quinta-feira, 14 de abril de 2022

O que aconteceu entre os irmãos Joaquim e Pedro?

 Eliana Belo Silva

COLUNA DEMANDAS NA NOSSA HISTÓRIA

Jornal Indaiatuba 107.1 FM

Ano 1 | Edição 006  | Indaiatuba, 14 de abril de 2022


Periodicamente esta coluna trará não apenas informações e dados sobre a História de Indaiatuba, mas proporá reflexões sobre questões ainda não respondidas, que são muitas, e carecem de mais pesquisa, análise, produção e divulgação. Hoje, a demanda apresentada é sobre a fundação da cidade e uma provável relação de conflito fraternal. 

Oficialmente Indaiatuba foi fundada no dia 9 de dezembro de 1830, quando a capelinha rural católica existente passou a ser curada. Esse fato elevou até então o local, que era um bairro rural de Itu chamado Cocaes, à condição de “Freguesia de Indaiatuba”. 

Até onde a documentação histórica conhecida até hoje nos aponta, foi o latifundiário escravocrata Tenente Pedro Gonçalves Meira, dono da fazenda açucareira Pau Preto quem doou bens para a capelinha e a transformou na paróquia Nossa Senhora da Candelária, por isso, ele é considerado o fundador de Indaiatuba. 

No entanto, documentos também apontam que o proprietário da Sesmaria de Cocaes, uma subdivisão da Capitania Hereditária de São Vicente, Joaquim Gonçalves Bicudo, irmão de Pedro Gonçalves Meira, já tinha sido o curador de uma capela no mesmo lugar com o nome de Nossa Senhora da Conceição. 

Assim, podemos afirmar que Indaiatuba teve uma capela curada por Joaquim como Nossa Senhora da Conceição, que ela foi “descurada” e em seguida curada pelo irmão Pedro como Nossa Senhora da Candelária. 

A partir desses fatos devidamente documentados, sobra-nos especular com base na organização da sociedade da época: as capelas eram a materialização do poder e das riquezas dos Senhores e Pedro Gonçalves empenhou-se em erigir/reformar a capela e associar seu nome ao empreendimento.

Com isso, ele seria reconhecido pelo Bispo e pela Coroa, obtendo vários privilégios do padroado local, além do prestígio e posição de destaque nos arredores. Ele e sua família passariam a ter assentos especiais nos cultos e à precedência em cerimônias e procissões e, quando mortos, teriam jazigos perpétuos na capela. 

Pelo prestígio que um fazendeiro tinha em ser o curador de uma capela, resta-nos apresentar as demandas: o que aconteceu entre os irmãos Joaquim e Pedro? 

As informações disponíveis permitem concluir que houve um conflito entre os dois curadores? 

Quais circunstâncias direcionaram historiadores e memorialistas a considerar Pedro como fundador? 

O que aconteceu para Joaquim desaparecer dessa história? 

Silêncios também ensinam e as ausências podem, e muito, explicar sobre nossas origens na medida em que, muitas vezes, há narrativas que se sobrepõem, principalmente pelo poder econômico de quem conta a História. 



* Eliana Belo Silva é indaiatubana - neta, filha e mãe de indaiatubanos - historiadora, pedagoga, pesquisadora sobre a história local e apresentadora do canal BODEcast.

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