texto
de Eliana Belo Silva
EDSON RODRIGUES (Edson
Gaúcho) nasceu no município de Rancho Alegre, no Paraná, no dia 25 de fevereiro
de 1954 e faleceu em 08 de agosto de 2005, sua fazenda no município de Pimenta em Minas Gerais. Filho de Lupércio Rodrigues e
Angela Bruno Rodrigues, foi casado com Rosangela Milanez Rodrigues. Seus
filhos: Sabrina Rodrigues Schreiner, Edison Rodrigues Filho e Janaina Rodrigues
Carrijó e os netos Giulia Bellotto, Maria Schreiner, Edson Gaúcho Rodrigues Neto,
Laila Carrijó e Lorenzo Carrijó. Estudou até o primário na Escola Parque de
Sevilha, no Paraná, onde foi diplomado em 14 de Dezembro de 1969. Tinha notável
inteligência musical, destacando-se desde menino como cantor de equilibrada voz
e mais especificamente, como repentista, carreira que seguiu até quando
faleceu, vítima de um trágico latrocínio.
Crédito de todas as imagens: acervo pessoal da família de Edson Gaúcho cedidas por Janete Rodrigues
Seu pai era tropeiro. Quando
criança trabalhava na roça, carpia uva e durante muito tempo lavava cavalos
para sobreviver. Seu primeiro instrumento musical foi uma sanfona de
oito-baixos que sua mãe lhe deu de presente, que conseguiu em troca de algumas
galinhas que criava.
Enquanto capinava as terras
do Rancho Alegre, no Paraná, cantava e fazia repente. Aos 10 anos ganhou o
concurso de repentista e ganhou o apelido de Gaúcho. Essa é a pequena história
da infância de Edson Rodrigues, mais conhecido como Edson Gaúcho, o maior
repentista do Brasil [1].
Edson é caçula de sete irmãos
que nasceu no Paraná, depois morou em Governador Valadares, Itupeva e finalmente
em Indaiatuba, onde morou por mais de 28 anos.
“Desde pequeno o Edson fazia
repente. Ele pegava o cabo da enxada e fazia de conta que era um violão. Quando
chegava parentes em casa, ele adorava fazer repente”[2] disse dona Angela B.
Rodrigues, mãe de Edson Gaúcho.
“_ O dom de repentista nasceu
comigo. Ser repentista é algo divino, maravilhoso. Sempre agradeço a Deus por
isso!” [3]
O primeiro cachê que Edson
ganhou foi numa feira de Agropecuária realizada em Governador Valadares, onde
morava. “Os fazendeiros de Minas Gerais me viram cantando na cidade, gostaram e
me convidaram para participar da feira. De lá. Não parei mais de fazer repente”,
disse.
Repente é o mesmo que ímpeto
e repentista é quem improvisa. E Edson Gaúcho soube muito bem fazer isso: “Eu
canto para o povo. Eu falo a um público simples, faço o que eles pedem,
improviso na hora e às vezes basta uma palavra para fazer um repente, às vezes
um objeto ou uma pessoa.”
Participou de infinidade de
shows e participações na TV. Em 1975, participou de shows de calouros do
programa Silvio Santos e tirou a nota máxima dada pelo José Fernandes, um
jurado muito exigente, tanto quando Aracy de Almeida. Participou da novela
Roque Santeiro, numa festa dada pelo Sinhozinho Malta, vivido por Lima Duarte.
Sua última aparição na TV foi no programa do Faustão. Participou, em 1984, do
programa “Viola Minha Viola” da TV Cultura, sempre elevando o nome de
Indaiatuba por onde quer que fosse. Participou do especial para a Rede Globo da
dupla Leandro e Leonardo e trabalhou em um programa na Rede Manchete, com
Sérgio Reis.[4]
Ocasionalmente, Edson
participava de festas familiares e empresariais, conforme documento de seu
acervo pessoal, uma carta enviada pela Crovel – Comercial Refinadora de Óleos
Vegetais, de Indaiatuba[5]:
“Quando alguém canta com o
coração, com a alma, até no céu se faz silêncio para ouvir, É a melodia divina
do amor. É a voz do amor. É a voz de Deus, à quem todos os ouvidos, pensamentos
e joelhos devem se curvar”.
Fora da TV, Edson Gaúcho
participou da campanha política de Guilherme Afif Domingos para presidente e em
seguida para o candidato Fleury Filho para governador do estado. “Foram 120
shows para Fleury. Acabou a campanha e eu não tive tempo para descansar” [6],
comentou Edson Gaúcho, na época. Também trabalhou na campanha de Fernando
Carvalho (PTB) à Prefeitura do Rio de Janeiro.
Quando soube que o repentista
iria trabalhar para o PMDB em campanha, o então deputado José Carlos Tonin
enviou-lhe uma carta [7] com os seguintes dizeres:
“Prezado amigo Edson Gaúcho,
quando soube que você irá trabalhar nesta próxima campanha eleitoral para o
PMBD e com a extraordinária figura do Dr. Milton Paiva, fiquei muito contente e
feliz em função de que você estará em companhia de pessoas confiáveis,
especialmente o nosso amigo Milton. Lembrei-me então, desta mensagem
[intitulada “O Valor da Confiabilidade” do Frei Neylor José Tonin]. Parabéns e
sucesso!”
Quando acabou a campanha de
Fleury, Edson fechou contrato para 10 shows em Portugal e Espanha em junho de
1991.
Em 3 de dezembro de 1990,
participou de uma festa promovida por Cesar Nogueira Produção Artística no
Sheraton Hotel no Rio de Janeiro, onde recebeu troféu de destaque do ano como
repentista. Outras estrelas premiadas e presentes nesta festa foram Aracy
Balabanian, Wando, Claudia Abreu, Patricia Pillar, Fagner, Gugu Liberato,
Claudia Raia, Angelica, Victor Fasano, Hebe Camargo e Cristiana Oliveira.
Quando Newton Cardoso
governou Minas Gerais, entre 1987 a 1991, fez vários shows contratados por ele:
“[...] Mas nesta visita de
Newton Cardoso à Mindiri, um momento de descontração, de gargalhadas e de lazer
proporcionado por um dos maiores repentistas que percorrem o Brasil; Edson
Gaúcho, foi um sucesso. Arrancou aplausos de todos e os cumprimentos do
Governador. Trata-se realmente de um grande artista,, um elemento que alegrou o
ambiente, cantou para todos, improvisando os mais curiosos versos. Aliás, em
diversas oportunidades Edson Gaúcho já teve chances de cantar em visitas do
Governador, o qual fica entusiasmado e satisfeito com suas brincadeiras e com
sua música contagiante”[8].
Cantou para vários políticos em diversas
ocasiões, mas sempre citava o fato de ter cantado para o então presidente
Figueiredo: “a apresentação que mais me tocou até agora foi no dia 2 de
outubro do ano passado, em Minas Gerais; tinha vários políticos e eles pediram
“bis”.[9]
Edson Rodrigues, o “Gaúcho”
era considerado pela crítica especializada um dos melhores repentistas do
Brasil. Além desse talento, ele levava uma vantagem sobre os demais
concorrentes: sua voz era perfeita. Edson apresentava-se com um conjunto
formado por cinco músicos profissionais e faz repentes sozinho, sem necessidade
de ninguém para acompanhá-lo.[10]
- Fazer repente é um dom
de Deus e desde menino as pessoas me pediam para cantar nas festas de igrejas e
escolas. Eu trabalhava em Itupeva, e um dia um amigo de Jundiaí me convidou
para cantar na Festa da Uva. O show foi em um circo bem modesto, e lá me
apresentei por dois anos, não ganhava nada.
Fora dos palcos e dos shows,
Edson Gaúcho ficava com a família, pois nem sempre eles podiam acompanhá-los
nos shows [11].
_ “ Desde que me casei com o
Edson eu sabia que seria assim. Eu sempre partilho da vida com ele. Ele é muito
atencioso, sempre que está longe, liga para nós. Já me acostumei”[12],
declarou Rosangela Milanez Rodrigues em 1990, esposa que Edson conheceu em um
baile em Vargem do Sul, sua cidade natal.
Edson também ficava com a
família em uma fazenda que tinha em Minas Gerais, onde criava gado, búfalos e
cavalos. Na ocasião, queria colocar o nome do local de ‘Haras Versos de Ouro”[13].
Em Indaiatuba participou de
inúmeros eventos, entre os quais a maior parte de maneira voluntária, como por
exemplo nas festas religiosas da padroeira Nossa Senhora da Candelária, Romaria
para Pirapora (durante 23 anos), Festa comemorativa do Dia dos Velhinhos (26 de
fevereiro de 1994) e outras.
Edson Gaúcho foi assassinado
em sua propriedade em 2005, na Fazenda Rancho Tropeiro do Vento, em Minas Gerais. O
assassino confesso narrou que ele reagiu à uma tentativa de roubo, tendo
recebido covardemente 3 tiros pelas costas. A festa de Nossa Senhora da Candelária, padroeira de Indaiatuba, sente saudade de seu ilustre repentista.
Recorte do acervo
pessoal da família de Edson Gaúcho
Jornal
PRISMA de PIMENTA - (MG)
18 de agosto
de 2005.
.....oooooOooooo.....
[1] MONTALDI, Edmilson, “O
repente de um gaúcho”. Publicação feita no Jornal Cidade Indaiá em 21 de
dezembro de 1990, quando o homenageado tinha 37 anos.
[2] Idem.
[3] Idem.
[4] ALVES, Josiane Giacomini.
“Sérgio Reis do tamanho do Brasil”, Jornal Correio Popular de 3 de
agosto de 1997.
[5] Carta do Acervo pessoal
de Edson Gaúcho, subscrita por Manuel Lourenço Alberto em 7 de janeiro de 1987.
[6] MONTALDI (1990).
[7] Carta do Acervo pessoal
de Edson Gaúcho, subscrita pelo então deputado José Carlos Tonin em 11 de junho
de 1992.
[8] Recorte de jornal sem
nome e sem data, com texto intitulado “O grande repentista”, do acervo
pessoal de Edson Gaúcho.
[9] Recorte do Jornal de
Hoje, página 4, “Versos até para o Presidente Figueiredo – Jeitão caipira,
Gaúcho faz repente e cria gado” sem data e sem autor do arquivo pessoal de
Edson Gaúcho.
[10] Idem.
[11] Idem.
[12] MONTALDI (1990).
DE AUTORIA DO VEREADOR NELSON LATURRAGHE DENOMINOU EDISON
RODRIGUES (EDISON GAÚCHO) O SISTEMA DE LAZER I, DO LOTEAMENTO DENOMINADO JARDIM
BELO HORIZONTE, EM INDAIATUBA.
EM JUNHO DE 2018, ATRAVÉS DO GABINETE DO VEREADOR ALEXANDRE
PERES, O ARQUIVO PESSOAL DO ARTISTA FOI ENCAMINHADO PARA A FUNDAÇÃO PRÓ-MEMÓRIA
DE INDAIATUBA, EM ATO DE SUA IRMÃ JANETE RODRIGUES.
O homem se vai, mas enquanto alguém
disser seu nome ou relembrar sua obra,
disser seu nome ou relembrar sua obra,
sua memória permanecerá entre nós.