Um passeio pela arquitetura tradicional indaiatubana e a busca pelas referências utilizadas, do vernacular paulista ao início do modernismo.
Chamamos de ARQUITETURA
VERNACULAR, a produção que caracteriza uma região ou local, através das
condições sócio-econômicas disponíveis, como matéria prima, técnicas de
construção e até mesmo cultura. Podemos
dizer que nossa arquitetura indaiatubana, utilizada na criação do povoado de
Cocais, cujo marco mais importante é a construção da Matriz da Candelária
em 1838, reflete o Vernáculo do
interior paulista. Pouquíssimos produtos ou matérias primas disponíveis, senão
as que o local fornecia; poucas ferramentas disponíveis senão as que podiam ser
transportadas em lombo de burro, desde Santos, até Itú, através do Caminho do
Lorena, e de Itú para Indaituba através das trilhas que chegavam na região do
Burú. O que aqui abundava eram o barro e
a madeira, o que aqui se possuía eram poucas ferramentas de corte, e essa
carência de recursos acaba por ser representada na singela arquitetura local,
que ainda pode ser observada na parte mais antiga do Casarão Pau Preto, que
representa nossa mais fiel arquitetura vernacular e que reflete a tenacidade do
indaiatubano em constituir um povoado.
Com o surgimento de uma economia mais estruturada, ainda que
agrícola, e a independência administrativa da cidade, veio a necessidade de
demonstrar este progresso, através de edifícios mais elaborados. No séc. XIX e
no início do séc. XX, haviam pouquíssimas
publicações especializadas em arquitetura, todas importadas, e a linguagem dos
prédios era reproduzida através de projetos de profissionais que viajavam para
a Europa e voltavam com suas impressões; ou de prédios que eram implantados,
pelo governo, igreja ou por produtores locais, para atender a funções de uma
cidade em estruturação, ou receber equipamentos importados como o caso da Tulha do Casarão Pau Preto, cujos detalhes construtivos acabavam por servir de
referência para a produção local de pequenas edificações e passam a dar formato
a nova cidade em desenvolvimento.
Para esta arquitetura e época em especial, não é correto
usar a expressão “Copiar” ou “Cópia”, pois toda a arte do Século XIX e início
do XX, chamada de ecletismo, adota “referências” e cria composições através do
uso dos elementos históricos de culturas ancestrais como a grega, romana,
gótica ou bizantina. Portanto é mais apropriado e nada pejorativo, dizer que
determinados prédios foram “referência” para o projeto de determinada obra.
Este processo criativo foi rompido apenas com o aparecimento do modernismo, no
Brasil, a partir de meados do século XX.
Podemos indicar que alguns prédios foram de enorme
referência para nossa produção local, e que apareceram na cidade vernacular
colonial, imperial, limpa e austera, como que alienígenas com formas arrojadas
e adornos que representavam a modernidade e a tecnologia de um novo tempo. A Casa de Câmara e Cadeia, os túmulos
ecléticos dos familiares de D. Leonor Barros de Camargo no cemitério de Taipas,
a estação ferroviária ou a Tulha do Casarão Pau Preto, são algumas das
produções "importadas" na cidade e que acabaram por adicionar
elementos europeus na arquitetura vernacular de Indaiatuba.
Casa de Câmara e Cadeia - 1888
Estas importantes construções foram inspiração para muitos construtores locais que passam a aplicar em seus edifícios elementos deste novo repertório à disposição, e que representam, nesta época, a modernidade, progresso e prosperidade, em resumo - STATUS.
Neste conjunto edificado junto a Praça Rui Barbosa, antigo Largo das Caneleiras, pode-se observar detalhes em alvenaria que tiveram como referência o entalhamento estilizado e Alvenaria Inglesa da Tulha do Casarão Pau Preto.
Neste último exemplar, é curioso ressaltar a utilização do “porão” que é um espaço livre, perdido e
ventilado através de aberturas, entre o solo e o piso do pavimento térreo, que
elevava a edificação do solo da cidade e que foi obrigatório, depois da
epidemia de febra amarela do final do século XIX até a descoberta do mosquito
como causa da doença. Durante este período era constatado que áreas mais úmidas
tinham mais incidência de febra amarela, e a medida era paliativa. Posteriormente,
com novas legislações higienistas, no início do sec. XIX, feitas para combater
a tuberculose e a febre amarela, acabaram por ser proibidas as alcovas, que
eram cômodos sem janelas típicos do vernáculo paulista, chamados também de
quartos de meninas. Foram instituídos os recuos frontais, laterais e de fundos
em edificações para proporcionar espaços mais ventilados, e muitas construções
passam a serem deslocadas do alinhamento do passeio público mudando com isso o
aspecto da cidade.
Com a chegada do Modernismo na cidade, com o prédio do
Correio de 1940 e posteriormente com a Prefeitura Municipal (ambos em projetos
não puramente modernistas), a arquitetura popular seguiu tomando alguns de seus
ícones como referência, mesmo sendo esta prática uma das oposições do movimento
modernista, constituindo um paradoxo curioso. Levou ainda algum tempo até que
obras que se baseiam em espaço contínuo, abstração e racionalismo pudessem
romper a cultura provinciana do início do séc. XX e produzir obras realmente
modernistas na cidade, mas isso já é outra história.
Platibanda da Prefeitura, considerado um prédio
modernista, reproduzida em prédio da época.
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