Texto de Natália Nogueira
Casarão Pau Preto - Crédito Rosangila Romanin
Muitas pessoas da minha geração são fãs de filmes de mistério e aventura. Na minha adolescência, eu tinha um pôster da personagem Indiana Jones pregado na porta do meu guarda-roupa. Sempre gostei de filmes que mostram ruínas antigas, o interior de palácios e museus, dada a minha predileção, desde menina, pela História. Sonhava em ser arqueóloga, em descobrir e explorar cidades perdidas e coisas do tipo.
Mas outro dia, revendo um desses filmes, percebi uma coisa: muito mais do que estimular a preservação, eles promovem a destruição do patrimônio. Se formos observar atentamente, entre uma cena de ação e outra, lá se vai parte de algum patrimônio natural ou histórico, demolido, enterrado ou explodido. O que se conquista, ao final, não vale aquilo que foi perdido, por assim dizer.
A destruição do patrimônio é tão banalizada pela ficção que, na vida real, acaba tendo o mesmo destino. A cada vez que me aventuro por uma rua que pouco utilizo durante a minha rotina de trabalho, observo uma nova mudança no espaço urbano. Infelizmente, em boa parte das vezes, é uma mudança que está relacionada com a depredação de algum patrimônio, seja ele natural ou arquitetônico.
BUSTO DE DOM JOSÉ - LARGO DA MATRIZ
Observo construções antigas, lindas na sua simplicidade, abandonadas. Os donos morreram, os herdeiros não entram em acordo, a casa vai se desmanchando, tornando-se uma ameaça à segurança de vizinhos e de pedestres. Em seguida, vem a demolição. O que me incomoda não é necessariamente a demolição, mas o abandono. O descaso com um lugar de memória, onde viveram várias gerações.
Observo, ainda, quase que diariamente, o antigo córrego da cidade ir gradativamente se transformando em um esgoto. O lugar onde, na minha infância, primava pela beleza natural e chamava a atenção pelas borboletas dos mais variados tipos e tamanhos e pelos peixinhos coloridos, agora mais parece um depósito de lixo onde corre um pequeno veio d’água contaminado pelo esgoto.
Se a arte imita a vida, o grande problema estaria, talvez, no valor que damos àquilo que nos cerca. Num filme, destrói-se uma pirâmide de milhares de anos para se recuperar um diamante, sem levar em conta que o valor daquele edifício extrapola em muito o valor de um diamante, por maior que ele seja. Da mesma forma, quando se destrói um patrimônio público ou privado, perde-se muito mais, pois aquela memória dificilmente será recuperada. Os cineastas poderiam tentar explodir menos ruínas e as famílias, juntamente com o poder público, poderiam tentar preservar mais sua memória.
Quando digo memória, estou falando também de coisas pequenas, não necessariamente de edifícios ou monumentos. Darei um exemplo para ser mais clara. Noutro dia, passei em frente a uma casa que foi abandonada. Lindíssima, com entalhes de madeira belíssimos. Espiando pela janela da casa (o que sobrou dela) percebi que lá dentro ainda havia objetos de uso pessoal. Pequenas memórias deixadas para trás.
HAOC - HOSPITAL AUGUSTO DE OLIVEIRA CAMARGO
Demolir uma casa antiga não é necessariamente o problema. Por mais que se deseje, nem todo patrimônio pode ser preservado. Mas o descaso, o abandono, isso, sim, é problemático. Implica a ausência de memória, ou melhor dizendo, de apego a ela. Não existe o sentimento de pertencimento. A identidade individual, e mesmo coletiva, está ausente ou é disforme.
O patrimônio natural e histórico é efêmero. Um dia, tudo acaba, nada é permanente. Mas a memória pode permanecer. A vida útil de um edifício, de uma pintura ou mesmo de um pequeno córrego pode ser prolongada, tanto pela importância que eles possuem para a coletividade, quanto pela necessidade de referências que permitam o desenvolvimento cultural e humano de uma comunidade.
Para encerrar esta breve explanação, gostaria de citar o exemplo de Patos de Minas, município que conquistou, com ações realizadas no decorrer do ano de 2013, o 8º lugar em preservação entre os 853 municípios mineiros. Patos de Minas teve seu ICMS cultural pontuado em 16,49, o que lhe rendeu quase meio milhão de reais que estão sendo investidos no patrimônio cultural até o ano corrente. Um exemplo para outras cidades de Minas e de todo o Brasil. A prova que poder público e comunidade podem ganhar com a preservação.
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No final de 2008, o prefeito em exercício, o major José Onério, ratificou um decreto tombando sete bens de valor cultural em nossa cidade:
(1) a antiga sede da Fazenda Engenho D´Água, localizada no Jardim Morada do Sol,
(3) a Casa Paroquial,
(4) o Casarão Pau Preto,
(5) o busto de Dom José de Camargo Barros,
(6) a Caixa D´Água do Casarão, e
SUGESTÃO DE LEITURA
Patrimônio Cultural de Patos de Minas está entre os melhores de Minas Gerais. Disponível em: http://defender.org.br/noticias/patrimonio-cultural-de-patos-de-minas-esta-entre-os-melhores-de-minas-gerais/ , acesso em 20/02/2015
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