sábado, 30 de janeiro de 2016

HAOC - Pedra Fundamental


Câmara Municipal de Indaiatuba solicitando recursos para o Governador da Província de São Paulo para construir um hospital na cidade.
Publicado no jornal "O Commercio de São Paulo" do dia 5 de março de 1893.



Jornal DIÁRIO NACIONAL de 5 de junho de 1929


Convite - Lançamento da Pedra Fundamental do prédio novo - Pronto Socorro - 2015






A* Prefeitura de Indaiatuba junto com o Haoc (Hospital Augusto de Oliveira Camargo), realizaram na quarta-feira (6/5/2020) uma visita técnica com a imprensa para abertura de 24 novos leitos clínicos destinados ao tratamento da Covid-19, localizados no prédio novo do Hospital, o evento também foi transmitido ao vivo na página oficial da Prefeitura de Indaiatuba. O prefeito Nilson Gaspar (MDB); o Dr. Edmir Deberaldini e o diretor geral do Haoc e Ronaldo José, diretor financeiro do Haoc; falaram sobre a visita técnica e o processo da obra.

“Esse projeto foi idealizado há alguns anos já pensando no crescimento da cidade, porque aqui em nossa cidade sempre trabalhamos com planejamento e gestão. Não se imaginava há época que passaríamos pela pandemia que vivemos hoje, por isso antecipamos a entrega desses leitos clínicos para atendimento da Covid-19. Convidamos a imprensa a uma visita técnica para esclarecermos dúvidas de forma transparente e levar informação à população”, comentou o prefeito. Ele também parabenizou o empenho para realização da obra. “Quero agradecer a todos os envolvidos nessa obra, pois poucos lugares do país tem uma estrutura igual temos aqui em Indaiatuba”, emenda Gaspar.

“Essa é uma ampliação do hospital que já temos e quero agradecer a todos os diretores que se empenharam para a concretização dessa obra. Nós não precisamos de hospital de campanha e grandes gastos, pois temos esse equipamento pronto para a população”, comenta Deberaldini.

“Iniciamos o prédio enquanto a situação financeira do país estava boa, mas depois de um ano com obras iniciadas veio a crise. Nós investimos aqui 30 milhões de reais; sendo 8,5 milhões de reais da Prefeitura; 770 mil reais dos empresários da cidade; 1 milhão de reais enviado pelo Deputado Estadual Rogério Nogueira e 19,8 milhões de reais da Fundação Leonor de Barros. O processo da obra demorou mais do que o previsto, mas hoje está aqui e veio ao encontro da nossa necessidade, hoje temos 110 leitos preparados para funcionar, se houver necessidade conforme o aumento da demanda”, explica Garcia, diretor financeiro do Haoc.

Neste primeiro momento serão abertos somente os leitos para pacientes confirmados ou suspeitos da Covid-19, doença causada pela infecção do Novo Coronavírus. O novo prédio tem 7.500 m² de área total, divididos em cinco pavimentos de 1.500 m² cada e terá capacidade total para 210 leitos que estão em fase final de implantação.


* Texto de Raphaela Vitiello de 6 de maio de 2020.






sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Vila Avaí



Com bastante tradição no futebol, a Vila Avaí já é um dos bairros mais conhecidos de Indaiatuba. Neste post, acompanhe uma viagem pelas lembranças dos moradores e entenda a importância da união de uma Associação, sem esquecer dos causos e lendas de lobisomens, homens gigantes e noivas fantasmas.



Vila Avaí - Imagem de 1974 da ETA I


Fundada há mais de 50 anos, a Vila Avaí é um bairro bastante tradicional de Indaiatuba. Reconhecido pelo aclamado 'Vilaço', o famoso campeonato de futebol realizado em um campo da localidade, a Vila também tem muitas histórias interessantes e algumas lendas guardadas pelos moradores mais antigos.

Maria Inês dos Santos, mais conhecida como Dona Inês, mora na Vila Avaí desde 1969. Hoje, com 60 anos, a simpática senhora é proprietária de um bar que fica bem próximo ao campo onde são realizados os jogos do campeonato.

Nei e Dona Inês, moradora na Vila Avaí desde a década de 1960


Há 17 anos à frente do estabelecimento e com muitas histórias guardadas na lembrança, Dona Inês conta que, quando chegou ao bairro, existiam poucas casas no local. “Aqui era uma região afastada do centro, o campo, por exemplo, era só terra. Existiam poucas casas, e onde é a Vila Suíça hoje, existiam apenas plantações”.

Silvio Ribeiro Paiva, vice-presidente da Associação Amigos de Bairro Vila Avaí em 2013


Silvio Ribeiro Paiva, mora no bairro desde 1994 e atualmente (2013) é o vice-presidente da Associação Amigos de Bairro Vila Avaí. “Pelo que os antigos contam, o bairro começou nas décadas de 50 e 60, onde haviam poucas ruas e a maior parte era tomada por um cafezal. Existia uma espécie de fronteira, que era a linha do trem”, relata.



O vice-presidente também conta que, quando chegou ao bairro, reuniu um grupo de pessoas e, juntos, tiveram a ideia de reformar o campo da Vila Avaí, que estava todo destruído e acumulando entulhos. “Nós arrumávamos um pouco aqui, um pouco ali, fazíamos vaquinhas para comprar redes novas e começamos a retirar os entulhos com carriolas”, comenta. “Ao final da tarde de um dia já tínhamos retirado umas 40 carriolas e começamos a pensar que precisávamos cuidar melhor do bairro e fazer um movimento organizado”.




Atualmente (em 2013), Silvio conta que a Associação é toda legalizada de acordo com a Receita Federal. “Membros atuantes nós temos poucos, até porque o serviço é voluntário. Cerca de sete ou oito. Mas em toda reunião aparece um bom número de pessoas, e nós sempre convocamos o pessoal do bairro para comparecer



Porém, a Associação, segundo Silvio, não foi criada apenas para o esporte do bairro. “O que muita gente pensa é isso, mas nós fazemos diversas ações sociais também, como arrecadar alimentos, brinquedos e muitas outras coisas”.

Atuando ainda na parte educacional, o morador conta que as crianças recebem orientações que podem ser guardadas por toda a vida. “Se você pegar o campo, por exemplo, nós tentamos ensinar que elas podem jogar o dia inteiro e acabar com o gramado. Aí amanhã, se ninguém ligar, o que acontece? E as outras crianças que vêm depois? É importante aprender a conservar e preservar os espaços”.

Falando em conservação, na Vila Avaí também está localizada uma das Estações de Tratamento de Água (ETA) do Serviço Autônomo de Água e Esgotos (Saae). A ETA I é responsável por abastecer a Zona Norte e o Centro de Indaiatuba. Com capacidade de tratamento estimada em 400 litros por segundo, a água bruta é captada nas represas do Cupini e Morungaba (40%) e no Rio Capivari-Mirim (60%).


ETA I - Imagem de 2012

Além disso, o maior reservatório de água tratada da autarquia foi  construído ao lado da ETA I, na área do Complexo II. Com capacidade para armazenar 6,3 milhões de litros de água tratada, aumentando em mais de 100% o volume de reservação. Essa obra foi concluída em 2013.

Outro fato curioso, lembrado por Silvio, foi a época em que uma escola de samba seria instalada onde hoje fica o campo de futebol. “Eles queriam construir uma escola de samba ali, já estavam até com os carros alegóricos acomodados”.

O residente conta que os moradores, ao saberem do fato, se reuniram e fizeram um manifesto, paralisando uma das avenidas da cidade após colocarem fogo em uma barreira feita com pneus. “Nós temos que lutar pelos nossos direitos, e sabíamos que daquele jeito seríamos ouvidos”, relata. “Temos que enxergar a Associação como uma ponte. É através dela que nós vamos buscar a solução com o Poder Público para trazer as melhorias para o bairro”, finaliza Silvio.

Lendas

Nascido e criado na Vila Avaí, Sidnei Alves de Alcântara, o 'Nei', senhor bastante risonho de 53 anos, também resgatou algumas memórias para falar sobre as lendas mais antigas do bairro.

A primeira história causou o temor dos moradores na década de 80, segundo 'Nei', que conta a respeito de um mistério já solucionado, mas que ficou conhecido como o 'Lobisomem da Vila Avaí'. “Na verdade o que a gente chamava de lobisomem era um cachorro bem grande, que fugia do sítio onde morava e subia nas janelas das casas do bairro”, relata. “Em pé, com as patas dianteiras para cima, o cachorro devia medir uns 2,30 metros”.

Outra lenda relatada pelo simpático senhor diz respeito a um homem gigante. “Ele era mais alto que um poste”, conta. “Nós o vimos passando ao longe e fomos atrás, mas quando chegamos perto de onde ele estava não tinha mais nada, ele havia desaparecido”.

'Nei' também conta a história da noiva fantasma, que ficava em uma porteira. “Ali perto da 'porteira de ferro' tinha um mata-burro, mas ninguém passava por lá durante a noite por conta de um vulto branco. Era uma noiva que assombrava o local. Eu tinha medo de ir pra lá”, brinca.

Futebol

Comentando sobre a fundação do time da Vila Avaí, Silvio relata que, na época em que a equipe foi formada, os jogadores não possuíam uniforme. “O Santos, logo após ser campeão mundial na década de 60, desceu de um voo ali em Viracopos”, relata. “Como um jogador aqui da Vila trabalhava no aeroporto, ele percebeu que a equipe santista havia esquecido os uniformes lá, então ele pegou e trouxe para o time do bairro. O primeiro uniforme nosso foi o do Santos”, comenta.




Considerada como um berço de diversos bons jogadores, a Vila Avaí também oferece o evento Supercopa Vila Avaí de Futebol Minicampo, que é realizado pela Associação Amigos de Bairro e já se tornou um dos mais tradicionais campeonatos de futebol amador da cidade, levando alegria e lazer a toda Indaiatuba.

“No primeiro campeonato apareceram oito times, e todo mundo jogava de um jeito meio estranho. Alguns jogadores até utilizavam sapatão ao invés de chuteira”, brinca Silvio. “Mas, com o passar do tempo, a coisa foi ficando mais séria e ganhando corpo, e a cada edição nós sentávamos para estabelecer as novas regras e deixar a competição cada vez melhor”.

Em 2012, o minicampo da Vila Avaí recebeu 20 equipes, 360 atletas e centenas de torcedores, que acompanharam toda a festa esportiva e ainda fizeram parte de uma campanha sócio-educativa chamada Campanha Torcedor Nota 10, realizada pelos organizadores da Supercopa.

Com a distribuição de cinco mil panfletos e conversas entre torcedores, dirigentes e jogadores, a organização do evento mostrou ao público que visita a Vila Avaí que todos são muito bem vindos, mas que devem tomar algumas atitudes para que o campeonato continue sendo um espetáculo seguro e voltado às famílias, seja dos jogadores ou não.


A campanha mostrou, sobretudo, que o exemplo é o que conta, fazendo com que o futebol continue sendo um esporte, um lazer e um entretenimento. “Devemos cuidar para que nossos torcedores façam parte do espetáculo de forma respeitosa, ordeira e pacífica para termos um evento cada vez mais forte e bonito, lembrando que uma sociedade melhor depende de pessoas melhores, e que o que faz uma pessoa ser melhor são atitudes pequenas do dia a dia, plenamente possíveis de serem executadas, especialmente quando se assiste a um jogo de futebol, respeitando a todos que estão em volta”, explicam os membros da organização.


Texto originalmente publicado na REVISTA EXEMPLO IMÓVEIS
Agradecimentos: Sr. Aluísio Williampresidente do Grupo AWR
Larissa Ferreirajornalista.
Texto de Leandro Povinelli
 As imagens e o texto deste post possuem créditos. 
Cite-os se utilizar para sua pesquisa.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Museu celebra os 406 anos de Itu

O Museu Republicano “Convenção de Itu” – USP preparou várias atividades para comemorar o aniversário da cidade. 
No dia 13, às 10h, em parceria com a Academia Ituana de Letras (Acadil), haverá o lançamento do livro “O Padre José de Campos Lara S. J. no ambiente em que viveu (1733-1820)”, de autoria do padre Fernando Pedreira de Castro S. J, com comentários e notas de Marcelo Meira Amaral Bogaciovas. 


Já no dia 22 haverá a abertura da exposição “O comércio de alimentos na Itu de antigamente”, trazendo fotografias do acervo, anúncios e matérias de jornais da cidade, guardados na biblioteca do Museu desde finais do século 19 até a primeira metade do 20, sobre feiras, mercado municipal, matadouro, padarias, confeitarias, armazéns, restaurantes, hotéis etc. 
Também ocorrerá uma mesa redonda para discutir as práticas alimentares nas ruas de São Paulo e Itu naquele período.


Imagem: Interior da padaria Pascoal Martini (sem data)
Do acervo do Museu Republicano “Convenção de Itu” – MP – USP

 Todos os eventos ocorrerão no Centro de Estudos do Museu Republicano,
Rua Barão de Itaim, 140, Centro de Itu
Telefones (11) 4023-0240 e 4023-2525

sábado, 23 de janeiro de 2016

Cinquentenário da Sociedade de Tiro ao Alvo da Helvetia em 1935







Crédito: Correio Paulistano de 31 de julho de 1935
Hemeroteca da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro)

Museu Republicano Convenção de Itu - A importância das doações.


A notícia foi publicada no dia 13 de março de 1930 no jornal "Correio Paulistano" (veja abaixo, na íntegra). 

A responsável pelo Museu Republicano Convenção de Ytú, a srta. Othilia Penteado de Paula Leite agradecia publicamente aos que colaboraram, enviando retratos dos participantes da "Convenção de Itu" para compor o acervo do museu.

Consta que o indaiatubano Theophilo de Oliveira Camargo, ainda vivo, enviou seu retrato para compor a importante coleção iconográfica.


Atualmente a Fundação Pró-Memória de Indaiatuba também está fazendo uma campanha para arrecadação de objetos, imagens, informações e dados para o seu acervo. Leia mais aqui.



 Crédito: Hemeroteca da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

Crédito da Imagem: Correio Paulistano de 5 de janeiro de 1936


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Primeira família de japoneses, de Nakaji Gomassako, chegou a Indaiatuba em 1935, na Fazenda Pimenta


Comunidade japonesa: 80 anos de imigração em 2015


O ano de 2015 marcou os 80 anos de imigração japonesa no município. História marcada por muito trabalho e organização, já que em 1947 seria fundada a Nihonjinkai, que daria origem à Associação Cultural e Esportiva Nipo Brasileira de Indaiatuba (Acenbi).

O começo desta história remete ao ano de 1930, marcado por um período de crise na economia brasileira, gerada pela queda na exportação do café, devido a uma grande crise mundial do produto. Com isso, grandes fazendas localizadas na região mogiana, que englobava de Campinas a Ribeirão Preto, acabaram indo à falência. 

Observando o momento de instabilidade, imigrantes japoneses dessa região investiram em pequenas plantações de arroz e algodão em outras fazendas da região. 

O imigrante Nakaji Gomassako, que morava onde hoje é o trevo de Campinas, na região do quilômetro 96 da Rodovia Anhanguera, foi um dos que abandonaram as fazendas de café.



O ano era 1935 e Gomassako chegava com a família na Fazenda Pimenta, para dar início à sua plantação de algodão, em um terreno arrendado. 

Com as péssimas condições das estradas vicinais existentes na época, a solução era utilizar a Estrada de Ferro Ituana, que ligava Campinas a São Paulo, e que acabou atraindo outros imigrantes para as imediações das linhas Ituana e Douradense. 

Em 1941, a Fazenda Pimenta receberia Teruo Imanishi e Uichi Miyake, que também arrendariam um pedaço de terra, e em seguida as famílias Takahashi e Miura, aumentando gradativamente o número de imigrantes japoneses na região, formando uma pequena colônia. 

De início, todos cultivaram o algodão, mas aos poucos introduziram o tomate em suas plantações. Mesmo com excelentes condições de transporte e um solo que propiciava e possibilitava a plantação simultânea de algodão e tomate, a primeira metade da década de 40, marcada pela 2ª Guerra Mundial, trouxe poucas famílias japonesas. No entanto, ao término do conflito, o número de famílias aumentaria exponencialmente. 

Visando basicamente o cultivo de café, muitos migraram para o norte do Paraná e outra corrente migrou para região próxima a São Paulo, visando o cultivo de hortaliças. Dessa segunda corrente, muitos acabaram por migrar na direção de Campinas e Jundiaí. 

Assim, iniciaram-se as migrações para as cercanias de Indaiatuba, aumentando a presença de japoneses na cidade. 

No início de 1947, Magotaiyu Kuwahara instalava-se em Valinhos, enquanto Miyoji Takahara chegava a Indaiatuba. 



Ainda naquele ano, a Fazenda Pau Preto acolheria as famílias de Yoshiro Hayashi, Takashi Fujiwara, Tamotsu Fujiwara e Etsutaro Tumoto, todas dedicadas ao cultivo de tomate. 

No período que antecedeu a 2ª Guerra Mundial, o pensamento entre os japoneses era de trabalhar durante dez anos no Brasil, acumular riquezas e volta à terra natal. Porém, ao término do conflito, muito desistiram e resolveram permanecer em definitivo. 

Para tanto, teriam que adaptar-se aos costumes locais e passaram a adquirir suas próprias terras. 

Outra necessidade urgente surgiria: educar seus filhos neste país. 

Muitas escolas de língua japonesa foram criadas antes da 2ª Guerra Mundial, mas um decreto do governo brasileiro datado de 25 de dezembro de 1938 obrigaria o fechamento de todas. 

Com a queda do decreto, em 18 de setembro de 1946, os japoneses passaram a se organizar para a formação de associações e aberturas de novas escolas.

 Foi então que em 7 de setembro de 1947, sob a liderança de Teruo Imanishi, os japoneses residentes em Indaiatuba fundariam o Nihonjinkai, com a denominação Associação de Japoneses da Região Ituana. 

A primeira era composta por Teruo Imanishi como presidente, Koichi Takahashi como vice-presidente, Nakaji Gomassako e Etsutaro Tumoto como conselheiros e Yassube Yoshioka como tesoureiro. 

A sede foi construída na Colônia Bicudo, na Fazenda Pau Preto, onde a maioria dos japoneses estava estabelecida. De início, a comunidade se reunia esporadicamente em confraternizações, mas com a chegada de novas famílias, as atividades esportivas cresceram e uma escola de língua japonesa foi montada. 

Em janeiro de 1952, em assembleia composta por 32 pessoas, o Nihonjinkai passaria a se chamar Associação de Japoneses de Indaiatuba, transferindo a sede para o centro, que existe até hoje. 

“Hoje mantemos nossas tradições com apoio da Japan International Cooperation Agency (Jica), que nos enviam professores voluntários para ensino da língua e dos esportes, como beisebol e softbol”, conta João Yamate, presidente da Acenbi.



Créditos:
Texto de Fábio Alexandre.
Publicado originalmente no jornal TRIBUNA DE INDAIÁ
(ao utilizar informações e imagens para sua pesquisa, cite sempre as fontes originais)

Carta à um estudante que quer fazer História e ser professor

Carta a um jovem tomando decisões

Há algum tempo, recebi uma carta algo aflita de um jovem de 16 anos, que chamarei pela inicial G. Ele dizia ter optado por fazer História e ser professor.A família fazia oposição. Respondi com esta carta. Por que divulgo? Porque muita gente tem perguntado a mesma coisa e pode servir a outros.

Caro G.,

como eu lhe prometi ontem, sento-me para lhe dar uma resposta mais complexa. Você tem 16 anos e pensa em seguir a carreira de professor e historiador. Tem dúvidas e sua família torce contra esta opção de vida. 

Sartre nos diz que escolhemos a resposta ao escolher quem responderá nossa dúvida. Ao perguntar a um historiador /professor se você deve seguir este rumo, é lógico supor que você queira um reforço da sua decisão. Vivo da minha escolha há mais de 32 anos e seria estranho que eu desse outra resposta a não ser um voto de entusiasmo. Mas o mundo é mais complexo...

Vamos começar pelo item “oposições familiares”. Seus pais e parentes próximos o amam e, sendo você novo e dependente deles, tem a preocupação aumentada. Você deve entender esta “oposição” como um gesto de amor e nunca como um combate a sua liberdade. Seus pais o conhecem muito e conhecem uma parte importante do mundo e da sociedade. Eles dizem estas coisas com absoluta convicção de ajudá-lo. 

De fato, como é muito noticiado, a carreira de professor tem percalços e é, de uma maneira geral, pouco atrativa financeiramente. A média da sociedade indicará carreiras com maior valor simbólico agregado, como Direito, Engenharia, Medicina etc. Seus pais refletem este senso geral. 

Há uma coisa importante a ser dita: quando temos 16 anos e ainda não gerenciamos nossa vida material de forma autônoma, desconsideramos o dinheiro como mola das coisas e, na generosidade da juventude, falamos de valores como vocação, desprendimento etc. Quase todas as pessoas aumentam a importância que dão ao dinheiro com o tempo. Envelhecemos mais materialistas, em geral. Até eu diria que isto é envelhecer para a maioria: medir o mundo a partir de coisas muito concretas. Além dos seus pais, você deve levar em conta que o G. de 50 anos talvez não tenha este desprendimento, mas, naquela altura, uma mudança de rumo será difícil. 
Há duas observações contraditórias com tudo o que eu disse. Seus pais o amam e querem o melhor para você. Levará alguns anos para você ter consciência da extensão deste amor. Porém, seus pais expressam a consciência possível do mundo e das escolhas que eles fizeram, dentro de circunstâncias deles, que não são as suas. Mais importante: quando você chegar ao fim da sua vida e tiver de responder se a vida valeu a pena, é provável que eles não estejam mais neste mundo e que gestos de aprovação ou desaprovação, feitos meio século antes, não tenham mais nenhuma relevância. Em outras palavras: a resposta sobre sua vida será sua, sempre sua, e solitariamente sua. Seus pais o amam e você deve ouvi-los; mas seus pais não são você.

O segundo ponto é que, de fato, há dificuldades na carreira que você cogita. Mas ...todas as carreiras apresentam problemas. O popular curso de medicina, que obteria aprovação de quase qualquer pai do mundo, é o que registra o mais alto índice de suicídios e alcoolismo entre os alunos na faculdade, segundo eu soube por pesquisa recente. Aparentemente, o glamour de algumas escolhas está no âmbito das conversas familiares e não na realidade das universidade. Meu pai era advogado e reclamava, sem cessar, dos problemas da profissão. A questão é que não existe carreira perfeita, mas ela deve estar adequada aos seus desejos, ao seu caráter e a sua ambição neste momento. Mas como saber como você será daqui a 20 anos? Não existe resposta. Ninguém sabe o futuro. Talvez até você tenha que fazer mudanças na sua escolha, mas, se for coerente consigo, continuará a busca pelo que é importante.

Se você, aos 16, pensou numa carreira de humanas e com magistério, você pensa fora da curva e deve ser original entre seus colegas de ensino médio. Se você cogitou esta ideia, parabéns, você não segue o pensamento coletivo e isto já indica um traço interessante. Há um preço a pagar por ser mais original, inclusive certa solidão. Mas, meu caro G., você já é assim e será mesmo que faça curso de História, de Educação Física ou de Engenharia Mecatrônica.

Você gosta da ideia de dar aula? Pode fazê-lo em quase todas as formações que tiver. Pode fazer o curso de Direito e ser professor. Você não está limitado a uma escolha. Pode também dar aula de História e fazer este lindo curso, como pode fazer Filosofia ou até Administração: todas estas carreiras podem ter sua contribuição como professor. São estudos desafiadores e interessantes. O estudo da História também é fascinante. Dar aula é uma paixão que me encanta mais a cada ano que passa.

Uma revelação: quando fiz a opção por História, minha mãe profetizou que eu passaria fome. Isto não ocorreu. Minha carreira tem sido prazerosa e materialmente eficaz. Eu decidi que queria mais e, após o curso, fiz pós graduação. Doutorei-me e comecei a dar aula numa universidade pública. Escrevo textos, dou palestras e organizo diversas atividades que me garantem muito prazer pessoal e boa retribuição material. Não sou a regra, mas demonstro que é possível viver muito bem como historiador.

Meu caro G. , o futuro é absolutamente imponderável. Os rumos que seguiremos são fruto de interações muito complexas que ninguém pode prever. O importante é você se conhecer, seguir sua reflexão, constituir uma meta e mantê-la enquanto ela lhe trouxer as respostas que você procurava. O magistério é um mundo difícil, mas possível. Seja sempre honesto com você e diga o que você realmente quer. Siga seu sonho com intensidade e faça um esforço gigantesco para chegar aos pontos que você traçou hoje ou aos que traçará no futuro. Saiba mudar de ideia quando perceber que o rumo mudou e saiba ouvir a todos que te cercam, mas consciente de que as escolhas finais são suas. 

Como advertia O. Wilde, viver é muito importante, porque a maioria das pessoas apenas existe. 

Talvez lhe ajude mais ler meu livro “Conversas com um jovem professor” que faz reflexões sobre esta escolha. Mas, mesmo lendo muito ou ouvindo pessoas como eu, lembre-se sempre de que você tem de tomar uma decisão sua, exclusivamente sua e só você responderá por ela.

Um abraço : Leandro Karnal.

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Leia mais sobre o ofício de ser historiador em: 

O Historiador e seu Ofício: Pedreiros da História


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Helvetia e a importância de sua história

Por José Carlos Banwart*

Faço parte da terceira geração dos suíços aqui no Brasil. 

Os primeiros imigrantes vieram em 1854. Meus avós emigraram da Suíça em 1881 por conta da situação em que o país se encontrava – as pessoas passavam fome por conta da “doença da batata”, na qual o legume apodrecia ainda na terra. É importante destacar que a batata era tão importante para o suíço, como o arroz e feijão são importantes ao brasileiro.  Napoleão Bonaparte havia acabado com o país, existia um vazio grande de alimentos e riquezas por lá. Adultos e crianças passavam fome, então a única opção que meus avós e as outras famílias tinham era de buscar um lugar com mais oportunidades.

Na ocasião, o Brasil demandava mão de obra na produção de café, que estava a todo vapor e alavancava a economia do país, então, os suíços vieram para cá e passaram a trabalhar junto com os escravos. 

As “levas” chegavam ao porto de Santos, onde havia uma separação de imigrantes pelos donos de fazendas, no qual os trabalhadores eram escolhidos. Os suíços vieram então com um fazendeiro de Jundiaí e ali deram seus primeiros passos para mudarem de vida. 

O fazendeiro teve uma afinidade muito grande com eles e sempre lhes oferecia boas oportunidades. 

Em 1880 um dos pioneiros suíços faleceu no Brasil, sua esposa decidiu que não queria mais ficar aqui e retornou à Suíça. Antes de partir, o fazendeiro disse a ela para que incentivasse outros suíços a trabalharem no Brasil. Já de volta a seu país de origem, essa mulher notou que ali não era mais seu lugar. O povo, o país e a cultura não evoluíam, o país ainda era muito pobre e, diferentemente do Brasil, não ofertava boas oportunidades. Com coragem e racionalidade ela decidiu voltar e levar consigo pessoas que pudessem introduzir cultura e valores a todos que aqui já estavam, para uma formação digna. Vieram com ela um padre, em sequência mais dois grupos.

Com a evidência da Lei do Ventre Livre, que considerava livres todos os filhos de escravas nascidos a partir de 1871 e, pouco mais tarde, em 1888, a Lei Áurea, que foi o diploma legal que extinguiu a escravidão no Brasil, a demanda de trabalhadores começou a aumentar, porque já havia uma carência evidente na mão de obra da produção e colheita de café, então todos os suíços tinham seu espaço para trabalhar.

Com a chegada destes novos grupos em 1881, 82 e 83, o fazendeiro ficou muito feliz e cedeu uma casinha para que os suíços a transformassem em uma capela, local que passou a ser o ponto de encontro e interação das pessoas. Outra coisa que eles trouxeram foi o tiro ao alvo e conseguiram fundar um clube. Enfim, a realidade foi que neste tempo os suíços conseguiram se desenvolver muito e, em aproximadamente 30 anos conseguiram pagar suas dívidas e surgiu a oportunidade de comprar algumas vaquinhas. 

O grupo de imigrantes de 1881, em sua procura de umas vacas, conheceu um fazendeiro que ofereceu sua terra, que cercava o Rio Capivari Mirim, atual Helvetia. 

Com esforço algumas famílias juntaram seus fundos e conseguiram realizar a aquisição. Ali começou uma comunidade; a terra foi dividida, separaram antes um alqueire destinado à cultura, onde foi construída a escola e depois a igreja que está lá até hoje. Buscaram um professor na Suiça, para educar as crianças. Este grupo fundou então a Colônia Helvetia em 14 de julho de 1888. Foram quatro famílias originárias do cantão de Obwalden, na Suíça Central. 

O nome Helvetia veio de uma placa que uma das famílias colocou em frente à sua casa, e assim ficou. Helvetia representa o povo da Suiça na época do Império Romano e quem o nomeou assim foi Júlio César.

Cerca de 24 famílias passaram a frequentar a igreja, a escola e o tiro ao alvo

Eu tive um tio que era muito andarilho naquela época e ele também conseguiu trazer um convento para a Helvetia. Como a igreja católica ainda pregava que quando um casal estabelecesse uma união estável, precisava ter filhos, então em dado momento havia muitas crianças. Os meninos quando cresciam trabalhavam com seus pais e as meninas eram educadas no convento. 

E assim a comunidade foi caminhando. 

Pouco à frente na linha do tempo, na minha época, em 1941, a comunidade estava no tempo em que as crianças já saiam da Helvetia para se educarem. Foi assim comigo, quando saí da escola fui para o seminário, em São Roque. Colocaram-me em um trem sozinho aos dez anos de idade e meu tio, que era padre, me esperaria na estação final. Fiquei por nove anos lá até perceber que não tinha a vocação para desempenhar o papel de um padre, mas foi uma experiência muito válida, pois aprendi muita coisa, tínhamos uma ótima grade de estudos. 

Segui então para a faculdade, estudei engenharia em São Bernardo, onde me formei. Longos anos se passaram e retornei a Helvetia. Casei com Rosa Angélica Ambiel Bannwart, que também descendia dos suíços que fundaram a comunidade, e tivemos nossos cinco filhos, Maria Paula, Luíza Helena, Juliana, Carlos Henrique e Ana Carolina.

O meu contato novamente com a comunidade foi em uma reunião que alguém, que não me recordo quem, me levou. Esta reunião ocorria a cada dois anos para a eleição da nova diretoria e os membros que ocupavam os cargos já estavam sobrecarregados, e a situação não era favorável: a escola já era a favorita da população de todo o entorno da comunidade, então as salas não comportavam mais alunos e os fundos eram baixos. 

A escola recebia apoio do Estado e bancava sete professoras, enquanto a comunidade bancava uma. Lembro que enquanto as do Estado ganhavam quatro mil cruzeiros, mais  todos os direitos CLT, e a professora bancada por nós recebia apenas mil cruzeiros por mês. Ao criticar esta situação me tornaram presidente para ajudar a mudar esta realidade. 

Mal tinha sido eleito presidente e apareceu o primeiro desafio: o Cardeal Rossi descobriu a nossa paróquia, que era a menor capela da região de Campinas, mas que alcançava a maior contribuição per capita do mundo, então ele quis nos visitar. Ficamos apreensivos, mas da nossa maneira o recebemos. Juntamos fundos e tudo deu certo. Convidamos o pessoal da PUC para ajudar na recepção. A atração nos fez arrecadar nosso primeiro dinheiro extra. Dias depois nos reunimos e comecei a motivar todos da diretoria para fazermos mais eventos como aquele. E assim seguiu. Com o tempo conseguimos ajustar a questão do salário de nossa professora e nos reestruturamos.

Hoje realizamos diversos eventos conhecidos em Indaiatuba, como exemplo a Festa Junina que fazemos e é sempre uma das maiores da cidade, com recorde de público, e também a Festa da Tradição.

Foi assim que vimos Indaiatuba surgir, foi assim que eu vi Indaiatuba crescer

A Helvetia, no meu ponto de vista, é consequência de uma história que aconteceu à revelia. 

Mesmo com as dificuldades, as pessoas a partir de 1894, não eram mais analfabetas, pois todos aproveitaram as oportunidades. 

Foi um povo que lutou e prosperou.

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* José Carlos Banwart e membro do Conselho de Preservação da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba.
Este texto foi originalmente publicado no Jornal Destaque em novembro de 2015.






segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Pró-memória realiza campanha de recolhimento de documentos e objetos sobre História de Indaiatuba

A Fundação Pró-Memória de Indaiatuba está com a Campanha de recolhimento de documentos e objetos sobre a história de Indaiatuba

A ação é em parceria com a Secretaria Municipal de Educação. O objetivo é contribuir ainda mais para o entendimento da história da cidade e da participação dos mais diversificados grupos na compreensão de sua formação histórica e cultural com foco nas seguintes linhas:

História da contribuição Afro-descendente em Indaiatuba;
História da contribuição Indígena em Indaiatuba;
História da contribuição dos Migrantes e Imigrantes em Indaiatuba.

Tudo é importante: fotos, documentos, objetos relacionados à História de Indaiatuba, sua gente, as pessoas que viveram aqui. Não é necessário ser um fundo com "muitos" itens.


Você olha para uma foto, documento ou objeto e tem lembranças? Atribui a ele (s) uma história relacionada à Indaiatuba? Então ele é importante para a Fundação Pró-Memória!

Caso você não queira doar fotos ou documentos originais, pode oferecer para tirar cópias.

A pessoa que empresa ou doa fotos, documentos ou objetos passa a ter um "fundo" com seu nome, agregando tudo o que foi doado. Por exemplo: "Fundo Antonio da Cunha Penna" que possui várias fotografias.

Suas lembranças, guardadas com tanto apreço, não correrão o risco de um dia ir para o lixo. pelo contrário: ficarão guardadas para sempre no acervo público do Arquivo Municipal ou no Acervo Público do Museu Municipal para futuras mostras e pesquisas de estudantes, jornalistas, historiadores e pesquisadores de todas as áreas.

. As doações poderão ser feitas por qualquer cidadão até o dia 31 de agosto de 2016 no Casarão Pau Preto, Rua Pedro Gonçalves, 477, Jardim Pau Preto, Indaiatuba e no Arquivo Público Municipal “Nilson Cardoso de Carvalho”, Avenida Doutor Jácomo Nazário, 1046, Cidade Nova I, Indaiatuba, de acordo com o regulamento que se encontra no site da Fundação Pró Memória de Indaiatuba: www.promemoria.indaiatuba.sp.gov.br.

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terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Escravos e escravidão em Indaiatuba (1766-1860)

Texto de Nilson Cardoso de Carvalho (in memorian)

Menciona-se com freqüência, não sei se procedente ou não, o esforço de Rui Barbosa quando ministro da fazenda, para eliminar a documentação relativa à escravidão no Brasil, tida por ele como uma mancha na nossa História. Se o fato é procedente, a atuação do inteligente baiano não conseguiu apagar a grande mancha, pois a quantidade de documentos existentes nos mais diversos arquivos é tanta que a toda hora estamos nos deparando com eles. É o que acontece, por exemplo, ao examinarmos o acervo documental de Indaiatuba existente nos cartórios judiciais, de notas, eclesiásticos e arquivos diversos. Graças a essa documentação é possível termos algum conhecimento, embora superficial, sobre esse tema que tentaremos abordar de maneira sucinta neste artigo.

Traficantes

Com a descoberta do ouro em Minas Gerais e do grande fluxo de mineradores para aquela região, aumentou extraordinariamente a procura por escravos africanos que passaram a ser comprados a peso de ouro para a exploração das minas.

Até então os fornecedores de escravos eram traficantes ingleses, franceses, holandeses, suecos e portugueses, passando nessa época a aparecer, principalmente no Rio de Janeiro, traficantes brasileiros.

Era esse um negócio muito lucrativo, pois rendia a cada quatro meses cerca de 50% do capital empregado, ou seja, aproximadamente 150% ao ano, quando nessa mesma época a renda de aplicação a juros era de 10% ao ano.

A viagem no navio negreiro

O traficante no Rio de Janeiro carregava seu navio basicamente com fumo e cachaça que eram as moedas de troca preferidas pelos fornecedores de escravos na África.

Existia um ponto na costa africana para onde convergiam os traficantes; era um entreposto de compra e venda de escravos trazidos de várias partes do continente para a venda aos capitães dos navios negreiros europeus e brasileiros. Os europeus levavam todo tipo de mercadoria para troca: seda e especiarias do oriente, tecidos ingleses, armas, ferramentas, pólvora etc., e os traficantes do Brasil como foi dito levavam fumo e cachaça.

Lá os capitães brasileiros trocavam metade da carga de fumo e cachaça que haviam levado por mercadorias trazidas pelos europeus e estes trocavam fumo e cachaça, a moeda corrente, com escravos que levavam para o Caribe e América do Norte.

A outra metade da carga dos navios negreiros brasileiros, era trocada por escravos trazidos para o Rio de Janeiro. As embarcações eram de 200 a 250 toneladas e traziam de 400 a 500 escravos (1). A viagem de ida e volta demorava quatro meses e, na volta, devido ao excessivo número de passageiros amontoados no porão, acorrentados juntos, e a parca alimentação constituída por farinha de mandioca
cozida com feijão, uma parte deles morria, sendo 10% uma quantidade considerada normal. Não era raro o naufrágio desses barcos e os que sobreviviam, não esqueceriam nunca mais esta viagem, tão cheia de horrores que os escravos celebravam, por meio de cantos e palmas, a entrada do navio no porto de desembarque.

O desembarque no Brasil e a viagem até Indaiatuba

Chegando ao Rio de Janeiro os escravos desembarcavam tão debilitados que mal conseguiam andar. Eram então levados a um local para sua recuperação e em seguida levados para a rua do Valongo, onde os traficantes estabeleceram seus negócios. Era o ponto de venda de escravos, e para lá se dirigiam os compradores, que os adquiriam, geralmente em lotes, conforme as encomendas.

Os escravos vindos para a capitania ou província de São Paulo vinham por via marítima até Santos, porto de desembarque de escravos e embarque de açúcar, cachaça, fumo e outras mercadorias.

Os escravos vindos para Indaiatuba eram importados por traficantes residentes na vila de Itu que ai tinham a sede de seu negócio.

Joaquim Duarte do Rego " negociante de açúcar e negros"

Ao final do século dezoito um dos mais prestigiados desses traficantes era Joaquim Duarte do Rego (2), capitão de uma das companhias do regimento de Itu e também familiar do Santo Ofício, isto é, agente da Santa Inquisição, com a função de vigiar os habitantes da Vila, denunciando os que, a seu juízo, poderiam ser considerados hereges. Além de negociante era proprietário de terras, inclusive em Indaiatuba, às margens do ribeirão do mesmo nome, atualmente denominado Córrego Barnabé (3).

Joaquim Duarte recebia os lotes de escravos e os vendia aos senhores de engenho da região. A venda era a prazo, com juros, para pagamento na safra seguinte, ocasião em que o senhor de engenho pagava não em dinheiro, mas em açúcar e aguardente, mercadorias que Joaquim Duarte remetia ao Rio de Janeiro como pagamento de novas levas de escravos.

Com esse tipo de operação, Joaquim Duarte ganhava três vezes: na venda do escravo, nos juros de mora que recebia, e ainda, na compra do açúcar e aguardente a preços favoráveis. Foi assim que amealhou grande fortuna, para si e seus descendentes.

"Quem tem escravos da Guiné que os batizem"

Quando os escravos chegavam nas fazendas, geralmente em lotes, o senhor os recebia e, a primeira medida era levá-los à igreja para batizá-los, obrigação que não deixavam de cumprir porque a lei então vigente determinava que todos os escravos africanos deveriam ser batizados. Isto era feito também por razão de ordem prática, pois na certidão de batismo do escravo constava também o nome de seu senhor, sendo, portanto um verdadeiro certificado de propriedade.

Os padrinhos, na cerimônia de batismo, eram também escravos pertencentes ao mesmo senhor ou a seus parentes, também senhores de engenho. Raramente se vê, nos registros, escravos tendo como padrinhos pessoas brancas, havendo, entretanto exceção para os escravos domésticos e de estimação; seus filhos com freqüência eram apadrinhados por familiares do senhor.

Origem dos escravos vindos para Indaiatuba

Em Indaiatuba temos registros de escravos vindos das mais diversas nações africanas (4) principalmente (pela ordem): Banguela ou Benguela, Guenguela ou Ganguela, Congo, Songo, Angola, Monjolo, Mina, Caçanga ou Caçange, Camunda e Muumbi, entre outros, a
maioria deles pertencentes à etnia dos bantos. (5)

A escolha: adaptação, rebeldia, suicídio ou fuga

Os escravos ou escravas, geralmente jovens, chegados da extensa viagem desde a África, eram levados para os engenhos, um mundo completamente desconhecido para eles, iniciando ali um aprendizado de novos costumes, nova religião e nova língua; língua esta que não conseguiriam falar fluentemente até o resto de seus dias. Mesmo a comunicação com seus companheiros africanos nem sempre era possível, por causa da diversidade dos idiomas falados pelas diversas tribos e povos a que pertenciam.

Muitos não se adaptavam ao novo universo e se rebelavam tornando-se vítimas de toda sorte de represálias; outros apelavam para o suicídio, que segundo uma crença corrente entre eles, era uma forma de regressar à África, regressar ao berço; outros escolhiam um caminho mais criativo: a fuga para as matas e lugares ermos, onde tentariam reproduzir o ambiente que deixaram na África.

Quilombo

A palavra “quilombo” pertence ao idioma “quimbundo” e tem o significado de “união” e foi o nome que os próprios escravos deram ao local onde se refugiavam ao fugirem de seus senhores.

Em Indaiatuba existe a fazenda e estação do Quilombo, em área da antiga sesmaria deste nome, que tinha mais de mil alqueires e era recoberta por extensa mata virgem.(6)

Foi dividida judicialmente em 1795 e recebeu este nome porque, alguns anos antes, negros fugidos das fazendas vizinhas, formaram um quilombo no seu interior.

Esse quilombo foi depois abandonado pelos negros seus fundadores, quando tropas vindas da vila de Jundiaí para prendê-los, começaram a penetrar na mata. Esta era tão fechada que os soldados levaram dois meses para chegar ao local do quilombo, encontrando-o já abandonado.

Preços dos escravos

Os filhos de pais africanos que nasciam no Brasil eram chamados “crioulos”, os quais sendo criados nos costumes da terra, adaptavam- se às mais diversas tarefas e se ajustavam aos hábitos e relações sociais vigentes tanto nas fazendas como nas cidades, e, dependendo de sua robustez e habilidades, eram cotados a um preço superior aos “gentios de guiné”, como eram chamados os trazidos da África.

Na avaliação do preço do escravo levavam-se em consideração alguns parâmetros, principalmente a idade, condição física, habilidades para execução de tarefas, inclusive as de ofício e, naturalmente, o seu comportamento. Não havia em certas circunstâncias a distinção de sexo. Tanto escrava como escravo, sendo produtivos nos serviços do engenho ou do cafezal, tinham a mesma cotação.

Andei comparando os preços registrados em inventários e outros documentos e constatei que um escravo adulto ou escrava custava mais ou menos o equivalente ao preço médio de uma casa comum edificada na vila.(7) Portanto, ter e manter escravos não saia barato, pois além do alto custo, seu sustento exigia dispêndio com alimentação, vestuário e cuidados especiais quando doentes.

O cotidiano nas fazendas

A vida diária do escravo no engenho ou no cafezal era muito exaustiva. O trabalho começava com o toque do sino da fazenda de madrugada e encerrava ao anoitecer. Era de sol a sol, com intervalo às 10 horas para o almoço, que consistia basicamente em feijão, toucinho, angu, farinha de mandioca e abóbora. Café adoçado com açúcar mascavo ou rapadura no meio da tarde e o jantar às 4 horas feito
com o que restou do almoço. À noite na senzala comia-se alguma coisa colhida no quintal, fruta ou verdura, cultivadas pelo próprio escravo, ou carne de alguma caça, obtida por ele nos campos e matas.

O escravo "coisa"

Desde a sua compra na África o escravo não era considerado gente e sim apenas uma “coisa”, um “bem” ou “mercadoria”, e como tal pagava imposto de importação ao entrar na alfândega do Rio de Janeiro. Mesmo depois de receber o batismo, o que teoricamente o tornaria cristão, era esse o tratamento que recebia, inclusive por parte da legislação.

Muitos documentos demonstram a condição de “coisa” a que era submetido o escravo. Dos mais ilustrativos dos que tenho visto estão num processo de justificação (8) proposto por um senhor de escravos de Indaiatuba (9), ao juízo municipal da comarca de Itu. Este processo encontra-se hoje sob custódia no arquivo do Museu Republicano Convenção de Itu, pertencente à Universidade de São Paulo.

Em julho de 1860, o proprietário da fazenda Sertão no município de Indaiatuba, comprou de um traficante da cidade de São Paulo, chamado Romão Teixeira Leomil, um lote de cinco escravos por nove contos de réis. Entre eles havia um de nome André com trinta anos de idade, portador de uma doença que o impossibilitava de trabalhar na lavoura. Passados dois meses da chegada daquele lote de escravos à fazenda, o proprietário levou André a Itu, sede da comarca, e o apresentou ao juiz, requerendo que ele fosse examinado por um médico que atestasse sua doença e sua incapacidade para o trabalho. O juiz determinou que o escravo fosse examinado pelo Dr. Kellin, o qual constatou ser ele portador de uma inflamação crônica do baço e anemia acentuada que o impedia de trabalhar na lavoura. Cópia desse processo foi fornecida ao senhor, livrando-o de pagar a Teixeira Leomil uma parcela referente ao escravo enjeitado.

Esse direito à devolução da mercadoria defeituosa estava assegurada ao fazendeiro num antigo código de leis que dizia: 

“Qualquer pessoa que comprar algum escravo doente de tal enfermidade, que lhe tolha servir-se dele, o poderá enjeitar a quem lho vendeu, provando que já era doente em seu poder de tal enfermidade, com tanto que cite ao vendedor dentro de seis meses do dia em que o escravo lhe for entregue”.(10)

O escravo "gente"

Havia, entretanto, situações em que o escravo “coisa” virava escravo “gente”; isto ocorria quando ele assassinava brancos ou quando empreendia fugas frequentes. Estes dois crimes eram passíveis da pena de morte na forca para servir de exemplo e dissuadir aos demais escravos porventura imbuídos das mesmas intenções. Praticado o crime o escravo deixava de ser coisa e adquiria sua identidade como “pessoa” a fim de receber a punição.

O assassinato de feitores era episódio dos mais freqüentes no Brasil todo e em Indaiatuba também ocorreram. Vou abordar um desses assassinatos, o ocorrido no ano de 1856, também na fazenda Sertão, quando Indaiatuba era ainda um distrito da cidade de Itu.(11)

No dia 25 de julho de 1856, uma sexta feira, por volta das onze horas da manhã, na citada fazenda a pouca distância da casa grande, estava uma turma de escravos roçando um capoeirão, isto é, roçando um local onde havia uma vegetação densa, comandados pelo feitor Vicente do Amaral Campos.

Iam todos roçando em linha no eito, mais ou menos juntos, menos o escravo Manoel que ficou para trás por levar mais tempo cortando um pau, mais grosso, difícil de ser abatido.

Por estar demorando, o feitor dirigiu-se ao seu encontro esbravejando e, empunhando um relho deu-lhe uma relhada da qual ele desvencilhou-se levantando a foice como anteparo; ai o feitor retirou a foice das mãos dele, atirou-a ao chão e começou a surrá-lo. Depois de dar-lhe a última relhada, pegou a foice do chão e deu-a na mão do escravo para que continuasse o serviço. Quando o feitor virou as costas o escravo deu-lhe uma foiçada na cabeça que o derrubou, e quando tentou levantar-se deu outra foiçada com a qual acabou de matá-lo.

Seus companheiros de eito só perceberam o que ocorrera, quando se estabeleceu um silêncio após o esbravejar do feitor. Matias, africano de 40 anos de idade, chegou ao local primeiro e vendo que o feitor estava morto e o assassino ao lado, amarrou o escravo Manoel e, quando chegaram os demais companheiros, o conduziram para o quadrado da casa grande. No caminho encontraram o proprietário da fazenda acompanhado de várias pessoas, seus companheiros, os quais no momento em que aconteceu a tragédia estavam caçando numa mata próxima.

Levado para Indaiatuba, o corpo do feitor foi encaminhado à casa do subdelegado José Manoel da Fonseca, onde foi feito o exame de corpo de delito, constatando-se que havia “um golpe de foice da nuca até o alto da cabeça com cinco polegadas e meia de comprido e um outro golpe atravessando a cabeça de uma orelha a outra com sete polegadas de comprido e profundidade que não se pode saber por estar vazando muito miolo”.

A 16 de agosto de 1856, o escravo Manoel foi submetido a um tribunal de júri em Itu, composto de 11 jurados, a maioria deles senhores de engenho. Não foi condenado à forca, como era o esperado, mas condenado a galés perpétuas, isto é, prisão perpétua com trabalhos forçados, com os pés acorrentados.

Manoel era filho de pais africanos, brasileiro, natural de Ouro Fino, Minas Gerais e tinha apenas 16 anos de idade!

Tal como Rui Barbosa, também nós nos sentimos incomodados com essa mancha que é um borrão na nossa História; mas ao invés de tentar esquecê-la e apagá-la, não seria mais positivo relembrá-la e reaviva-la para servir de contraponto e nos ajudar a construir uma sociedade mais justa, fraterna e civilizada?

A documentação utilizada na elaboração deste trabalho foi obtida em grande parte no Arquivo do Museu Republicano Convenção de Itu, a cujos funcionários agradecemos, especialmente a arquivista Prof.a Anicleide Zequini.

Tendo Indaiatuba pertencido ao território de Itu até o ano de 1859 o título deste artigo também poderia ser “Escravos e escravidão em Itu”.

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Notas:

(1) TOLLENARE, L. F.
Notas dominicais tomadas durante uma viagem em Portugal e no Brasil em 1816, 1817 e 1818. Tradução de Alfredo Mesquita. - Cidade do Salvador, BA: Livraria Progresso Editora, 1956.
(2) Esta no Mapa dos habitantes da vila de Itu de 1798:
Bairro de Indayatuba, Comp.a do Capitam Joze de Goiz da Ribeira e Morais
Fogo 51 Joaq.m Duarte do Rego Cap.m Aux. de idade 46 / Izabel Novais de Mag.es m de idade 45 / F.os / Joaq.m de idade 20 / J.e de idade 20 / Anna de idade 18 / M.a de idade 12 / Izabel de idade 11 / Antonia de idade 7 /
Escravos: 11 // Vive de seu Negocio de escravos, q’ traz do Rio de Janeiro e acçucar, q’compra e vende na prassa de S.tos, e no Rio / Planta mantim.to p.a seu gasto.
(3) Cartório de Notas de Itu, ano de 1791.
(4) Lista retirada da relação dos escravos do capitão Felipe de Campos Almeida, senhor de engenho no bairro de Pirai de baixo - “1801 / Mappa Geral dos Habitantes da Villa de Itú” / Inventário do tenente Pedro Gonçalves Meira; Cartório de Órfãos de Itu.
(5) Está no Aurélio:
Banto.[Do Cafre ba-ntu, ‘homens’ ‘pessoas’] S. m. 1. Indivíduo dos bantos, raça negra sul africana à qual pertenciam, entre outros, os negros escravos chamados no Brasil angolas, cabindas, benguelas, congos, moçambiques.
(6) Abrangia áreas das atuais fazendas do Quilombo, Itaoca, Sertão, Santa Maria, Itaguassu e outras.
(7) Uma das primeiras escrituras lavradas no primeiro livro de notas do cartório da freguesia de Indaiatuba , em 1833, referia-se à troca de uma escrava por uma casa.
(8) Auto de depósito em que são: José Estanisláo do Amaral Camargo Supplicante / Romão Teixeira Leomil Supplicado; Cartório do Primeiro Ofício da Comarca de Itu /1860.
(9) José Estanislau do Amaral, grande fazendeiro em Indaiatuba, proprietário, entre outras, das fazendas Sertão, Santa Maria, Cachoeira e Quilombo. Era dotado de uma disposição extraordinária para o trabalho e desde os 16 anos, quando pediu a seu pai para ser emancipado,
geria seus próprios negócios, chegando a ser uma das pessoas mais ricas da província de São Paulo ao final do século XIX.
(10) Ordenações Filipinas, Edição de Cândido Mendes de Almeida, Rio de Janeiro, 1870, vol. 4.
(11) Summario Crime ex-officio, pela morte de Vicente do Amaral Campos, em que são A Justiça Autora / Manoel, escravo de José Estanisláu do Amaral Réo; Cartório do Primeiro Ofício de Itu / 1856.

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MAIS SOBRE O ASSUNTO


Há mais de 125 anos, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea. Hoje, a promessa sugerida por ela soa envelhecida. Em "especial" organizado pela Revista de História da Biblioteca Nacional, especialistas como José Murilo de Carvalho, Robert Daibert Jr. e Manolo Florentino refletem sobre as origens, o processo e os efeitos do fim da escravidão no Brasil http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/abolicao-revista



Uma das raras fotografias de um navio negreiro. 
Esta foi feita por Marc Ferrez, em 1882. 
O navio que transportava as vítimas da escravidão era francês e a foto foi produzida de forma clandestina

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