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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Disciplina escolar: um desafio para lá de secular
Pedagogia é uma palavra de origem grega cujo significado é paidós (criança) e agogé (condução), ou seja: a arte de conduzir a criança.
Conduzir para “onde” foi uma questão presente em todas as sociedades: para a técnica de caçar e pescar, para a guerra, para Deus, para a razão... são alguns exemplos. Variadas foram e ainda são as respostas que indicam como trilhar esse caminho, mas mesmo nessa pluralidade, há um fator repetitivo: conduzir para que obtenham e continuem a perpetuar determinados conceitos ou definições situados em um tempo-espaço específico.
Tão imprescindível é essa prática – afinal, ela permite a sobrevivência ou ruptura do status quo - que aos poucos, a arte recebeu status de ciência. E ao condutor – também chamado de mestre, preceptor, guia, professor - cabe a estimulante tarefa de definir meios e métodos não só para atingir o fim, mas principalmente para trilhar o meio, que é a tarefa mais complexa.
Essa complexidade vem, de forma resumida, do fato de a “condução” não estar apenas relacionada à esferas filosóficas ou científicas – ou seja - ao conteúdo em si, mas sim ao fato de estar fundamentalmente relacionada com a esfera comportamental – ou seja: com a disciplina. É aqui que o bicho pega e quase sempre onde está o maior desafio dos educadores – como são chamados atualmente os condutores: como manter os rebentos disciplinados, concentrados e interessados nas ciências e nas filosofias?
Um desafio e tanto.
Fundamental e inicialmente, atualmente os condutores precisam dominar o assunto que lecionam, mas isso não basta. Precisam ser comunicadores, atores, médicos, enfermeiros, sociólogos, psicólogos, psiquiatras, palhaços, sociólogos, e as vezes até policiais apartadores de briga - tudo isso para competir com tudo o que o bendito Steve Jobs inventou e socializou magnificamente, que Deus o tenha.
Os antigos de qualquer época sempre nos atormentam com aquela história de que “na minha época não era assim”, acusando a modernidade da falta de limites dos pirralhos. Muitos transferem para a família a incompetência do educador em manter a disciplina da classe. _ “A classe não aprende por que é indisciplinada.”
Não vou cair na armadilha que meu próprio texto está conduzindo em discutir quem deve manter a disciplina na sala de aula, mas quero contar um causo de nossa Indaiatuba antiga, que vem aliviar as noras que recebem críticas das sogras, para que não carreguem a culpa da “modernidade”; pois – sim! – nossas sogras, avós e bisavós faziam bagunça também. Vejamos.
Conta Manuel de Arruda Camargo em seu discurso proferido em nossa terra dos indaiás em 1930 o esforço e as peripécias do professor Randolfo Moreira Fernandes em disciplinar seus alunos no século XIX. Randolfo é o patrono do prédio que atualmente é usado pela Secretaria da Cultura, no centro, e que por muitos anos foi a escola pública homônima.
Narra Camargo que o professor Randolfo possuía grande “intuição pedagógica”, tendo, justamente por isso, prestado relevantes serviços a população escolar da época. Essa tal habilidade fez com que o mestre – nos dias idos do ano de 1877 - estabelecesse um tribunal de júri encarregado de processar as “traquinices infantis” e as “irregularidades escolares”. Conforme o veredito, os pequenos saiam do julgamento absolvidos ou condenados.
Para os condenados, as penas eram rígidas: variavam desde “palmatoadas” – entre duas e uma dúzia, uso de carapuça, genuflexão sobre a mesa ou chão, postura em pé com os braços distendidos no canto da sala - as vezes sustentando objetos até exposição pública na janela da sala de aula, onde o meliante estudantil tinha que ficar exposto sob humilhantes chufas atiradas pelos moleques transeuntes.
Ô dó.
Ô dó.
Mas havia a contrapartida: os chamados “perdões”. Eram pequenos papéis retangulares com um desenho de patinho e a assinatura do mestre Randolfo. Cada lição bem feita ou ainda um “acto de benemerência” praticado na escola, eram condecorados com tantos “perdões”. Acumulados, funcionavam como um habeas-corpus. Caso o pequeno não fizesse a lição, ou fizesse mal feita, ou praticasse traquinagens, ia para o júri receber a condenação e executar a negociação de sua absolvição com a entrega de seus “perdões”.
A negociata não se restringia aos limites do tribunal: os alunos vendiam ou trocavam os seus perdões por doces, inclusive aqueles falsificados.
As crianças revezavam no papel de juiz, promotor, advogado, testemunhas. Muitas vezes o expediente terminada com uma ameaça do condenado: _ “Na rua a gente se acerta.”
Conta também Camargo que certa feita um substituto agiu de forma diferente do professor Randolfo, com o objetivo de sensibilizar os alunos a conterem os atos de indisciplina e desinteresse. Este outro mestre inusitadamente bancava o próprio Cristo para tocar a consciência dos rapazes: ele se punha no meio da sala e brandia contra as próprias costas uma forte vara de pecegueiro cada vez que os alunos tinham que ser castigados por algum ato inválido. Resultado: o mestre “quase entisicou com seu systema penal, que abandonou, antes que o abandonasse a própria vida”.
Tem assim, o pedagogo – como objeto de estudo – o intuito de refletir acerca dos objetivos do fenômeno educativo e fazer também a análise objetiva das condições existenciais e funcionais desse mesmo fenômeno.
Para isso alguns já foram gestores de júris infantis e até um Cristo!
Para isso alguns já foram gestores de júris infantis e até um Cristo!
Onde está a fórmula mágica?
.....oooooOooooo.....
Eliana Belo Silva
Originalmente publicado na revista Imediata, de novembro de 2011
Vida de mestre é difícil - O Dia do Professor é feriado no Brasil desde os anos 1960. De lá para cá, o país mudou muito, mas os profissionais continuam mal remunerados, com uma carga horária de trabalho desgastante e desvalorizados socialmente: http://
Randolfo Moreira Fernandes
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