quarta-feira, 1 de julho de 2015

Reminiscências de Indaiatuba - O prédio da cadeia e da câmara


Edifício que serviu de Cadeia Pública, Câmara e Prefeitura Municipal, demolido pela dinâmica administração Odilon Ferreira, realizando velho sonho dos moradores locaes. Neste local, completando o ideal dos munícipes, será construída magestosa fonte luminosa. (texto com grafia original)


Texto de Antonio Zoppi (1)







A 6 de agosto de 1888, a Câmara Municipal contratou com Constantino Cassabuona a construção de um prédio para a Cadeia Pública e Câmara Municipal.


O pagamento seria feito em três vezes a razão de CR$ 4.740,00. 

Isto há setenta anos e o prédio ainda ergue-se majestoso em pleno jardim da praça Prudente de Morais. [o autor está em 1959].

A construção fora feita com todo o rigos obedecendo as leis de Higiene, ou seja, oitenta centímetros de porão, cinco metros de pé direito e as quatro fachadas com abundância de ventilação.

A entrada principal era a da cadeia onde havia o gabinete do Delegado, o alojamento dos praças e as celas com enormes grades de ferro.

Ao lado do prédio existia a entrada da Câmara que era separada da cadeia por uma parede central. Após a entrada havia um salão para os funcionários e o gabinete do prefeito.

Naquele tempo, a denominação era Câmara e os empregados da Câmara, o fiscal da Câmara e os vereadores eram chamados de camaristas. A Câmara só abria sua porta no mês de pagar o imposto predial.

A chave andava no bolso do Fiscal, que resolvia tudo sozinho, pois o Prefeito morava em uma fazenda e só aos domingos vinha para a cidade.

Nos tempos das eleições havia uma exceção: a Câmara abria-se as sete horas e assim permanecia durante todo o dia.

Somente mais tarde, quando o prefeito mudou-se para a cidade, a Câmara passou a abrir-se ao meio dia, porém, fechava-se as quatorze horas.

Era necessário o licenciamento das bicicletas, mas havia dificuldade para os operários diaristas que não podiam fazê-lo, pois ao meio-dia já estavam trabalhando e as quatorze horas, horário de tomar café, a Câmara já estava fechada. Então, era preciso perder horas de serviço unicamente para licenciar uma bicicleta.

Um fato interessante era que o delegado da cidade era comerciante e tinha muita amizade com o prefeito; as suas resoluções eram de acordo com a vontade do prefeito.

Um caso quase que inacreditável aconteceu na antiga cadeia: um moço indaiatubano de família muito distinta e trabalhador, ficou sofrendo das faculdades mentais e por não haver lugar no hospital(2), foi preciso deixá-lo preso por muito tempo (3). Mas o coitado fazia um tremendo barulho, gritava com todos que atravessassem o largo e o mais curioso ainda, foi que, com uma tampa de lata, colocada nas celas, serrou uma tábua do soalho. Com a tábua, o demente passou a bater constantemente na parede de um tijolo e meio, quase meio metro de espessura! Não é de se admirar, pois o ditado diz que água mole em pedra dura tanto bate até que fura, e o moço depois de muito bater conseguiu abrir um rombo na parede. Pelo buraco, fez passar seu corpo, mas ao sair, caiu nas mãos de dois soldados que o esperavam.

Outro fato lamentável foi o de um solado, de extrema bondade e grande número deamigos: um dia, estando debruçado na janela da frente do gabinete do delegado, tirou os revolveres e disparou contra o próprio ouvido morrendo instantaneamente sem que lhe pudessem prestar qualquer socorro.

Desde o tempo em que era o prefeito municipal o Dr. José Cardoso da Silva que estão projetando a construção de um prédio novo para o Paço Municipal, e graças ao esforço do atual Prefeito, estão construindo esse grande melhoramento que com o progresso da cidade necessita, porém se não ficar como o prédio dos Correios e Telégrafos.

Dizem que no lugar do velho prédio, depois de demolido será construída uma bela FONTE LUMINOSA as expensas do Cotonifício Indaiatuba S.A., que muito agradecemos pela iniciativa, porém não precisa ser uma fonte de luxo como a de Ribeirão Preto ou de Poços de Caldas, temos aqui uma simples e bonita em Itapetininga muito bem servida de igual para Indaiatuba. Diz o ditado que cavalo dado não se olha a cor - é uma simples sugestão.

O nosso jardim da Praça Prudente de Moraes é um orgulho para os indaiatubanos mas está perdendo a graça devido a falta de fiscalização e os moleques e alguns marmanjos que pisam no gramado, não cooperando com a sua conservação.










Arqueologia digital elaborada por Charles Fernandes



Prédio da nova Prefeitura, apelidado de "Brasilinha"
Imagem da década de 1960 cedida pela historiadora Maria Luisa C. Villanova




Fonte Luminosa de Indaiatuba - década de 1960
Construída onde era o antigo prédio da Cadeia e Câmara
Na época, a demolição e a construção da fonte pelo prefeito Odilon Ferreira foi comemorada pela maior parte dos indaiatubanos que viram o fato como uma inovação, uma modernização.




Prédio da Cadeia e Câmara - Vista Lateral

Década de 1950, pouco antes da demolição




(1) texto originalmente publicado na Tribuna de Indaiá de 1o. de maio de 1959
(2) lugar para doentes mentais
(3) era comum doentes mentais, ditos "dementes" ficarem presos em cadeias públicas quando as cidades não possuíam  hospitais psiquiátricos.



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