sábado, 17 de março de 2012

As misses da terra dos indaiás

texto de Eliana Belo Silva


A história das mulheres não é um caminho progressivo, mas uma estrada juncada de obstáculos, resistências e ultrapassagens.
Mary Del Priore


Dos valorosos cronistas que registraram singelamente efemérides da História de Indaiatuba, é justamente uma mulher - a saudosa professora Sylvia Sannazzaro - que escreveu sobre nossas primeiras misses. Conta ela, em seu livro “O Tempo e a Gente”, que na década de 1920, o concurso que elegeria a Miss Brasil entusiasmou vários locais pelo país afora, inclusive nossa cidade, que se envolveu na disputa através de dois clubes para eleger nossa representante. O político Scyllas Leite Sampaio e o jovem Sebastião Nicolau organizaram respectivamente as torcidas dos times Indaiatubano Futebol Clube e Corinthians Futebol Clube ao redor de suas candidatas Almira Gazignato, que ganhou o primeiro lugar - sendo a primeira Miss da Terra dos Indaiás - e Julia Lira.

Depois das pioneiras, tivemos outras representantes da beleza indaiatubana como Cássia Janys, que foi Miss Brasil, Jimena Carmelo e Daniela Zanotello, que foram misses São Paulo e as não menos belas misses indaiatubanas Mara Barnabé e as gêmeas Canton - neste caso uma só participou, mas o prêmio pode ser das duas, idênticas que são. Nossa, é até “sem educação” ser linda como todas elas.






Cássia Janys, miss Indaiatuba que foi miss Brasil em 1977


Brincadeiras à parte, o fato é que essas e outras mulheres de nossa terra não se destacam apenas por sua beleza natural, mas por sua forte presença onde atuam. Nos concursos das batalhas diárias, na passarela do cotidiano, muitas merecem entrar para a nossa História pelo destaque das coisas que realizaram e realizam. Vejamos.

Leonor de Barros Camargo merece encabeçar a lista de nossas grandes mulheres, tendo sido a mais importante da nossa História até hoje, construindo benemeritamente o majestoso Hospital Augusto de Oliveira Camargo com dinheiro de família, ajudando ainda a construção do prédio da escola Randolfo e financiando parte do sistema de abastecimento público de água.

Ainda no nosso passado, merecem registro a escrava Rufina, que fazia bonecas de pano e vendia em um balaio pelas ruas da cidade, após a Abolição; e a Nhá Durçulina, uma moça que enviuvou muito cedo, mas conseguiu duramente formar seu filho em uma escola da Capital, o qual retornou a nossa cidade abrindo a antiga Pharmácia Coração de Jesus. Também Nhá Isabel, uma “alemoa” que ganhava a vida lavando roupas da freguesia no Tanque dos Amstalden, alvejando-as e perfumando-as com esmero, daí tirando o sustento da família. Merece registro também a professora Chica Thebas - uma Educadora leiga, que mesmo sem formação acadêmica, alfabetizou muitos indaiatubaninhos na então Vila de Indaiatuba. D. Mariquinha Bicudo, que comandava o coral da Igreja Candelária, após passar o dia passando ternos de linho com pesado ferro em brasa; e tantas outras de ontem e de hoje que em algum momento identificaram-se com essas.

Na política, tivemos até uma prefeita, Helena Tomasi, que ocupou o cargo entre março e junho de 1947, tendo sido nomeada para o cargo do ex-prefeito Jácomo Nazário pelo governador Adhemar de Barros. Tivemos também nobres – mas poucas, vereadoras representando o gênero feminino em nosso Legislativo: as pioneiras Hélen Béssie Leite de Morais Castilho, e Itamar da Silva Maciel na década de 1980 e Celi Aparecida Brandt (PT), Rosana de Souza Magalhães (PDT) e Rita Francisca Gonçalves (PT) na década de 1990.

Lavadeiras, doceiras, costureiras, cozinheiras, verdureiras, benzedeiras - no passado. Donas de casa, empregadas domésticas, professoras, enfermeiras, escriturárias, advogadas, arquitetas, vereadoras, médicas, pesquisadoras - no presente. Muitos são os cargos, que acumulam-se com muitas funções cotidianas de mãe, filha, amiga, mulher, amante, sobrinha, tia, avó, madrinha. Nossa, quanta força.

Mas resta-nos ainda, como escreve sabiamente a historiadora da citação acima, libertar-nos de nosso Complexo de Sinhazinha: “ a brasileira de hoje conquistou o espaço para estudar, trabalhar e dispor de sua sexualidade, sem entraves. Ou seja, ela não quer mais ser a sinhazinha. Mas ela também lida mal com a solidão, com a competição e com as responsabilidades advindas das conquistas precedentes: produções independentes, a obrigação de prover a casa e o segundo turno de trabalho doméstico. Além disso, não abre mão de se cuidar para continuar a parecer uma princesa. Ou seja, a sinhazinha continua, bem viva, dentro dela”.

Que possamos nos libertar da imagem “xuxuzinho, de mulher-melancia e de gostosona”, que só coisificam a Mulher. Que possamos exorcizar de vez a sinhazinha que existe me nós, com seus tiranos padrões de beleza (que não temos) e que só diminuem nossa auto-estima, para que fortalecidas, sejamos as misses de nossos destinos e de nossa História, destacando-nos pelas nossas atitudes e não pela nossa imagem, conciliando trabalho e família, afeto e responsabilidade.

Aceita o desafio?


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