segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Presbiterianos em Indaiatuba

 texto de Martha Andrade Barbosa Marinho


A presença dos presbiterianos no município de indaiatuba está próximo a completar um século. Segundo informações registradas nos livros de atas da Igreja Presbiteriana, hoje localizada na rua Bernardino de Campos, 644, e pelos depoimentos de antigos membros da Igreja, alguns já falecidos, o presbiterianismo iniciou-se nas terras dos indaiás em dois núcleos, um na zona rual e outro na cidade, em 1911.

Em casa da senhora Pedrina Soares Wolf, convertida e interessada em propagar a sua fé eram realizados cultos. Na casa simples de Mato Dentro acomodavam-se vizinhos, parentes e amigos para os cultos de evangelização, com o apoio de membros da congregação de Monte-Mor e dirigidos por missionários da West Brasil Mission. As reuniões de Mato Dentro tornaram-se concorridas.

Na cidade, há registro de um culto em 20 de agosto de 1911 realizado na residência do Senhor Asprígio Alves Ferreira com a presença do Reverendo James Porter Smith e o Benedito Gregório da Silva, um leigo que se tornou pregador, e que continuou a visitar o pequeno grupo que ali se reunia. Posteriormente os cultos passaram aser realizados na rua Pedro de Toledo, casa de Isabel Sauer, que em 4 de novembro de 1912 doou um terreno para a construção de um templo presbiteriano.

Em Mato Dentro, o núcleo presbiteriano cresceu com a participação da família Stahl, que também realizava cultos em sua casa. Eram reuniões alegres com leitura da Bíblia, orações, mensagens evangelísticas e de afirmação de fé. Os dois núcleos desenvolveram-se graças ao trabalho de visitação e convites dos “crentes”, assim eles eram conhecidos. Sempre traziam algum convidado novo para suas reuniões. Estes eram conquistados pela amizade e animação dos convertidos.

A novidade na época era a oportunidade de participação efetiva de todos os fiéis nas reuniões. Eles eram convidados à leitura bíblica responsiva, a dirigir orações individuais e espôntaneas e ao louvor através de cânticos dos hinos ensinados pelos dirigentes. O pregador, pastor ou leigo pregava a palavra, mas os cânticos reuniam todos, homens, mulheres e crianças que expressavam _ como ainda expressam _ seus sentimentos através de uma letra mais pessoal, emotiva, de apelo ou exaltação. Essas canções surgiram principalmente das grandes campanhas evangelísticas do século XIX nos Estados Unidos e Inglaterra, e foram trazidas pelos missionários enviados ao Brasil ainda no período Imperial.

Outro tipo de música sacra utilizada pelos dirigentes tem origem no coral alemão, que surgiu depois da Reforma. É um tipo de música bastante simples e solene, contendo estrofes e foram originalmente escritas em alemão. Os corais formam uma quantidade infinita de música sacra, abrangendo quase todos os assuntos de acordo com o calendário Cristão. Muitos dos corais foram armonizados por J. Sebastian Bach e incluidos em suas cantatas, paixões, oratórios e préludios para orgão. A pequena comunidade de Indaiatuba também aprendeu a cantar muitos hinos que hoje fazem parte de hinários usados pelas igrejas presbiterianas.

Foi grande a contribuição de Sarah P Kalley, esposa do médico Robert Reid Kalley (1808 – 1888). Foi ela a tradutorra de grande parte dos hinos sacros que compõem a primeira edição dos “Salmos e Hinos” que data de 1861, obra dos missionários Robert e Sarah Kalley. A vocação ao louvor através da música da Igreja Presbiteriana de Indaiatuba vem de longe, desde o inicio, antes do surgimento do Coral Presbiteriano na década de 30, o canto congregacional já era apreciado por muitos moradores do município que não participavam da fé presbiteriana.

Na década de 20 do século passado, os dois núcleos se firmaram: o da cidade e o de Mato Dentro. Luteranos que ainda não tinham grupo organizado na cidade passaram a frequentar o culto presbiteriano.

Em 1928, a West Brazil Mission entregou ao presbitério de São Paulo nova congregação, constituída do núcleo de Indaiatuba e do núcleo de Mato Dentro. O presbítério recebeu a ambas, e em 1929 os transformou em congregação presbiterial.

A história dos presbiterianos no Brasil é marcada pela chegada de Ashbel Greens Simonton em 12 de agosto de 1859. Simonton organizou a Igreja do Rio de Janeiro, fundou a Imprensa Evangélica, estabeleceu o primeiro Seminário Teológico Presbiteriano e também organizou o Presbitério do Rio, em 06 de dezembro de 1865. O presbiterianismo chegou ao Brasil vindo desde a Suíça através da Escócia, da Irlanda e Estados Unidos.

O termo presbiteriano está relacionado a forma de governo da Igreja Presbiteriana que se realiza por meio de concílios compostos de presbíteros decentes (ministros) e regentes (governantes). São os presbíteros em concílio que governam a igreja. O sistema de governo presbiteriano é democrático e representativo, os fiéis elegem os seus representantes para gorverná-los e legislar por eles. O Seminário de Campinas, instalado 1894, preparou centenas de jovens que atuaram organizando e desenvolvendo comunidades presbiterianas em todo o Brasil. A maioria dos pastores que atuaram em Indaiatuba tiveram ali sua preparação teológica. Muitos seminaristas passaram pela Igreja Presbiteriana de Indaiatuba durante o período de desenvolvimento e organização da Igreja.

Em primeiro de maio de 1932, por decisão de uma comissão nomeada pelo então Presbitério de São Paulo composta por Rev. João Paulo de Camargo, Rev. Paulo de Miranda Costivelli e o presbítero Urias Arruda e com a presença de 23 membros comungantes, deu-se a organização da comunidade que passou a ser chamada de Igreja Presbiteriana de Indaiatuba. As 23 pessoas cujos nomes estão registrados na ata de constituição da Igreja pertenciam as famílias Stahl, Stein, Paratelli, Bianchini, Wolpi e Almeida. Os primeiros presbiteros eleitos foram Carlos Paratelli, Luís Stahl e Benedito Vicente de Almeida, e os primeiros diácomos Marcelino Vicente de Almeida e Antonio Bianchini. A essas famílias se juntaram outras: Krahembull, Klinke, Fahl, Shoereder, Boccia, Lima, Ims, Nicolucci, Inhauser, Candello e outras tantas que ano após ano vêm compondo a comunidade. Algumas delas tem origem luterana. Durante a organização e desenvolvimento da Igreja houve uma estreita relação entre luteranos e presbiterianos. Os Luteranos desde 05 de outubro de 1952 até 07 de setembro de 1957, data do lançamento da pedra fundamental de sua sede, usaram o templo presbiteriano para seus cultos.

A década de 20 do século passado foi construído um pequeno salão que abrigou os primeiros membros. A ata no. 2 de 16 de dezembro de 1933, registrou: “Resolve-se aumentar o templo, segundo planta apresentada e aprovada pela mesa, na importância 2,595$000 (dois contos e quinhentos e noventa e cinco réis)”.

Em 12 de março de 1934 foi iniciada a recontrução do templo presbiteriano. Era o pastor, na época o Rev. Avelino Boamorte, e o evangelista sr. Firmino Alves Barreto. A ata de 19 de setembro de 1953 foi nomeada a comissão para o plano de reforma do templo. A comissão era composta pelos senhores João Fahl, Carlos Klinke e Girberto Candello. O senhor Milton Inhauser se encarregou da exposição do projeto que estabeleceu instalação de iluminação florescente, pintura da fachada simples, muros lateráis com larguras iguais, vitrais com vidros fixox em cor verde e os basculantes em cor azul. Barrado do arco do púlpito em cor imitando madeira. Para diminuir as despesas membros da igreja trabalharam como voluntários num alegre mutirão.

Em 27 de agosto de 1961, a assembléia da igreja reunida, resolveu dar início a construção do pavilhão de educação religiosa destinado a Escola Dominical, de atividades de jovens e da Sociedade Auxiliadora Feminina como permanece até hoje.

A ata no. 92 de 13 de outubro de 1974 registrou a realização de uma assembléia para tratar da demolição do pequeno templo reformado na década de 50. “ A assembléia deverá votar sobre a demolição do antigo templo e venda de seus materiais. O presbitero Carlos Klinke esclarece que a igreja deverá requerer a prefeitura licença para demolir o antigo templo e comunicar o fato ao Presbitério”.

Depois de demolido o templo, a comunidade presbiteriana passou a se reunir no edifício de Educação Cristã, nos fundos do terreno com dois pavimentos (vide imagem abaixo). A parte superior, salão de reuniões e apresentações teatrais, no pavimento inferior, salas de aulas da Escola Dominical, cozinha da Sociedade Auxiliadora Feminina e local de reuniões festivas.



Em 1979, foi lançada a pedra fundamental do novo templo da Igreja Presbiteriana Unida. Nessa ocasião, foi retirada da caixa do alicerce um documento datado de 12 de março de 1934 – reconstrução do templo evangélico presbiteriano.

A planta do engenheiro Alberto Del Nero para a construção do novo templo foi substituída por uma planta menos onerosa e mais funcional sob a responsabilidade do engenheiro Osvaldo Stein. Em 1979 teve início a construção do novo templo. Era o pastor desde 1977 Rev. João Marinho Filho. Em 22 de outubro de 1983 foi inaugurado o templo que hoje está erguido na Bernardino de Campos, 644. O pregador oficial do dia – Rev. João Dias de Araújo.

Outras comunidades presbiterianas surgiram em Indaiatuba na década de 70. No bairro Santa Cruz, designação genérica para todas as vilas periféricas do outro lado da linha férrea, à margem da estrada velha de Indaiatuba à Salto surgiu uma congregação. Lá moravam presbiterianos que nem sempre podiam vir aos cultos na sede. Dona Marcelina de Morais Dias criou uma escola dominical em sua casa. Essa mulher analfabeta, mas com muito conhecimento da bíblia, cantava “corinhos” com as crianças da vizinhança e contava histórias bíblicas. O ano de 1977 marcou o início oficial das atividades nesse bairro, com propósito definido: criar ali uma congregação. Primeiramente foi feita uma visitação aos interessados e o primeiro ponto de encontro foi a sala da casa de Manoel Lira Teixeira. No final de 1977, a Igreja adquiriu dois terrenos na Rua Basílio Martins. Senhor Gilberto Candello e sua família construíram o templo que permanece até hoje. A inauguração do templo foi realizada em 29 de abril de 1978. Em 27 de abril 1986, a congregação organizou-se como igreja. A comissão organizadora foi presidida pelo Rev. Antonio Marques da Fonseca Júnior.

Outra comunidade presbiteriana surgiu na década de 70. Depois da Assembléia da Igreja em 29 de maio de 1977, para a reforma dos estatutos da Igreja local, um grupo de presbiterianos passou a reunir-se em uma garagem na rua Pedro Gonçalves. Posteriormente, o local das reuniões passou a ser o templo da Igreja Luterana e, a partir de 25 de novembro de 1979 as reuniões aconteceram em uma propriedade adquirida e adaptada na rua Tuiuti. Organizada como Primeira Igreja Presbiteriana de Indaiatuba o grupo cresceu com a vinda de novas famílias. Nos fundos do terreno, foram construídas salas para a Escola Dominical, e o pequeno salão adaptado foi utilizado até a construção do novo templo da década de 90. Fruto da atuação da igreja uma nova comunidade presbiteriana surgiu no Bairro da Morada do Sol, hoje Igreja com pastor local e Conselho.

Membros da Igreja Presbiteriana Independente passaram a se reunir em Indaiatuba e construíram um templo no Jardim Tropical. Um templo da Igreja Presbiteriana renovada foi também erguido na cidade.

Indaiatuba é uma cidade privilegiada, marcada presença de famílias e origens e culturaas diferentes: católicos, luteranos, prebiterianos e porteriormente outros grupos religiosos aqui construíram a sua história.

A dos presbiterianos está se aproximando de um século e hoje a presença da Igreja Presbiteriana se estende a participação em projetos sociais, principalmente a favor de crianças e adolecentes. Em 1986 foi criada a Sociedade Evangélica de Amparo ao Menor (SEVAM) e foi eleito seu primeiro presidente, o Dr. Fernando Stein. A creche foi construída pelo governo municipal do prefeito José Carlos Tonin e entregue a comunidade presbiteriana através de seru Rev. João Marinho Filho, que passou a administrá-la. Foram recebidas inicialmente 25 crianças, e a primeira diretora da creche foi Dra. Lilian Candello Salvadori (1). No Jardim California um projeto traz para as dependências da Igreja Presbiteriana Unida crianças e adolescentes para atividades educacionais, artísticas e esportivas. É o projeto que foi criado pelo pastor da Igreja Rev. João Marinho Filho e que conta com a colaboração de voluntários da cidade, não necessariamente da comunidade presbiteriana.


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* Martha Andrade Barbosa Marinho  é historiadora e presidente do Conselho Consultivo da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba.



Imagens do Templo da Igreja Presbiteriana Unida de Indaiatuba
de Gentil Gonçales Filho





(1) Conheça o blog de Lilian Candello Salvadori em: http://www.vovolilian.blogspot.com/



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