texto de Ejotaele (continuação)
(Este texto começa aqui, em post anterior)
Assinalaríamos ainda outros tipos andrajosos de rua, conhecidos do povo, como foram "Jaburu" e "Maria Louca", esta última, tinha o vezo "lenhar" a qualquer hora, até mesmo à noite. Será interessante esclarecer aqui que "lenhar", palavra em voga naquele tempo, significava procurar gravetos no mato ou nas capoeiras.
Tipo do auspicioso, do madraço e do capiango, era o Bentão. O povo conhecia-lhe as artimanhas, mas assim mesmo as propinas lhe chegava às mãos. O certo é que Bentão servia-se de umas mulatas quando saía à rua pedir esmolas, mas quando recolhia-se aos seus penates, mandava às favas os respeitáveis bastões de coxo e andava como qualquer mortal.
Houve um "Antônio Boi", "Antônio Veado", este, pelo fato de residir nas proximidades do cemitério, era tido como assombração. As crianças temiam-no.
Digno de nota, foi Delfino, o preto Delfino, que residia ao longo do caminho do Chafariz. ´Haverá quem não se lembre do seu linguajar curioso e pitoresco?: "Mim é arara num é Araraquara" ou "Pouca miséria miacumpanha", era o que Delfino frequentemente cantarolava. Dizia-se que ele havia sido escravo e escravo de bom preço, por ser dotado de finas canelas. Era pouco afeito ao "batente"; vivia, talvez, por isso, sempre bem humorado...
O Vieira era um cariboca esguio e forte, caboco enxuto, resistente ao peso dos anos e às intempéries. Marejou por longos anos, ora no "desvio", ora no trabalho, não raro mal remunerado, em razão da própria maneira de viver. O seu palavreado está latente ainda na lembrança popular: "aieres, pitares, fumares".
Nunca pudemos atinar a razão porque o Antônio Camargo, figura popularíssima e amiga das crianças, por longos anos foi o "bilheteiro de Indaiatuba". De tradicional família paulistana, não poderia conceber a idéia de que Antônio Camargo exercesse mister incompatível com os brasões da família. "Vendendo a sorte", sem, contudo, tê-la vendido à ninguém, talvez ganharia a sua sorte grande pois foi ter à França o nosso Camargo, onde permaneceu uma dezena de anos lá gozando de uma existência sem preocupações. Não há morador de Indaiatuba dessa época que não tenha recebido do Camargo um cartão da luxuriante Paris do começo do século!
Figura benquista e conhecida de todos, que deixou de existir há alguns anos já, foi a preta Nhá Benta, que batia o pé pelas ruas da cidade à vender frutas e quejandas. Nhá Benta possuía verdadeira ojeriza às armas de fogo. Sabiam-na com esse complexo e bastava um simples gesto de sacar uma arma, para fazer com que a boa Nhá Benta "azulasse". Um dos traços marcantes de sua vida e isto lhe ia em conta de qualidade admirável, já que hoje em dia é missão difícil - senão impossível, era o dispor de seus préstimos aos jovens nos seus transportes amorosos. E dizer-se que Nhá Benta "arrumava" casamentos"!
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