Texto de Ejotaele*
Ejotaele escreve sobre o início do século XX
Ainda aspirando os "cimos trancos da nostalgia", não havia de ser esquecido nestas memórias, o rio do Bicudo, onde muitos aprenderam a nadar, ainda que o Rafael Macaia a isso se opusesse, dando "pegas" aos garotos recalcitrantes;
o "Buracão do Chafariz"; o rio do Berchó (1), situado na encosta do morro do "Sítio do Coronel", para onde convergia também todo o mundo infantil de Indaiatuba, a fim de se banhar e catar os "salta-martins" tão celebrizadas em nossa infância;
o moinho do Brentan, ou melhor, o moinho do Brandão, um dos recantos mais procurados pelos indaiatubanos;
o "Buracão" situado nas cercanias da cidade, lugar onde extraiam terra para construção de taipas;
o bairro "Do Outro Lado" nas adjacências do "Sítio do Coronel", que era o bairro da indigência e da penúria;
a Chácara do Garrão, situada ao longo da avenida que conduz ao cemitério, onde abundavam as amoreiras e figueiras silvestres que eram convites aos nossos furtos inocentes.
Ninguém por certo terá esquecido daqueles grandes grupos de meninos que demandavam as capoeiras à procura das saborosas guabirobas quando elas sazonadas, dos cheirosos indaiás e dos rotundos araticuns a tresandarem seu perfume pelos cerrados.
Próximo à cidade existia a "Chácara do Balduíno", que ficava a cavaleiro do leito da Estrada de Ferro Sorocabana, na altura do Km 2 de quem ia em direção a Itaici, e ali perto o "Cabral", onde existia uma fonte cristalina de água, ponto estratégico dos meninos fugidios.
Um dos sítios, motivo de passeios frequentes, era a "Fazenda Bela Vista", situada em bonito aclive próxima à chácara dos Gandolfi, esta quase à ilharga daquela.
Outros recantos do velho burgo dos indaiás, eram pontos de sua população, tais como a Colônia do Bicudo, o Sítio do João Galo, o Teixeirinha, a "Cruz Coberta", a Chácara do Totó Rosa e o Bento Roque, o célebre caipira indaiatubano, que serviu de modelo ao grande pintor paulista Almeida Júnior, na famosa tela "Amolação Interrompida", um dos tesouros artísticos do Museu do Ipiranga.
Assim era a Indaiatuba bucólica e pachorrenta dos tempos das fugueiras patriarcais de Nhobin e Benjamin Constant de Almeida Coelho, dos Tebas, dos Galvões, dos Camargos, do João Pires e Juca Pires, do Chiquinho e Luiz Lopes, do José Tanclér, dos Firmianos, do Coronel Teófilo de Oliveira Camargo, do Major Fonseca, Chico Padeiro, do Chiquinho Boticário e Luiz do Rego.
Era assim a Indaiá, do silêncio das ruas que era só quebrado pelo sapatear das bestas no chão ou pelo trotear dos cavalos; a Indaiatuba apologética da penúria e da pasmaceira, embora o céu tivesse o privilégio de estar sempre azul, as suas tardes sempre brilhantes e poéticas.
Assim era a terra dos indaiás, que não fugiu dos pendores às tradições que remontam a épocas recuadas, a Indaiatuba dos tão falados sambas e batuques em vésperas de festas profanas e religiosas, emoldurados por velhos "cantadô" em que não faltavam nunca o estrelar "quentão" nem o preto velho Luiz Gomes, o dono do samba, nem a Chica Bigode e o Zé Corote nem os sambadô do " Outro Lado" e do Sítio Velho. Foi assim Indaiá, onde a vida era religiosidade, onde os crepúsculos de ouro eram fundados na quietude precedendo as noites sepulcrais...
Vamos terminar esta pequena história, sem ter dado azos à vaidade, antes por uma necessidade étnica de levar um bocado de saudade aos que, como nós, somos filhos desta terra que, pelo estro do saudoso Acrísio de Camargo foi um "santo ninho de amor".
Teremos por vezes (não seria lícito negá-lo) claudicado na forma, mas no fundo, queremos acreditar que revelamos probidade investigadora neste labor, tanto quanto pode o recurso de nossa memória, renovando sonhos de antanho e evocando remotas fases da história de Indaiatuba.
Dizem que a ocasião e a vontade põem a lebre a caminho e foi precisamente pela vontade que criamos a ocasião. Bem caberiam aqui estes versos de um vate popular:
(1) Acredito que o autor refira-se ao córrego do Belchior, no "Buraco da Estação", onde também havia uma bica (nota de Eliana Belo Silva).
Fonte: Gente da Nossa Terra, Terra da Nossa Gente II
Rubens de Campos Penteado
(no livro a imagem não tem data, mas creio que seja da década de 1960 ou 1970, nota de EBS)
o "Buracão do Chafariz"; o rio do Berchó (1), situado na encosta do morro do "Sítio do Coronel", para onde convergia também todo o mundo infantil de Indaiatuba, a fim de se banhar e catar os "salta-martins" tão celebrizadas em nossa infância;
Imagem de salta-martim
Crédito: Instituto Brasileiro de Florestas - IBF
o moinho do Brentan, ou melhor, o moinho do Brandão, um dos recantos mais procurados pelos indaiatubanos;
o "Buracão" situado nas cercanias da cidade, lugar onde extraiam terra para construção de taipas;
o bairro "Do Outro Lado" nas adjacências do "Sítio do Coronel", que era o bairro da indigência e da penúria;
a Chácara do Garrão, situada ao longo da avenida que conduz ao cemitério, onde abundavam as amoreiras e figueiras silvestres que eram convites aos nossos furtos inocentes.
Ninguém por certo terá esquecido daqueles grandes grupos de meninos que demandavam as capoeiras à procura das saborosas guabirobas quando elas sazonadas, dos cheirosos indaiás e dos rotundos araticuns a tresandarem seu perfume pelos cerrados.
Próximo à cidade existia a "Chácara do Balduíno", que ficava a cavaleiro do leito da Estrada de Ferro Sorocabana, na altura do Km 2 de quem ia em direção a Itaici, e ali perto o "Cabral", onde existia uma fonte cristalina de água, ponto estratégico dos meninos fugidios.
Um dos sítios, motivo de passeios frequentes, era a "Fazenda Bela Vista", situada em bonito aclive próxima à chácara dos Gandolfi, esta quase à ilharga daquela.
Outros recantos do velho burgo dos indaiás, eram pontos de sua população, tais como a Colônia do Bicudo, o Sítio do João Galo, o Teixeirinha, a "Cruz Coberta", a Chácara do Totó Rosa e o Bento Roque, o célebre caipira indaiatubano, que serviu de modelo ao grande pintor paulista Almeida Júnior, na famosa tela "Amolação Interrompida", um dos tesouros artísticos do Museu do Ipiranga.
Assim era a Indaiatuba bucólica e pachorrenta dos tempos das fugueiras patriarcais de Nhobin e Benjamin Constant de Almeida Coelho, dos Tebas, dos Galvões, dos Camargos, do João Pires e Juca Pires, do Chiquinho e Luiz Lopes, do José Tanclér, dos Firmianos, do Coronel Teófilo de Oliveira Camargo, do Major Fonseca, Chico Padeiro, do Chiquinho Boticário e Luiz do Rego.
Era assim a Indaiá, do silêncio das ruas que era só quebrado pelo sapatear das bestas no chão ou pelo trotear dos cavalos; a Indaiatuba apologética da penúria e da pasmaceira, embora o céu tivesse o privilégio de estar sempre azul, as suas tardes sempre brilhantes e poéticas.
Assim era a terra dos indaiás, que não fugiu dos pendores às tradições que remontam a épocas recuadas, a Indaiatuba dos tão falados sambas e batuques em vésperas de festas profanas e religiosas, emoldurados por velhos "cantadô" em que não faltavam nunca o estrelar "quentão" nem o preto velho Luiz Gomes, o dono do samba, nem a Chica Bigode e o Zé Corote nem os sambadô do " Outro Lado" e do Sítio Velho. Foi assim Indaiá, onde a vida era religiosidade, onde os crepúsculos de ouro eram fundados na quietude precedendo as noites sepulcrais...
FINAL E JÁ É SAUDADE
Acrísio de Camargo
Teremos por vezes (não seria lícito negá-lo) claudicado na forma, mas no fundo, queremos acreditar que revelamos probidade investigadora neste labor, tanto quanto pode o recurso de nossa memória, renovando sonhos de antanho e evocando remotas fases da história de Indaiatuba.
Dizem que a ocasião e a vontade põem a lebre a caminho e foi precisamente pela vontade que criamos a ocasião. Bem caberiam aqui estes versos de um vate popular:
"Onde anda o corpo,
é verdade que a sombra vai pelo chão,
é assim também a saudade,
a sombra do coração"
Escusem-nos, se houve, a tagarelice desta história. Ao descrevê-la, não nos atravessou a mente senão a boa intenção; porque os nomes aqui trazidos à lembrança num entardecido bem querer, em narração embora sem as vestimentas de gala, no cadinho das recordações que o tempo não conseguiu fenecê-las, o foi pelo nosso amor inabalável à Indaiatuba, que moradia distante embora, os longos anos de ausência, jamais puderam diminuir.
.....oooooOooooo.....
(1) Acredito que o autor refira-se ao córrego do Belchior, no "Buraco da Estação", onde também havia uma bica (nota de Eliana Belo Silva).
Este é o último texto escrito por EJOTAELE, pseudônimo de Eutemiro José Lisoni, que viveu em Indaiatuba no início do século XX e depois mudou-se para São Paulo, onde escreveu os textos.
Originalmente os textos foram publicados no Jornal Votura na década de 1980 e em seguida no livro de Rubens de Campos Penteado.
Por ordem de publicação, são os seguintes os textos escritos por EJOTAELE divulgados neste blog:
Fatos e Coisas de Indaiatuba Antiga - Seus Tipos Populares V
Fatos e Coisas de Indaiatuba Antiga - Seus Tipos Populares VI
As tropas de muares
Chico de Itaici
A Velha Igreja da Matriz
Os Circos de Cavalinhos
A original bandinha do Dunga
O futebol "association" de Indaiatuba antiga
Os antigos "trolys" de Indaiatuba
A parteira Nhá Emilia Beccari
Fatos e Coisas de Indaiatuba Antiga - Seus Tipos Populares VI
As tropas de muares
Chico de Itaici
A Velha Igreja da Matriz
Os Circos de Cavalinhos
A original bandinha do Dunga
O futebol "association" de Indaiatuba antiga
Os antigos "trolys" de Indaiatuba
A parteira Nhá Emilia Beccari
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