texto de Charles Fernandes
A TRANSIÇÃO DO BARROCO PARA O ECLETISMO EM INDAIATUBA
Indaiatuba nasce em torno da Igreja da Candelária e tem neste prédio seu maior expoente arquitetônico. As residências e comércios que a ladeiam nesta fase inicial possuem arquitetura de “chão” despojadas de adornos ou linguagem.
As construções vernaculares* de Indaiatuba na primeira metade do século XX, atendem apenas às necessidades básicas de obras urbanas, feitas em barro, de pau a pique ou taipa de pilão, com telhados em duas águas, jogando a chuva para a rua e para um quintal comum que integrava os interiores das quadras.
É válido registrar, para ilustrar, que o material para executar calhas, somente viria com a ferrovia, e rincões de telhados eram impraticáveis, impossibilitando às residências de ter grandes apêndices. A busca por ventilação para os cômodos derivava as janelas e portas para a rua, sem recuo algum, e para um quintal, proporcionando uma ocupação longitudinal a via, de obras que evitavam criar oitões aparentes. Desta forma, a cidade adquire um visual formado por sucessivas e ritmadas portas e janelas, dispostas como notas em uma partitura musical. A austeridade de recursos é refletida na quase ausência de adornos e detalhes arquitetônicos requintados, a cidade possui as características do material com o qual suas edificações são executadas e também da função para a qual estas obras atendem. Estas qualidades precedem movimentos de arquitetura contemporâneos em quase 100 anos, não por opção, mas por necessidade.
Casinhas do antigo centro urbano – Esquina da Pedro de Toledo com a Siqueira Campos
Foto original da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba
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Com a chegada da ferrovia e com novos recursos econômicos da cafeicultura para a cidade, outro movimento artístico vai suceder o Barroco, que aqui foi apenas insinuado, pela planta e de poucos detalhes no interior da Igreja Matriz. É o Ecletismo, que propõe oposição ao Barroco e substitui esse movimento com ações antagônicas, entre as quais: pressupõe a substituição da produção individual pela produção em série e produtos industrializados e troca a composição livre e imaginativa, pela proporção geométrica e regrada.
É a oposição de um movimento emocional e subjetivo, por um movimento racional e científico, baseado em novas ciências como a Arqueologia, e ideologias, entre as quais se destaca o Positivismo. É a arte se adequando à era da produção industrial.
Na Igreja da Candelária, para se encaixar às novas linguagens, trazidas pela ferrovia e pelos imigrantes europeus, os campanários foram aumentados e receberam uma cobertura que lembra obras vitorianas.
O retábulo-mor da Candelária não é original, é uma obra eclética que substituiu o original em data a ser confirmada, com elementos neoclássicos e vitorianos, sobre um raciocínio compositivo que vem de perspectiva barroca, o que seria uma incoerência para o raciocínio compositivo eclético, e que poderia pronunciar um possível formato original, muito semelhante à igreja Candelária de Itu, e que teria sido base para a substituição que implantou os foles do órgão.
Os parapeitos das tribunas laterais ao altar mor, são os elementos remanescentes que mais se assemelhariam a linguagem do retábulo original.
Retábulo do Altar Mor da Igreja da Candelária de Indaiatuba (Foto de Mônica Carolina). |
Na imagem abaixo, procura-se ilustrar a evolução da linguagem dos retábulos das igrejas de nossa região, e a inserção da Matriz de Indaiatuba nesse contexto. A composição do retábulo de Indaiatuba é claramente semelhante aos modelos barrocos do Carmo e da Candelária de Itu; o retábulo da Igreja de Helvetia (fim do séc XIX) ilustra as tendências Neoclássicas que migram com os europeus e que vem substituir o Barroco por uma nova arte, mais regrada e geométrica, apoiada em novas normas compositivas.
A Igreja da Candelária de Indaiatuba foi o primeiro edifício de grande porte da cidade, e retrata a vontade de trazer para a cidade um pouco da importância da populosa Itu, onde as referências dos prédios desta cidade são muito presentes na composição. Os poucos elementos e sua singela fachada refletem a austeridade de nossas condições econômicas; mas o porte grandioso, apesar dos poucos recursos da época, retrata a fibra que possuíam os primeiros indaiatubanos. O compasso com as construções das cidades importantes da região ilustram a importância gradativa que a cidade vai ganhando no contexto regional.
Campanários e frontão da Igreja da Candelária de Indaiatuba (foto de Mônica Carolina).....OOOOO..... |
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