Eliana Belo Silva
Identidade Indaiatubana
Coluna do Jornal Exemplo
03/07/2015
FAZENDEIROS DE NOSSA TERRA – Joaquim Bicudo do Casarão
Joaquim Emigdio de Campos Bicudo nasceu em 5 de novembro de 1843 aqui em nossa cidade, quando Indaiatuba ainda era ‘Freguesia de Itu’, filho do casal João de Campos Bicudo e Ana Gertrudes de Campos, sendo a família Bicudo uma das mais antigas conhecidas povoadoras da região.
A família Bicudo é relacionada, pela maior parte dos indaiatubanos, com um dos nossos mais queridos patrimônios históricos edificados: o Casarão Pau Preto, que atualmente está tombado, é sede da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba e passou por uma significativa restauração no ano passado.
Casarão Pau Preto em imagem da década de 1940
Arquivo Público da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba
O Casarão começou a ser construído no início do século XIX e era a moradia do vigário colado Antonio Casemiro da Costa Roriz, que foi padre na igreja Nossa Senhora da Candelária por 43 anos. Em 1885, após a morte do Pe. Roriz, passou a ser de Joaquim Emigdio, cuja família Bicudo já tinha uma grande propriedade que fazia divisa com as terras do padre. O Casarão, feito até então com a técnica de taipa de pilão e taipa de mão, passou por reformas, sendo a construção da tulha a mais impactante delas: introduziu-se tijolos na edificação para instalar o que até agora se considera a primeira ‘indústria’ de Indaiatuba: uma máquina a vapor para beneficiar café. Ao visitar Casarão, entrando na primeira sala na frente da tulha, uma vitrine envidraçada mostra a ‘mistura’ dessa intervenção arquitetônica feita após 1885: vê-se, na mesma parede, taipa, pedras e tijolos.
Joaquim Emigdio foi inicialmente um comerciante de tecidos. Mas deixou esse oficio pela prosperidade de seus mais de 90 mil pés de café tratados por trabalhadores negros escravizados. Foi um indaiatubano muito ativo politicamente, conforme sua renda permitia que fosse: foi eleitor, vereador, coletor de rendas gerais e provinciais e participava das juntas de qualificação dos votantes de Indaiatuba, (que grosso modo indicava quem podia ou não votar), além de auxiliar a organização das eleições para cargos públicos de vereador, juiz de paz e deputados provinciais e federais; convém registrar que tudo isso só era feito por quem pertencia a uma elite econômica e intelectual. Foi assumidamente republicano na época de um governo imperial.
Foi muito ativo socialmente também: consta que ajudou a liderar a ‘vaquinha’ para juntar dinheiro para construir a estação ferroviária (atual Museu Ferroviário), e moderou, com outros senhores de escravos, a destinação do Fundo da Emancipação dos Escravos, da Lei do Ventre Livre em nossa cidade, onde 4 escravos foram libertos, entre outras ações.
Foi casado com Escolástica da Fonseca Bicudo e faleceu muito jovem, com apenas 48 anos, deixando oito filhos. A família continuou crescendo, e os filhos de Joaquim do Casarão tiveram seus netos e bisnetos - hoje não só em nossa Indaiatuba, mas em toda a região, em todos os lugares.
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