NOSSAS CRIANÇAS
Indaiatuba, abril de
1879.
Em abril de 1879, em uma
fazenda cujo nome não foi registrado, três crianças
brincavam correndo em um pasto. Estando um deles com uma faca na mão, foi seguido
por outro, quando, virando-se de sopetão, o feriu mortalmente. Antes de
sucumbir, a vítima declarou que o seu companheiro não era culpado. O fato
causou estranheza e perplexidade, uma vez que, inicialmente publicada essa
notícia nos jornais de Itu e Campinas, foi replicada por vários outros
periódicos do país, sendo lida até no Jornal da
Tarde (SP) na edição de 05 de abril do
mesmo ano.
Indaiatuba, outubro de
1884.
Em outubro de 1884, na
fazenda de Felipe de Almeida Campos, uma criança de 9 anos
entrou em uma senzala e matou, a tiros, uma outra criança de 1 ano. O fato
causou estranheza e perplexidade, uma vez que, inicialmente publicada essa
notícia nos jornais de Itu e Campinas, foi replicada por vários outros
periódicos do país, sendo lida até no Jornal do
Recife (PE) de 04 de outubro do mesmo ano.
Indaiatuba, março de
1886.
Em março de 1886, Anna
Maria de Jesus, uma mulher de ´trinta e tantos anos´ vendeu a ´pureza´ da filha
dela de apenas 11 anos para Manoel Ferreira Novo, de 40 anos. O fato de a mãe
ter ´mercadejado’ pessoalmente a ‘honra’ da menina, causou estranheza e
perplexidade, uma vez que, inicialmente publicada essa notícia em jornal de
Campinas, foi replicada por vários outros periódicos do país, sendo lida até no Diário de Notícias, do Rio de Janeiro (RJ),
na edição de 18 de março do mesmo ano.
Indaiatuba, novembro de
1952.
Em novembro de 1952, em
uma fábrica de artefatos de madeira, aqui em Indaiatuba, foi deflagrada uma
greve para reivindicar aumento de salário. Os funcionários que aderiram ao
movimento foram apenas do sexo masculino, sendo que as mulheres e as crianças
operárias continuaram trabalhando. O fato causou estranheza e perplexidade, uma
vez que, inicialmente publicada essa notícia nos jornais da região, foi
replicada por vários outros periódicos do país, sendo lida até no Diário de
Pernambuco de 06 de março do mesmo ano.
OUTROS TEMPOS...
Em outubro de 2016, aqui
em Indaiatuba, os pais das crianças que estudam na escola Ambiental Bosque do
Saber, receberam comunicando no qual foram informados, sem consulta prévia, que
seus filhos serão transferidos para outras escolas.
Logo em seguida, em
novembro de 2016, aqui no Brasil, o juiz da Vara da Infância e Juventude Alex
Costa de Oliveira, do Distrito Federal, AUTORIZOU e MANDOU cumprir práticas de
tortura para convencer a desocupação das escolas, feitas por jovens
secundaristas em protesto contra a PEC 241. Ordenou corte de fornecimento de água, energia elétrica e gás , proibiu o acesso de terceiros (incluindo os pais),
proibiu a entrada de alimentos e autorizou o uso de instrumentos sonoros
contínuos para impedir o sono. Os menores estão ocupando as escolas no Brasil
inteiro, para impedir que as escolas continuem a mergulhar em uma crise onde
faltam professores, materiais, estrutura de diferentes meios e principalmente,
valorização e dignidade.
...AS MESMAS ATITUDES?
Até quando continuaremos a ter APENAS
atitudes de estranheza e perplexidade diante dos fatos que vulnerabilizam
nossas crianças?
.....oooooOooooo.....
Texto de Eliana Belo Silva, originalmente publicado na coluna semanal 'Identidade Indaiatubana'
da autora no Jornal Exemplo (Indaiatuba) em 04/11/2016
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