Pelo ano de 1913 apareceu, em Indaiatuba um moço dentista cujo nome era Odilon. Morava em um velho prédio onde atualmente (1961) se acha o Hotel Candelária. Este dentista tinha um automóvel e esta foi a primeira vez que nós vimos esse tipo de veículo.
Aquele belo carro era de
fabricação europeia e pintado em vistosa cor vermelho vivo. O sistema de
direção era na direita, e o câmbio ficava por fora. Coisa difícil era fazer
funcionar o motor. Tinha se que arranjar uma turma de crianças para empurrar o
carro na Rua da Palha. Quando dava a primeira explosão, todos subiam no
automóvel, mas logo parava novamente. Isto se repetia por muitas vezes. Um dia,
após ser muito empurrado e ter ameaçado funcionar por muitas vezes, começou a
fazer um calor abrasador. Odilon, que estava na direção, saltou do carro e
abriu a tampa do cofre do motor. Nós vimos, então, que o cabeçote estava
vermelho como brasa, pois o dono esquecera-se de pôr água. Naquele momento
houve grande confusão quando o dono saiu gritando que iria explodir. Foi um salve-se
que puder.
Em 1915, Zuzuca, filho de Nhá Felícia
Doceira, ganhou dez contos de réis na “União Mútua”, e assim pôde comprar,
também, um automóvel do mesmo tipo, se bem que a marca era Motobroque. A cor,
porém, era aquela mesma de vermelho sangue. Com este carro, fazia algumas
viagens e, certa vez, quando tinha que passar pela ponte de Itaici, Zuzuca
mandou todos os ocupantes do veículo descerem, temendo que a ponte não resistisse
ao peso do carro.
Logo a seguir, em 1916, apareceu um moço com um Ford de bigode. Este era o homem mais falado de Indaiatuba, porque era motorista. Para grande orgulho dos rapazes, estes podiam alugar, em quatro pessoas, o Ford, por dez mil réis a hora, e assim subiam a rua Candelária e desciam a rua 15 de novembro. Isto era uma grandeza para os rapazes, que depois ficavam a narrar o grande fato.
Por essa ocasião, para se fazer
um estilingue, existia uma borracha preta quadradinha chamada “tripa de mico”,
mas era vendida aos pares, por um preço muito alto e nem todos os moleques
podiam comprá-la. Foi aí que Eduardo
Miguel Ferreira, que gostava muito de crianças, passou a aproveitar velhas
câmaras de ar para cortar e vender muito barato à criançada. Para alguns
meninos pobres, ele dava de graça. Por essa razão, a casa do Eduardo estava
sempre cheia de garotos que queriam ter o seu par de tiras de borracha. E tudo
isso porque o maior prazer dos moleques era caçar passarinho e até quebrar
vidros de casas.
Mais tarde, apareceu por aqui e
hospedou-se no Hotel Bela Vista de propriedade de Hemetério Rodrigues, um moço
que tinha também um Ford de bigode. Este tipo de automóvel era provido de duas
marchas. Quando a primeira não conseguia puxar, o jeito era descer e ajudar
empurrando o carro.
No ano de 1920, Tico de Nhô Teco,
um moço filho de um fazendeiro proprietário da fazenda Monte Branco (que mais
tarde chamaria Fazenda Santa Alice, de propriedade de Rafael Cintra Leite) cujo
nome era Felipe de Almeida, comprou outro Fordinho e o colocou na praça, mas
logo vendeu-o para Francisco Boselli. Boselli era proprietário do Hotel Bella
Jardineira e tinha dois cavalos pretos de rabos cortados, os quais puxavam um
trole que servia para levar e trazer viajantes de Itaici. Vendeu os animais e
comprou um Ford novo, por seis contos de réis.
Em 1921, Germano Stahl, que viera
do sítio, vendeu o carro de boi comprou um Ford de um moço de Itu, e assim aprendeu
a dirigir o carro. Foi aí que muita gente começou a vender carros de boi, carroças
etc., para comprar caminhões e automóveis. Domingos Gaspar tinha um Chevrolet
conhecido por melindrosa e com o correr do tempo foram aparecendo os
últimos tipos como a Ramona, Cabeça de Cavalo, Pé de Bode... carros americanos
que aqui surgiram eram denominados com esses nomes populares.
O primeiro mecânico de automóvel que apareceu
aqui foi Dito Giorgi; algum tempo depois, muitos outros aprenderam com ele a
andar sujos de graxa.
Enfim, eis o que se pode chamar
de uma grande dor de cabeça: um homem comprar um caminhão ou carro de passeio
velho.
Para quem não tem o que fazer é
até uma distração...
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