sexta-feira, 8 de julho de 2016

A palmeira de indaiá e a cotia

Eliana Belo Silva
Coluna semanal "Identidade Indaiatubana"
Jornal Exemplo de 08/07/2016


O indaiá e a cotia


            Sabemos que o indaiá, que deu origem ao nome de Indaiatuba (yinayá´tyba), é uma palmeira rebelde no que tange ao replantio eu cultivo artificial.

            Há pessoas que até conseguem replantar, mas depois de um tempo a maioria das plântulas acaba por perecer.

            Reconhecida por estar ligada à nossa identidade histórica, ela está no Brasão da Cidade e na Bandeira da nossa cidade e já foi até alvo de projeto em nossa Câmara de Vereadores, com indicação de incentivo ao seu replantio.

 

Mesmo assim, temos raras sobreviventes da palmeira em nossas terras, justamente onde havia campos e mais campos forrados dela, narrados romanticamente por memorialistas que registram nosso passado em suas crônicas sempre nostálgicas sobre o coquinho que chupavam quando brincavam, na infância, livres, em andanças divertidas por nossa cidade que não apresentava perigo algum. Talvez por essa dificuldade, ela nem tenha aparecido no Plano Municipal de Arborização, publicado pelo atual governo em 2015. 

 

Outro motivo para sua quase extinção, além do difícil cultivo artificial, é que não era apenas o coquinho que era procurado pelos indaiatubanos.


Toda a palmeira era útil para alguma função: desde suas folhas para cobrir casas, fazer colchões e até para decoração de ambientes, como por seu palmito para iguarias. 

 

Mas um artigo indicado pelo arquiteto Charles Fernandes (disponível em http://www.seb-ecologia.org.br/viiceb/resumos/60a.pdf), dá uma nova perspectiva sobre sua raridade: na medida em que as cotias foram excluídas dos nossos campos, o indaiá também pereceu.


Charles aponta que "na língua indígena, indaiá quer dizer, ao pé da letra, "fruto que se parte", indicando que o coquinho tinha que ser partido ou melhor - roído - para que pudesse germinar. E essa função era feita pelo principal dispersor: a CUTIA [ou cotia, que também está certo]

 

Dispersor é o animal que se utiliza da planta para alimentação e em contrapartida dissemina as sementes para longe. As amêndoas de indaiá, que inclusive também são comestíveis, cruas ou torradas, precisam ser ENTERRADAS no solo seco e ao sol, e este é justamente o hábito dos roedores ao reservar sementes para uma futura refeição.


                Na medida em que a cotia sumiu de seu original habitat nos campos de Indaiatuba, dando lugar à expansão urbana que parece não ter controle e nem tão pouco fim, a quase extinção deve ser considerada também sobre esse aspecto.


            Outra informação destacada por Charles Fernandes é que "uma das maiores dificuldades de se reproduzir o indaiá é observar o tempo de 2 anos para germinar o coco se enterrado inteiro, ou 120 dias para a amêndoa. O que se indica é que se enterre o coco ou amêndoa em matas de borda, para que receba sol parcial, tenha relativa proteção, pois as plântulas demoram muito a crescer."

            "O indaiá é usado como estudo para revegetação dos cerrados: ele é um ótimo indicador de degradação, sujeito a alterações de ecossistema, fuga de dispersores e polinizadores", completa Charles.


            Por depender de roedores como a cotia para seu replantio natural, podemos então concluir que não foi apenas a atividade de coleta predatória da palmeira de indaiá, feita em nosso município, que levou a quase sua extinção. Temos que considerar que a manutenção de ambientes íntegros é imprescindível para que seja evitada a perda de espécies, preservando-se, consequentemente, as interações ecológicas entre as populações dos diferentes habitats. 



Cutia ou Cotia



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