“Viveram
pouco para morrer bem, morreram jovens para viver sempre”, é a inscrição que
marca a entrada principal de uma edificação que se assemelha a guarnição de uma
espada, cuja lâmina se levanta em direção ao céu da cidade de São Paulo.
Arcos
sombrios marcam a entrada desse mausoléu, e poemas do exilado Guilherme de Almeida estão encrustados por todo o ambiente.
Interior do Mausoléu do Soldado Constitucionalista
A lâmina da espada, feita de
pedra, com 72 metros de altura é oca; ao se apreciar pelo interior do prédio,
transforma-se em um canhão, cuja culatra é guardada pela estátua de um herói,
deitado imóvel sobre os restos mortais de quatro jovens estudantes, mártires de
uma luta a favor da constituição e contra a intervenção de Getúlio Vargas, que
tirou a autonomia do Estado de São Paulo.
Crédito: Itaú Cultural
Há uma lenda, e ela diz que o Herói Jacente não está dormindo, nem morto, está de guarda, em suas botas e municiado, deitado de olhos abertos na direção do canhão que vai usar para proclamar seu exército de combatentes a defender a Constituição sob qualquer ameaça, ao lado do povo paulista. E junto a ele estão sepultados 713 heróis ex-combatentes.
Essa lenda paira sobre o Mausoléu do Soldado Constitucionalista de 1932, o maior
monumento da Cidade de São Paulo com 72 metros de altura e simbólicos 1932 metros
quadrados, local onde repousam os restos mortais de heróis paulistas, entre
eles um indaiatubano.
Túmulo dos mártires MMDC encimado pelo Herói Jacente.
O embate de
1932 deveria ser uma rápida vitória,
com 60.000 paulistas destinados a rumar em direção ao Rio de Janeiro, até o
Vale do Paraíba, com a certeza que os estados do Sul e do Oeste não iriam tomar
partido, mas Getúlio, que já possuía interventores militares no comando de cada Estado da federação, lançou frentes em todas as direções contra São Paulo, que cercado,
passou a ser alvo também de ataques aéreos, inclusive contra civis. A luta
ficou muito difícil para o paulista. Sob a liderança de Pedro de Toledo, o
governo constitucionalista de São Paulo durou apenas 03 meses, mas a derrota
militar decorreu em uma vitória política que levou à promulgação de uma nova
Constituição e com o fim dos interventores.
O saldo
oficial foi de 934 mortos, mas estima-se que, entre combatentes e civis, houve
mais que o dobro disso.
Entre estas baixas estava um ilustre indaiatubano, o
voluntário João Pereira dos Santos, que no dia 10 de Setembro de 1932, mantinha
sua posição enfrentando as tropas que invadiam São Paulo pelo setor sul, em
local próximo a Itararé, enquanto garantia a retirada estratégica de 150
colegas combatentes, quando foi alvejado e morto.
Por bravura além do dever,
seu comandante ordenou que seu corpo fosse escoltado a Indaiatuba com honras e
homenagens de um Oficial.
No ano de 1955, foi criado o mausoléu para
homenagear os heróis paulistas, e o túmulo central encimado pelo herói jacente,
recebe, Euclydes Bueno Miragaia, Mário Martins de Almeida, Dráusio
Marcondes de Souza e Antônio Américo de Camargo Andrade, conhecidos como MMDC, quatro
estudantes mortos entre os cinco que foram alvejados no confronto do dia 23 de maio de
1932. E a cada dia 9 de Julho outros
heróis são trazidos para a companhia do
Guardião Jacente.
Em 1956 são traslados
para o monumento os restos mortais de mais cinco combatentes: General Isidoro
Dias Lopes, o soldado José Benedito Salinas, o sargento Álvaro dos Santos
Mattos e os voluntários Fernão Morais
Salles e César Pena Ramos que vieram da Capital, do Interior do Estado de São
Paulo e do Estado do Rio de Janeiro.
Para
completar os 25 anos da revolução, em 1957 a ...
”comemoração tomou um caráter
especial. Desta vez, no dia 7 de julho, onze urnas, novamente vindas da Capital
e do Interior do Estado de São Paulo e do Estado do Rio de Janeiro, foram
reunidas na Praça da República. Aí receberam homenagens o embaixador Pedro de Toledo que foi governador de
São Paulo ao tempo da Revolução Constitucionalista, o major aviador Aderbal de
Oliveira, o guarda-civil Natal Martinetto, Carlos de Souza Nazareth, presidente
da Associação Comercial em 1932, o general Júlio Marcondes Salgado, comandante
da Força Pública em 1932, o general Palmério de Rezende, o capitão Antônio
Ribeiro Júnior, o capitão de fragata Nélson de Mello e os voluntários Hermes de
Moura Borges, Delmiro Filgueiras Sampaio e o indaiatubano João Pereira dos Santos. Da Praça da República as
urnas seguiram para o Largo São Francisco, ficando expostas publicamente à
visitação na Faculdade de Direito. No dia 9 de julho de 1957, ao primeiro
minuto do dia, no Parque do Ibirapuera, foram disparados tiros de canhão e
houve toque de clarim. Horas depois, na Assembleia Legislativa houve
hasteamento solene da bandeira e, em seguida, os deputados rumaram para a Praça
da Sé. Às oito horas iniciou-se missa solene no altarmor da Catedral da Sé.
Logo em seguida, em viaturas do Corpo de Bombeiros, os restos mortais seguiram
em cortejo pelas ruas paulistanas até o monumento mausoléu. Aí, além das
cerimônias de encerramento das urnas no jazigo, houve um desfile em frente ao
monumento-mausoléu, no qual, além de autoridades civis e militares e
personalidades, tomaram parte a Guarda Civil, a Força Pública, a Polícia
Feminina, diversas bandas e os Dragões da Independência. Mais tarde, em
comemoração ao Jubileu de Prata da Revolução de 1932, realizou-se uma sessão
solene na Assembleia Legislativa, na qual também foram rememorados os dez anos
da promulgação da Constituição Paulista de 1947. A esta sessão, mostrando
claramente a importância dos eventos ali comemorados, esteve presente, em
visita oficial, o presidente da República Juscelino Kubistchek de Oliveira.”...
Imagens: Cortejo de traslado da urna com os restos mortais de João Pereira dos Santos para o Memorial em 1957, que contou com a presença do então Presidente Juscelino Kubitschek
Muitos outros combatentes se juntaram ao Voluntário João dos Santos desde então, somando 713 em 2020, entre
eles:
Paulo Virgílio que foi torturado na intenção de
revelar a posição das tropas revolucionárias, foi obrigado a cavar sua própria cova e antes de sua execução proclamou:
“Um Paulista morre, mas não se rende! “ avançando sobre um sargento, e
sendo alvejado.
O jornalista
Casper Líbero, cujo espólio criou
uma fundação.
O menino
herói, Aldo Chioratto, de 9 anos, escoteiro de Campinas, morto em ataque aéreo. Aldo morreu após ser atingido por 13 estilhaços
de uma bomba lançada por um avião da tropa federalista, após entregar uma
correspondência para o comando revolucionário de Campinas na estação
ferroviária, que fica no centro da cidade. Durante o levante, os
escoteiros da região foram selecionados para fazer este tipo de serviço.
Orlando de Oliveira Alvarenga, o quinto
mártir estudante alvejado com os MMDC no dia 23 de maio de 1932 e que morreu dias
depois de seus colegas.
Em 1957 o indaiatubano Voluntário
João Pereira dos Santos que estava sepultado em Indaiatuba, teve seu corpo transladado para o Mausoléu, onde jaz, para sempre lembrado. Nesse ano o herói-soldado foi homenageado em nossa cidade com um busto de bronze, colocado defronte a
antiga prefeitura, na praça Prudente de Morais.
Hoje, ele descansa com
seus pares, abaixo do obelisco do Ibirapuera, sob a guarda e no auxílio do Herói Jacente, até que seja solicitado a defender a Constituição contra
qualquer ameaça, quando então, segundo a lenda, despertará a serviço de São Paulo.
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No dia 25 de setembro de 2018, na Sessão da Câmara Municipal de Indaiatuba, o vereador Alexandre Carlos Peres indicou que o busto do Voluntário João dos Santos que está na Praça Prudente de Morais, seja tombado pela Fundação Pró-Memória de Indaiatuba.
Abaixo, bilhetes postais da época da Revolução de 1932:
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