Na edição de sábado passado (11/12/2010) do Jornal Tribuna de Indaiá foi publicado um texto sobre a Farmácia Candelária, escrito pela jornalista Emily Mendes, com o propósito de anunciar que empresários retomarão o projeto do primeiro comércio do ramo na cidade, a Pharmácia Candelária, que foi conduzida gloriosamente pelo respeitado Francisco Xavier da Costa, o "Chiquinho Boticário" e seus descendentes por muitos anos.
É muito gratificante ver o esforço de alguns jornalistas em colocar em pauta informações sobre a História de Indaiatuba. Mesmo com a dificuldade que muitos possuem em fazer o texto rapidamente para atender a periodicidade da publicação, a maior parte têm feito um esforço importante para atender com rigor a necessidade da veracidade dos fatos narrados. Isso muitas vezes é difícil por causa das fontes, que na maior parte das vezes são orais, o que pode causar subjetividade em excesso. Mas o esforço continua sendo imprescindível e louvável e com o texto de Emily não é diferente. Leia (ou releia) abaixo.
HISTÓRIA DA FARMACIA CANDELÁRIA SERA REVIVIDA COM INAUGURAÇÃO
Empresários retomam projeto do primeiro comércio do ramo na cidade
Emily Mendes
Nas prateleiras frascos de vidro continham as substâncias que curavam as doenças e epidemias de épocas difíceis. O balcão de madeira colonial separava o atendente e o cliente, que como amigos dividiam as dificuldades e acontecimentos do dia-a-dia. Caixinhas de perfumarias, dadas como presentes a muitos que procuram os primitivos cosméticos, eram vistos como relíquias.
Essas descrições são apenas pequenos detalhes de um cenário comum por quase um centenário da Farmácia Candelária. A história do primeiro estabelecimento do ramo em Indaiatuba, localizado na Rua Candelária, será resgatado pelos farmacêuticos Fernanda Benedetti Soriano, de 24 anos, e Jean Carlo Pereira, de 33 anos, que com a ajuda do herdeiro da farmácia, o aposentado José de Oliveira, de 85 anos, reabrirão o comércio com o nome de Vivência Pharma. O novo prédio, que ainda passa por reformas, deve ser inaugurado em janeiro de 2011 e fica no mesmo endereço, na esquina das ruas Candelária e Siqueira Campos.
O novo estabelecimento, como o próprio nome diz, vai relembrar o histórico de atuação da tradicional farmácia indaiatubana. Objetos antigos que serviram de decoração e quadros de fotos da antiga farmácia serão usados na nova estrutura. Mesmo com a drástica mudança nas leis que regulamentam o setor, os idealizadores do projeto procuram manter as características da estrutura, como a disposição das prateleiras, a localização de medicamentos, salas de aplicação e escritório. “Fizemos todo um histórico a partir de fotos, documentos e com ajuda do se o José, que deu todo o apoio para resgatarmos detalhes dessa história”, explica Fernanda.
Atenção
Mas não é somente a parte física que os idealizadores querem reafirmar à nova e antiga clientela da Farmácia Candelária. A intenção é que o atendimento também seja feito nos moldes de antigamente. “Sempre tive vontade de ter uma farmácia com atuação de como era feito naquela época, em que o farmacêutico chamava o cliente pelo nome, e dava-se uma atenção maior, diferente de como é feito hoje”, explica a profissional, que foi gerente de uma grande rede de farmácias, o que fez aumentar o sonho de montar um estabelecimento com o foco na proximidade com o cliente. “O objetivo é ter proximidade maior com o cliente, principalmente com os idosos, que mais necessitam da atenção farmacêutica”, comenta Fernanda.
Estabelecimento foi fundado em 1893
A Farmácia Candelária foi fundada em 1893 por Francisco Xavier da Costa, mais conhecido como Chiquinho. De acordo com arquivos, a princípio a farmácia funcionava em um prédio na Rua 15 de Novembro, esquina com a Rua 7 de Setembro. De lá, mudou-se para vários prédios na área central da cidade, até ser transferida definitivamente para a esquina da Rua Candelária com a Siqueira Campos.
Um dos mais importantes fatos ligados à Farmácia Candelária e que rendeu ao estabelecimento o título de utilidade pública em 17 de julho de 1943 (ano em que farmácia completara 50 anos) foi a atuação junto aos flagelados da epidemia de febre amarela que assolou a cidade em 1899.
Consta em arquivos, que devido ao implacável surto na época, que o governo estadual mandou à cidade uma comissão de médicos notáveis, como Emílio Ribas, Paulo Bourroul, Evaristo Bacelar, Luiz de França, Assis Brasil, entre outros, esquecendo-se da remessa de medicamento para tratar os enfermos. Chiquinho foi responsável pela manipulação de milhares de fórmulas em um trabalho ininterrupto por dois meses com os enfermos, sem que ele fosse remunerado pelos serviços prestados e a medicação fornecida.
Um trecho de um folhetim publicado pela própria farmácia no aniversário de 50 anos, reforça a atuação do boticário. “Este é o maior galardão de glórias da sua longa jornada tão cheia de nobrezas e de desprendimentos. Com risco da própria vida, sem olhar recompensas materiais, com o ânimo de verdadeiro sacerdócio, o senhor Francisco Xavier da Costa, naqueles dias lutuosos e apavorantes, robusteceu a norma rígida que sempre foi o apanágio do seu lema de trabalho”.
Para a historiadora Eliana Belo, a palavra que representa bem a Farmácia Candelária é “confiança”. A imagem de Chiquinho era de extrema importância à população, visto que na época a cidade ainda não possuía hospital. “A figura dele era de um curador. Qualquer problema que as pessoas tinham recorriam a esse boticário, que acolhia seus clientes e passava essa confiança”, destaca.
Após a morte de Chiquinho, quem assumiu foi João Walsh Costa, mais conhecido como Jango, que por sua vez casou-se com Geni Wolf Costa.
Biotônico Fontoura era o carro-chefe
Nem analgésicos e muito menos antibióticos. O que mais as pessoas procuravam na Farmácia Candelária, na época do comerciante José de Oliveira era Biotônico Fountoura. O líquido fortificante, à base de ferro e outras vitaminas, era o mais recomendado por conta das comuns anemias da época, causadas por parasitoses. O que também era bastante visado pelos clientes eram os perfumes, que chamavam bastante a atenção das moças da época.
Outro fato peculiar contado por “seo” José era o constrangimento que acabava acontecendo quando os homens da cidade procuravam por preservativos. O aposentado conta que certa vez um cliente pediu abertamente uma camisinha e acabou gerando constrangimento. “Não se falava abertamente, como é hoje, quanto mais na frente das mulheres. Geralmente, era conversado em particular”, conta.
Relembrar histórias importantes do tempo da antiga farmácia e ver o estabelecimento tomar forma novamente é “ter um sonho realizado”, confessa “seo” José. Ele é viúvo de Geni Wolf Costa de Oliveira, falecida em 1998, e principal herdeira da família, e que também foi casada com João Walsh Costa, neto do boticário e fundador da Farmácia Candelária, Francisco Xavier da Costa. Entre outras administrações da farmácia, o prédio já deu lugar a estabelecimentos como bancos e investidoras. “Estou na maior alegria do mundo em ver aqui ser farmácia de novo, e a Geni está ganhando um presente lá no céu”, comenta.
Valores
Do tempo em que atuou na farmácia ao lado da esposa em 1982, José guarda valores importantes, que de acordo com ele, foram o segredo do sucesso e confiança dos clientes ao longo dos anos. “Com dinheiro ou sem dinheiro aqui o cliente levava o medicamento. Geni deu continuidade à honestidade da família. Ela era muito bondosa e vendia muito fiado”, conta José, que tocou a farmácia por dois anos com a esposa.
Do tempo em que atuou na farmácia ao lado da esposa em 1982, José guarda valores importantes, que de acordo com ele, foram o segredo do sucesso e confiança dos clientes ao longo dos anos. “Com dinheiro ou sem dinheiro aqui o cliente levava o medicamento. Geni deu continuidade à honestidade da família. Ela era muito bondosa e vendia muito fiado”, conta José, que tocou a farmácia por dois anos com a esposa.
Além de uma caderneta com o nome de quem não tinha condições de pagar, outros registros e documentos importantes ajudam a contar a história da Farmácia Candelária. No cofre da família, ainda permanecem relíquias, como uma carta enviada por Dom Pedro II a Francisco Xavier da Costa, reconhecendo a sua autoridade e atuação. Também há cartas de clientes que enviavam agradecendo e parabenizando a ajuda do boticário.
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Farmácia Candelária - década de 30
Crédito da imagem: Dinossauros de Indaiá (Facebook) postada por Cesar Cardoso
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