E deu à luz a seu filho primogênito, e
envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para
eles na estalagem
Lucas 2:7
Era um verdadeiro acontecimento religioso, cultural, turístico e porque
não dizer tecnológico em nossa Indaiatuba antiga.
Fez parte durante muitos anos das mudanças que aconteciam na época do
Natal, esse período que, ainda hoje e creio que para sempre, muitos ficam mais
sensibilizados principalmente pela renovação da fé.
Praticamente todos os cidadãos da (ainda) terra dos indaiás iam até a
casa dele para ver o presépio, que não era pequeno, nem tão pouco tradicional.
Não era somente composto pelos pais Maria e José, pelos Reis Magos e
pelos seus presentes, pela estrela-guia e pelo menininho, que deitado sob o “tabuleiro em que se coloca comida para
animais estabulados” é sempre representado de forma a percebermos que,
pelos supostos movimentos das perninhas e bracinhos, que não descansam
acomodados, oferece-se para o colo do primeiro que espicha os olhos para ele,
como toda criança normal.
Era composto por tudo isso e muito mais. Elementos relacionados ou não
ao nascimento do menino Jesus compunham aquele atraente presépio, que todos os
anos ele montava e desmontava caprichosa e generosamente; afinal, ele abria o
quintal de sua casa para quem quisesse ver e sentir.
O quintal que abrigava esse presépio ficava na esquina do Largo da
Matriz Nossa Senhora da Candelária, em frente da casa número 1, onde hoje tem
um prédio de apartamentos. Local mais adequado, impossível: a vida religiosa e
social dava-se ali naquele Largo, que juntamente com o Largo da Cadeia – atual
Praça Prudente de Moraes, onde dava-se a vida política, compunham os principais
logradouros públicos daquela Indaiatuba que não conheci, mas que por motivos
não racionais tenho saudade.
Silvio Ferreira do Amaral era o nome daquele senhor, que proporcionava a
todos aquela contemplação.
Influenciado pela importância da expansão ferroviária, até um trenzinho
– que funcionava! – ele colocava na paisagem, que harmoniosamente unia o antigo
com o moderno, o pagão com o religioso, tudo em uma fiel representação do mundo
cotidiano vivido pela então pequena população urbana. Ali, os contrários se
uniam e tudo parecia um elemento só: o presépio.
Muitas vezes olhamos para imagens que por si nada valem, mas o que elas
despertam em nós sim, é que deve ser considerado. De que vale a imagem de uma
criança de barro? Nada!
O que vale em nossas mentes e em nossos corações os sentimentos, as
reflexões e as ações advindas de uma contemplação dessa mesma imagem, quando
essa mesma criança de barro é de um menino Jesus recém-nascido? Tudo!
Que as luzes do Natal que iluminam os presépios com seus meninos
inquietos, tragam-nos o principal insight
que a ocasião deve proporcionar: o encontro com Jesus, este personagem
histórico revolucionário que foi crucificado por poderosos que temiam seu
discurso igualitário, fraterno, caridoso e generoso.
Que o espírito de natal ilumine mente e corações dos que se dizem
cristãos para que reconheçam a essência das palavras ditas por Jesus Cristo de
Nazaré e que no ano de 2017 possam agir sem desvincular sua crença de sua
prática cidadã.
Pois de nada adianta ‘ir na igreja rezar e depois fazer tudo errado’, já
dizia uma melodia da década de 1970. Portanto, que sigamos a verdadeira lição
desse mestre, executando ações comunitárias incluindo aquelas advindas de mais
consciência crítica e ambiental.
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