Pela primeira vez em sua história, Câmara Municipal apresenta demanda sobre o estudo dos indígenas na região de Indaiatuba
O "Dia do Índio" foi criado pelo presidente Getúlio Vargas - após muita insistência do Marechal Rondon - através Decreto-lei nº 5.540, de 2 de junho de 1943 em referência ao dia 19 de abril de 1940, em que lideranças indígenas das Américas decidiram participar do Primeiro Congresso Indígena Interamericano, realizado em Patzcuaro, no México.
Temos, em nossa cidade uma herança indígena incontestável, que é o nome "Indaiatuba", (yinayá´tyba) cuja topologia de origem tupi-guarani significa "local com muitas palmeiras de indaiá".
Apesar desse vínculo com a população indígena, temos poucos estudos publicados sobre os indígenas em nossa cidade. Há o texto da historiadora Maria Luisa da Costa Villanova (que você pode ler aqui), o artigo da também historiadora Adriana Carvalho Koyama que propõe reflexões sobre o assunto com base em algumas pistas (leia o texto aqui) e um texto no site wikipedia (que você pode ler abaixo)
Há portanto, uma lacuna a ser preenchida neste campo do conhecimento e embora essa demanda proporcione um vazio em nossa história, há também alguns avanços para diminuir esse silêncio na historiografia local.
Trata-se da Indicação nº 695/2022 proposta ontem, 18 de abril de 2022 na Câmara Municipal de Indaiatuba, que foi apresentada pelo vereador Arthur Spíndola, que solicita ao Poder Executivo para que sejam feitas ações de conscientização acerca da origem indígena em Indaiatuba. O vereador consultou dois cientistas da UFRJ que pesquisam sobre o tema e justificou o pedido da seguinte forma:
A formação territorial, cultural e política do Brasil é matéria de debate há vários séculos e mobiliza uma série de grupos sociais, histórias e matérias sobre o assunto. Nessa discussão, alguns elementos configuram pauta obrigatória e central. Um deles, que é o tópico dessa Justificativa, diz respeito à nossa origem Indígena. Para auxiliar-nos na compreensão – e seguinte indicação de campanha de conscientização – dois Antropólogos da Universidade Federal do Rio de Janeiro –UFRJ, Igor Ramos¹ e Helena Young² comentaram, em entrevista: “Conhecido como Pindorama, o território que hoje compõe o nosso país abrigava milhões de indígenas, organizados em diferentes sociedades, que influenciaram a cultura brasileira em termos amplos. No quesito linguístico a marca indígena é profunda, nos legando palavras utilizadas até hoje, seja através do nome de alimentos, de utensílios, de animais e plantas ou de partes do território, como a nomenclatura de rios e cidades”. O nome “Indaiatuba”, em tupi-guarani, significa “região coberta de indaiás”, sendo “indaiá” uma palmeira de pequeno porte. O indaiá é um dos elementos presentes no brasão da cidade, à qual formalmente esta câmara de vereadores serve.
Sobre nossas florestas e matas, que muitas vezes são consideradas “dadas” e frutos do acaso, os pesquisadores comentam que, na realidade, são grandes jardins, cultivadas ao longo de milhares de anos por populações Indígenas no território onde, hoje, é o Brasil. Além disso, Ramos e Young chamam nossa atenção sobre o caráter indígena de uma série de atividades que chamamos de “rurais” e “religiosas”: “A influência indígena sobre as diversas formas de tradição popular também é importante. O encontro entre indígenas e as várias partes da população gerou práticas sociais que existem até hoje: algumas das tradições de coco, seja de influência indígena mais delimitada ou inserida no contexto quilombola; a absorção da ontologia indígena na religiosidade bantu, viva hoje no candomblé angola; ou então os saberes práticos da vida na mata de forma geral, que sobrevive em muitas comunidades do interior do Brasil. Além disso, os próprios ecossistemas das terras baixas-sul americanas estão intimamente ligados aos povos indígenas. A Amazônia tem sido apontada por ecologistas como uma floresta antropogênica, formada ao longo do tempo pela ação humana. Práticas como a difusão de sementes e espécies diversas através das migrações, originalmente muito comum entre os povos originários, foram fundamentais na formação do ecossistema como ele veio a ser.”
Arthur Spíndola concluiu, ainda, que indica o estudo para que "sejam feitas campanhas de conscientização sobre a origem indígena de Indaiatuba composta por território, linguagem. atividades econômicas, religiosas e culinárias". Essas campanhas podem visar um público de todas as faixas etárias (...) e podem valer-se de pesquisadores para a produção de materiais didáticos e informacionais. Por fim, a possibilidade de mutirões educacionais para o plantio da palmeira de indaiá em áreas previamente planejadas e autorizadas.
Povoamentos pré-coloniais
A região do atual município de Indaiatuba provavelmente começou a ser ocupada por grupos caçadores-coletores e agricultores há cerca de 5000 anos. De acordo com as fontes históricas disponíveis, indígenas falantes de idiomas relacionados ao tronco linguístico Tupi-guarani[7][8] habitavam a região quando as primeiras expedições europeias começaram a cruzar os caminhos terrestres e fluviais do atual estado de São Paulo. Por conseguinte, as pesquisas arqueológicas desenvolvidas nessa região apontam para a existência de diversos sítios por toda sua extensão, sendo registrados (até o momento) 39 sítios arqueológicos, distribuídos por Itu (13), Campinas (05), Indaiatuba (03), Monte Mor (04) e Salto (14).
Identificado em 2005, o sítio arqueológico Buruzinho[9] está localizado nas proximidades do Córrego Garcia (Buruzinho), sendo caracterizado pela presença de ferramentas de pedra (também conhecidos como instrumentos líticos) e fragmentos cerâmicos de uso cotidiano de populações indígenas associadas a tradição cerâmica Tupiguarani, assim como, vestígios de ocupação histórica colonial e imperial (séculos XVIII e XIX, portanto), demostrando ao menos dois momentos históricos de ocupação do local. Apesar das informações esparsas, acredita-se que o material deste sítio se encontra no Museu Elizabeth Aytai, localizado no município de Monte Mor. O sítio arqueológico Cambará, localizado nas proximidades do rio Capivari-Mirim, também conta com presença de instrumentos líticos e fragmentos cerâmicos de uso comum entre populações indígenas, assim como vestígios de ocupação do século XIX, mais especificamente do período imperial brasileiro. Esse último sítio foi identificado em 2018, durante as atividades de acompanhamento arqueológico de um empreendimento residencia,sendo que os materiais encontrados (já bastante fragmentados) foram posteriormente enviados ao Museu Raphael Toscano, localizado no município de Jaú. Embora nenhum dos dois sítios arqueológicos foi alvo de pesquisas que determinassem a idade do material pré-colonial, é possível afirmar que toda a região se encontrava no entorno da rota que ligava diversas microbacias hidrográficas a diferentes pontos do rio Tietê, a qual foi utilizada por séculos pelas populações indígenas.[10] Dessa forma, é provável que os sítios de Indaiatuba façam parte do mesmo contexto de ocupação.
O último sítio, denominado Capivari-Mirim, foi descoberto em 2018. No local foram identificados instrumentos líticos feitos em quartzito, no que provavelmente foi um antigo acampamento de caça. Localizado próximo às margens do córrego Jacaré, afluente do rio Capivari-Mirim, esse sítio arqueológico é mais um testemunho da recorrente presença de grupos indígenas na região de Indaiatuba.[11]
Nenhum comentário:
Postar um comentário