A arquitetura proporciona alguns elementos formais que são autoexplicativos, ou seja, não são necessárias grandes instruções para entender seu funcionamento, um destes exemplos é o PORTAL. Ao passarmos por um portal, sabemos que há símbolos envolvidos, que chegamos a algum lugar ou estamos em uma direção específica, por exemplo.
Grande parte do que tem se perdido de patrimônios históricos, refere-se justamente a estes símbolos que representavam algo importante, seja a hierarquia de alguma instituição sobre o espaço urbano, ou simplesmente a correta utilização de um edifício ou local; o que, hoje, não faz tanto sentido como antes. Não fazer mais sentido para o usuário, pode ser o início da perda da importância, do simbolismo e do patrimônio em si.
Os portais são alguns destes elementos em desuso, eles indicavam pontos de acessos, limites de jurisdição ou responsabilidade, importância do local ou a quem pertenceria; enfim eram marcos que contam uma história.
Quando se observa as qualidades estéticas de um portal, também é possível entender a época em que foi edificados, qual ou quais conceitos que representa e também o requinte de sua execução, o que indica também a importância política ou econômica do lugar: se vanguardista, conservador ou vulgar.
Dos portais da ilustração, dois deles já foram demolidos, o do Campo do Cotonifício Indaiatuba S.A., mais conhecido como Campo do C.I.S.A. e o do antigo pátio da Prefeitura de Indaiatuba, demolido para a construção da antiga rodoviária, atual Ponto Cidadão.
O portal do antigo Pátio de Obras foi magnífico, composto por um arco cujo INTRADORSO é pleno e o EXTRADORSO é abatido; é composição tão sofisticada que não me arrisco afirmar que houve importante autoria envolvida, possivelmente dentro da onda de benfeitorias Leonorinas advindas do patrocínio do casal Oliveira Camargo entre as décadas de 20 e 40 do Séc. XX, e que utilizaram muito esta linguagem eclética. O local foi urbanizado nesta mesma época, e teria sido, por exemplo, pátio de obras da instalação da rede de água do SAAE, feita no final da década de 30, conhecidamente patrocinada pelo casal, notadamente D. Leonor de Barros Camargo, uma vez que o Sr. Augusto já estava incapacitado.
Outros dois portais da ilustração estão atualmente muito desfigurados e não possuem mais a imponência ou referência do auge de suas existências. O portal principal do jardim do Hospital Augusto de Oliveira Camargo, que é bem tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal, indicava o acesso ao conjunto hospitalar com toda sua altivez e grande importância na hierarquia da cidade.
Esse portal marcava a cota mais baixa e eixo, entre a porta da igreja da Candelária, e o alpendre de entrada do Hospital, que estão nivelados e alinhados. Fora projetado pelo maior arquiteto brasileiro do ecletismo, Ramos de Azevedo em linguagem neocolonial. De sua linda cobertura em telhas coloniais ajustadas em inclinação côncava, ficaram somente os globos dos coruchéis que marcavam a posição dos pilares.
Outro portal que teve grande importância no desenho da cidade, foi o do Campo do XV de Novembro, que marcava o início da cidade, e seu ponto de entrada, localizado do outro lado da Caixa d’água. A avenida Presidente Vargas era a entrada da cidade nas primeiras décadas do séc. XX tendo iniciado sua urbanização na década de 40. Este portal em linguagem modernista, é de enorme vanguarda para a arquitetura da época em que foi edificado.
O único portal que se apresenta relativamente preservado, é o do campo do Esporte Clube Primavera, voltado para a rua 24 de maio, poucos metros à frente do portal do XV - indicando que esta rua e local já foram o limite do perímetro urbano de Indaiatuba em tempos passados.
As histórias contadas pela cidade através de sua arquitetura, são importantes ferramentas para a preservação de seu Patrimônio.
Deixar de contá-las é sentenciar o Patrimônio ao esquecimento, deterioração e consequente perda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário