Você sabia que nem sempre a Igreja Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba teve torres?
No Brasil imperial, a paisagem urbana era marcada por igrejas de diferentes formas e imponências, e a presença ou ausência de torres carregava significados que iam além da estética. Desde o período colonial, a torre foi concebida como elemento funcional e simbólico: era ali que se abrigavam os sinos, responsáveis por marcar o tempo da vida social e religiosa, mas também representava o poder da Igreja e sua elevação espiritual. Contudo, a construção de torres exigia recursos financeiros e técnicos que nem sempre estavam disponíveis.
Assim, em muitas vilas e cidades, as igrejas foram erguidas sem torre ou com apenas uma, deixando claro o contraste entre comunidades ricas e pobres. Foi desta forma que o prédio da Igreja Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba foi construída: sem torres.
Nas regiões mineradoras do século XVIII, que ainda influenciaram o Brasil imperial, o ouro permitiu a edificação de templos suntuosos, como os de Ouro Preto e São João del-Rei, onde a simetria das duas torres laterais se tornava expressão de grandeza e prestígio. Já em áreas menos favorecidas, as matrizes e capelas exibiam fachadas simples, muitas vezes inacabadas, que resistiam ao tempo apenas com o corpo central da nave.
Com a chegada do neoclassicismo no século XIX, especialmente impulsionado pela Missão Artística Francesa e pela Academia Imperial de Belas Artes, surgiram projetos mais sóbrios, de linhas retas e proporcionais, que nem sempre valorizavam a presença de torres monumentais. Algumas igrejas imperiais foram concebidas com campanários discretos, enquanto outras mantinham a tradição barroca das torres duplas, como símbolo de poder e de centralidade urbana. A Catedral da Candelária, no Rio de Janeiro, concluída durante o Império, é um exemplo de como a Igreja ainda podia erguer templos de imponência monumental, ao passo que inúmeras matrizes do interior permaneceram sem suas torres, ou com apenas uma concluída.
No caso da matriz de Indaiatuba, as torres foram construídas apenas no século XX, no paroquiato do Padre Francisco Eduardo Paes Moreira, que chegou em Indaiatuba em 1913. Após dois anos, em 1915, veio para cá, a fim de passar uns dias e sua terra natal, um indaiatubano muito rico e católico de nome João Bueno de Camargo. Hospedou-se no Hotel União situado à rua 7 de Setembro. O nosso padre, então, teve a ideia de ir pedir um auxílio para a paróquia. A nobre pessoa inteirou se de tudo que faltava e às suas expensas contratou Césare Zoppi para construir as torres da igreja.
O simbolismo da dualidade entre igrejas com e sem torre, portanto, reflete o próprio Brasil do período imperial: um país de contrastes, onde a religiosidade era oficial e onipresente, mas se expressava de formas distintas conforme as condições econômicas, a influência estética vigente e o papel social de cada comunidade. As torres, quando erguidas, falavam de poder e prestígio; quando ausentes, revelavam tanto a simplicidade das populações locais quanto as limitações práticas de um império em construção.
Em seu texto sobre o assunto, o filho de Césare Zoppi registrou a importância simbólica das torres, afirmando que "esse serviço (a construção delas) muito melhorou a fachada do templo católico que, até hoje, desafia o tempo".
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