No dia 04 de setembro de 1906, com 16 anos, Domenico embarcou para a Itália a fim de aprender o ofício de seleiro. (1)
Domenico de Luca, com 12 anos de idade
Imagem cedida pela sobrinha-neta Márcia De Luca - em 2007 para o livro "O Crime do Poço"
Vivera até então no Brás, em São Paulo, desde a chegada da família em 1894, quando tinha 4 anos. Nestes 12 anos de meninice vividos no Brasil, foi testemunha do crescimento do bairro que abrigou alguns italianos, que levados de trem do Porto de Santos até São Paulo, permaneciam na cidade, atraídos pela possibilidade de trabalho no comércio e na indústria, ao contrário da maioria, que se espalhou por São Paulo em roças de municípios às margens da estrada de ferro.
Bairro do Brás – Início do século XX
Fonte: Divisão Iconográfica/PMSP
O bairro era humilde e na época das chuvas, suas ruas estreitas que cresceram desordenadamente, ficavam alagadas pela tomada das águas do rio Tamanduateí. Como tantos outros, o menino deve ter enlameado os pés em muitas brincadeiras feitas nos arredores, que se expandiu com fortes traços da cultura italiana, principalmente no largo da igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, inaugurada em 1903. Cresceu nesse bairro, onde os donos do capital e seu parque fabril começaram a avançar no mesmo período em que sua família chegou da Itália, dividindo os sombrios galpões com as pequenas casas geminadas, cujas janelas e portas abriam para o passeio público.
Ficou na terra natal, Polignano a Mare por cerca de um ano, embora com muitas saudades de sua casa e de sua família. E a saudade era recíproca, pois o pai já estava resolvido ir para a Itália visitar o filho quando recebeu uma carta de Domenico, na qual o moço dizia do grande desejo de voltar que o possuía e acrescentava:
Polignano a Mare - 1920
Crédito da imagem: Carta Máxima
“- Se o senhor não quiser me pagar a passagem, eu mesmo o farei com minhas economias e espero estar em casa em outubro.”
O pai, comovido pelo afeto do filho, providenciou incontinenti a remessa do necessário, e assim Domenico pôde embarcar no vapor “Lazio” e chegar a São Paulo em 15 de Novembro de 1907. A família abraçou o filho querido com muita alegria ao recebê-lo entre os seus. No dia seguinte, passada a comoção dos primeiros momentos, Modesto, querendo conhecer os planos do filho Domenico, perguntou-lhe sobre o que desejava fazer. Domenico respondeu que, uma vez que bem pouco poderia esperar do ofício de seleiro, julgava mais proveitoso se dedicar ao comércio, idéia que o pai aceitou com grande satisfação propondo-se logo à fazê-lo seu sócio com direito a metade dos lucros; acrescentou mais que, como tinha idéia de deixar São Paulo em 1911 - o deixaria naquela data em seu lugar. Domenico não cabia em si de contente e não parava de agradecer a bondade do pai. Mal podia imaginar o que, dentro de poucos dias, o esperava.
Havia passado apenas dois dias da chegada de Domenico e o pai resolveu empreender uma viagem de negócios. Assim foi que, no dia 18 de novembro de 1907, ambos seguiram para Itapetininga.
Estação de trem de Itapetininga, no início do século XX, na ocasião da visita do Bispo
Foto cedida por Elias Vieira para www.estaçoesferroviarias.com.br
Ali chegando, cuidaram em primeiro lugar de resolver uma pendência com um tal Quatrarnera, após o que Modesto visitou os negociantes conhecidos da cidade a fim de apresenta-lhes o novo sócio na pessoa de seu filho Domenico.
Dirigiram-se em seguida para Tietê e de lá partiram para Itu, onde compraram cem sacos de feijão de Miguel Gonçalves Soriano. Em todos os lugares, Modesto cuidava sempre de apresentar o filho a fim de que, no futuro, o mesmo pudesse negociar sozinho. Concluídos os seus negócios, seguiram para Piracicaba onde se hospedaram no Hotel Bela Vista. Também nesse lugar Modesto apresentou o filho à dona do Hotel, pedindo-lhe que cuidasse bem dele, ao que ela respondeu “que podia ficar tranqüilo, pois trataria Domenico como um filho.”
Estação de trem de Itu - 1909
Foto de Antonio Martins Coelho. Reproduzida do livro Itu - Patrimônio Cultural Paulista
O pai ficou contente com a viagem, pois tinha dado o resultado esperado: os negociantes da região ficaram conhecendo Domenico e dele tiveram uma boa impressão, assim como ficara com a certeza que, nos hotéis onde o filho deveria se hospedar em suas viagens, seria tratado com os cuidados necessários para um moço novo e inexperiente. Por outro lado, Domenico estava entusiasmado com a nova vida que iniciava.
Foi com esses pensamentos que ambos fizeram a viagem de volta para São Paulo.
No dia 22 de novembro Domenico saiu outra vez em viagem para o interior, mas desta feita sozinho e levando consigo 7:700$000 (sete contos e setecentos mil réis). Estava animado e queria demonstrar ao pai que seria merecedor da confiança nele depositada. Visitou diversas cidades como Itu, Rio das Pedras, Capivari e Indaiatuba, fazendo compra de cereais.
(1) As informações deste capítulo são advindas da Tribuna de Indaiá de 04 e 11 de dezembro de 1960.
Nenhum comentário:
Postar um comentário