NOTA DE ALERTA DA USP -DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
A TV Escola é um canal do Ministério da Educação que tem por objetivo formar a opinião pública e capacitar os professores do sistema educacional brasileiro em diferentes áreas.
Em recente acordo com a empresa LHT HIGGS, a TV Escola iniciou a transmissão da série “Brasil: a última cruzada”. São seis episódios supostamente dedicados à História do Brasil, que foram inicialmente publicados na plataforma do YouTube entre 2017 e 2018.
A série é, de fato, uma peça de propaganda ideológica de um grupo extremista.
Profissionais sem trabalhos de pesquisa e sem formação específica em História dedicam-se a construir uma narrativa fantasiosa, equivocada e preconceituosa do processo de colonização do Brasil. É uma produção alheia aos métodos avalizados pelas instituições e profissionais que têm trabalhado com afinco durante muitos anos.
O objetivo da série é defender uma posição política de extrema direita, alinhada com o pensamento do atual grupo que exerce a Presidência da República e sua guerra particular contra a cultura e o conhecimento científico.
Não se trata de uma série com “visão ideológica de direita e conservadora”, como considerou a Folha de São Paulo (09.12.2019). Efetivamente, a série apresenta uma narrativa negacionista, sem lastro em pesquisas historiográficas reconhecidas pela comunidade científica, produto - como afirmou o historiador Pierre Vidal-Naquet no livro Os assassinos da memória - de uma seita “minúscula mas obstinada”, que “dedica todos os seus esforços e emprega todos os seus meios… para destruir, não a verdade que é indestrutível, mas a tomada de consciência da verdade”.
Para agravar ainda a situação de desmonte das instituições culturais, no momento em que redigimos esta Nota recebemos a lamentável notícia de que o Ministério da Educação pretende não renovar o contrato de gestão que permite a TV Escola funcionar.
Docentes, pesquisadores e alunos do Departamento de História da Universidade de São Paulo manifestam sua indignação com a autorização para que versões mentirosas e sem nenhum amparo na ampla e responsável produção historiográfica nacional e internacional sejam transmitidas em um canal voltado para a formação de docentes, mas também da população em geral.
Profa. Dra. Ana Paula Torres Megiani
Profa. Dra. Antonia Terra de Calazans Fernandes
Prof. Dr. Carlos Zeron
Prof. Dr. Carlos Roberto F. Nogueira
Prof. Dr. Carlos de Almeida Prado Bacellar
Prof. Dr. Daniel Strum
Prof. Dr. Eduardo Natalino dos Santos
Prof. Dr. Elias Thomé Saliba
Prof. Dr. Everaldo de Oliveira Andrade
Prof. Dr. Francisco Alambert
Prof. Dr. Francisco Carlos Palomanes Martinho
Profa. Dra. Gabriela Pellegrino Soares
Prof. Dr. Horácio Gutiérrez
Profa. Dra. Iris Kantor
Prof. Dr. Jorge Luis da Silva Grespan
Prof. Dr. José Antonio Vasconcelos
Prof. Dr. José Geraldo Vinci
Profa. Dra. Leila Leite Hernandez
Prof. Dr. Lincoln Secco
Prof. Dr. Luiz Bernando Pericás
Prof. Dr. Marcelo Rede
Prof. Dr. Marcos Napolitano
Profa. Dra. Marina de Mello e Souza
Prof. Dr. Marcos Silva
Profa. Dr. Maria Cristina Pereira
Profa. Dra. Maria Cristina Cortez Wissenbach
Profa. Dra. Maria Helena Pereira Toledo Machado
Profa. Dra. Maria Helena Rolim Capelato
Profa. Dra. Marcia Regina Barros da Silva
Profa. Dra. Mary Anne Junqueira
Profa. Dra. Miriam Dolhnikoff
Prof. Dr. Osvaldo Coggiola
Prof. Dr. Ozias Paese Neves
Prof. Dr. Pedro Puntoni
Prof. Dr. Rafael de Bivar Marquese
Prof.a. Dra. Raquel Glezer
Prof. Dr. Sean Purdy
Profa. Dra. Stella Maris Scatena Franco
Ulisses Franco (representante discente)
Guilherme P. C. Arruda (representante discente)
Daniel Freitas Porto (representante discente)
Diretório Central dos Estudantes Livre da USP "Alexandre Vannuchi Leme" (DCE-Livre da USP)
São Paulo, 13 de dezembro de 2019
Profa. Dra. Ana Paula T. Magalhães Tacconi
Filipe Petres (representante discente)
Centro Acadêmico de História da USP "Luiz Eduardo Merlino" (CAHIS-USP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário