Eliana Belo Silva
Na ocasião em que Indaiatuba comemorou o aniversário de 100 anos de sua elevação como Distrito de Paz da jurisdição de Itu, em 1930, o prefeito Alfredo Camargo da Fonseca instalou o “Monolito Comemorativo ao 1º Centenário”.
As aventuras e desventuras desse nosso personagem não engrossam simplesmente uma lista de exemplos de descaso para com o patrimônio histórico indaiatubano, mas servem para demonstrar o quanto a rivalidade política pode chegar ao limite do desatino.
O monolito foi apenas um dos elementos previstos para a festança, que teve como nobre acompanhante de evento o recém-criado Hino Indaiatubano, que o prefeito - e também major - encomendou ao então - já respeitado - músico Nabor Pires Camargo especialmente para a ocasião, que por sua vez escolheu Acrísio de Camargo para escrever a letra. A encomenda foi criteriosa: o substrato de granito rosa ganhou como adorno um entalhe de pé de indaiá esculpido pelo artista campineiro Miguel Scharer.
Uma placa de bronze com as informações concernentes ao ato e mais os nomes das autoridades correligionárias completaram a obra. Se for verdade que o melhor da festa é esperar por ela, imagine o leitor como estavam ansiosos os membros da comissão dos festejos, os nobilíssimos promoters Christiano Steffen, Dr. Francisco Peixoto Sobrinho e Affonso Celso Valente!
Chegado o grande dia 9 de dezembro, após 1930 anos do nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo, a festança começou cedo, antes mesmo do crepúsculo matutino: meia hora após o sino da matriz sonorizar 4 horas da manhã, a Corporação Musical 7 de Setembro entoou a Alvorada, seguida por uma salva de 21 tiros.
Logo em seguida, por volta das seis, os cidadãos, que tão solenemente haviam sido despertados, participaram do hasteamento do pavilhão no paço municipal; às dez horas houve uma missa campal e finalmente, ao meio dia, chegou a hora da inauguração dele... (!) do nosso monolito, que erigia lustrado, (por pouco tempo, quem diria?) em um local cuidadosamente escolhido em um canteiro do largo da matriz, na praça Barão do Rio Branco, atual Praça Leonor de Barros Camargo.
A inauguração foi apoteótica: um grupo de senhoritas ensaiado pelo prof. Acylino do Amaral Gurgel cantou pela primeira vez o Hino Indaiatubano, e após discursos e novamente o hino – desta vez apenas musicalizado pela já dita Corporação, os indaiatubanos cantaram um solene Te-Déum, certamente vestidos com suas melhores roupas, quase sempre adquiridas com mascates forasteiros.
Após outros eventos com orações e discursos inflamados, o dia terminou com um baile de gala no salão do Cine Internacional, onde mãos que ardiam pelos aplausos consecutivamente doados durante o dia, agora se harmonizavam, a bailar, enquanto que, iluminado pelo inconfundível luar de Indaiatuba, majestava ele... O monolito!
Em 1934, após cerca de quase 4 anos desse dia em que a pequena Indaiatuba esteve tão engalanada para comemorar o centenário da sua fundação, o major foi substituído por ferrenho opositor que, para apagar o feito brilhante das comemorações do centenário (alguém arrisca outro motivo?) pediu à câmara para retirar o obelisco da praça.
O que se seguiu com nosso personagem foram cenas de terror, impróprias para menores, sensíveis e cardíacos. Ele foi arrancado dali sem dó, tendo nossa matriz e o povo que ia-e-vinha para a estação de trem o dia inteiro, como testemunhas. A execução terminou de forma cruel: foi amarrado em uma carroça e arrastado pelo centro, via rua Candelária até aquela ruazinha que muitos contavam ser mal assombrada, atrás do cemitério de pedras: a (extinta) Rua Ana Nery. Como disse Fernando Martins Gomes, “ _ali ficou por cerca de quatorze anos atirado à condição indigna de coisa inservível e para ser esquecido para sempre”. Mas não foi assim.
No dia 11 de abril de 1948 o obelisco foi recolocado na esquina das ruas Padre Bento Pacheco e 15 de novembro, na praça onde funciona o Colégio Randolfo Moreira Fernandes.
O reerguimento - distante do local originalmente dele - foi abençoado por uma oração feita pelo vereador Dr. Edmundo de Lima Pontes, o mesmo que, como líder da câmara, solicitou o resgate daquele “monumento ultrajado pelos rancores políticos dos opositores do major”. A imagem abaixo, publicada graças também a Fernando, mostra o evento da ressuscitação.
As aventuras e desventuras desse nosso personagem não engrossam simplesmente uma lista de exemplos de descaso para com o patrimônio histórico indaiatubano, mas servem para demonstrar o quanto a rivalidade política pode chegar ao limite do desatino.
O monolito foi apenas um dos elementos previstos para a festança, que teve como nobre acompanhante de evento o recém-criado Hino Indaiatubano, que o prefeito - e também major - encomendou ao então - já respeitado - músico Nabor Pires Camargo especialmente para a ocasião, que por sua vez escolheu Acrísio de Camargo para escrever a letra. A encomenda foi criteriosa: o substrato de granito rosa ganhou como adorno um entalhe de pé de indaiá esculpido pelo artista campineiro Miguel Scharer.
Uma placa de bronze com as informações concernentes ao ato e mais os nomes das autoridades correligionárias completaram a obra. Se for verdade que o melhor da festa é esperar por ela, imagine o leitor como estavam ansiosos os membros da comissão dos festejos, os nobilíssimos promoters Christiano Steffen, Dr. Francisco Peixoto Sobrinho e Affonso Celso Valente!
Chegado o grande dia 9 de dezembro, após 1930 anos do nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo, a festança começou cedo, antes mesmo do crepúsculo matutino: meia hora após o sino da matriz sonorizar 4 horas da manhã, a Corporação Musical 7 de Setembro entoou a Alvorada, seguida por uma salva de 21 tiros.
Logo em seguida, por volta das seis, os cidadãos, que tão solenemente haviam sido despertados, participaram do hasteamento do pavilhão no paço municipal; às dez horas houve uma missa campal e finalmente, ao meio dia, chegou a hora da inauguração dele... (!) do nosso monolito, que erigia lustrado, (por pouco tempo, quem diria?) em um local cuidadosamente escolhido em um canteiro do largo da matriz, na praça Barão do Rio Branco, atual Praça Leonor de Barros Camargo.
A inauguração foi apoteótica: um grupo de senhoritas ensaiado pelo prof. Acylino do Amaral Gurgel cantou pela primeira vez o Hino Indaiatubano, e após discursos e novamente o hino – desta vez apenas musicalizado pela já dita Corporação, os indaiatubanos cantaram um solene Te-Déum, certamente vestidos com suas melhores roupas, quase sempre adquiridas com mascates forasteiros.
Após outros eventos com orações e discursos inflamados, o dia terminou com um baile de gala no salão do Cine Internacional, onde mãos que ardiam pelos aplausos consecutivamente doados durante o dia, agora se harmonizavam, a bailar, enquanto que, iluminado pelo inconfundível luar de Indaiatuba, majestava ele... O monolito!
Em 1934, após cerca de quase 4 anos desse dia em que a pequena Indaiatuba esteve tão engalanada para comemorar o centenário da sua fundação, o major foi substituído por ferrenho opositor que, para apagar o feito brilhante das comemorações do centenário (alguém arrisca outro motivo?) pediu à câmara para retirar o obelisco da praça.
O que se seguiu com nosso personagem foram cenas de terror, impróprias para menores, sensíveis e cardíacos. Ele foi arrancado dali sem dó, tendo nossa matriz e o povo que ia-e-vinha para a estação de trem o dia inteiro, como testemunhas. A execução terminou de forma cruel: foi amarrado em uma carroça e arrastado pelo centro, via rua Candelária até aquela ruazinha que muitos contavam ser mal assombrada, atrás do cemitério de pedras: a (extinta) Rua Ana Nery. Como disse Fernando Martins Gomes, “ _ali ficou por cerca de quatorze anos atirado à condição indigna de coisa inservível e para ser esquecido para sempre”. Mas não foi assim.
No dia 11 de abril de 1948 o obelisco foi recolocado na esquina das ruas Padre Bento Pacheco e 15 de novembro, na praça onde funciona o Colégio Randolfo Moreira Fernandes.
O reerguimento - distante do local originalmente dele - foi abençoado por uma oração feita pelo vereador Dr. Edmundo de Lima Pontes, o mesmo que, como líder da câmara, solicitou o resgate daquele “monumento ultrajado pelos rancores políticos dos opositores do major”. A imagem abaixo, publicada graças também a Fernando, mostra o evento da ressuscitação.
Ali ficou o monolito até a metade da década de 1960, expondo as evidências da violência que sofrera: a placa de bronze com o nome dos políticos mostrava suas cicatrizes, feitas com toda certeza pela força de marreta e talhadeira manuseadas por funcionário ordenado pela administração municipal (quem diz que não?).
Mesmo testemunhadamente cicatrizado, nosso personagem foi vítima de novo capítulo de terror por volta de 1966 quando retiraram sua placa de bronze que pesava cerca de 30 quilos. Não, não foram moleques meliantes que se apoderaram dele para vender em ferro-velho, não! Ele foi parar... no depósito da prefeitura. Arquimedes Prandini ilustrou a indignação pública através do texto abaixo.
Foi um lamento em vão.
O obelisco “desalmado” foi retirado dali e depositado lá na presidente Vargas, onde ficava aquele depósito da prefeitura, junto com a placa, condenados ao esquecimento... Mas isso não aconteceu!
Após mais de dez anos, o então prefeito Clain Ferrari, no final da década de 1970 reutilizou a pedra cor-de-rosa e fez um monumento à bíblia na praça central da cidade, a Prudente de Moraes.
Ali, nosso obelisco mutilado passou a fazer companhia ao voluntário João dos Santos, indevidamente. Enquanto isso a placa ficou jogada, tal qual um órgão amputado. Mas até as histórias macabras podem possuir um final feliz.
Eis que após quase 30 anos, por motivos que aqui também não cabem, o senhor Antonio Reginaldo Geiss esteve no depósito e viu a peça valiosa atirada como “pronta para o fogo”.
Não hesitou.
Resgatou nossa heroína e arredou o pé dali, indo diretamente para o Casarão do Pau Preto, onde ela passou a integrar o acervo do museu.
Após a trajetória quase inglória do monolito, ele está de volta na praça da matriz! Com o esforço de Fernando, que publicou vários artigos sobre o monolito no Jornal Votura e também um livro, com adesão e auxílio (para não dizer pressão) da Fundação Pró-Memória e de vários outros cidadãos, o prefeito Reinaldo Nogueira Lopes Cruz reinstalou vossa majestade em seu local de origem no dia 9 de dezembro de 1998, no 168º aniversário da cidade.
E nas comemorações daquele dia, com certeza, o Hino de Indaiatuba foi ouvido com mais prazer pelo luar de Indaiatuba, que rapidamente reconheceu o retorno do seu querido afilhado.
Ao visitá-lo, lembremos sempre que um patrimônio sempre representa a nossa história, os nossos momentos vividos, a nossa identidade!
O obelisco “desalmado” foi retirado dali e depositado lá na presidente Vargas, onde ficava aquele depósito da prefeitura, junto com a placa, condenados ao esquecimento... Mas isso não aconteceu!
Após mais de dez anos, o então prefeito Clain Ferrari, no final da década de 1970 reutilizou a pedra cor-de-rosa e fez um monumento à bíblia na praça central da cidade, a Prudente de Moraes.
Ali, nosso obelisco mutilado passou a fazer companhia ao voluntário João dos Santos, indevidamente. Enquanto isso a placa ficou jogada, tal qual um órgão amputado. Mas até as histórias macabras podem possuir um final feliz.
Eis que após quase 30 anos, por motivos que aqui também não cabem, o senhor Antonio Reginaldo Geiss esteve no depósito e viu a peça valiosa atirada como “pronta para o fogo”.
Não hesitou.
Resgatou nossa heroína e arredou o pé dali, indo diretamente para o Casarão do Pau Preto, onde ela passou a integrar o acervo do museu.
Após a trajetória quase inglória do monolito, ele está de volta na praça da matriz! Com o esforço de Fernando, que publicou vários artigos sobre o monolito no Jornal Votura e também um livro, com adesão e auxílio (para não dizer pressão) da Fundação Pró-Memória e de vários outros cidadãos, o prefeito Reinaldo Nogueira Lopes Cruz reinstalou vossa majestade em seu local de origem no dia 9 de dezembro de 1998, no 168º aniversário da cidade.
E nas comemorações daquele dia, com certeza, o Hino de Indaiatuba foi ouvido com mais prazer pelo luar de Indaiatuba, que rapidamente reconheceu o retorno do seu querido afilhado.
Ao visitá-lo, lembremos sempre que um patrimônio sempre representa a nossa história, os nossos momentos vividos, a nossa identidade!
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(1)Fontes
GOMES, Fernando Martins, O Monolito Comemorativo do 1o. Centenário de Indaiatuba. Indaiatuba (SP), 1998.
SANNAZZARO, Sylvia T. de Camargo, O Tempo e a Gente. Indaiatuba (SP): Rumograf,1997.
(2) Leia também o livro de Scyllas Leite de Sampaio e Caio da Costa Sampaio, que narra o ponto de vista da oposição política ao major, sobre o obelisco. Indaiatuba, Sua História.
Parabéns pelo blog....vc sempre muitooo competente...sou sua admiradora!
ResponderExcluirBjo
Vera
sao de pessoas como vc que precisamos em nossa regiao... parabens
ResponderExcluirdeixo meu convite para conhecer a mais nova loja do chaveiro "AO REI" loja de acessorios, para brisas, som, alarme, insulfilm e derivados em Itupeva, venha conhecer nossos serviços e me seguir tbm.