Dia 14 de abril de 1888, um dia qualquer no Cartório de Itu. Ali, no livro n.58 - folha 24, se registra a venda, da parte dos herdeiros de Vicente Sampaio Góes, do Sitio Capivari Mirim, totalizando 468 alqueires, para as famílias Ambiel, Amstalden, Bannwart e Wolf.
Se há pouco uma transferência de terras por parte de latifundiários de ascendência portuguesa para colonos pobres era uma cena improvável, agora mais e mais ela acontecia como resultado do transe pela qual passava o Brasil com a liberação dos escravos negros e o iminente fim do Império.
A aquisição de terras era, por si só, algo grandioso, quase que utópico para aqueles homens e mulheres imigrados da Suiça, nem há tanto tempo, em condições quase miseráveis. Mas este acontecimento trazia em si algo ainda maior: o nascimento de uma colônia que iria transpassar o tempo e até mesmo os limites físicos daquelas terras. Helvetia viria a tornar-se maior que seus próprios limites, ainda que estes muito viessem a crescer. Helvetia viria a deixar de ser apenas um lugar físico para se tornar um lugar idílico, que ocuparia corações e mentes dos muitos descendentes daqueles suíços e de outros, também suíços ou não, que viriam a juntar-se na construção deste lugar inigualável, de um encanto todo particular e secreto, que sequer os que nele convivem conseguem descrever com algum rastro de razão. Não há razão em Helvetia. Há emoção, há paixão!
Já cansados da cavalgada que se estendeu até Itaici e Indaiatuba, os irmãos Anton, Ignaz, Alois e Joseph Ambiel retornam a Sítio Grande, ao entardecer do dia de São José, 19 de março de 1888. Passando pelo Descampado, revela-se a seus olhos, ofuscados pelo sol buscando seu oeste um vale entrecortado pelo Ribeirão, formando um pequeno lago que lhes lembra a beleza da nativa Suíça. Helvetia nasce no sonho daqueles jovens suíços.
O tempo passou, e 132 anos separam-nos deste tempo de pioneirismo. Ainda que pareça, não há mágica nesta história construída a partir dos fundadores de Helvetia e continuada por seus descendentes. História construída sobre alicerces firmes de muito trabalho, determinação em vencer dificuldades, resiliência na superação de crises, senso de civilidade e união comunitária. Uma história que não teria sentido sem si própria, não fosse toda ela envolvida na Fé católica que conduziu, fortaleceu e fortalece a Colônia Helvetia, tornando-a inapagável pelo tempo, não importando quão longo.
Hoje, passados todos estes anos, Helvetia lega a nós suas muitas belas histórias, infelizmente não tão bem contadas como mereceriam. Mas, ainda assim, histórias que alimentam nossas próprias histórias pessoais, que nos consolidam valores, que nos enche de orgulho bom em pertencer a uma descendência que ainda hoje nos traz lágrimas de emoção aos olhos.
Parabéns a nós que trazemos este legado em nossos corações.
Viva Helvetia!
Texto de José Mateus Ambiel, 14/04/2020
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