texto de Ejotaele (continuação deste daqui)
Havia ainda o Lúcio, meio bufão, meio abobalhado. Por ser muito beato, era infenso às blasfêmias. Alguém que blasfemasse, ao pé dele, deliberadamente ou não, o nosso Lúcio persignava-se todo. Sua assiduidade à igreja, a "eza" como ele dizia, era notável, não perdendo uma só cerimônia religiosa. E o que mais se fazia notar, era o respeito e devoção pelo seu culto especial a São Benedito.
Bepino foi uma figura singularíssima, fino e inteligente, mas bebericão e desatrelado da vida. Dizia-se "estatuário", pois fazia imagens santas entalhadas em madeira. Os santos, feios e horríveis embora, eram feitos com alguma arte e algumas entalhações eram até engenhosas. Bepino, lá pelas tantas, empunhava uma sanfona de oito baixos e punha-se a executar pelas ruas cançonetas provinciais italianas, antecipadas geralmente pelo dobrado "Capitão Caçula".
Não podemos esquecer de dois tipos verdadeiramente curiosos, que gozaram, também eles, dos foros da popularidade. Esses foram o Benedito Boiungo e Luiz Caixeiro. O primeiro era um desses indivíduos esquisitos, mas de boa índole. Tinha aversão ao apelido que, não se sabe por arte de quem, foi inventado. Gostava-se de trajar-se bem, mas berrantemente; as vezes aparecia em público com colarinho duro, tão alto, que mal podia mover a cabeça... O segundo, bom vivente, solteirão mais desajeitado do que por outras razões, era alegre e ingênuo. Nem por isso deixava de ter suas namoradas imaginárias e estas, por sinal, eram as jovens mais bonitas de Indaiatuba! Luiz Caixieiro possuía uns bens nutridos bigodes que lhe davam feição características e que eram seus predicados físicos, sem falarmos dos trejeitos que imprimia ao seu curioso modo de andar de salta em pocinhas. De quando em vez, Luiz Caixeiro ia fazer parte da confraria São Martinho...
Restaria o "Zé Tatuí", atoleimado e inócuo, mas um bravo trabalhador e mourejador como poucos. Zé Tatuí apreciava os assuntos amorosos e que lhe falassem de mulheres, ainda mesmo quando lhe fosses feias.
Aqui hoje fazemos uma parada. Outros hão de vir.
Estamos quase certos que a nossa história, mesmo sem o respeitadíssimo H maiúsculo se não pode suportar-lhe o confronto, poderá servir ao menos para despertar saudades, que já é alguma coisa. Se omissão houve, na galeria dos tipos inesquecíveis da popularidade, a culpa vai por conta dos cabelos brancos, que já nos enfeiam a cabeça.
Gente velha esquece...
Vai nisso o nosso melhor argumento de defesa.
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