Major Alfredo de Camargo Fonseca foi prefeito reeleito por todo o período da República Velha
texto de Fernanda Bugallo com base nas memórias de Hélio Milani
Originalmente publicada na Tribuna de Indaiá, edição de 01/12/2016
Major Alfredo Camargo Fonseca
(terceiro da esquerda para a direita, sentado)
Durante aproximadamente 30 anos à
frente da administração da cidade de Indaiatuba, sendo 25 anos
como intendente e depois como prefeito, o Major Alfredo de
Camargo Fonseca é uma das figuras mais emblemáticas da política da cidade.
O Major Alfredo foi
prefeito reeleito por todo o período da República Velha. Durante esse
período, foram criadas as torneiras públicas, o código de posturas
municipal foi atualizado e foi inaugurada a rede de iluminação elétrica,
substituindo os lampiões que a Câmara havia instalado em 1887.
Nunca foi casado,
teve amantes no decorrer da vida e firmou-se com dona Chiquinha por mais de 20
anos. Com bengala nas mãos, o Major era bem quisto por onde passasse. Conversava
com todos na praça do Lago e, de acordo com relatos de Hélio Milani à Fundação
Pró-Memória, o Major foi um homem muito honesto para a cidade.
Filho de Humberto
Milani e Cleofas Mosca Milani, nascido em Indaiatuba pela parteira Dona Emília
e recebido com um litro de vinho do porto jogado em seu corpo. Essa foi a
chegada do recém-nascido Hélio Milani no dia quatro de outubro de mil
novecentos e vinte e cinco.
Embora nascido na
cidade de Salto, o pai de Hélio mudou-se para Indaiatuba e permaneceu com a
profissão de barbeiro. "Ele sempre foi barbeiro e barbeiro dos bons. Ele
era o barbeiro da época da lata sociedade", conta Hélio.
Vereador de 1956 a
1959 e presidente da Câmara, Hélio Milani conheceu e vivenciou muito da
história de Indaiatuba. Faleceu em 13 de junho de 2012 por conta de problemas
respiratórios e uma parada cardíaca.
Vida de engraxate
"O Hélio, tá
engraxando. Tô Major! Então engraxe a minha. Era bonita, então ele pôs a butina
dele né, eu levava cadeira", conta Hélio durante a entrevista relembrando
diálogo que tivera com o Major.
O ex-presidente da
Câmara conta que era ótimo engraxate e que o trabalho dele custava 400 réis.
"E ele me deu mil réis". Foi exatamente esse valor que Hélio recebeu
do Major Alfredo ao engraxar o seu sapato. "No segundo dia, engraxei o do
Toninho Zoppi, Toninho Rêmulo, e assim foi e depois eu ia todo domingo engraxar
sapato".
O trabalho de Hélio
como engraxate durou um ano e acontecia na praça, embaixo das árvores no ponto
de ônibus.
Pista de pouso na Revolução
Durante a Revolução
de 1932, o Major Alfredo era o prefeito da época. Em apenas uma semana,
construíram um campo de aviação entre as fazendas dos Amarais e de Indaiatuba
para pousarem aviões do Estado de São Paulo na Revolução. O objetivo da
construção, de acordo com a entrevista, era de que fazia-se necessário ter um
aeroporto intermediário.
Segundo consta da
documentação do acervo, a pista de pousos tinha cerca de 900 metros de altura
por 30 a 40 metros de largura. "Ela começava aqui nos eucaliptos e terminava
lá no Grischek (empresa alemã)", explica Hélio.
Perseguição religiosa dificultava o trabalho do Major
Segundo consta na
entrevista realizada com Milani, o Major Alfredo chegou a ser perseguido na
cidade por conta de sua religião. E tal perseguição dificultou o trabalho
político realizado pelo Major na cidade.
De acordo com
Hélio, o Major era presbiteriano e frequentava a Igreja Presbiteriana de
Indaiatuba, que ficava na Rua Bernardino de Campos. O Major sempre estava no
culto com a bengalinha dele.
Segundo consta, a
perseguição religiosa ocorreu por conta de um padre espanhol da cidade.
"Porque nós tivemos um padre mor*** aqui em Indaiatuba, porque você sabe,
nada tem a ver a religião com o padre. Era um padre espanhol, Padre Luís
Soriano. Ele pegava o púlpito na igreja e dizia: "Não pode votar nessa
gente! Tem que votar contra", recorda Hélio na entrevista. E ele ainda
completa que o padre espanhol espalhava para seus fiéis que as pessoas que eram
protestantes eram demônios.
Enérgico, mas determinado e um bom administrador
Milani sempre
elogiava muito a conduta e posicionamento pessoal e político do Major Alfredo
em Indaiatuba. "O Major Alfredo de Camargo Fonseca, na minha opinião, foi
uma bandeira pra esta terra! Era um homem de integridade moral".
Major cuidava muito
bem das terras de Indaiatuba e supervisionava tudo o que acontecia. "Não
podia pisar na bola com ele, porque ele era muito duro mesmo; o que era da
cidade, era da cidade".
O ex-presidente da
Câmara conta que algumas vezes o Major efetuou o pagamento dos colaboradores da
Prefeitura com o próprio dinheiro. "Eu me recordo que quantas vezes o
Odilon ia pra Campinas, naquele tempo eles iam de ônibus, ele o Angelin Bruni;
pegavam o cheque do Major, aquele 'checão' grande do Banco Comercial do Estado
de São Paulo. Então não tinha dinheiro, e ele fazia o cheque dele, e o Odilon
com o Angelin Bruni iam de ônibus, pegavam o dinheiro lá e traziam pra fazer o
pagamento do pessoal", relata. "Quando que ele foi restituído? Nunca!
O município não tinha arrecadação! Era uma porcaria!"
Odilon era cunhado
de Hélio e foi contador da Prefeitura, na época do Major Alfredo, e o Angelo
Bruni era o tesoureiro.
Histórias da administração e os amores de Fonseca
Além de tudo, o
Major ainda destrinchou o famoso crime do poço que ocorreu em Indaiatuba e
chocou a cidade por décadas depois, virando, inclusive, um livro assinado pela
historiadora Eliana Belo. "O Major tinha um sexto sentido, era um homem
muito inteligente, ele era um administrador nato, acostumado a lidar até com
escravos e tudo", afirma Milani.
A patente do Major
dele provém da época do Império. "O pai dele deve ter recebido esses
títulos no tempo do im-perador Dom Pedro II. Ele nasceu por volta de 1864, e
deve ter recebido isso mocinho, influências das famílias", conta Milani.
Se por um lado o
Major era um bom administrador, Hélio também contou durante a entrevista dos
amores escondidos que o Major carregou durante a vida.
Milani conta que o
Major nunca foi casado e que mais tarde se amasiou com a dona Chiquinha.
"Ele teve amantes como a famosa Maria Laura e a Dona Teodora. Diziam que
ela era muito bonita".
Pelo relato, a
relação amorosa do Major com dona Chiquinha durou cerca de 20 anos.
Por conta da idade,
foi solicitado o afastamento do Major e ele fez uma declaração pública oficial
no Estado de São Paulo "Isso saiu no Diário Oficial da época, em função da
integridade dele como homem público. Pôs no Diário Oficial do Estado",
conta Hélio.
Em 1941, morre o
prefeito e, na sequência, a companheira
No dia 4 de abril
de 1941 a notícia se espalha: morreu o Major e morreu dona Chiquinha! Ele
morreu primeiro que ela. Ela foi em seguida.
Hélio conta que a
notícia foi uma tristeza na cidade, principalmente pra os amigos do Major.
"Foi alegria para os inimigos, porque o Major tinha adversários leais, mas
tinha inimigos ferrenhos, como o Scyllas e a família inteira do Scyllas
Sampaio. Diziam que o Major não fez, que o Major não tinha iniciativa, que o
Major era ignorante. Absolutamente! O Major fez um levantamento da água aqui em
1928 pra pôr água em Indaiatuba. Só que ele não tinha condição".
O Major, segundo as
pessoas contam no relato de Milani, era dono de uma ou duas fazendas no
município de Indaiatuba. "Quando ele morreu quase que precisou fazer
'vaca' pra fazer o enterro dele. E o túmulo dele ficou abandonado por muito
tempo".
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