Capítulo VII – Silêncio e Rotina
De fato, o silêncio foi testemunhado (1) : David da Silva Dutra, 34 anos, nascido e residente na cidadezinha, passou pela Rua Candelária e foi até o largo da Matriz por volta das três e meia da tarde. Estava construindo uma casinha na Rua Direita para o senhor Cesare Lisone. Entre ir e vir gastou cerca de quinze minutos e estranhou que a venda de Adão estava fechada. Isso nunca acontecera antes, declarou David. Ao narrar esse fato em juízo, declarou ainda que nada ouviu de estranho, nem palavras, nem gritos, nem gemidos.
Somente uma última prova restava: as manchas de sangue na parede e no chão da sala onde o moço tinha caído; Antônio arrumou às pressas umas folhas de jornal velho e um saco de palha e puseram em cima das manchas ateando-lhe fogo, “...em pouco tempo qualquer sinal teria desaparecido”.
Isso feito retornaram para perto da mesa, onde sempre jogavam. Com base no tamanho do maço de dinheiro saqueado de Domenico "... que devia ter uns três ou quatro dedos... com notas de quinhentos contos de réis, duzentos mil réis e outras de menor valor...”, Adão pediu naquele momento que o dinheiro fosse recontado pois entendera ter sido prejudicado. Os dois cúmplices se recusaram e saíram, não sem antes expiar para ver se não tinha ninguém nas sempre tão vazias ruas.
Eugênio saiu dali, caminhou até um chafariz que existia na rua Bela Vista e em seguida foi para sua casa, na Rua Direita. Ao escurecer, foi até a venda de Vicente Gaudini onde ficou até o toque de recolher. Chegou em casa, entrou e foi dormir. Nos dias seguintes, até sua prisão na sexta-feira 13, levou a vida de sempre: de casa para a sapataria, da sapataria para a casa, exceto quando parava na venda de Vicente para jogar baralho.
Antônio saiu dali, caminhou pela Rua Candelária e foi direto para sua casa, na Rua da Palha. Após um tempo apareceu o colega Luiz Guimarães (2), 27 anos, natural de Itatiba , convidando-o para jogar cartas na venda de Adão. Como era de rotina, ele aceitou e voltou [SIC!] para o local, onde jogaram um carteado. Exceto pela viagem que fizera para São Paulo, sua vida também transcorrera normalmente até a prisão na sexta-feira 13.
Minutos após a saída de Antônio e Eugênio, Hugo Rezzaghi, que estava em sua oficina concentrado nas tarefas que laboriosamente fazia para atender as encomendas para o Natal, recebeu de novo a visita de Adão. Desta vez ele fora pedir uma enxada emprestada para cobrir um poço do quintal, pois ali havia colocado um cavalo e estava com medo de o bicho cair no buraco. Hugo, atarefado e achando que esse pedido era tão ou até mais estranho que o anterior, respondeu que não tinha enxada nenhuma.
Ligeiramente Adão saiu dali para a casa de João Sargentelli, com o objetivo de contratar o filho Pedro Sargentelli para cobrir totalmente o buraco. No caminho emprestou uma enxada de José Tancler, que morava nos arredores. Em seu desespero, ou na ingenuidade de alguém de 19 anos, plantava pistas para o crime que julgavam perfeito.
Quando testemunhou no dia 15 de dezembro (3) , o jovem Pedro, de 18 anos de idade, disse que começou a jogar terra no poço por volta das quatro horas da tarde e que as cinco desistiu do serviço.
E que quando parou por estar cansando, Adão insistiu para que ele continuasse, dizendo que pagaria um “ordenado de um dia”, o que ele não aceitou.
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(1) O depoimento de David da Silva Dutra tem início na p.108 do 1º.vol. dos autos do processo.
(2) O depoimento de Luis Guimarães tem início na p.188 do 1º.vol. dos autos do processo transcrito pela FPM.
(3) O depoimento de Pedro Sargentelli tem início na página 32 do 1o. volume dos autos do processo.
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