Henrique Lins nasceu em 6 de abril de 1906 em
Bocholt, Alemanha, onde aprendeu o ofício de marceneiro e entalhador. Faleceu
em 1985, em Indaiatuba.
Veio para o Brasil em 1924, para a Helvetia,
colônia de suíços perto de Campinas.
O interesse pelo órgão surgiu na montagem do
órgão Stehle para a Igreja Nossa Senhora de Lourdes, na Helvetia.
Após 1936 estabeleceu-se com a família em Indaiatuba, onde comprou uma marcenaria e começou a trabalhar com órgãos.
O primeiro órgão que construiu foi para a
Igreja Luterana de Friburgo, colônia alemã perto de Campinas.
Ao todo, sabe-se que construiu cerca de 30 órgãos, entre eles:
Orgão da Igreja Matriz de Altinópolis, em
1941 (depois vendido para a Matriz de Indaiatuba);
Orgão da Igreja Matriz de Avaré, em 1943;
Orgão da Igreja Matriz de Jaboticabal, em
1947;
Orgão da Igreja Matriz de São José do Rio Preto,
em 1947;
Orgão da Igreja Matriz de Laranjeiras, em 1949;
Orgão da Igreja Matriz de Sertanópolis, em
1949;
Orgão da Igreja Matriz de Londrina, em 1949;
Orgão do Colégio Ave Maria, em 1950;
Orgão da Igreja Nossa Senhora da Candelária,
entre 1956 e 1959 e;
Orgão Rieger da Igreja Santo Antônio do
Embaré, em Santos.
Fonte: Catálogos os Órgãos no Brasil, por
Dorotéa Kerr.
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Catálogo dos Órgãos no Brasil
Um dos
objetivos da Associação Paulista de Organistas é coletar e reunir informações
sobre os órgãos existentes em nosso país. O catálogo dos órgãos no Brasil,
elaborado por Dorotéa Kerr, só foi possível graças à participação e trabalho de
organistas membros da APO. O Catálogo, completado em 1985 descreve 22 órgãos em
todo o Brasil, fornecendo informações sobre disposição de registros, tamanho,
estado de conservação e histórico. Além de ser um manual útil para organista,
esse levantamento possibilita um melhor conhecimento do nosso acervo nessa
área.
O mais
antigo órgão de que se tem notícia está na Capela Nossa Senhora do Rosário, em
Embú, antiga missão de jesuítas criada no século XVI para ensino dos índios.
Com a expulsão dos jesuítas em 1791 e a consequente destruição de boa parte dos
documentos e livros de registros dessa Ordem, muito pouca informação se pode
colher sobre esse pequeno órgão de um teclado e apenas 5 registros. Ignora-se
sua procedência e data de construção, mas pode-se supor ter sido construído lá
mesmo, por algum jesuíta, por volta de 1650. Este órgão foi restaurado em
1984-85 e está funcionando naquela igreja.
Órgãos
ainda datados do período colonial são encontrados em Minas Gerais. Em 1752 foi
enviado de Portugal o órgão da Catedral Nossa Senhora da Assunção de Mariana,
que segundo pesquisas recentes, foi construído por Arp Schnitger, o mais famoso
construtor de órgãos da Europa nos séculos XVII-XVIII.
Trata-se,
por tanto, de um órgão barroco, mas construído por Arp Schnitger segundo os
padrões portugueses - originalmente o órgão não possuía pedaleira, o que era
norma nos órgãos portugueses da época. Com a restauração desse instrumento
realizada em 1984 pela firma von Beckerath de Hamburgo, Alemanha, uma pedaleira
de 27 teclas foi instalada, o que permite a execução de um repertório musical
mais abrangente.
Com
uma bonita fachada pintada em ouro e prata em pó, é o órgão da Igreja Matriz de
Santo Antônio, Tiradentes. Inaugurado em 1788, esse órgão foi encomendado em
Portugal pela Irmandade do Santíssimo, e montado em Tiradentes pelo Padre
Antônio Neto da Costa. Esse órgão consta de apenas um teclado, sem pedaleira.
Restaurado em 1982 por uma firma alemã, está hoje em funcionamento naquela
cidade.
Ainda
do período colonial merecem ser mencionados os órgãos do Mosteiro de São Bento
do Rio de Janeiro e da igreja de Chagas do Seráfico Pai São Francisco em São
Paulo. O primeiro, conhecido como o dragão da Coroa, porque construído dentro
de uma caixa encimada por uma coroa, foi construído em 1773 por Agostinho
Rodrigues Leite, importante fabricante de órgãos de Pernambuco no século XVIII.
Atualmente, do órgão original restam alguns tubos do registro de Principal da
fachada e as trombetas horizontais. Depois de sucessivas reformas e acréscimos
de registros, esse órgão atualmente conta com 4 teclados e pedaleira, e cerca
de 32 registros. Sobre o segundo órgão mencionado, em São Paulo, muito pouco se
sabe. É um instrumento de apenas um teclado com 7 registros e que deve datar do
final do século XVIII.
A
vinda da família real portuguesa em 1808 e abertura dos portos às nações
amigas, inauguram uma nova era na vida econômica brasileira, que se refletiu
também sobre a construção de órgãos. A partir de 1810, comerciantes ingleses
começaram a se instalar principalmente no Rio de Janeiro, e a partir de 1826
tais vantagens também foram estendidas à França e outros países. Missões de
artistas, importação de músicos, divulgação da música européia, as primeiras
impressoras e lojas de partituras inauguram-se a partir desse período. Não é de
se estranhar, portanto, que a maior parte dos órgãos instalados a partir desse
período tenha vindo principalmente da França, Inglaterra e Alemanha.
Da
Inglaterra viram órgãos para as Igrejas Anglicanas de Niterói, São Paulo,
Laranjeiras (SE), Recife, entre outros. Geralmente, eram órgãos pequenos, de um
só teclado, sem pedaleira, conforme eram construídos na Inglaterra no século
XIX.
Da
França foram importados órgãos maiores do mais célebre construtor de órgãos da
Europa do período Romântico: Aristides Cavaillé-Coll. Entre 1852 e 1900, 12
órgãos Cavaillé-Coll foram instalados no brasil, em Belém do Pará, Salvador,
Rio de Janeiro, São Paulo. Eram órgãos do tipo exportação e produzidos então
segundo as exigências das novas idéias econômicas - em série e padronizados.
Em São
Paulo, um dos órgãos Cavaillé-Coll se encontra na Igreja São José do Ipiranga.
Possui 2 teclados, pedaleira e 13 registros. Outros exemplares como esse podem
ser encontrados em Itú, Lorena, Jundiaí, Salvador (BA), Rio de Janeiro. Na
catedral de Campinas esta instalado desde 1883 o maior Cavaillé-Coll do estado
de São Paulo, com 14 registros, 2 teclados e pedaleira. O maior deles,
entretanto, está em Belém do Pará, infelizmente totalmente destruído.
A
partir de 1925 houve um ressurgimento na construção de órgãos nacionais,
incentivado pelas colônias alemãs e italianas, notadamente no sul do pais.
Alguns organeiros vieram como imigrantes, outros vieram a chamado de igrejas e
aqui acabaram por se instalar. Muitos vieram da Alemanha, como Gottholdo Budig,
que montou o órgão da Igreja de Santa Cecília em 1914. Um dos mais atuantes
construtores do período foi Carlos Moehrle, que trabalhava na Walcker, (grande
fábrica de órgãos na Alemanha desde o século passado). Junto com Guilherme
Berner, construiu muitos órgãos no Rio de Janeiro, em São Paulo, como por
exemplo o órgão da Igreja do Calvário, em 1948. Este órgão possui 3 teclados e
pedaleira; sua fachada e disposição dos registros foram projetadas pelo Prof.
Angelo Camin.
Outros
nomes merecem ser lembrados, como Henrique Lins, que veio da Áustria, e
construiu vários de pequenas proporções em cidades como São José do Rio Preto,
Avaré, Laranjeiras, Campinas. Edmundo Bohn, filho de alemães, que instalou uma
fábrica de órgãos e harmônicos em 1934 em Novo Hamburgo (RS), e que construiu
cerca de 80 órgãos por todo o país. O último foi construído em 1972 para a
Universidade Católica do Salvador (BA). Os órgãos Bohn são instrumentos de dois
teclados e pedaleira, planejados principalmente para atender às necessidades do
serviço litúrgico.
Os
italianos também fizeram-se representar. O mais atuante foi Giuseppe Pertillo,
que descendia de uma família de organeiros de Nápoles. Entre muitos
instrumentos construiu os órgãos da igreja da Consolação e Igreja Imaculada
Conceição em São Paulo.
Entretanto,
essa atividade de construção de órgãos não conseguiu se expandir, em parte por
não contar com medidas legais e financeiras de apoio e por sofrer concorrência
da importação de instrumentos, que até a década de 60 foi bastante estimulada.
Vigessi
& Bisso, Balbiani, Tamburini foram as marcas italianas preferidas,
principalmente por influência do maestro Furio Franceschini, então organista da
Catedral de São Paulo. A moda era construir instrumentos gigantescos (em toda a
parte era assim também), com muitos recursos e aos quais se pretendia usar todo
o repertório musical para órgão.
O
maior de todos esses órgãos, e atualmente fora de uso, está na Igreja Nossa
Senhora Auxiliadora de Niterói, com mais de 11.000 tubos, 5 teclados e
fabricado por Tamburini (1956). O da Catedral da Sé de São Paulo, instalado em
1954, é também bastante grande com 5 teclados, 120 registros e foi fabricado
por Balbiani & Bossi.
Ainda
Tamburini é o órgão da escola de Música da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, instalado em 1954, com 4 teclados, 64 registros. O órgão do Teatro
Municipal de São Paulo, também Tamburini, com 4 teclados e 5.827 tubos, foi o
último órgão de grandes proporções a ser importado, em 1968.
O
segundo grupo na preferência das igrejas foi o dos órgãos alemães,
principalmente da Fábrica Walcker, cujo melhor exemplar encontra-se no Mosteiro
de São bento em São Paulo, instalado em 1956. Esse órgão conta com 4 teclados.
Desse
Mosteiro também foi o órgão que hoje se encontra na Igreja Nossa Senhora de
Fátima, um Gebruder Spaethe, 1908, já várias vezes reformado e aumentado.
Estudar a história do órgão no Brasil é uma tarefa que ainda está por se fazer.
Existem muitos órgãos, já existiram mais, mas pela ausência de manutenção e por
condições climáticas desfavoráveis no entender de alguns, esses instrumentos
acabaram danificados e perdendo-se. Por outro lado, as reformas e restauração
de muitos instrumentos, significaram sobretudo ampliação e modificação do
original, mas não um acréscimo de qualidade. E os problemas decorrentes dessas
alterações acabaram por ocasionar, na maioria dos casos, mais frequentes
exigências de manutenção. Por outro lado, a modificação ocorrida na liturgia da
Igreja Católica desde o Concílio Vaticano II tirou do órgão seu espaço de
atuação mais tradicional e efetiva.
A
construção de um órgão de tubos, pelo seu alto custo e por todas suas
ampliações estéticas sempre exigiu uma grande soma de esforços por parte das
Igrejas e comunidades. Os órgãos, como os edifícios das Igrejas, representam um
patrimônio social e cultural que ultrapassa o domínio religioso, para se tornar
uma parte da história cultural dessa cidade.
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