texto de Eliana Belo
Originalmente publicado no Jornal Exemplo de 1o./04/2016
No dia 29
p.p. a Fundação Pró-Memória de Indaiatuba ministrou no Casarão Pau Preto a
primeira oficina de 2016 do projeto Escola do Patrimônio, em parceria com a
UNICAMP, projeto que vem, deste 2014, oferecendo oficinas de capacitação para
educadores da rede estadual – que tem sido convocados para para participarem dos
eventos - e para o público interessado em geral. Nesta terça-feira passada o
tema foi ‘Patrimônio Ambiental e História Ambiental – proposta para o ensino de
História e o facilitador foi o Dr. Eduardo Giavara da UFU.
HISTÓRIA AMBIENTAL
A
História Ambiental, como tudo o que se refere ao meio ambiente, é relativamente
nova e adveio de demandas que analisam a relação que o homem tem com a
natureza, relação esta que sabemos ser demasiado predatória, com inúmeros
impactos ambientais e mais do que isso, desastres ambientais como
testemunhamos, estupefactos, em Mariana (MG) e que permanece impune, acontecendo
agora, apenas nas esferas judiciais - enquanto milhares de pessoas ficam sem
lugar para morar e mais do que isso, para sobreviver.
Segundo
Giavara, “a História Ambiental pretende reunir
conhecimento e metodologias próprias da pesquisa histórica para
investigar as mudanças sociais e econômicas à luz das questões ambientais
observando as várias formas de relação do homem com o mundo natural”. A relação
do homem com o mundo natural não é uma área de estudo nova, pelo contrário, é
antiga, mas antes o foco era outro: era exploratório, quase sempre o resultado
do trabalho era aplicado do ponto de vista econômico. Agora é diferente: do
ponto de vista educativo, busca-se a relação que o sujeito tem com a
história ambiental para, a partir dessa
intersecção entre ele e o mundo natural que o rodeia, inclusive através de
sentimentos e relações de pertencimentos, tentar superar essa relação
predatória e transformá-la em preservacionista, respeitosa, sustentável.
PATRIMÔNIO
AMBIENTAL
Giavara destacou que o
patrimônio “é o conjunto de bens materiais e imateriais que podem representar a
história de uma localidade ou comunidade; bens esses que carregam em sí valores
e representações acerca do passado, das tradições, costumes, bem como modos de
(re) interpretar a realidade”. O patrimônio pode ser histórico, cultural e
ambiental.
O professor Lauro Ratti,
presidente do Conselho de Preservação da FPMI e professor de História da EEPSG
Profª Annunziatta Leonilda Virginelli Prado citou a relação emocional que
várias gerações possuem com a Represa Cupini, onde, em seu entorno, foi
construído o Museu da Água que está para ser inaugurado nos próximos dias. “_
Íamos de bicicleta até o local, bebíamos água das nascentes”. Essa lembrança do
professor Lauro é um preciso exemplo de insight
de “pertencimento”. É justamente esse sentimento, essa relação de pertencer
a História de um local que faz com que possamos retirar uma pessoa, um aluno,
um educando, do seu mundo fechado, para transformá-lo em um cidadão ativo,
participante, preservacionista.
_ O que você faz para
preservar esse local? E a água? A Fauna? A Flora?
A partir de um sentimento
íntimo de pertencimento, há inúmeras possibilidades educativas de ampliar a
visão de mundo de nossos educandos e é isso (também) que a Oficina do
Patrimônio tem buscado ensinar e aprender com os educadores de Indaiatuba e
região.
Giavara citou a seguinte
definição de Halbwawachs: “memória é
a construção mental que fazemos de referências e lembranças que vivemos
coletivamente e nossa participação representa um ponto de vista da memória do
grupo, isto é, da memória coletiva.”
Ao visitarmos o Museu da
Água, que abrirá em breve, com certeza teremos insights emocionais como teve o professor Lauro ao narrar sua
infância na Represa Cupini. Nos reconheceremos naquelas imagens, naquelas histórias,
ali estarão nossos, pais, nossos avós, nossos bisavós, nossas famílias de
alguma forma. Saberemos que aquela memória exposta naquele museu é também, a
minha memória, e sendo assim, saberei, que tenho que agir para que a memória
coletiva do futuro se orgulhe do sujeito que eu fui hoje. E isso vale para
todos que querem construir uma outra história ambiental fantástica para o
futuro, muito diferente da que testemunhamos em Mariana.
Imagens de Eliana Belo Silva
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