domingo, 26 de outubro de 2025

JANELAS EMBANDEIRADAS DA ANTIGA INDAIATUBA

                                                                                                                                           Charles Fernandes



Alguém já se perguntou por que as construções antigas de Indaiatuba possuíam um pé-direito tão alto? E por que as fachadas das casas térreas tinham alturas muito maiores que as atuais?

Pois é... mais uma vez faremos uma viagem no tempo, por meio de um elemento marcante da nossa arquitetura tradicional: a bandeira das portas e janelas.

Se você já leu o conto O Padre Sustentável na Terra do Imperador Menino, disponível no blog da Prof. Eliana Belo, já deve ter imaginado as engenhosas peripécias que os primeiros habitantes desta nossa linda e quente terra criaram para tornar suas moradias mais agradáveis. O elemento que abordaremos a seguir também surgiu com esse propósito: proporcionar conforto térmico às edificações tradicionais da nossa região.

Nenhuma análise de arquitetura que se preze pode começar sem antes apresentar um breve panorama da economia, tecnologia e cultura do tempo e do lugar em que o patrimônio está inserido. Falaremos, portanto, das primeiras edificações urbanas de Indaiatuba, construídas entre o século XIX e o início do século XX — mais precisamente entre os anos de 1830 e 1930, ou até um pouco depois disso.

O que orientava o projeto dessas obras era, antes de tudo, a falta de equipamentos, ferramentas e materiais sofisticados. O que se tinha à disposição era madeira, barro e ferramentas rudimentares. Indaiatuba teve seu início em 1791, quando Pedro Gonçalves Meira adquiriu terras exatamente no meio do caminho entre São Carlos (Campinas) e Itu. A antiga Paragem de Indaiatyba por muitos anos foi acessível apenas pelo lombo dos animais.

As primeiras ruas eram poucas e dispostas paralelamente à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária. As construções ficavam coladas umas às outras, criando uma fachada quase contínua — solução prática para preservar as paredes de barro, direcionar as águas pluviais para a via pública e para um pátio interno, onde se realizavam os serviços domésticos mais pesados, longe da vista de quem passava.

Vale lembrar que calhas e rufos só chegaram muitos anos depois, com a passagem da ferrovia em 1873. A partir daí, chegaram também o vidro e as esquadrias com ferragens mais funcionais.

Mesmo após a chegada da estrada de ferro, a estrutura da casa tradicional indaiatubana manteve-se praticamente a mesma por décadas: aberturas voltadas para frente e para trás; casas encostadas pelas empenas dos oitões; e um corredor central muito alto, percorrendo toda a planta — desde a porta de entrada até a cozinha, que, na verdade, era uma varanda posterior e aberta. Essa configuração se manteve até o fim da primeira década do século XX, quando chegou a energia elétrica, e ainda resistiu até meados da década de 1930, com a instalação da rede de água.

As casas tradicionais de Indaiatuba contavam apenas com a engenhosidade dos seus moradores. Não havia ventiladores, ar-condicionado nem sistemas de climatização — o conforto vinha da sabedoria popular e da observação dos fenômenos físicos.

Vamos relembrar alguns conceitos:

O ar em movimento exerce menos pressão que o ar parado, e, por isso, o ar estático tende a deslocar-se para onde há circulação. Além disso, o ar quente sobe, enquanto o ar frio desce. Assim, quando há vento na rua, cria-se naturalmente uma corrente de ar através do corredor central — ligando as faces opostas da casa, do fundo (mais protegido) até a rua, onde o vento sopra livremente. É como uma chaminé deitada. Essa corrente cria um fluxo contínuo, que insufla ar mais fresco para dentro das casas.

Ao instalar aberturas independentes na parte superior de portas e janelas — as chamadas bandeiras —, era possível liberar o ar quente acumulado e permitir a entrada de ar frio por outra abertura. Uma janela aberta ventila muito quando se abre também a bandeira da porta do corredor; e essa, por sua vez, ventila melhor quando a bandeira de uma janela está aberta para o exterior.

As portas voltadas para os corredores internos possuíam essas bandeiras, e, para que o sistema funcionasse, era necessário que os cômodos tivessem pé-direito mais alto. Esse princípio, hoje conhecido como ventilação cruzada, é amplamente utilizado em projetos de arquitetura sustentável.

Se a memória não me falha, algumas portas antigas do Hospital Augusto de Oliveira Camargo ainda preservam suas bandeiras voltadas para o interior.

Os grandes e altos corredores com portas e janelas embandeiradas perderam sua utilidade com a chegada dos sistemas modernos de climatização. As fachadas das casas foram abaixando e, com o avanço das leis higienistas, passou-se a exigir recuos laterais para ventilação e insolação.

Assim, chegou ao fim a fachada contínua da antiga Indaiatuba — e com ela, o uso das janelas e portas embandeiradas.

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