Na disputa pela narrativa dos fatos que levaram ao afastamento de uma presidenta legitimamente eleita, este blog assume inquestionavelmente um lado, que é o contrário da mídia "oficial".
Estou do lado da mídia alternativa, do lado das redes sociais (de perfis e grupos que buscam um mundo mais igualitário), de grande parte da mídia internacional mais respeitada do mundo e da ANPUH - Associação Nacional dos Professores Universitários de História.
Eliana Belo Silva
MANIFESTO "HISTORIADORES PELA DEMOCRACIA"
Corre um rio de intolerância na sociedade hoje, que
condiciona a ação de vários grupos. A intolerância
está na raiz do ódio, o ódio está na raiz do fascismo.
Não é convencional que as ferramentas da democracia
estejam sendo usadas contra a própria democracia.
Estamos assistindo a um golpe de três poderes
contra um: o judiciário, o midiático e o legislativo
contra o executivo.
Ele foi orquestrado por um congresso que alia nossa
pior tradição oligárquica com a novidade do fundamentalismo
religioso.
Nele, o capitalismo contemporâneo
e as tradições mais conservadoras que marcaram
a história do país se encontram para reafirmar o
projeto excludente das elites desse país.
Amostra disso é o fato de que o governo provisório tenha adotado “Ordem e Progresso” como fundamento
simbólico, lema emprestado da Primeira
República quando a noção de progresso era pautada
no evolucionismo social, visava-se uma só evolução
rumo à civilização e o resto seria barbárie.
Como professores universitários sabemos que nos
últimos dez anos a universidade brasileira vem mudando
de cor. Está se tornando mais diversa e de fato
mais republicana. O golpe ameaça a continuidade
das políticas que buscam a integração da população
negra, pobre, indígena na sociedade brasileira. Ameaça
brutalmente direitos adquiridos com muita luta
por trabalhadores e trabalhadoras do país.
Não queremos abrir mão dos princípios das sociedades
republicanas, princípios baseados na liberdade e
na igualdade. Defendemos a pluralidade e a inclusão
social.
Defendemos uma república onde todos são
cidadãos.
Enquanto o golpe representa a força do passado na
sociedade brasileira, com suas bandeiras de privilégio de classe, misoginia, racismo e corrupção, resistir
é firmar os valores da democracia e da justiça social.
Enquanto houver golpe, haverá resistência.
Dentro da institucionalidade democrática temos forças, no legislativo, no judiciário, na opinião pública,
nas mídias alternativas e sobretudo nas ruas temos
forças para barrar o golpe. Não se trata de defender
esse ou aquele governo ou partido político, mas as
regras do jogo democrático.
A presença de Dilma na Presidência da República,
com trajetória de luta pela democracia no país representou
um grande avanço para a luta das mulheres.
A história fará justiça ao seu governo e reconhecerá
seu esforço em tornar o Brasil um país mais justo.
Sabemos que não houve crime de responsabilidade
a justificar o afastamento.
Já temos fonte segura a
comprovar a hipótese que vínhamos sugerindo há
meses, de que um golpe vinha sendo gerado. Espera-se
que a Justiça comece pelo menos a considerar
a hipótese do golpe, avançando na coleta de provas e
decidindo de acordo com elas.
Historiadores do futuro, para fazer a história desse
golpe não vão poder se pautar na grande imprensa;
eles terão que contar com a mídia alternativa, com
as redes sociais e com a imprensa internacional.
Sabemos
que está em disputa, na sociedade, na mídia
e no governo interino a narrativa desse evento.
Nossas
vozes, somadas, defendem o retorno de Dilma à
presidência e a realização de ampla reforma política
e jurídica que aprofunde as conquistas democráticas
do povo brasileiro.
Brasília, 07 de junho de 2016.
Crédito do texto e mais informações aqui.
Vídeo oficial do movimento aqui.
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