texto de Charles Fernandes.
Não são apenas datas, personagens e locais que moldam a história
de nossa cidade.
Com o crescimento da atenção voltada para as
questões ambientais, torna-se necessário que se tenha um constante inventário
de nossa fauna e flora, tanto nativa quanto URBANA, cuja interação com o
homem estabelece dinâmica de transformação, alterando consequentemente o nosso
clima. É comum achar relatos em documentos e textos literários, sobre nossa
vegetação original, e como os primeiros habitantes de Indaiatuba interagiam com
a flora e fauna local, mostrando como isso vem se modificando até a atualidade.
Ter consciência de como o meio ambiente vem se alterando, e as consequências que isso causa, é fundamental
para estabelecer novas ações de preservação.
Em termos simplificados,
podemos dizer que clima é a história do tempo (no sentido meteorológico), e que
alterações climáticas são FATOS de relevante importância,
e que necessitam ser relatados
para um entendimento de nosso habitat,
e de nossa própria história.
Como dado oficial, retirado de nosso Plano
Municipal de Saneamento Básico podemos afirmar que o estado de São Paulo mantém 17,5% de sua cobertura
vegetal nativa, um índice muito baixo se comparado ao resto do território
nacional, fato preocupante e digno de programas efetivos para recomposição de
mata nativa. Indaiatuba por sua vez, tem índices inferiores a
estes: nossa vegetação nativa, mesmo somando remanescentes e recomposições, determina 8,15% do território do município,
menos da metade da média do estado. (segundo o Inventário Florestal do Estado
de São Paulo)
Com a constante preocupação
mundial sobre mudanças climáticas, faz-se necessário que voltemos nossa atenção
para as alterações climáticas locais, muito mais perceptíveis, observando os
históricos de médias de temperatura e de pluviosidade, e determinando como o
clima de Indaiatuba tem sofrido modificações ao longo de quase 2 séculos de
antropização (ação do homem no meio ambiente), avaliando se as alterações do
meio ambiente, necessárias para receber a nossa cidade, possuem
sustentabilidade a longo prazo, e até onde será viável manter o ritmo destas
alterações e principalmente, estabelecendo alternativas viáveis.
Em estudo divulgado pela UNESP,
de autoria de Giovana Girardi, (www.unesp.br/aci/revista/ed10/pdf/ UC_10_Aquecimento .pdf ), um panorama de médias diárias de temperatura entre os anos de
1961 e 2008 de várias cidades da região, entre as quais Sorocaba, São Carlos,
Piracicaba e Itapetininga, estabelece clara alteração do clima e indicam que
nossa região aumentou em cerca de 2°C suas médias históricas para este período,
devido a Urbanização e substituição da vegetação nativa por edificações. Mais
que isso, constatou-se que as temperaturas mínimas tem ultrapassado constantemente
a média de 22°C e as máximas diárias, muitas vezes são superiores a 32°C.
Fonte: Revista UNESP (Artigo
de Giovana Girardi)
Fenômenos de alteração
climática local, antes somente constatados em cidades de grande porte como São
Paulo, agora são observados em pequenos e médios municípios e seus efeitos são
sentidos por toda a população.
Indaiatuba tem se tornado uma
ILHA DE CALOR!
Aquecimento Local e Ilha de Calor em Indaiatuba
No início de janeiro deste ano, notou-se um fenômeno recorrente: um tremendo temporal assolando o Centro da cidade e bairros adjacentes sem sequer cair um pingo em Itaici. Alguém já se questionou qual a lógica desta diferença
tão grande entre o volume e intensidade das chuvas dentro de um mesmo
município? E porque parece que esse fenômeno tem aumentado nos últimos anos?
Para quem habita Indaiatuba há
muito tempo, e se lembra de um agradável frescor rural que amenizava as
temperaturas da cidade no verão, sobretudo ao fim do dia e a noite, e que trazia
uma brisa molhada vinda do mato, que destampava o nariz seco, em dias de
inverno, deve se perguntar: O que aconteceu com nossa cidade?
Nos últimos anos nosso perímetro urbano cresceu de maneira sensível, trocando
áreas onde originalmente se possuía cobertura vegetal, por cimento, asfalto,
pedra e tijolo. Aumentou a circulação de veículos motorizados, que dispersam
gases poluentes na atmosfera, situação que é agravada pela distribuição modal
de nosso transporte urbano, composto de mais de 54% de veículos particulares,
onde a média ideal estimada seria 33%. As áreas ocupadas possuem tímida
arborização entre os lotes, e as áreas verdes, obrigatórias em loteamentos,
muitas vezes não se prestam a recompor a vegetação nativa em margens de rios e
córregos, diminuindo nossa cobertura vegetal. Esse adensamento de áreas
construídas e impermeabilizadas, criadas pelo homem em substituição à vegetação
nativa, ou culturas agrícolas, tem criado em Indaiatuba um fenômeno climático
chamado “ILHA DE CALOR”.
As construções de nossa cidade e o asfalto das vias, possuem capacidade de
reter energia, gerando calor, de maneira mais intensa que a cobertura vegetal
original, e é capaz de manter esta temperatura por mais tempo, criando inércia
térmica, proporcionando noites mais quentes. Enquanto a zona rural se
esfria rapidamente após o fim do dia, a cidade se mantém quente por mais tempo.
Os dias na cidade são mais quentes, e durante as noites a diferença é muito
maior.
A Ilha de Calor cria uma área de baixa pressão, mais quente, de ar mais leve,
que tende a subir e criar uma coluna ascendente sobre a cidade, por
consequência retirando a umidade e deixando o ar mais seco que em áreas rurais,
aumentando também a quantidade de partículas em suspensão, seja de poeira, água
ou fuligem , vindas de combustível automotivo, atividade industrial, ou mesmo
de queimadas ilegais. Como impactante decorrência, as ilhas de calor agravam a
poluição atmosférica, diminuem a umidade relativa do ar, e aumentam a ocorrência
de problemas respiratórios, sobretudo em crianças e idosos.
Estas partículas em suspensão, de água, poeira ou fuligem, chamadas também de
aerossóis, sobem com as correntes ascendentes e quando entram em contato com
nuvens carregadas, criam gotas, que como bolas de neve na ribanceira, puxam a
água das nuvens para baixo, e que acabam se precipitando sobre o perímetro
urbano, criando um aumento da pluviosidade, se comparada às regiões rurais ou
mais densamente arborizadas. Este fenômeno se intensifica no final das tardes,
quando a diferença de temperatura entre cidade e campo se torna maior, chegando
a uma diferença de até 10°C, criando as tempestades de fim de tarde, que
curiosamente não incidem em áreas verdes com a mesma frequência e intensidade
que na área urbana. O aumento da Ilha de calor indaiatubana pode atrair chuvas
desastrosas e desproporcionais à infraestrutura de drenagem urbana da cidade,
sobretudo em nossa plana região central.
Imagem de Satélite de
Obra sobre a Área de Preservação Permanente do Rio Jundiaí em Itaicí em 2016.
Imagem de Satélite do
mesmo local em 2014.
Observando a relação da cidade com o meio ambiente ao seu redor, podemos dizer
que ao construir e sequencialmente expandir uma região estéril de áreas verdes,
também criamos um imã para tempestades, que acaba também alterando a relação de
precipitação e recursos hídricos em direção a montante de nossos cursos d’água,
no ponto em que literalmente roubamos a chuva que deveria ir para os
reservatórios de captação para consumo, na região das represas do
Capivari-Mirim e Cupini, e direcionamos estes valiosos recursos a jusante da
cidade, em direção a Salto, para o Jundiaí e depois ao Tietê. Fenômeno
semelhante assola também a grande São Paulo, prejudicando os recursos advindos
da região da Cantareira.
Uma das mais eficientes maneiras de
se reter o aquecimento demasiado da cidade é proporcionar amplas áreas verdes, ou cravejar as áreas urbanizadas com árvores para diminuir a incidência solar e
também aumentar a umidade através da evaporação, transpiração, jogando para a
superfície a água retida no solo pela vegetação.
Nossa Arborização Urbana já foi pujante, diria até corajosa, em tempos em que
se plantavam jequitibás, como os grandes indivíduos localizados na Rua Itororó;
ipês e sibipirunas como as dos bairros adjacentes ao Centro; a exemplo do
Jardim Pau Preto, o nosso Centro era cravejado de espatódias, onde restam
apenas algumas, como as da Rua 15 de Novembro. Lotes urbanos e praças possuíam
jatobás, paineiras e alecrins, que aos poucos tombam com a impermeabilização do
solo. Nas últimas décadas, trocamos o porte de uma sibipiruna, comum na
arborização urbana até a década de 80, pela canelinha, nos anos 90, pois seu
porte é menor e interfere menos nas instalações aéreas de energia e nos
passeios públicos, e também caduca menos, ou seja possuí menor deiscência de
folhas. Pelas mesmas razões a canelinha, foi substituída pela aroeira
pimenteira, e depois pelo resedá, e se tudo caminhar neste rumo, logo
estaremos plantando buxinhos em nossas ruas.
Tratar a arborização urbana como
prioridade ambiental, e estender esta atenção para a cobertura arbórea nativa
de nossas áreas de preservação ambiental, dispostas em perímetro urbano,
recompondo-as e conservando-as, é fundamental para diminuir a ação do fenômeno
da Ilha de Calor na cidade.
Arborizar a cidade adequadamente, e trabalhar a recomposição de áreas
florestais nativas como condição sine qua non a expansão urbana, são
atividades sustentáveis que podem reter ou até diminuir a ação do aquecimento
urbano em Indaiatuba deixando a cidade tão agradável, quanto sempre foi.
Fontes.:
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