quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Os primeiros automóveis

Pelo ano de 1913 apareceu, em Indaiatuba um moço dentista cujo nome era Odilon. Morava em um velho prédio onde atualmente (1961) se acha o Hotel Candelária. Este dentista tinha um automóvel e esta foi a primeira vez que nós vimos esse tipo de veículo.

Aquele belo carro era de fabricação europeia e pintado em vistosa cor vermelho vivo. O sistema de direção era na direita, e o câmbio ficava por fora. Coisa difícil era fazer funcionar o motor. Tinha se que arranjar uma turma de crianças para empurrar o carro na Rua da Palha. Quando dava a primeira explosão, todos subiam no automóvel, mas logo parava novamente. Isto se repetia por muitas vezes. Um dia, após ser muito empurrado e ter ameaçado funcionar por muitas vezes, começou a fazer um calor abrasador. Odilon, que estava na direção, saltou do carro e abriu a tampa do cofre do motor. Nós vimos, então, que o cabeçote estava vermelho como brasa, pois o dono esquecera-se de pôr água. Naquele momento houve grande confusão quando o dono saiu gritando que iria explodir. Foi um salve-se que puder.

Em 1915, Zuzuca, filho de Nhá Felícia Doceira, ganhou dez contos de réis na “União Mútua”, e assim pôde comprar, também, um automóvel do mesmo tipo, se bem que a marca era Motobroque. A cor, porém, era aquela mesma de vermelho sangue. Com este carro, fazia algumas viagens e, certa vez, quando tinha que passar pela ponte de Itaici, Zuzuca mandou todos os ocupantes do veículo descerem, temendo que a ponte não resistisse ao peso do carro.

Logo a seguir, em 1916, apareceu um moço com um Ford de bigode. Este era o homem mais falado de Indaiatuba, porque era motorista. Para grande orgulho dos rapazes, estes podiam alugar, em quatro pessoas, o Ford, por dez mil réis a hora, e assim subiam a rua Candelária e desciam a rua 15 de novembro. Isto era uma grandeza para os rapazes, que depois ficavam a narrar o grande fato.

Por essa ocasião, para se fazer um estilingue, existia uma borracha preta quadradinha chamada “tripa de mico”, mas era vendida aos pares, por um preço muito alto e nem todos os moleques podiam comprá-la.  Foi aí que Eduardo Miguel Ferreira, que gostava muito de crianças, passou a aproveitar velhas câmaras de ar para cortar e vender muito barato à criançada. Para alguns meninos pobres, ele dava de graça. Por essa razão, a casa do Eduardo estava sempre cheia de garotos que queriam ter o seu par de tiras de borracha. E tudo isso porque o maior prazer dos moleques era caçar passarinho e até quebrar vidros de casas.

Mais tarde, apareceu por aqui e hospedou-se no Hotel Bela Vista de propriedade de Hemetério Rodrigues, um moço que tinha também um Ford de bigode. Este tipo de automóvel era provido de duas marchas. Quando a primeira não conseguia puxar, o jeito era descer e ajudar empurrando o carro.

No ano de 1920, Tico de Nhô Teco, um moço filho de um fazendeiro proprietário da fazenda Monte Branco (que mais tarde chamaria Fazenda Santa Alice, de propriedade de Rafael Cintra Leite) cujo nome era Felipe de Almeida, comprou outro Fordinho e o colocou na praça, mas logo vendeu-o para Francisco Boselli. Boselli era proprietário do Hotel Bella Jardineira e tinha dois cavalos pretos de rabos cortados, os quais puxavam um trole que servia para levar e trazer viajantes de Itaici. Vendeu os animais e comprou um Ford novo, por seis contos de réis.

Em 1921, Germano Stahl, que viera do sítio, vendeu o carro de boi comprou um Ford de um moço de Itu, e assim aprendeu a dirigir o carro. Foi aí que muita gente começou a vender carros de boi, carroças etc., para comprar caminhões e automóveis. Domingos Gaspar tinha um Chevrolet conhecido por melindrosa e com o correr do tempo foram aparecendo os últimos tipos como a Ramona, Cabeça de Cavalo, Pé de Bode... carros americanos que aqui surgiram eram denominados com esses nomes populares.

 O primeiro mecânico de automóvel que apareceu aqui foi Dito Giorgi; algum tempo depois, muitos outros aprenderam com ele a andar sujos de graxa.

Enfim, eis o que se pode chamar de uma grande dor de cabeça: um homem comprar um caminhão ou carro de passeio velho.

Para quem não tem o que fazer é até uma distração...

 

Primeira bomba de gasolina de Indaiatuba - década de 1930

Augusto de Oliveira Camargo (de chapéu) e a esposa Leonor de Barros Camargo em veículo perto do HAOC na década de 1930




Década de 1940





 ________________________________

Texto de Antônio Zoppi, originalmente publicado no jornal "Tribuna de Indaiá" da edição do dia 19 de fevereiro de 1961.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens mais visitadas na última semana