – deu luz verde. E se fosse um dos marcos do Rotary ou do Lions Clube que ornamentam algumas praças e rotatórias, a atitude seria a mesma?

Outro obelisco da cidade viveu uma epopeia, descrita num opúsculo do arquiteto Fernando Martins Gomes, que sequer era daqui, mas se interessou pela história. Em 1930, o prefeito Major Alfredo Camargo da Fonseca encomendou o Hino Indaiatubano para comemorar o centenário da cidade e também mandou erguer um monumento comemorativo na Praça da Matriz. Depois que ele deixou o poder, seu inimigo político eleito prefeito, Scyllas Leite Sampaio, mandou retirar o obelisco, que foi levado para um depósito e depois teve diversos destinos ao longo dos anos, até ser recolocado no seu lugar original. A placa comemorativa, recuperada pelo próprio presidente da Fundação Pró-Memória, Antônio Reginaldo Geiss, foi recolocada no monumento. Sem seu pedestal original e com uma placa adicional que marca a reforma da Praça Leonor Barros Camargo pela administração Reinaldo Nogueira, não é tão imponente quando de sua inauguração e virou monumento multiuso. Ainda assim, o velho bloco de granito está lá, ao contrário da obra de José Paulo Ifanger, erguida pelo então prefeito José Carlos Tonin para celebrar a inauguraçãoda Avenida Conceição, destruída para sempre.

Quando a Fundação Pró-Memória completou 10 anos, houve celebração na Sala Acrísio de Camargo, na qual o prefeito Reinaldo Nogueria, na época em seu segundo mandato, discursou. Ele falou da saudade que tinha dos velhos prédios do entorno da Praça da Candelária, e que tinham desaparecido. Pensei: Peraí! Quase todos tinham ido abaixo durante a administração dele! Então porque não tomou nenhuma atitude? Ah, a administração pública não tem instrumentos para impedir a demolição de imóveis particulares. Mas também não os tem para reprimir invasões de terrenos privados, mas o faz com rapidez exemplar. Ou seja, é uma questão de vontade política.

Na vizinha Campinas, a demolição do Teatro Municipal por conta da ampliação da Avenida Francisco Glicério gera debates apaixonados até hoje. Muitos contestam o laudo da prefeitura que alegou falta de condições do prédio de resistir às obras do entorno, e apontam o equívoco que foi e é o Castro Mendes, que o substituiu, e atualmente se encontra em estado de reforma eterna. Aqui, tivemos um Paço Municipal, que reunia Prefeitura, Câmara Municipal e Cadeia, no meio da Praça Prudente de Moraes até os anos 60, quando os poderes Executivo e Legislativo se mudaram para a Brasilinha, como o Paço da Rua Cerqueira César foi chamado. Os dois prédios poderiam ter sido aproveitados como equipamento público, mas os mandatários da vez preferiram demolir um e vender o outro. A atual Prefeitura, erguida sob a justificativa de poder reunir toda a adminisração num só lugar, com menos de dez anos de existência já será reformada por não conseguir mais abrigar o funcionalismo público que ali trabalha. Vai dar conta dos próximos 10 anos? Orgulhoso cartão-postal do governo Reinaldo Nogueira, quem garante que, no futuro, outro prefeito não decida vendê-lo para que ele vire um shopping center? Com o que, aliás, o prédio se parece bastante.





E se fosse um desses marcos a ser demolido? A indiferença seria a mesma?

3 comentários:

  1. É Eliana. Também não consigo entender a indiferença e a falta de consideração pelo valor histórico das coisas...Só vão restar fotos e memórias que serão cada vez mais difícies de resgatar.
    Parabéns pelo post e pela crítica corajosa as instituições do "establishment"

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  2. Assim como os pés de Indaiá, que não se encontra mais nenhum na cidade!

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  3. Muito triste quando a estória de um lugar é substituída pelo egocentrismo "do mostrar serviço". Como alguns dizem: " quem vive de passado é museu"! Nem isso creio que haja! e Se houver quem sabe lá haverão relíquias fotográficas da estória desta cidade.

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