Crédito: Dr. Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus
Superintendente da Fundação Pró-Memória e
Doutor em História Cultural e Pesquisador da Unicamp/IFCH
Publicado originalmente na Tribuna de Indaiá
Na última coluna salientei a relevância da cultura açucareira para nossa cidade, utilizando como exemplo uma das principais localidades produtoras no século XIX, a Fazenda Cachoeira do Jica. Mas salientei, também, que Indaiatuba e a Fazenda se destacaram historicamente como polos relevantes da produção cafeeira, situação que se reflete em toda região denominada "quadrilátero do açúcar".
Como afirma Maria Theresa Petrone (1968, p.162): "1846-1847 é, certamente, o ano mais importante, o ano decisivo para a cultura canavieira. Os agricultores do hinterland de Santos, a partir de então, resolvem abandonar o cultivo da cana-de-açúcar para se dedicarem ao café. O 'quadrilátero do açúcar' vai transformar-se em zona cafeeira. O café plantado em 1846-1847 produzirá, em 1850-1851, ano em que ultrapassa, em volume, a exportação de açúcar pela barreira de Cubatão. Estranha coincidência!".
No ano de maior exportação de açúcar também foram formados grandes cafezais. Desta forma, seguindo o modelo das demais cidades da região, Indaiatuba teve sua produção direcionada para os campos de café nas três últimas décadas do XIX, o que fez com que os cafeicultores vissem, nesse momento, a necessidade de criar uma alternativa para escoar sua produção.
Com tal intuito, foi idealizada em 1870 a Cia. Ytuana de Estradas de Ferro, que se originou de uma concessão outorgada em 1870, destinada a fazer a ligação entre Itu e a São Paulo Railway, em Jundiaí. As duas primeiras linhas construídas pela Companhia passavam por Indaiatuba: a Jundiaí-Pimenta (Indaiatuba), inaugurada em 1872, e a Pimenta-Itu, criada em 1873. Esta última "abriu o ramal de Piracicaba, partindo de Itaici, atingindo Capivari, a partir de 1875, Rio das Pedras em 1876 e Piracicaba em 1879" (Annunziatta, 2003, p.4).
Especialistas no tema destacam a importância estratégica da Estação de Itaici em Indaiatuba, pois "era um ponto de parada de onde abria uma chave para o ramal de Piracicaba", além de ser "um ponto de distribuição e de ligação entre o interior do estado de São Paulo e suas regiões". Desse modo, como era "uma estação de união, ligava a região de Sorocaba a Campinas, Piracicaba e Jundiaí, atualmente as maiores regiões do interior paulista" (Annunziatta, 2003, p.4 e 8).
Além disso, construíram-se vários ramais que foram responsáveis por boa parte da distribuição da produção cafeeira da região. Dentre eles, um passou dentro da própria Fazenda Cachoeira do Jica, como afirma Scyllas Sampaio (1998, p. 158): "Em 1871, o Jica autorizou que se passasse pela sua propriedade a linha tronco da Estrada de Ferro Ituana, acreditando, diziam, que não teriam os construtores meio de ultrapassarem as pedreiras lá existentes. Em 1873, para surpresa sua viu os trilhos vencerem galhardamente os obstáculos e passarem ao lado de seus engenhos".
No entanto, nesse momento os Engenhos já não tinham a dinâmica de outros tempos e a autorização para que a estrada de ferro passasse por suas terras, na verdade, já denotava o interesse de escoar a nova cultura produzida na Fazenda, o café. Situação que marcou a realidade não só da Fazenda Cachoeira do Jica, mas de várias outras áreas produtoras de café na região da nossa cidade.
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Estação de Itaici, entre 1981 e 1985. De acordo Com Eric Mantuan, vice-presidente do Movimento de Preservação Ferroviária de Sorocaba,
os trilhos fora retirados por volta de 1985. Foto: Ivo Arias/Coleção Vanderlei Zago
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Estação de Itaici, entre 1981 e 1985. De acordo Com Eric Mantuan, vice-presidente do Movimento de Preservação Ferroviária de Sorocaba,
os trilhos fora retirados por volta de 1985. Foto: Ivo Arias/Coleção Vanderlei Zago
Estações da Estrada de Ferro Ituana
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