Texto de Charles Fernandes
Arquiteto e Urbanista
O primeiro marco histórico, ainda remanescente, da arquitetura de Indaiatuba, é a Igreja da Candelária, edificada no início do século XIX e entregue à população no ano de 1838. Construída em grossas paredes de taipa de pilão, possuía originalmente muitos elementos barrocos, apesar deste movimento artístico histórico já estar em decadência na época da construção. Estes elementos podem ainda ser observados no frontão estilizado, nos arcos abatidos das vergas de portas e janelas e nos belos rocailles esculpidos em madeira da balaustrada do balcão lateral ao altar mor.
Sim, restou muito pouco do barroco original, que possivelmente possuía um altar mor que acompanharia imponência e representatividade vistos ao menos nas capelas laterais da Igreja Candelária de Itu, cujo interior se encontra preservado. Mais de 100 anos após sua construção, a Igreja da Candelária recebeu uma significativa modernização que veio trazer uma nova linguagem para o prédio. São substituídas as coberturas baixas em arco de aresta dos campanários, por pináculos neogóticos, na intenção de implantar elementos da arquitetura ferroviária vitoriana. Cobertura semelhante pode ser observada na torre do relógio da Estação ferroviária de Campinas, construída em 1872 pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro (imagem abaixo).
No final do século XIX, Indaiatuba passa a ter um novo ideal para sua arquitetura, baseado nos prédios que são trazidos para receber máquinas agrícolas compradas da Inglaterra, ou nos edifícios ferroviários implantados na região. Um destes exemplos é a Tulha do Casarão do Pau Preto, construída em alvenaria industrial inglesa. A arrojada linguagem deste prédio para os padrões da época, foi sistematicamente reproduzida em uma enormidade de edifícios por toda a cidade, que se utilizaram de diversos detalhes feitos em tijolos que ainda podem ser observados na parte da tulha remanescente (o prédio foi parcialmente demolido).
Em 1873 foi inaugurada a Estação Indaiatuba, um dos prédios mais vanguardistas já implantados por aqui, apresentando linguagem incrivelmente sincronizada com as tendências europeias da época, e que reflete a velocidade com a qual a ferrovia trazia modernidade para a região. Outras estações também trazem diferentes linguagens: A Estação Pimenta, feita em tijolos, apresenta a alvenaria industrial; as estações Helvetia e Itaici são pérolas ainda existentes da nossa arquitetura ferroviária.
Em 1888 Indaiatuba recebe um importante prédio público, a Casa de Câmara e Cadeia, construído em linguagem neoclássica com elementos estilizados. Rigorosamente projetado através de proporções e critérios compositivos que remontam à antiguidade clássica. Foi demolido na década de 60 do século XX para implantar uma fonte luminosa, equipamento que era “moda” nas praças de footing desta época. Os elementos do projeto da Casa de Câmara e Cadeia foram tão utilizados em outras construções pela cidade que é impossível não reparar em pilastras, cornijas e frisos utilizados em prédios por todo o centro antigo, sem lembrar da fachada já demolida do prédio que ficava no meio da Praça Prudente de Moraes.
Na década de 40 do século 20, quase que simultaneamente aos primeiros edifícios modernistas no mundo todo, é construído o prédio dos correios na Praça Prudente de Morais. Os elementos clássicos ecléticos são suplantados pelo raciocínio de espaço contínuo, abstração e pelo racionalismo da arquitetura modernista.
Atualmente, não restaram muitos edifícios históricos na próspera e dinâmica Indaiatuba do século XXI, o tempo se incumbiu em derrubar grande parte deles, e o que resta, luta para se manter próximo ao seu desenho original em meio a tantas descaracterizações que visam modernização. Indaiatuba que nasceu barroca tornou-se eclética, depois modernista, obliterando parte de sua história a cada nova tendência.
Em certas ocasiões, em contextos muito especiais, poder usufruir da sensação de estar em um prédio que proporciona aconchego, pertencimento ou excita nossa memória afetiva é uma oportunidade que não pode ser desperdiçada, e esta é a razão pela qual nossa própria história de funde a história de nossos edifícios e ajuda a construir nossa cultura.
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