texto de Ejotaele
A velha igreja matriz, via de regra, também moldou nossos senhos e lembranças de meninice (ou autor se refere a primeira década do século XX).
Ali floresceram os princípios de nossa formação religiosa.
Aquele vetusto altar-mór, legítima relíquia de arte gótica, é testemunha disso.
Como é grato ocorrer à nossa memória, aquele vulto bondoso que foi Esteliana, dona de requintada devoção, a nos ensinar o Catecismo e cada um de nós a querer saber melhor do que os outros, a fim de ganhar santinhos.
Ganhar um santinho significava um imperativo.
A paciência com que a Esteliana suportava aquela chusma de travessos, era de molde a desafiar qualquer chinês.
O pároco era, por esse tempo, o Padre Teófilo, muito amigo das crianças, sacerdote probo, inclinado ao terno sentimento da benevolência.
Com o seu falecimento, ocorrido em Indaiatuba mesmo e sepultado, ao que parece, na igreja matriz, substituiu-o aquele vigário bonachão e de gênio alegre que foi o Padre Oscar. Removido desta para outra paróquia, assumiu, mais tarde, o vigário local, o Padre Francisco Moreira, um dos vigários mais operosos que a paróquia de Indaiatuba já possuiu, embora português de origem, com um linguajar provinciano difícil de ser compreendido.
Faleceu o bom Padre Moreira, em alto mar, quando em viagem para a "santa terrinha".
Outros sacerdotes passaram pela nossa paróquia, entre um e outro interregno, entre os quais citaremos o Padre Molke.
Padre Ortega, grande amigo do esporte, Padre Soriano e Padre Rizzo, alguns já falecidos.
Neste capítulo cabe revelar uma nota curiosa. A igreja possuía três sinos que a petizada batizou com os nomes dos quais recordo apenas dois: de "Guarani" de som mais agudo; de "Duque" o de som mais grave. Havia porfia entre os meninos para repicá-los e quem escalava o repique era o José do Padre, sacristão do Padre Teófilo.
Era de ver o que acontecia nessas ocasiões!
Não era de bom vezo, todavia, naquela época repicar os sinos da igreja. Repicar? Ora, isso é moleques da rua da Palha, admoestavam nossos pais, não por hábito do descrédito da rua famosa, cujos moradores outros não eram aqueles que viviam a vida dura dos humildes e dos desprotegidos.
Não podemos imitir este capítulo curioso da pequena história de Indaiatuba primitiva.
Como não podia deixar de ser, a nossa velha terra nos deu igualmente seu culto a certas tradições religiosas que desapareceram e pertencem ao patrimônio do passado.
Queremos citar entre muitas, a que talvez está mais viva na cabeça dos velhos indaiatubanos, a Festa do Divino, que se revestia de um colorido tipicamente regional.
Com efeito, aqueles carros de bois, de comovedora evocatividade, ornamentados e cobertos de flores a chiar tristemente pelas ruas da cidade, com a sua carga de lenha tostada pelas queimadas das matas, lenha que representava a prenda destinada à festa; davam uma nota expressiva de graça e belo espetáculo coreográfico, atestando bem o pitoresco do tríduo do Divino.
Recordamo-nos também, de quando chegava o mês de maio, havia alvoroço nos corações dos devotos na expectativa das concorridas festas com que comemorava o tradicional evento na capelinha da Santa Cruz no Largo das Caneleiras.
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