texto de Terezinha de Jesus Brunetti*
Ano de 1968... Parece que foi ontem, porém... 40 anos se passaram. O tempo não espera e as mudanças vão acontecendo, algumas vezes lentamente, outras, de uma maneira muito rápida.
Neste ano, Indaiatuba completaria cento e trinta e oito anos de vida; ela que fora criada em 09/12/1830 por D Pedro I, através de um Decreto, que reconhecia o povoado já existente, como DISTRITO DE INDAIATUBA, vinculando-o à Vila de Itu e dando-lhe certa autonomia administrativa.
Com o passar dos anos, os acontecimentos iam se sucedendo. Muitas vezes eram alegres, outras, bastante tristes. Quantas gerações construíram ao longo desse tempo, toda a vida de uma cidade pacata, bucólica, constituída de famílias que formavam uma população, com um relacionamento bastante íntimo entre si inicialmente, e que, devagarzinho foi-se transformando, dia após dia, fazendo com que houvesse uma mudança do seu cenário, até então considerado melancólico e antigo por seus habitantes, cujo número havia aumentado e que já não eram poucos. Seus moradores começam a ter novas expectativas, novos anseios e um desejo forte para que Indaiatuba se transformasse numa cidade “GRANDE” e passasse a oferecer maiores oportunidades de trabalho e de estudo.
As bicicletas utilizadas como meio de transporte e que eram vistas normalmente pelas ruas da cidade, de um lado e do outro, pedaladas por crianças, jovens e adultos, começam a ceder espaço aos veículos motorizados. As transformações aconteciam nos diferentes segmentos da cidade e conseqüentemente o número de veículos também havia aumentado e já não era o mesmo. Mulheres eram vistas com freqüência, sentadas ao volante, dirigindo seus carros, antes prioridade dos homens. O transporte público era inexistente, se resumia aos táxis. Os ônibus que transitavam pela cidade eram de propriedade ou de meu querido e saudoso pai, Atílio Brunetti ou da família Wolf e realizavam o transporte de trabalhadores à indústria de máquinas de costura Singer.
Para mim, nessa época ter um carro e poder dirigi-lo era sem dúvida uma necessidade para que eu pudesse me deslocar entre as escolas onde lecionava, nosso querido Dom José e a não menos querida Escola de Comércio, hoje Colégio Candelária, onde iniciei minha vida profissional, em agosto de 1962, permanecendo nela durante vinte e quatro anos. Quantas alegrias... Tristezas também não faltaram. Quantas histórias... Quantas amizades... Quanta saudade dos professores dos funcionários e dos alunos. Todos juntos formávamos uma verdadeira família.
Apesar da autonomia do nosso município, com relação à obtenção da carteira de motorista, estávamos ainda vinculados à cidade de Itu; não tínhamos em Indaiatuba a tão almejada Circunscrição de Trânsito.
Foi exatamente no ano de 1968 que me inscrevi para tirar a tão cobiçada carteira de motorista e ao mesmo tempo tão temida, quando nela eu pensava. E as aulas tiveram início... Aulas teóricas? Ótimas! Excelentes! E o que falar das aulas práticas? Só não foram terríveis graças à calma, habilidade e muita paciência do meu instrutor Anésio Casagrande.
Conforme os dias iam passando, minha segurança em estar ao volante ia aumentando lentamente. No decorrer das aulas tive que tomar uma decisão: prestar os exames na cidade de Itu ou esperar para realizá-los aqui mesmo, uma vez que a nossa Circunscrição de Trânsito estava para ser instalada de um momento para outro. Optei pela espera. Continuar com as aulas era bem mais cômodo e bem mais tranqüilo, assim teria mais tempo para me preparar emocionalmente.
Final do mês de julho... Surpresa! Fui informada que Indaiatuba já tinha finalmente instalada a sua Circunscrição de Trânsito. Criada pela Portaria nº 126 de 25/06/1968 e publicada no Diário Oficial do Estado em 29/06/1968, como 110ª Circunscrição de Trânsito de Indaiatuba, passaria a funcionar regularmente.
E agora? Prestar os exames aqui em Indaiatuba e não mais em Itu se tornou realidade. A partir de agora não era mais um sonho, as carteiras de habilitação seriam expedidas em nossa cidade.
Finalmente, no dia 09 de julho, nove candidatos, sendo duas mulheres e sete homens marcaram presença na Delegacia de Polícia, para a realização dos exames teóricos e práticos, sendo as questões, aplicadas pelo próprio Delegado de Polícia, Doutor Cyro Vidal Soares da Silva.
Após a realização da prova teórica, que constava de uma parte escrita, uma parte oral e uma parte prática de solo, realizada com carros de brinquedo, três candidatos foram aprovados. Ainda bem que eu estava entre eles! Fomos à rua para a prova prática de volante. Que sufoco! A apreensão e o nervosismo dos três candidatos eram evidentes. Fazer provas de garagem e de morro, prova de baliza, realizar o percurso pelas ruas da cidade... Era demais... E, acima de tudo tendo ao nosso lado, no banco do passageiro, o próprio Delegado, muito sério e respeitadíssimo nos meios policiais. E assim aconteceu... A primeira turma que inaugurou a nossa Circunscrição de Trânsito ficará para sempre na memória de Indaiatuba.
Enfim, tudo terminado... Dos nove candidatos inscritos fui à única a ser aprovada, passando assim a ser a primeira pessoa a obter a carteira de habilitação de motorista em nossa cidade!
Que felicidade, quanta emoção ao receber a tão sonhada carteira de motorista; nela constava o número cinco e não o número um, isto porque quatro carteiras foram substituídas; a do próprio Delegado, a do Juiz da Comarca, a do Prefeito, na época, Senhor Romeu Zerbini e a do Escrivão de Polícia, Doutor Lúcio Fernandes Filho. O acontecimento foi notícia no jornal “Tribuna de Indaiá”, de 14 de julho de 1968 em sua primeira página: “Entra em funcionamento a Circunscrição de Trânsito de Indaiatuba”.
Hoje 40 anos depois, trago gravado com carinho e com orgulho tudo isso em minha memória. É impossível esquecer fatos que marcam nossa vida e que, de uma forma ou de outra constroem a nossa história e conseqüentemente a História da cidade onde vivemos!
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