PRAÇA DA NASCENTE
UMA HOMENAGEM AO CÓRREGO DO BELCHIOR
Ao chegar à Vila de Indaiatuba, o viajante encontrava no Córrego Municipal, já em 1863, um chafariz.
Segundo a tradição, era nessa aguada que as mulas, que transportavam no lombo grande parte do comércio da época, matavam a sede e descansavam, seguindo viagem, morro acima, pela Rua das Tropas, hoje Rua Treze de Maio. Os tropeiros talvez pernoitassem no alto do morro, onde hoje é a Praça Rui Barbosa, de onde se ia para Itaici, Jundiaí e São Paulo, pela estrada que beirava o Rio Jundiaí.
No fundo do vale em frente ao Hospital Augusto de Oliveira Camargo forma-se o Córrego Belchior, que já foi chamado de Rio Municipal (nascido num terreno da prefeitura, em frente à Estação Sorocabana, conhecido como Buraco da Estação) .
Suas águas, que por muitos anos moveram o engenho de cana da Fazenda Pau Preto, correm em direção ao Córrego do Pau Preto, hoje chamado de Córrego Barnabé, e daí seguem para os rios Jundiaí e Tietê. Nos séculos dezoito e dezenove o percurso entre Indaiatuba e Itu era feito em uma pequena estrada de terra ao longo desses rios: pelos viajantes, em cavalos e burros, pelos carreiros, com seus bois atrelados, pelos pequenos sitiantes e pelas crianças em busca de diversão, a pé.
Os rios eram referências fundamentais para a vida nas suas necessidades e atividades mais básicas: o alimento, a criação, o cuidado com o corpo e com os objetos.
O século vinte e a engenharia sanitária
Em 1915 a prefeitura criou o primeiro serviço de águas de Indaiatuba. Vemos na imagem abaixo o percurso da água encanada entre a nascente e a caixa d’água, em frente à Praça Prudente de Moraes. No projeto vemos a Rua Alegre, atual Rua Nove de Julho e a Rua das Tropas, atual Treze de Maio.
O vale, que havia sido aterrado para a construção da estrada de ferro, ganhou uma casa de máquinas para abrigar uma bomba d’água, como vemos abaixo em foto de um documento de 1940.
As águas da nascente do Córrego Municipal foram encanadas e levadas, subterrâneas, até o alto do morro, para uma caixa d’água atrás do jardim público. Esse jardim ficava onde, nos anos sessenta, foi construída a prefeitura, em frente à Praça Prudente de Moraes.
Dessa caixa a água era distribuída para oito torneiras públicas no centro, de modo que a população pudesse cuidar de seus afazeres cotidianos sem o esforço de ir ao rio. Muitos meninos da cidade trabalhavam pegando água em latas e vendendo-a nas casas.
Estas torneiras públicas tinham as seguintes localizações:
Augusto de Oliveira Camargo – abaixo da linha do trem
Praça Leonor de Camargo Barros
15 de Novembro com Cerqueira César
13 de Maio com Padre Bento Pacheco
Cerqueira César com Pedro de Toledo
Candelária com Siqueira Campos
Pedro de Toledo com Siqueira Campos
15 de Novembro com 11 de Junho
As torneiras eram muito frequentadas, principalmente por crianças que traziam os seus carrinhos para baldear a água. À medida que iam chegando ao chafariz, marcavam a sua vez de encher as latas. Alguns destes meninos eram “aguadeiros” ou vendedores de água, que com o produto de seu serviço, auxiliavam os pais na manutenção da casa. Eles tinham a sua freguesia certa, servindo-a diariamente.
A prefeitura mantinha carroças com tambores de água que em tempo de seca forneciam o precioso líquido à população.
O projeto de captação de água realizado em 1915 foi a primeira obra de engenharia sanitária da cidade. Também previa a construção de uma lavanderia pública.
Em 1922, em relatório enviado a Câmara Municipal, o prefeito relatava a necessidade de construção de uma lavanderia pública.
“..Impressiona-me muito a lavagem de roupas nos córregos.” “…a impressão desagradável que tínhamos vendo as mulheres expostas ao rigor do tempo, permanecendo molhadas nas margens do córrego, muitas delas obrigadas a levarem para o mesmo, crianças que eram sujeitas a contraírem moléstias, sempre mereceu nossa melhor atenção.”
E assim, foi construída junto ao local de captação de água, uma lavanderia pública.
O Serviço Autônomo de Águas e Esgotos homenageou esse lugar, que representa nossa primeira fonte de água, com um monumento e com a criação de um pequeno lago. É onde está este lago urbanizado que hoje é a PRAÇA DA NASCENTE.
O músico Nabor Pires de Camargo descreveu em suas memórias essa área de nascentes em que ele e a molecada costumavam brincar, no início do século XX:
Nunca pude esquecer a vida simples e tranquila daqueles tempos: a casa grande, a família numerosa, o céu aberto, o ar puro, a igreja matriz, a banda no jardim, o cinema, os bailes, as festas juninas, o circo, o chafariz, a raia reta, as touradas, os rodeios, a cervejaria do Hildebrando Pinfari, o verdadeiro samba, as quadrilhas bem marcadas, os jogos de futebol e, principalmente, os verdes campos cheios de frutos deliciosos! Neles havia os indaiás, os araticuns, os guapicurus, as uvaias, as amoras, as pitangas, os cajuzinhos do campo, as guapevas, os araçás e as guabirobas. Recordações de um clarinetista.
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